Infinity escrita por Lilly Belmount


Capítulo 4
Capítulo 4




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Finalmente o grande dia havia chegado. Em poucas horas todos os alunos saberiam quais duplas seriam formadas para realizar o projeto idealizado pelos professores Julio e Guilherme. Eles esperaram até que a sexta feira chegasse para fazerem o anunciamento. Alguns dos alunos simplesmente queriam desistir, mas ao mesmo tempo a curiosidade fazia com que eles ainda mantivessem o desejo de participar. Eles precisavam apenas de uma hora para deixar tudo organizado. Pediram para que os alunos circulassem pelo campus e anotassem em um papel tudo o que eles viam e achavam diferente depois de uma segunda percepção. Eles não queriam dizer se estava certo ou errado, só queriam que aprendessem que às vezes nem tudo pode ser bom à primeira vista, mas depois de um tempo se acostumam e começa a fazer parte daquela rotina, mesmo sem querer.

Para Julio e Guilherme as suas aulas sempre tinham um fundo filosófico e de grande valor. Queriam que a geração que estavam se formando aprendessem a conviver melhor com o estranho e desconhecido. A maioria deles julgavam sem ao menos conhecerem a história, os caminhos que permitiram que  as levassem até aquele ponto em que se encontravam. Eles organizaram as carteiras de modo que sempre houvesse espaço para que os alunos pudessem se locomover com mais facilidade durante o sorteio.

Aos poucos cada um dos alunos foram retornando para a sala e ocupando os seus devidos lugares.  O clima entre eles já estava mais leve, uma conversa animada fluía melhor. Os professores ficaram orgulhosos dessa primeira fase de testes. Esperaram que todos estivessem presentes para seguirem com as instruções.

— Olá meus queridos! — cumprimentou Julio animado — Fiquem à vontade.  Prometo não tomar muito o tempo de cada um de vocês. O professor Guilherme e eu decidimos que cada um de vocês deva sortear o parceiro. Obviamente gostaríamos de testar algumas possibilidades, mas não seria justo com todos.

— Irei chamar um aluno de cada vez, assim que estiverem com o nome escolhido em mãos, sejam gentis e abracem o seu parceiro de trabalho — orientou Julio.

Um por um foi sendo chamado. Inimagináveis duplas foram formadas. Combinações inusitadas. Até parecia que estava acontecendo conforme os professores queriam. Não havia como ser tudo planejado.  O sorteio estava indo muito rápido. Laura estava toda eufórica por ter tido a sorte de escolher Hunter. Infelizmente não havia mais ninguém para formar  dupla com Lilly. Todos já estavam se socializando enquanto ela apenas observava esperando que os professores percebessem que algo estava errado.

— Lilly Gonzalez? — chamava o professor Guilherme — Venha até aqui.

Ela não queria ter que sair de seu lugar. Era a coisa mais patética que ela já havia visto até porque ela estava sem um par. E se de repente tivesse que fazer par com Laura ou com algumas de suas seguidoras? Não pensaria duas vezes em pedir para que trocassem. Nunca que elas trabalhariam bem em dupla. A rixa vinha de muitos anos atrás, ninguém e talvez o tempo poderia amenizar tudo o que ela sentia. Lembrava de todos os conselhos de sua mãe, mas nenhum deles se aplicariam a Laura.

— Venha, por favor... — insistiu o professor.

Sem muito entusiasmo ela se levantou e caminhou até o professor. Todas as pessoas lhe encaravam seriamente. Laura não desviava o olhar nem por um segundo. Havia outros olhares, mas nenhum deles incomodava tanto quanto o de Laura. O professor sorria encantado quando ela se aproximou

— O que foi dessa vez? — perguntou ela nervosa sentindo todos os olhares curiosos.

Guilherme pigarreou.

— Infelizmente você está sem um par, gostaríamos muito que você participasse desse projeto. A Soraya nos falou muito bem  a seu respeito e não poderíamos  perder uma aluna ta brilhante. — explicava Guilherme encarando toda a sala — Não é justo permitir que faça sozinha, já que o objetivo não é  a exclusão, e sim a interação e o contato com o próximo.

Ela revirou os olhos.

— Qual é a solução? — quis saber ela.

Julio deu um passo a frente e voltou sua atenção para a turma. Lilly sentiu suas pernas amolecerem. Não queria nem pensar no que o professor faria.

— Queridos alunos, quem gostaria de incluir a Lilly em suas duplas?

Lilly se sentiu pequena diante daquela proposta. Só podia ser brincadeira. Permaneceu de costas, pois sentia que não conseguiria disfarçar a sua indignação.

Os alunos se entreolhavam estranhamente, nenhum deles queriam se pronunciar. O professor teria que interferir.

