Minha vida em pequenas Escalas escrita por Iset


Capítulo 6
Babás e ataques cardíacos


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo da nossa novelinha da paternidade! Boa leitura!



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Babás e ataques cardíacos

Os dias passam e tirando os cocôs a jato, as madrugadas em claro e o fato de eu parecer ter saído de um episódio de The walking Dead, as coisas pareciam correr bem.

Emma recebeu elogio da pediatra por ter engordado algumas gramas, eu tinha me saído bem na entrevista com o serviço social e por mais estranho que pareça, minha mãe e eu estávamos até nos entendendo. Talvez fosse parte de toda a magia, que a Carolina acreditava rondar o nascimento de uma nova vida, ou o peso na consciência pelo abandono afetivo que eles me obrigaram a viver na infância, mas de qualquer forma, eu gostava de tê - la por perto.

— Okay Emma, hora de entrevistar as babás! Está pronta? - Digo a colocando no carrinho quando ouço a campainha tocar.

A primeira candidata parece ter saído de um filme sobre orfanatos sombrios. Ela usa um blazer azul escuro e uma saia lápis, cabelos bem alinhados num coque, postura ereta e olhos azuis, que me destilam um olhar da cabeça aos pés. A convido a entrar e ela dá um sorriso forçado a Emma, retirando imediatamente a sua chupeta e fazendo um discurso sobre como são prejudiciais a saúde bucal das crianças. Quando chego a pergunta cinco e ela sugere que eu deveria cortar meus cabelos, para disfarçar meus traços nativo americanos, já a dispenso, afinal, quero uma babá e não um comandante da SS.

A segunda candidata tem uma aparência mais gentil e uma voz suave, parecia perfeita até que:

— Trabalhei por 15 anos com os mesmos patrões, praticamente criei os filhos deles. - Fala com um certo orgulho.

— Que ótimo, estabilidade é o que procuramos. - Respondo entusiasmado.

— Sim claro, 15 anos da minha vida dedicado aquelas crianças, aí elas crescem e a querida babá se torna dispensável… - Diz  já enchendo os olhos de lágrimas.

— Bom você fez seu trabalho bem e é…

— Sim eu fiz, em 15 anos eu tirei férias apenas 3 vezes, limpei a bunda daquelas crianças enquanto eles iam esquiar no Aspen! Fiquei três meses trabalhando sem receber, porquê o sr Thompson havia perdido o emprego, sacrifiquei finais de semana e recitais da minha filha! E pra quê? Para um não precisamos mais do seu serviço? - Diz a mulher que começou o discurso em pranto e agora parecia enfurecida.

— Quer uma água com açúcar? - Ofereço sem saber o que dizer.

— Água com açucar? Foi o que aquela vaca da sra Thompson me ofereceu quando dispensou! Sabe o que eu devia fazer? Devia entrar na casa deles, encher tudo com gasolina e dar risadas enquanto tudo queima! - Diz ela com um olhar assustador, e em seguida respira profundamente e continua com a voz doce. _ Então, estou contratada?

— Ah eu ainda tenho duas entrevistas, mas ligamos caso seja selecionada… - Digo pausadamente com medo da mulher surtar.

A terceira candidata era jovem e com peitos enormes, e apesar dela não parecer tão assustadora quanto as outras, sabia ainda menos que eu sobre bebês, e aliás tinha teorias piores que as minhas sobre eles.

— Não, bebês não se afogam, eles filtram o ar da água, como os peixes! - Diz convicta.

— Ah é? - Digo incrédulo no que ouço.

— Sim! Como acha que eles respiram dentro do útero cheio de água, bobinho? - Diz ela com um ar de esperteza.

— Claro como não pensei nisso? - Digo concordando, afinal, eu demoraria horas para explicar sobre cordão umbilical para aquela garota.

Quando ela sai fecho a porta e olho para Emma que já sabe retribuir olhares.

— Até agora temos a sargento nazista, a bipolar incendiária e a coelhinha da playboy, qual prefere? Se eu fosse você escolheria a coelhinha da playboy, mas acho que sua idade mental é maior que a dela e provavelmente encontraria você boiando no aquário quando chegasse do trabalho, então melhor não. - Digo enquanto ouço a campainha tocar mais uma vez.

— O que será dessa vez? Uma satanista ritualística? - Pergunto a Emma, e ela cai no choro, a pego no colo e me encaminho a porta. E quando a abro, meu coração quase para.

Uma garota bonita na casa dos 25 anos, cabelos longos e levemente ondulados, rosto doce e olhar brilhante, usava um jeans e uma camiseta soltinha estampada com pequenas flores.

