Infinity escrita por Lilly Belmount


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

O livro é escrito por duas autoras: Sanderly Carvalho e eu desenvolvemos a história em parceria.



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Gramado é uma das cidades mais frias no Sul do Brasil. Sua temperatura abaixo de vinte graus atraia turistas e os próprios morados da região. Um pouco mais afastado do grande centro, numa vila pequena e acolhedora mora Lilly. Uma jovem que beirava os seus vinte e dois anos e que acabara de ingressar na faculdade de artes de Gramado.

Lilly Gonzalez é uma moça bonita, de altura mediana com belos olhos castanhos escuros. Seu olhar era penetrante e misterioso, até parecia que ela conseguia ler a alma de quem a olhasse. Seus cabelos cacheados iam até o ombro. Desde muito cedo ela não gostava de levar desaforo para casa, sua forte personalidade não permitia que ela tivesse tantos amigos.

Quando era dia de aula ela sempre se isolava de tudo e todos. As poucas amizades que conquistara com o tempo eram pessoas maravilhosas e que a compreendiam em qualquer momento. Estella que morava perto da casa dela. Joanna que era irmã de Jorge e que moravam do outro lado da rua. Quando estavam juntas várias ideias e conversas surgiam e virava uma verdadeira confusão, mas no fim de tudo sempre tiravam algo de bom.

A família de Lilly era de São Paulo. A vida na cidade grande era boa, mas a jovem decidiu estudar em Gramado por causa do clima frio. Gostava da tranqüilidade e da paz que aquela cidade lhe transmitia. Além de servir como inspiração para as suas escritas. Seu foco sempre foi em conseguir se realizar profissionalmente. Havia outras coisas que a faziam querer ir sempre mais longe, além de seus sonhos queria dar uma vida de alegria e orgulho para sua mãe, Louise.

Louise passou a criar sua filha sozinha após o marido abandoná-la quando Lilly estava com dez anos de idade. O pai de Lilly não queria assumir as responsabilidades que a vida lhe exigia e gostava de se aventurar sem se prender a nada e ninguém. Não achava que era o momento certo de se aquietar, havia muito ainda a ser feito, a descobrir e explorar. Com esforço e dedicação, Louise preparou a filha para os desafios que a vida lhe presentearia. Ensinara-lhe os verdadeiros valores para ser uma pessoa adorada por onde quer que fosse, principalmente se a humildade fosse colocada sempre em prática.

A faculdade de a Lilly estudava era grande. Havia vários tipos de campus de ensino. Desde muito cedo ela sempre se identificou com as artes. Não havia uma única modalidade que ela se sentisse à vontade. Queria sempre aprender mais e mais. Sempre que era convidada Lilly se apresentava em algumas peças do colégio e era bem elogiada pelos professores. Era nos palcos onde ela se sentia realizada, onde toda a sua alma e a razão da sua existência era exposta. Ali ela nunca sentia medo de mostrar suas paixões.

Ela escreveu algumas das principais peças que apresentava na faculdade o que despertava a inveja e raiva das garotas mais populares da faculdade. Não que ela planejasse se destacar dentre as demais, mas sua mente brilhante e positiva fazia com que tudo funcionasse melhor. Ganhava a devida atenção por mérito, mas isso não fazia com que ela se sentisse superior ou sequer esquecesse suas origens, ao contrário de muitos alunos. A ideia de escrever uma peça surgiu da professora de artes, o tema era a Grécia antiga, e como Lilly era apaixonada por leitura foi fácil o processo de criação.

Ter a sua obra montada e apresentada para todos aqueles que duvidaram da sua capacidade foi motivo de orgulho. Sua mãe estivera presente em algumas apresentações e nunca conseguiu descrever em palavras tudo o que sentia ao ver o esforço da filha. Ela sabia como ser forte mesmo sem ter o apoio de seu pai.

Era intervalo dela e enquanto não acabasse o dia de aula, ela optou por sentar-se numa das mesas ao ar livre. O vento frio ao bater em seu rosto a ajudava a ter seus pensamentos mais vivos. Ela era diferente de muitas pessoas, mas era isso que ela gostava. Ser diferente.

— E aí Lilly, sobre o que é sua peça? — Laura começava com as suas provocações — É sobre você em seu mundinho estranho? Ou sobre o papaizinho que você não tem?— ela ria alto com as outras amigas.

Nem mesmo no intervalo Laura a deixava em paz. O que havia feito para que fosse tratada dessa forma? Não era justo. Esse era o preço que ela teria que pagar por se empenhar tanto?