— Professor, tem certeza de que quer me colocar com eles? — ela se sentia confusa e perdida.

O professor tentava ser o mais solidário possível. Julio lhe dirigiu um sorriso acolhedor.

— Lilly, por favor, colabore. Você verá o quanto será divertido trabalhar com o Hunter a Laura.

Ela revirou os olhos. Aqueles professores já estavam lhe dando nos nervos. Ele insistia em fazê-la encontrar um ponto positivo em tudo.

— Terá que trabalhar com essa dupla e não poderemos realizar mais nenhuma modificação. — disse simplesmente Guilherme — Você foi colocada na melhor dupla. Divirta-se bastante. Estão dispensados.

— Ah claro! Vou morrer de tanto me divertir com esses dois. — disse ela mais para si do que para os professores.

Logo todos saíram praticamente correndo da sala de aula. Lilly não percebeu que Laura havia parado atrás dela junto com Hunter.

— Para de fazer drama. Tenho certeza de que iremos nos divertir muito — disse Laura sorrindo maquiavelicamente já se retirando da sala.

Lilly foi até a sua carteira para pegar o seu material. Ele apenas acompanhava com o olhar. Notou que ela tentava se acalmar respirando fundo.

— Você vem Lilly? — perguntou Hunter apontando para a saída.

— Sai do meu pé, cara. Estou cansada de tanta perseguição. — reclamava ela colocando a alça da mochila nos ombros.

Hunter ficou frente a frente com a garota. Praticamente a obrigava a olhar diretamente para o seu rosto, para os seus olhos brilhantes.

— De uma vez por todas, Lilly — começou ele firme — Sei que a Laura e você não se entendem e que talvez não queira ter a minha amizade, mas isso aqui... — ele apontava para a sala de aula — Esse projeto é importante para a sua vida, para a sua formação acadêmica. Se dedique, faça com que esse projeto seja a melhor experiência da sua vida. — ele sorria docemente para ela — Acredite, vai valer a pena.

Mesmo que ela não quisesse admitir, Hunter tinha razão. Era apenas um projeto que em breve teria um fim. Só tinha que fazer dar certo entre eles. Não precisavam ser amigos nem nada do tipo.

— Você não entende... — ela foi interrompida.

Hunter aproximou-se ainda mais dela ficando a poucos centímetros de distância. Para ela era uma aproximação arriscada. Nunca estiveram tão perto xum do outro.

“Que sensação estranha!” pensou Lilly

— Então me conta, me diga tudo o que precisa e só assim poderei compreender essas indiferenças, o seu medo e a sua insegurança. Consigo ver o quanto é dedicada naquilo que faz, mas tem que se arriscar, ir cada vez mais longe, Lilly.

— Por que está sendo legal comigo? — quis saber ela se afastando —  Não mereço ser tratada assim.

Um sorriso suave iluminou o rosto de Hunter.

— Estou fazendo o mesmo que gostaria que fizessem comigo. Sinto que começamos com o pé errado...

Lilly riu irônica.

— E vamos continuar desse jeito. — disse ela levantando uma sobrancelha — Não seremos amigos, principalmente por termos uma pessoa como a Laura.

Lilly saiu da sala de aula deixando Hunter a sós. Foi muita emoção para uma manhã agitada. Agradecia pelo fato da aula ter acabado, pois ela não iria aguentar ficar por mais tempo naquele lugar. Tinha que digerir toda a ideia do trio que havia sido formado.  Teria que se preparar seriamente para os encontros que poderiam ser exigidos em algum momento.

*****

Assim que saiu da faculdade, Lilly passou na casa do chocolate artesanal. Infelizmente os mimos não eram para ela, e  sim para sua mãe. Ela sempre gostou muito de chocolate, principalmente os artesanais e tinha uma loja  especializada. Sempre que podia comprava só para ver o sorriso estampar o rosto de sua mãe. Havia algum tempo que Louise andava triste e cabisbaixa pelos cantos.  A senhora estava guardando os problemas apenas para si, e Lilly pensava que tudo isso fosse culpa dela, mas não era. Um fantasma do passado apenas havia decidido ressurgir e Louise estava se perdendo numa teia de aranha de tantas duvidas que possuía. Depois de comprar o doce que sua mãe tanto gostava, ela foi diretamente para casa.

A casa se encontrava silenciosa. Até parecia que não havia ninguém por ali. Foi até a sala e encontrou Louise deitada no sofá. A televisão estava ligada numa programação qualquer com o volume quase inaudível.

— Como a senhora está? — quis saber ela se ajoelhando diante da mãe.

Um sorriso fraco surgiu nos lábios da mulher.

