Você não entende as minhas cartas. escrita por bramorxki


Capítulo 2
Capítulo 2 - O encontro de esperanças.


Notas iniciais do capítulo

''Sempre estamos negando o que mais precisamos por perto. Amor, amizade, você. A gente se nega muito pelas imperfeições que temos. A gente se julga muito pelo nível de aceitação e tolerância das pessoas com tudo. E por fim, fim.'' - um garoto com uma mente



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''Oi, estranho. Como vai? Eu sei, demorei pra te escrever desde a última carta, e eu sinceramente peço desculpas por isso. Tenho tido problemas sobre sair daqui. A minha lâmina perdeu o corte e não consigo achar pedra ou afiador. Vêm me remoendo e ás vezes grita comigo e.... eu não consigo. Aquele sentimento de sempre morar... aqui. Me tira daqui, eu...''

— Você quer um café querida? - minha mãe me ofereceu aquele café me dando um enorme susto então logo falei.

— Não, eu quero ficar sozinha. - recuperando fôlego e ar novamente e um tanto grossa, pronunciei essas palavras.

Vi o rosto dela se fechando e então fechou a porta lentamente. 

''... eu... eu estou bem. Nooormal.''

Olhei pra baixo e em pouco segundos meu pai abre á porta:

—Filh.. - o interrompo. 

— Pelo amor de Deus, será que é de outro planeta eu não querer comer nada e querer ficar sozinha? É pedir de mais? - disse sem ter pensado duas vezes. 

— Júlia... - o interrompo novamente.

— Não. Só sai do meu quarto e me deixa, eu to legal, ok? - minha mãe aparece do lado do meu pai - o que foi agora? 

— Por que - minha mãe gagueja - você não foi pra aula hoje querida? - quase chora.

— Pelos simples motivos que eu não estou indo, que saco! - imponho - E por que vocês tem que ficar trazendo esse assunto toda hora pra discussão? Será que é tão difícil assim fingir que eu não exista? Me deixa pelo amor de Deus, me-deixa. 

Os dois saem do meu quarto já escuro que, agora por estarem aqui, tinha uma fresta de luz, agora não há mais nada.

''Tenho vivido um inferno aqui. Recentemente comprei um telefone e já tenho o número. Sei que você é de longe, mas quem sabe no Natal a gente consiga trocar um 'oi'. Meu número é +1 (440) 994-415...''

Em um estranho silêncio muito familiar, ouço minha mãe chorando. Saiu do meu quarto e vou até o quarto dos meus pais e ouço a conversa como uma bisbilhoteira de primeira.

— Eu não quero perder a minha filha - a minha mãe chorava desesperadamente no ombro do meu pai.

Dou meio passo para trás.

— Ô meu amor, nós já tentamos tanto, e vai ser uma chance pra ela conseguir se enturmar, fazer amigas, e todas aquelas coisas que as garotas da idade dela fazer. - meu pai disse sem ao menos me consultar, até por que, eu já tinha entendido tudo. 

Minha mãe estava chorando muito. Ela chorava de mais e eu já sabia aonde isso ia acabar. Indo de volta pro meu quarto terminar á carta, encontro o meu irmão me encarando com uma cara muito estranha. Uma cara de quem sabia o que estava acontecendo e que ia fazer algo. E eu não conseguia dizer o quê.

— A sua vida acabou, internada-tada. - falou ele com o português incorreto de sempre dele. 

Quase entrando no meu quarto, meu irmão me pega firme pelo braço, me olha com o olhar estranho e diz:

— Mas você já vai pra cama? O que houve com a garota 'da madrugada', a garota - ele abre um sorriso suspeito - 'da lâmina afiada', ahn? 

Num movimento de tentar sair dos braços dele, meus pais saem do quarto, o Pedro me larga e eles direcionam o olhar deles á mim e dizem sem pausas ou frieza:

— Faça suas malas. Coloque tudo aquilo que você acha importante que amanhã conversamos. - disse meu pai.

Minha mãe agarrada ao meu pai, fala com a voz chorosa e trêmula:

— Pablo, por fav... - meu pai a interrompe.

— Agora Júlia. - ele finaliza. 

Minha mãe cai no chão como movimento de desespero e luto. Me assustei em ver a minha mãe assim, estava tudo tão parcial. Apenas a observava.

— Não saiu até agora, por que a demora de entrar em seu quarto Júlia? - meu pai falava sem repensar, muito certo.

Olhei novamente para minha mãe, porém não conseguia ver o rosto dela coberto dos cabelos louros, apenas... eu. Voltei para o meu quarto, comecei a arrumar as minhas malas e tudo que eu tinha, mas não para ir fazer amigas ou qualquer mentira que estava rolando ali. Um amigo que chamei pelo meu celular veio até a minha janela e eu entreguei uma carta para ele entregar para o cara que estava me enviando tantas cartas. 

— Pra onde? - Pablo perguntou preocupado.

Eu olhei para o os olhos verdes e lindos dele e então comecei a levemente chorar:

— Eu não sei - até terminar de chorar, me  debatia de chorar nos braços dele. 

— Vai, por favor, vai. E - antes de entregar a carta, escrevi o número 4 no selo - ele vai entender. 

Não consegui contar direito, mas pressentia que já havia passado horas desde o que aconteceu. Reuni minhas coisas e dei uma passada em frente do quarto de meus pais. Apenas minha mãe estava na cama e achei muito suspeito isso, ainda mais pelo fato de que meu pai estava estranho e alterado aquele dia. 

— Mãe... - falei muito baixo com uma voz chorosa.

Num ato rápido e de surpresa, meu pai prende a minha boca com uma força muito grande e começo a chorar de medo e de agonia do que estava acontecendo. Ele me carregou até o quarto do meu irmão e me jogou na cama, e de lá Pedro prendeu minha boca novamente e me prendeu nas beiradas da cama. Eu me debatia, eu não conseguia reagir muito bem a nada que eu fazia, tudo era tão... pesadelo. 

Mesmo com tentativas frustadas de berrar, permanecia um silêncio. Com o andar lento e assustador, com o barulho das botas tocando o chão de madeira do quarto do meu irmão, ele se aproximou de mim e disse:

— Pedro. Não me envergonhe - com as atitudes de sínico, ordenou o mais louco ainda. 

Com as inconstantes tentativas de sair daquele lugar, daquela cama, meu irmão subiu em cima de mim e começou a me tocar. Eu chorava muito. Eu não conseguia fugir. Tentando me desacordar com produtos químicos que ele roubou da escola, fiquei tonta e frágil. 

Acordei na manhã seguinte na praça da minha pequena cidade. Toda manchada de sangue, com marcas físicas e tonta. Tinhas muitas pessoas ao redor, não consegui entender o que havia se passado, estava tudo tão... morto.


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Notas finais do capítulo

Próximo capitulo em 9 de Julho.
Capítulo 3 - Quatro pras dez.



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