Infinity escrita por Lilly Belmount


Capítulo 2
Capítulo 2




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— Lilly, aconteceu algo? — perguntou a cozinheira quando a viu com o rosto vermelho — Alguém falou algo?

Ela negou. Não seria bom que todos soubessem o que estava acontecendo com ela.

— Foi apenas um momento de desabafo comigo mesma. Precisava fazer isso, mas não comente nada. — pediu ela simplesmente.

Aquela mulher lhe exibiu um belo sorriso acolhedor. Não era necessário muitas explicações para que compreendessem. Colocou uma luva e começou a trabalhar com a preparação das sobremesas. Permitiu esquecer-se dos episódios que sucederam o seu intervalo. Focaria para que o resto da noite fosse perfeita, ou quase. Em meio ao açúcar e chocolate, Lilly se sentia uma verdadeira criança. Sorria como se os produtos fossem pessoas e trocassem uma conversa prazerosa.

De longe Hunter apenas observava. Era divertida a cena pelo ângulo que ele via. Parecia que realmente ela conseguia ter uma resposta de tudo o que tocava. Havia sinceridade no que ela fazia. Hunter não conseguia ficar observando a garota trabalhar. Era interessante vê-la, mas ver as mais diferenciadas expressões que mudavam num piscar de olhos era mais divertido. Entrou tranquilamente na cozinha, fez um gesto para que Fernanda não contasse que ele estava ali. De perto era ainda mais interessante, ela sibilava algumas palavras e depois um sorriso surgia. Daria um doce pelos pensamentos dela. Ela tinha que ser muito louca para conversar daquele jeito.

— Eu não acredito que você conversa com os alimentos! — exclamou ele arregalando os olhos.

Por um momento Lilly não soube como reagir. Não sabia se o ignorava ou se o respondia como merecia.

— Eu não falo com os alimentos — retrucou ela pousando as mãos na bancada — Está me espionando agora, é?

Ele sorriu divertido. Lilly não gostava daquele sorriso atrevido, deixava-a nervosa.

— Espionar é uma palavra muito forte, querida. Eu diria que estava a observando.

— Ah que legal — ironizou ela — Não tem mais o que fazer, não? Por que não vai atender as mesas, limpar os banheiros? Sei lá, só me deixa em paz, garoto. — esbravejou ela.

— Bem que eu queria fazer tudo isso, mas estou esperando as sobremesas ficarem prontas. Já deve ter acabado a conversa empolgante entre vocês.

Lilly desviou o olhar do rapaz e encarou os pratos da sobremesa e gostou do que viu. Os pratos estavam agradáveis aos seus olhos.

— Leva logo!

Hunter pegou os pratos e os colocou na bandeja de aço.

— Não fique tão estressada. Isso vai te deixar de cabelos brancos e com rugas.

Ela apertou os olhos e o fuzilou para que saísse logo dali. Ele saiu rindo. Infelizmente a sua risada era contagiante e ela teve que se controlar para não cair na tentação.

— Esse rapaz não tem jeito. Não muda nunca — comentou Fernanda — Vocês vão acabar virando amigos.

— Isso é quase uma maldição — brincou Lilly — Prefiro a minha exclusão da sociedade do jeito que eu vivo é melhor.

Fernanda olhou preocupada para a jovem.

— Não Lilly, não pense assim — repreendeu Fernadna — Tem que dar alguma chance para que as pessoas vejam o quão boa você é... se isolar nunca é uma boa saída. Dê uma chance para a vida.

As horas avançavam e logo já era hora de fechar o restaurante. Todos os funcionários ali presentes se dedicavam a limpeza. Não havia muito o que fazer, pois ao longo da noite Lilly e Fernanda cuidaram de tudo. De modo que elas facilitaram todo o trabalho. Despediu-se da mulher elegante e se pôs a caminhar para fora daquele ambiente. Sua mente viajava sempre até sua mãe. Ela poderia ter lhe dito que era apenas uma gripe, mas poderia também ser algo mais sério. Olhou de um lado para o outro na esperança de que aparecesse algum ônibus ou acabaria chegando tarde demais. O jeito era esperar. Pouco mais de vinte minutos apareceu um ônibus e ela se animou. Finalmente estaria a caminho de casa.