— Tentando melhorar... esses remédios me deixam com sono. — ela se lembrou de algo — Como tem ido as coisas no restaurante? Você quase não me conta a respeito de nada.

Lilly sentiu seu rosto esquentar. Havia tanto a contar para sua mãe, mas sabia que deveria contar apenas o que ela achava que fosse o certo.

— Ah mãe! — começou ela — Não tem nenhuma novidade. Os funcionários tem sido muito gentis comigo, me ajudado bastante.

— Fico feliz, Lilly. Não vejo a hora de melhorar para voltar ao meu trabalho.

— Vai dar tudo certo, mãe. Sua recuperação será a mais breve se continuar seguindo todas as recomendações. — ela se levantou — Vou descansar um pouco e depois tomar um banho para ir para o restaurante.

Ao entrar no quarto, Lilly deixou a mochila no chão e se jogou na cama com as mãos atrás de sua cabeça. A cada dia que passava tinha que ser mais forte para aguentar aquela rotina maluca da qual estava vivendo.  Compreendia o cansaço de sua mãe, do esforço que fazia, mas felizmente todas aquelas pessoas lhe adoravam e a ajudavam, talvez até mesmo Hunter. Ainda não havia caído a ficha de que ela teria que trabalhar ao lado de Laura. Hunter nem era o seu verdadeiro problema, ele deveria saber que está se envolvendo com a pior pessoa do mundo. Caso ele não soubesse teria que descobrir sozinho. Era um risco que Hunter teria que correr.

Em partes ele estava certo sobre o projeto. Ela iria fazer valer a pena cada momento. Seria invisível para eles. Só que todo aquele silencio estava conduzindo Lilly para tirar uma soneca. Seus olhos estavam ficando pesados a cada minuto. Não seria um problema dormir um pouco antes de ir para o restaurante.

*****

Passava das seis da tarde quando Lilly finalmente acordou. Não era de dormir tanto a tarde. Não demorou para que a realidade logo chegasse a ela. Estava atrasada para ir pro restaurante. Trocou rapidamente de  roupa e foi para o pinto de ônibus. Teria que correr contra o tempo.

Lilly chegou atrasada no restaurante. Ofegava de tanto que teve que correr. Estranhou ao entrar no restaurante, nenhum dos funcionários da noite passada estavam ali. Sentia-se perdida em meio a desconhecidos. O responsável pelo turno daquela noite tinha uma expressão séria e fria ao mesmo tempo. Pelo jeito ele não gostava de conversas fiadas. Não parecia alguém que gostava de trabalhar com um publico seleto. Aquela não seria uma das noites mais agradáveis para a jovem. Era hora de começar a encontrar a sua paciência, s eé que ela possuía.

Ele aproximou-se seriamente de Lilly. Seu olhar era duro e frio.

— Querida, você está muito atrasada. Isso aqui  não é um passeio no shopping.  — reclamava ela — Trate de  colocar o seu uniforme e assuma o seu posto.

Ela não hesitou e correu para colocar o uniforme. Estranhou ao ver Hunter quieto e com olhar perdido. Nem parecia o mesmo.

Depois de estar trocada, Lilly já foi atendendo as mesas. Corria de uma lado para o outro. Fazia tudo o que lhe era pedido. Talvez Paulo não soubesse que ela estava cobrindo sua mãe que estava doente, mas não seria ela a lhe contar isso. Estava com um movimento fora do normal no restaurante. Até fila se formou para aguardar as mesas ficarem livres. Foi um dos pontos onde Paulo aproveitou para fazer de Lilly praticamente a sua escrava. Tivera que realizar tarefas que não eram suas. A vontade que ela tinha era de lhe dizer algumas verdades, mas não iria arriscar o emprego de sua mãe. Aguentaria o máximo que pudesse.

Aos poucos a paz voltou a reinar naquele lugar, e assim ela conseguia parar um pouco e recuperar o fôlego. Nunca pensara que fosse enfrentar uma noite tão desgastante como aquela.  Hunter parou ao seu lado e ela apenas continuou em silêncio. Até que Paulo passasse por perto e ela se manifestasse:

— Eu quero matar esse cara — esbravejava a jovem.

Hunter estava acompanhando tudo o que aquele homem lhe pedia. Ele a estava sobrecarregando. Até parecia que ela era a única funcionária existente por ali.

— Respira fundo — disse Hunter colocando a mão no ombro dela — Inspira e expira — ele a viu seguir suas instruções — Isso. Está sendo puxado para todos.

Ela o encarou incrédula.

— Sério mesmo? Não ia nem perceber se você não tivesse me contado. — murmurou ela revirando os olhos — Preciso de um descanso.