Saíram debochando do trabalho que Lilly estava fazendo. Sua vontade era de dar uma surra naquelas garotas desprezíveis. Laura era uma das garotas populares da faculdade, sempre andava com suas amigas Paola e Elisa. Elas sempre menosprezavam quem pensava diferente delas, o resto não importava. Derrubariam quem fosse preciso, não tinham medo de se arriscarem. Laura comandava o grupo e as outras garotas a seguiam por não terem opinião própria.

Lilly esperava pela resposta da professora Soraya, ela lhe dissera que a encontrava no intervalo e no momento só havia aparecido Laura. Não demorou para que ela avistasse Soraya caminhando em direção a ela.

Soraya era uma das melhores professoras de artes de Gramado com mestrado em artes e era professora em uma companhia de teatro famosa na cidade.

— Finalmente te encontrei, Lilly. Analisei o seu texto e ele está perfeito. — Elogiou Soraya percebendo o clima ficar tenso entre as jovens — Lilly, eu posso falar com você após a aula?

Lilly apenas concordou assentindo com a cabeça. Laura e suas seguidoras deixaram-na sozinha, não tinham mais o que fazer por ali. A jovem ficou intrigada. O simples fato da professora Soraya querer falar com ela depois da aula já era de se preocupar. Mesmo que fosse uma boa aluna Havaí algo a temer.

O segundo tempo passou de forma tranquila, mas Lilly não parava e pensar no que poderia acabar por se envolver numa conversa com Soraya. Esperou até que a sala dos professores estivesse vazia para poder entrar. A professora parecia estar bem concentrada numa leitura.

— Professora?— perguntou Lilly olhando para seu caderno.

— Por favor, entre! — indicou para Lilly entrar na sala.

Ela aceitou o convite e entrou na sala. Sentou-se diante da professora. Seu olhar curioso percorria todo o local. Soraya cruzou as mãos e se pôs a contemplar a presença daquela jovem diante de si.

— Lilly, eu admiro muito seu trabalho, a visão que você tem do mundo e de tudo que a cerca e acredito que você gosta do que faz! — exclamou a professora empolgada.

— Agradeço pela admiração, mas faço tudo isso pelo amor que sinto pela arte. Mas, o que a senhora gostaria de falar a serio comigo? — Lilly cada vez mais ficava curiosa.

A professora gostava de fazer suspense e toda aquela brincadeira estava sendo uma verdadeira tortura para a jovem.

— Você já pensou em trabalhar no teatro? — Soraya olhou serio.

Era uma pergunta que nunca precisou de tempo para criar a resposta perfeita. Lilly sempre sonhou em ter a sua oportunidade no teatro, mas isso demandava muitos gastos. Não poderia arcar com as despesas de um curso do qual ela era apaixonada.

— Eu não tenho como pagar aulas de teatro, Soraya! Já esta difícil pagar a faculdade. Nem tenho tempo para me enfiar em algo do tipo. Se é pra fazer que seja bem feito. Não quero começar algo e depois ter que abandonar por não poder bancar. Essas coisas demandam muita dedicação.

Os olhos de Soraya brilhavam diante do desabafo que Lilly fazia.

— Sim, eu gostaria de contracenar em um lindo palco de teatro! — logo ela voltou para a realidade — Mas, por que a pergunta? — Lilly ficou sem jeito diante da professora.

— Eu quero te convidar para fazer parte da minha companhia de teatro — convidava Soraya confiante. Ela sabia o quão esforçada Lilly era e ela tinha que lhe dar uma oportunidade — O que me diz?

A mulher esperava uma resposta da jovem.

— Como eu disse professora, eu não posso pagar! — Lilly baixou a cabeça tristemente.

Lilly ficou desconfortável com as perguntas da professora. Ela resolveu ir embora, quando ela ia se levantando para sair, Soraya pegou no braço da jovem com carinho. Lilly respirou fundo antes de encarar aquela mulher novamente.

— Eu estou te convidando para fazer parte da minha companhia. Você não terá que pagar para estudar! — a mulher se aproximou ainda mais da jovem —
Estou lhe dando uma bolsa para você estudar teatro. O que me diz? Você aceita? — insistia a professora.

Era uma oferta tentadora demais.

— Eu não sei se consigo! — Lilly estava tremula.

— Sim, eu sei que você consegue — murmurou Soraya.

— Eu fico lisonjeada. Claro que aceito. — Lilly estava feliz com a decisão que enfim tomou — Quando eu começo?

— Pode ir à reunião da companhia na próxima segunda-feira após as quinze horas — disse Soraya pegando um cartão com o endereço da sede — Esse é o endereço e o telefone caso precise se comunicar conosco.

— Muito obrigado, eu farei o melhor possível.