Havia um lugar disponível e ali ela ficou. Colocou os fones e permitiu que as músicas a conduzissem em direção à tranqüilidade. O trajeto era sempre mais rápido à noite. Logo o ônibus parou diante da casa. Ela desceu e caminhou apressadamente. As luzes estacam acesas, sinal de que sua mãe deveria estar acordada esperando-a ansiosamente. Ao abrir a porta, Louise já aguardava. Aproximou-se da filha e deu-lhe um abraço apertado.

— Como foi no restaurante hoje? Correu tudo bem? — quis saber Louise.

Lilly deu de ombros se afastando.

— Normal. Cliente reclamando de um lado para o outro, algumas conhecidas da faculdade, troca de farpas entre funcionários — contou ela simplesmente.

— E você diz como se não fosse nada demais? Se fosse eu estaria querendo matar todo mundo. Mas agradeço o seu esforço e dedicação por hoje. Um dia toda a nossa realidade irá mudar, Lilly. Vejo o quanto a sua estrela brilha, que não é fácil aguentar tudo o que passa no seu dia.

— Faz parte mãe, a gente tem que ser forte. Enquanto a nossa realidade não muda, o jeito é continuar lutando.

— Concordo. Agora vá descansar.

Lilly queria contar à respeito do rapaz que a perturbara a noite toda, mas não seria legal, pois poderia achá-la maluca demais. Se ela soubesse acabaria lhe deixando fora de qualquer evento que precisasse de sua ajuda. Foi para o quarto e sentou-se na cama pensativa. Havia algo naquele rapaz que a deixava completamente fora de si. O que ele possuía para deixá-la naquele estado? Talvez fosse aquele sorriso atrevido e ao mesmo tempo desafiador. Ele sabia ser diferente de outras pessoas que conhecera. Com os clientes ele se mostrou ser uma boa pessoa, muito educado, mas com ela foi completamente diferente. Ela o analisara em alguns momentos, mas sabia que rapazes como ele não era fácil de levar uma amizade. Ignorar todos aqueles pensamentos talvez o melhor que ela pudesse fazer. Trocou de roupa colocando algo mais confortável, retirou o pouco da maquiagem que ainda restava em seu rosto e ficou deitada em sua cama até que o sono chegasse. Seu corpo começava a ficar leve como uma pluma, lutar para que suas pálpebras não fechassem não seria uma boa saída. O dia seguinte seria cheio de novidades e surpresas.

*****

No dia seguinte Lilly acordou mais cedo que o de costume. Seu corpo todo doía. Não sabia se foi pela forma como ficou deitada ou se havia descansado o suficiente. Realizou a sua higiene matinal e logo foi preparar o café da manhã. Foi até o quarto de sua mãe e verificou como ela estava, para o seu alivio ela respirava sem dificuldade e a sua respiração estava calma Só assim ela poderia acalmar o coração enquanto estivesse fora de casa.

*****

Lilly estava na faculdade com suas amigas distraídas em uma conversa animadora, algumas pessoas que passavam por perto comentavam à respeito de uma aluno novo. Todo aquele agito era apenas por ele ter descendência americana, mas nada disso interferia na sua educação. À principio a jovem não deu a devida atenção, pois viu que Laura estava falando com suas amigas para dar as boas vindas ao novato.

Lilly foi até seu armário pegar seus livros, quando olhou no corredor ela quase teve um ataque devido ao tamanho do susto que levara.

— Não é possível — murmurou Lilly para si mesma desacreditada.

Estella procurava o motivo que fizera sua amiga mudar de repente.

— Lilly o que foi? Você está bem? — indagou ela preocupada — Você esta pálida.

Ela não conseguia prestar atenção no que suas amigas falavam. De repente não havia mais sons, era apenas ela e a visão que estava tendo de Hunter. Seu dia não poderia ter começado daquela forma, não era justo. Estava paralisada, não conseguia sentir suas pernas. O que todas aquelas pessoas achavam de tão importante em um rapaz que estava cuidando da sua vida acadêmica. Não era uma celebridade para viver cercado por elas.