— Precisa mesmo. Só que esse chefe não libera ninguém para descansar se tiver chegado atrasado. Diz ele que não há justificativa e assim você recompensa o tempo que perdeu. Mas se você quiser, eu  dou um jeito de mantê-lo ocupada e pode descansar um pouco. — sugeriu ele colocando a mão no bolso.

Lilly deu de ombros.

— Agradeço, mas não quero te colocar em problemas com esse idiota.

— Tem certeza? Você está tão cansada que está sendo amigável comigo. Não quer me bater, nem nada do tipo?

Ela negou baixando a cabeça.

— Essa noite não Hunter! Só quero que a noite termine e eu possa ir para casa.

— Ok. — ele notou Laura se sentando e apontando para que Lilly fosse atendê-la — Quer que eu atenda a mesa da Laura?

Ela negou já se afastando. Não estava sendo fácil suportar a dor no corpo e todo o falatório de Paulo. Em poucas horas estariam indo apara casa e isso era o que importava. Ao se aproximar da mesa para anotar o pedido observou que Laura estava mais calma, mais sorridente. Parecia outra pessoa. Não houve nenhum problema ou sequer uma olhar desconfortante. Exceto o pedido exagero para aquela mesa que era de assustar. Era de se desconfiar, mas Lilly preferiu ignorar e continuar o seu serviço.

Paulo e Hunter estavam lado a lado observando a movimentação de Lilly. Hunter, por sua vez queria ajudá-la, a tornar sua noite mais agradável, mas não podia, estava ali por um único propósito. Logo Laura começou a acelerar para que o pedido dela logo saísse e de repente toda aquela calmaria que Lilly imaginou existir desapareceu.

Lilly estava muito cansada e com dores na perna de tanto andar de um lado para o outro sem parar. Paulo lhe entregou a bandeja para que Lilly levasse todos os pedidos de uma única vez para a mesa de Laura. Ele não estava se importando se iria causar algum problema, só queria que tudo saísse sem que precisasse ficar indo e vindo.

Caminhava com dificuldade em direção ao salão tentando equilibrar a bandeja. Infelizmente uma dor aguda fez com que ela perdesse o equilíbrio e caísse junto com todos os pratos. Um barulho ensurdecedor fez com que todo o restaurante parasse definitivamente. Os conteúdos que havia nos pratos a sujou por completo. Hunter deu um passo a frente na intenção de ir ajudá-la, mas  logo foi impedido por Paulo.

— Ela tem que se virar, Hunter — murmurou o homem entredentes.

Laura pigarreou ao levantar e parar diante de Lilly que tentava a todo custo limpar toda aquela bagunça. Para Laura era a melhor cena da noite. Com a jovem vulnerável era mais fácil de continuar com as suas maldades.

— Por que você ainda tenta, Lilly? — perguntou Laura colocando a mão na cintura — Será que nunca vai cair a ficha de que você é um zero a esquerda? Nada do que você fizer será bom, não trará frutos. Se eu fosse você nem me levantava desse chão. Você sempre será a vergonha em pessoa. Olhem bem para esse chão, pois é tudo o que terá nessa sua vidinha sem graça.

Quanto mais continuasse naquele lugar, mais seria difícil conter as suas lágrimas. Respirou fundo antes de se levantar. Pegou a bandeja e saiu de cabeça erguida. Não daria gosto a Laura. Caminhou até Paulo, havia um maldito sorriso em seus lábios. Se pudesse ela apagaria na base da porrada, ficou triste por ver que Hunter estava bem atrás apenas observando tudo. Tentava evitar o seu olhar, mas não adiantava, ele sabia o quanto Lilly estava magoada. Entregou a bandeja para Paulo que a recebeu sem hesitar.

—Minha noite acaba aqui.

Ela saiu a passos largos do restaurante. Paulo logo deu um jeito de que tudo ficasse na mais perfeita ordem. Foi ali que Hunter encontrou a oportunidade perfeita para ir atrás de Lilly. Ela estava arrasada.

— Lilly, espera por favor! — gritava Hunter correndo atrás dela — Deixa eu te levar para casa.

Ela limpava os rastros de suas lágrimas.

— Me deixa em paz — esbravejava a jovem — Quero ficar sozinha. Por que você não vai ficar com a Laura e com aquele chefe idiota, abusivo?

— Eu sei que não é fácil ter que aguentar  toda aquela maldade deles, mas... — ele foi interrompido bruscamente.

— Chega de falar Hunter. Você joga palavras ao vento. Essa noite eu tive certeza de uma coisa.

— Certeza do que? — perguntou ele confuso.

— De que não vale a pena tentar ter a sua amizade.


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