Lilly pegou o cartão e saiu da sala. Queria ir direto para casa contar a novidade para sua mãe. Ela ficaria imensamente feliz. Sabia o quanto sua filha estava lutando pelo seu futuro e mesmo não podendo ajudá-la em quase tudo apoiava a filha no que precisava. A jovem estava tão empolgada que ao sair pelos corredores da faculdade acabou por esbarrar em Laura. Seu sangue gelou só de encontrá-la por ali.

— Aonde vai com tanta pressa, garotinha? — provocou Laura — Correr pra que, se não tem ninguém na sua casa para te esperar?

— Não te devo satisfação, Laura! Você pode me dar licença? — disse Lilly tentando se esquivar.

Laura abriu passagem para Lilly, bateu em seu ombro a provocando, mas a jovem não deu atenção. Não queria saber de mais encrenca, iria apenas para casa e nada mais.

—Tudo o que essa patricinha pensa é em torturar as pessoas! Um dia ela vai ter o que merece. — murmurou Lilly consigo mesma.

*****

Lilly só conseguiu chegar em casa quase no fim da tarde. Lembrou que teria que ajudar as suas amigas com o projeto da faculdade. Estava ciente de que teria uma noite tranquila, exceto pela parte que teria que concluir as suas escritas, mas isso não era tão trabalhoso com parecia. Já tinha todas as ideias marcadas em seu bloco de notas e só precisava desenvolver.

Estranhou ao ver sua mãe sem se preparar para mais uma noite de trabalho.

— Mamãe, o que faz em casa? Não irá pro restaurante hoje? — Lilly ficou preocupada ao ver que sua mãe estava envolvida por uma coberta, parecia tão fragilizada.


Louise olhou desconcertada para filha. Não queria deixá-la sobrecarregada. Sabia que a jornada de estudos era intensa e ter que pedir para ela assumir seu lugar no serviço poderia não ser fácil.

— Não estou me sentindo muito bem, Lilly! — exclamou ela sentindo a dor aumentando. Notou que a filha ficou preocupada de imediato — Minha filha, eu falei com a dona do restaurante e ela concordou em você me substituir. Sei o quanto deve estar cansada e com muito trabalho para fazer, mas você pode ir, por favor?

Sem hesitar Lilly concordou de imediato. O turno começava exatamente dali a uma hora. Ao menos poderia ter um tempo para se trocar com calma. Com a mochila nas costas ela foi para o quarto, pegou uma roupa social e foi tomar um banho para sair.

Raramente Lilly ia ao restaurante onde a mãe trabalhava. Todo aquele ambiente bem requintado não era do seu agrado. Sabia o quanto as pessoas que ali frequentavam eram especialistas em fazerem pré julgamentos. Perdera as contas de quantas vezes sua mãe chegou em casa completamente abalada pelas ofensas recebidas. Não era culpa dos donos. Eles até tentavam ajudar a melhorar a situação, mas nem sempre conseguiam.

Depois de estar devidamente pronta, Lilly foi verificar como sua mãe estava. De fato a gripe estava deixando Louise cada vez mais fraca e lenta e o ambiente de trabalho não lhe favoreceria em nada. Preparou um chá antitérmico para ela tomar. Queria garantir que assim que voltasse da jornada exaustiva de trabalho sua mãe estivesse melhor. Pelo menos os donos compreendiam a situação e permitiram que Lilly os ajudasse naquela noite.

*****


O restaurante era bem conhecido em Gramado. Um dos principais a receber turistas vindos de todos os cantos do mundo. Já na entrada Lilly notou que aquela noite seria repleta de confusão. Algumas pessoas conversavam animadamente do lado de fora enquanto fumavam. Todo aquele agito fez com que a jovem colocasse as mãos sob as têmporas e massageasse. Respirou fundo antes de voltar a caminhar em direção a entrada. Tinha que ser positiva.

— Olá querida! — cumprimentou uma mulher elegante. Lilly deduziu que aquela deveria ser a dona do estabelecimento — Fico muito feliz que tenha vindo. Se puder comece pelas mesas. Estou com três funcionários a menos. Isso nunca aconteceu na minha vida.

— Não se preocupe, nós iremos dar um jeito em tudo isso.

Dito isso Lilly colocou o avental e começou a se deslocar pelo salão. Os clientes reclamavam da demora para que fossem atendidos, para que os pedidos realizados saíssem. Correu para as máquinas e preparou as bebidas que estavam atrasadas e foi entregando a cada um dos clientes furiosos.

— Lilly pode me ajudar na cozinha, por favor? — perguntou a cozinheira com uma panela em mãos — Isso aqui está uma verdadeira bagunça.