A cena mais patética que ela estava presenciando era ver Laura e suas seguidoras tocando-o como se fosse uma linda imagem feita de gesso. Faziam questão de se exibirem. Nem mesmo os desfiles da Victória Secret's a deixavam com vontade de vomitar. As modelos ainda conseguiam agradá-la, mas aquilo era quase que lidar com o anticristo.

Hunter era o novo aluno que todos insistiam em falar, mesmo até os alunos mais seletos estavam gostando da presença dele. Ele prestava atenção em tudo o que as pessoas lhe falavam, principalmente Laura. Ela era que mais parecia interessada em lhe mostrar todo o campus. Mesmo a distância, ele não deixava de perceber o quanto estava sendo bem recebido por todos, mas uma apenas uma garota o deixava intrigado. Por que justamente ela o ignorava? Não esperava vê-la tão cedo, mas já pressentia o quanto seria ignorado por ela. Se no restaurante ela já o evitava, na faculdade não era necessário que falassem um com o outro. O tempo poderia ser um bom aliado.

Não demorou para que Laura começasse a conduzi-lo até a sala. Ao passar próximo a ela encarou-a satisfeita por não ter ganhado a atenção que merecia. O olhar de Hunter a pegou de surpresa, não conseguia desviar a direção. Tão belo era os seus olhos.

— É melhor irmos antes que decidam nos matar com o olhar — murmurou Laura.

Ele apenas assentiu e a acompanhou.

Lilly fechou a porta de seu armário e respirou fundo.

— Não vejo a hora deste dia acabar! — desejou ela em voz alta.

— Você conhece ele, Lilly? — Estella percebeu o nervoso de sua amiga.

— Conheço, mas não é tudo isso que estão dizendo

Era hora de todos irem para as suas respectivas salas. Os professores acenavam para que os alunos os acompanhassem. Alguns estavam fora de sua verdadeira rota. Sem contar que todo aquele alvoroço que estavam fazendo por causa do aluno novo estava deixando Lilly cada vez mais nervosa. Laura, para ser mais especifico. Ela tinha sérios problemas mentais.

Lily e as amigas sempre gostaram de se sentar nas mesas do meio e dos fundos. Infelizmente Hunter estava em sua turma, havia mais pessoas do que o normal em sua sala. Ninguém sabia o que estava acontecendo. Dois cursos teriam que trabalhar lado a lado em busca do projeto perfeito. Nenhum dos professores estavam na sala ainda para explicar o que estava acontecendo. De vez em quando ela sentia o olhar do rapaz sobre ela. Tentava desviar a atenção usando as amigas como desculpa. Pelo jeito não seria fácil falar com aquela garota. Era uma pena, pois ele sabia que haveria muito o que conversarem.

Logo entrou os professores e pediram para que todos ficassem em silêncio, pois a partir daquele momento tudo o que falassem seria de extrema importância.

— Bom dia alunos! — cumprimentou o professor animado.

A sala respondeu em coro.

— Vocês devem estar se perguntando o porquê de estarem todos reunidos em uma única sala. — começou o professor Guilherme — Tivemos a ideia de criar um projeto que de certa forma mostrará as divergências dos cursos escolhidos por vocês. No mundo das artes podemos transformar tudo o que desejarmos, sermos quem quisermos, mas só podemos externar se tivermos textos que nos incentivem a sairmos da nossa de conforto. E para facilitar todo esse processo será realizado sorteio ara decidir quem serão as duplas.

Estella levantou a mão pedindo licença para poder fazer uma pequena observação.

— Por que não podemos escolher as nossas duplas? — questionou a jovem.

— Porque não é justo. Está na hora de começarem a interagir com as outras pessoas dessa turma. Sempre os mesmos grupos, as mesmas pessoas. Faremos algo diferente dessa vez. — explicou Guilherme empolgado.