Sim ela era uma sósia da Carolina.

— Oi, sou a Amber, nos falamos por telefone. Você deve ser o Noah? E essa a Emma. - Ela diz com um sorriso e eu fico estático.

— Você está bem? - Ela fala franzindo o rosto.

— Ah sim, desculpa. Tem sido um dia longo. - Digo enquanto tento acalmar a Emma.

— Imagino. Eu posso entrar?

— Claro, entre. Desculpe a bagunça.

— Ah tudo bem, eu tenho três irmãos pequenos, sei como é, eu posso pegar ela? - Pergunta vendo a minha tentativa frustrada de tentar fazer ela parar de chorar.

Ela pega a Emma, cheira e a recosta contra seu corpo, colocando a cabecinha dela no seu peito, embalando levemente perto da janela da sacada. Emma foi se acalmando até se render ao sono, foi inevitável ver na Amber, a Carolina naquele momento.

— Senhor Johnson. - Diz chamando minha atenção, quando percebe que minha mente paira longe dali.

— Desculpa, parece que ela gostou de você. Vamos a entrevista?

Como era de se imaginar eu contrato Amber, durante os primeiros dias ela vem apenas duas horas e vejo o quanto ela é atenciosa e gentil com Emma. Na semana seguinte volto ao trabalho, e descubro que ser pai de menina é ouvir todo o dia uma piada com um tom de malícia de qualquer cara que tenha um filho homem. Por sorte eu sou Noah Johnson e qualquer brincadeira levava uma resposta a altura.

— Deixou de ser consumidor para ser fornecedor é? - Diz o gordinho do Rh.

— Não sei, sua mãe foi muito consumida por aí?

— Nossa ela é tão bonita. Tem certeza que você é o pai?

— Olha, tenho certeza que você não é, qual mulher vai querer abrir as pernas pra você?

— Hum… menina? Daqui a pouco a tua porta tá cheia de marmanjos.

— E a sua não? Só porque tem um menino, não significa que não vai ter uns barbados na sua porta.

— Nossa! Menina dá muito mais gasto, elas querem comprar tudo que veem.

— Sério? Nossa vou costurar um pênis nela, aí magicamente ela não vai ser uma vítima do sistema capitalista. Devia fazer isso com sua esposa também, muito mais econômico.

E depois de algumas patatas, eles desistiram.

A semana passou e a seguinte também, Emma estava prestes a completar dois meses e já destilava sorrisos encantadores. Ela parecia entender as coisas ao seu redor, menos é claro, que devia dormir a noite.

Minhas madrugadas eram em claro, o máximo que conseguia era cochilos de 40 minutos seguidos, e eu tentei tudo, absolutamente tudo que o sr. Google me recomendou sobre sono de bebês. A única coisa que parecia funcionar era leva-la passear de carro, ela capotava depois de 10 minutos e dormia por incríveis duas horas no bebê conforto, mas eu não podia deixá-la na garagem do prédio e o banco do motorista não era muito confortável para alguém com quase um metro e oitenta de altura.

Amber era muito prestativa, quando percebia que eu estava cansado demais ficava uma hora a mais para que eu pudesse dormir um pouco, naquela sexta ela ficou quase quatro e quando despertei já se passavam das 22h.

— Nossa desculpa, porque não me acordou?

— Eu tentei, mas você parecia que estava morto, eu cheguei a checar os seus sinais vitais. - Ela diz rindo

— Ah me perdoa, Emma não dormiu nada noite passada. Eu vou pagar as horas extras okay?

— Não precisa, eu não tinha nada demais pra fazer,  bom vou pra casa.

— Não, que isso, eu posso te pagar um jantar pelo menos? Tem um restaurante aqui perto muito bom, a Carolina adorava o canelone de lá.

— Eu ia adorar.

— Okay, eu vou trocar a Emma. Vem com o papai bonequinha.

Levo a Emma até o trocador, escolhi um vestidinho, meias calça e um casaco. Troco as fraldas e a visto. Eu estava craque naquilo.

— O que foi? porque ta me olhando assim? Digo olhando pro rosto franzido dela. _ É só um jantar pra pagar ela ter ficado com você, peraí você não tá achando que eu estou cantando a sua babá está? É claro que não. Okay ela é bonita, parece com sua mãe, mas eu amo a sua mãe e se eu a conheço bem, começariamos a ter eventos paranormais nessa casa se ela pensasse que eu to pensando em outra garota. Certo? Então pare de me olhar desse jeito. - Digo a pegando no colo.