— Claro, eu estou indo! — Lilly se apressou em ajudar, pois notou que o rapaz que estava por ali já conseguia resolver algumas coisas sozinho.

Colocou uma touca para proteger os cabelos e começou a preparar os lanches. Havia oito lanches em atraso e sempre chegava o garçom perguntando se estava pronto. Estava ficando chato toda aquela pressão por parte dele. Sua paciência já tinha ido embora desde que ela havia chegado.

Ela ficou vermelha de raiva ao vê-lo novamente pela pequena abertura que os separava. Havia um sorriso debochado que não sabia de seus lábios. Não havia motivo para sorrir.

— Já saiu o lanche que eu pedi faz tempo? — perguntou o garçom na copa. Ele fazia umas caretas apressando-a ainda mais.

— Com licença, educação se usa viu? — murmurou ela fuzilando-o com uma sobrancelha levantada.

— Os clientes estão nervosos! — disse o rapaz com a voz impostada — Já não sei mais o que fazer. Tipo, você poderia ser mais ágil.

— Então fala que está muito corrido e que tenham paciência que os lanches estão sendo servidos.

Lilly revirou os olhos furiosa, depois que rapaz se afastou. Não gostou do seu jeito atrevido de ser.

— Mas que sujeitinho sem educação, tem cara de quem se acha o dono do mundo. — murmurou ela para si mesma.

Lilly tentou se acalmar, arrumar confusão com os funcionários do restaurante não seria uma boa situação. Sua cabeça explodia de tanta preocupação. Saber que sua mãe estava sozinha em casa era motivo para que ela se sentisse mal. Não havia ninguém em que pudesse confiar. Teria que aguentar mais algumas horas para enfim poder descansar em sua cama macia. Não demorou muito até que todos os clientes estivessem saboreando os seus pedidos. Lilly sorria satisfeita, mas nem mesmo assim o rapaz deixava de olhá-la. Decidiu ignorá-lo e continuou ajudando na copa e cozinha.

O agito do restaurante foi caindo aos poucos de modo que se sucederam alguns intervalos entre os funcionários. Lilly aproveitou a deixa e foi limpar as mesas, deixar o ambiente novamente organizado. Tudo parecia realmente calmo, até a música que tocava ao fundo era agradável. Seus pensamentos a levavam para longe daquele ambiente, daquelas pessoas, mas ao ouvir um riso familiar ela congelou por completo, sua noite acabou de piorar.

— Mas olha só quem trabalha aqui! — exclamou Laura debochada — Se não é Lilly, a queridinha da professora. Você não vai nos atender, garçonete? — ironizou Laura.

Notando o desconforto entre aquelas garotas, o rapaz se aproximou. Queria ajudá-la.

—Eu vou atendê-las, o que querem pedir? — disse o garçom olhando para Laura e suas amigas.

Laura lançou um olhar desafiador em direção a Lilly.

— Eu quero ser atendida pela nossa amiga Lilly! Laura apontou para Lilly que ia saindo.

— Tudo bem! Eu vou atendê-las. — Lilly mostrou seu profissionalismo.

Laura e suas amigas fizeram o pedido, uma outra garçonete terminou de atendê-las porque Lilly queria relaxar um pouco. Ficar no mesmo ambiente que aquelas garotas só iria deixá-la ainda pior. Esperou até que elas fossem embora para poder tomar um pouco de ar fresco. Se passasse por elas a provocação poderia recomeçar, pois Laura não se importava com nada.

Sentou-se no banco um pouco mais a frente e se pôs a encarar o vazio. Havia tantas perguntas que precisavam de uma resposta. Não conseguia entender porquê de ser tratada daquela forma por Laura. Sentia-se mal por todas aquelas atrocidades e mesmo assim não conseguia deixar de revidar todas as provocações. Fechou os olhos por um momento controlando a vontade de permitir que as suas lágrimas rolassem sob o seu rosto. O vento frio da noite lhe fazia bem.

Estava tão imersa em seus pensamentos que não percebeu quando alguém sentou-se ao seu lado.

— Está tudo bem? — perguntou o garçom.

— Faz um favor, cuida da sua vida! Você não me conhece! — disse Lilly saindo sem olhar para trás.

O rapaz ficou chocado. Pensou em ir atrás dela, mas seria melhor que assim não o fizesse. Ela precisava de um tempo sozinha e ele respeitaria o seu espaço. Sentiu-se muito mal por ver que ela tinha determinação, mas as clientes em potencial estava estragando tudo, diminuindo alguém que poderia ser mais do que ela mesmo se conhecia.


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