Edgar apenas concordava com tudo o que era falado.

— Além desse projeto em si, queremos analisar o comportamento de vocês com os colegas, se dêem uma oportunidade de saber quem é o próximo, a sua história, seus medos, esperanças e sonhos.

Um murmúrio tomou conta da sala lotada. Todos queriam debater ao mesmo tempo.

— Eu tenho certeza de que todos nós podemos nos sair bem nesse projeto, menos a Lilly — começou Laura.

Guilherme cruzou os braços e a encarou seriamente.

— Por que acha isso Laura? Sua colega tem capacidade de ir longe e não é você quem deve julgá-la.

A sala inteira ficou espantada com a resposta do professor. Não esperavam que ele fosse capaz de fazê-la ficar calada com o quem tivesse levado um tapa. Por dentro Lilly sorria satisfeita, mas sabia que depois a sua turma continuaria a falar daquele episódio. Estava cansada de ter tantos problemas com aquela garota.

— Desculpa professor, me equivoquei — mentiu Laura — Falei sem pensar. Todo mundo aqui sabe o quanto eu amo a Lilly.

— Tudo bem... Agora coloquem o nome de vocês nessa folha e amanhã terão o resultado colado no mural.

Um por um foi colocando o nome conforme o professor pediu. O professor Julio analisava cada um dos alunos já imaginando as duplas que ele poderia formar. Observou que a maioria deles não se olhavam ou se comunicavam entre si, viu que poderia ser uma oportunidade perfeita de explorarem os novos campos.

*****

Depois da faculdade Hunter foi diretamente para casa. Não queria saber de nada, o dia na faculdade foi mais cansativo do que ele esperava. Era legal ter toda aquela atenção vindo de todas aquelas pessoas, mas ficava intrigado por ver que apenas Lilly não se importava com a sua presença. Infelizmente ele não poderia obrigar ninguém a gostar dele, mas que era novidade, disso ele não tinha duvidas.

— Oi filho! — cumprimentou Henry entrando na sala — Como foi o dia na faculdade?

Ele levantou a sobrancelha.

— Normal, sem muitas novidades. — ele riu — Alguns dos meus colegas são inacreditáveis. Gostam de causar muito.

Henry conhecia muito bem o filho que tinha, sabia que havia algo de errado, mas se Hunter não queria contar ele não iria obrigar.

— Teremos um evento bacana daqui a alguns dias no restaurante. Um jantar de negócios na verdade. Se fecharmos um acordo, poderemos levar o nome do nosso restaurante pelo Brasil todo.

— Fico feliz pai. Isso é tudo o que o senhor sempre sonhou.

— Está tudo bem? Estou te achando desanimado.

— Só estou cansado. Tenho alguns exercícios a serem feitos, mas depois ficarei bem. Vou para o meu quarto.

Hunter foi para o seu quarto. Jogou a bolsa na cama e se pôs a encarar o seu violão. Havia algum tempo que ele não desfrutava de momentos com o seu velho companheiro. Lembrava-se da primeira vez que o segurou aos nove anos. Foi uma emoção muito grande. Não sabia como conter toda aquela alegria. As primeiras aulas sempre foram um verdadeiro desafio, não gostava das partituras que o professor lhe entregava. Não era nada do que ele gostava de ouvir, mas não queria abandonar as aulas.

Continuou firme e forte. O seu amor pela música não seria interrompido pelas aulas maçantes. Insistiu até que alcançasse o seu objetivo. A música soava de seu coração para os seus ouvidos, a melodia suave o fazia fechar os olhos. Estava sendo transportado pelas ondas sonoras imaginativas. Tinha que ouvir o chamado daquela canção. Retirou de sua mochila o caderno de músicas e começou a compor a melodia. Cada nota ali escrita causava-lhe um arrepio, era uma de suas composições mais intensas.

Naquela canção toda a sua alma estava sendo colocada para fora. Para Hunter aquela música entraria na história. Poderia apresentá-la um dia para algumas pessoas, para amigos mais chegados, mas até aquele momento ele queria mantê-la apenas para si.

 


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