Vamos ao Franccesco e nos deliciamos com o rodízio de massas, enquanto conversamos na maior parte sobre a Emma, mas ela também fala sobre a faculdade e eu comento sobre as piadas que tenho ouvido no trabalho. Peço a conta e quando vou até o caixa pra pagar dou de cara com a minha mãe.

— Mãe?! - Que está fazendo aqui?

— Eu é que pergunto Noah, fui até sua casa e você não estava. Esqueceu que eu ia pegar a Emma hoje? Lembrei que você vinha aqui as sextas e quem é ela? - Diz voltando o olhar pra mesa onde Amber está sentada brincando com Emma no bebê conforto.

— Esqueci, desculpa. Ela é a Amber, a babá que te falei.

— E a sra Gerald, que eu indiquei? Ela tinha ótimas referências e você contratou uma garota pra cuidar da minha neta?!

— Primeiro a Amber é mais velha que eu, e não ia contratar aquela sargento para cuidar da Emma! Pra quem ela trabalhou? Pra família Hitler? Putin?

— Ah Noah você e os seus exageros, mas devia ter contratado uma babá pra Emma e não pra você.

— Pra mim? Aff por favor mamãe, a Emma adora a Amber, ela tem sido ótima pra gente e…

— E lembra muito a Carolina não é? Ah Noah, olha, eu só não quero que se machuque, ainda é tudo muito recente, mas precisa aprender a viver sem ela.

— Eu não tô tentando substituir a Carolina, contratei a Amber porque ela era a única com sanidade mental e QI acima de 20, que foi fazer a entrevista. Só isso.

— Certo, mas querido lembre - se que você é um Johnson e muitas garotas podem se aproveitar desse momento difícil pra tentar tirar proveito de você.

— Ah mamãe, por favor… Por um instante achei que estivesse preocupada comigo, mas é tudo questão de finanças como sempre! Acha que porque a Carolina morreu, eu vou botar a primeira garota que queira um herdeiro do mercado imobiliário na minha vida? Na vida da Emma? Sinceramente. E olha a Emma não vai com você hoje. Tenha uma boa noite. - Digo irritado.

Deixo a Amber na porta de casa e volto com a Emma pro apartamento. Durante a noite ela tem um pouco de febre e eu dou algumas gotas de antitérmico. Passamos o nosso típico final de semana, trancafiados em casa. E na madrugada de domingo Emma desperta as 3h da manhã com um choro retumbante.

— Eu estou indo. - Respondo cambaleante de sono.

A pego do berço e dou umas sacudidas, sinto ela quente outra vez, pego o antitérmico, ou pelo menos o que eu acreditava ser o antitérmico e coloco algumas gotas na mamadeira. Depois de mamar e arrotar, sua temperatura está normal.

“ Talvez eu devesse a levar ao pediatra pela manhã.” - Penso.

Volto pro meu quarto e caio num sono profundo, desperto com o som da campainha. Miro o relógio já passa das oito e eu certamente me atrasarei para o trabalho. Levanto num salto, passo pelo quarto de Emma e por milagre, ela ainda dorme.

Abri a porta e Amber está a espera com um sorriso, que muda pra uma cara intrigada ao me ver ainda de pijamas.  

— Emma dormiu e meu celular não despertou. Explico já pegando os meus sapatos e voltando correndo pro quarto. Tomo uma ducha rápida e enquanto me visto ouço os gritos de Amber vindo do quarto de Emma. Saio pelo corredor calçando os sapatos e Amber está com uma cara de pavor, enquanto Emma parece dormir sobre o trocador.

— O que houve?

— Ela não acorda, está fria. - Diz Amber e eu sinto meu peito disparar. Avanço pro lado dela e a confirmo o que Amber relatou, Emma está inconsciente, com o corpo ligeiramente frio, suas pálpebras estão num tom arroxeado  e quanto mais esforço faço pra despertá - la, mais desesperado eu fico.

A enrolo num cobertor e eu dirijo rápido até o hospital. Emma é levada às pressas para a sala de emergências e nos obrigam a esperar do lado de fora. Minutos depois uma enfermeira vem e me faz milhões de perguntas, eles ainda não sabem o que ela tem e a essa altura eu estou a beira de um ataque cardiáco. Tudo que posso fazer é o que qualquer adulto responsável faria numa situacão dessas.

— Mãe, a Emma passou mal estamos no hospital Saint Morgan, por favor venha o mais rápido possivel… - Deixo o recado na secretária.




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Notas finais do capítulo

Ixiii algo deu ruimmm...