Minha vida em pequenas Escalas escrita por Iset


Capítulo 7
Anjo da Guarda


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente gostaria de agradecer aos novos acompanhamentos, especialmente a Mah que também acha a Helena gilbert uma sem sal e também a princesa Winchhester que fez esse banner lindo pro capítulo. Sem mais, boa leitura!



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Anjo da Guarda

Cerca de três horas depois minha mãe chega, exatamente na hora em que o pediatra me dá o possível diagnóstico:

Intoxicação medicamentosa.

— Isso é impossível eu só dei algumas gotas de antitérmico pra ela, como a médica me explicou. Foram só três ou quatro gotas! - Me defendo enquanto sou fulminado pelo olhar da minha mãe e do médico. Que me miram como se eu tivesse colocado arsênico na mamadeira da bebê.

— Talvez tenha se confundido pois o exame indicou valium. Tem esse medicamento em casa? - Ele diz e sinto minha cara cair no chão.

— Eu tenho, eu tomei pra ansiedade quando estava fazendo as provas finais da faculdade.

— Acha que pode ter se confundido? - Diz o médico levantando uma sobrancelha.

— Talvez… Eram 3h da manhã, eu estava com sono… Droga… - Digo me sentindo um lixo e me dou um tapa na testa. 

— Eu sabia que cedo ou tarde ia dar nisso! Que droga Noah custava ler a embalagem? Valium pra um bebê de colo? Ela podia ter morrido!

— Ela vai ficar bem não é? - Pergunto ao médico sentindo um nó se formar a minha garganta.

— Os rins foram seriamente intoxicados, estamos tratando, mas a situação é grave, eIa pode perder o rim esquerdo.  Estamos fazendo todo o possível para que se recupere, vai ficar na uti essa noite e amanhã reavaliamos o quadro. Por sorte a dose foi pequena, do contrário ela não teria acordado com vida, se quiserem entrar para ver a bebê,fiquem à vontade, com licença. - Ele diz se afastando pelo corredor.

Vou até o centro de tratamento intensivo, Emma está num bercinho com uma máscara de oxigênio, um acesso na mãozinha e muitos fios de monitoramento. Acaricio seus cabelos e beijo sua testa, ela abre os olhos por uns instantes e eu peço desculpas entre lágrimas. Talvez minha mãe tivesse razão, foi loucura tentar cuidar dela, eu não era bom o suficiente, responsável o suficiente. Como pude pensar que poderia fazer isso sem a Carolina?

O que era a minha vida antes da Carolina?

Confusão, brigas familiares, bebidas, drogas, notas péssimas e uma ficha criminal que só não me levou para prisão por ser menor e ter pais ricos. Sempre fui um fracassado antes dela e agora eu continuava sendo. Carolina sempre foi uma espécie de anjo da guarda pra mim, eu diria meio mãe, se isso não soasse meio pervertido, mas o fato é que ela sempre me manteve no rumo certo, ela me fazia ter vontade de ser alguém bacana, de ser a melhor versão de mim mesmo. E eu tenho certeza que seria um pai melhor, se ela tivesse aqui para me dizer o que fazer.

Fico com a Emma até a enfermeira pedir para que eu me retire.

Todos os dias passo algumas horas no hospital e o mês mais angustiante da minha vida passa lentamente. Emma se recuperou da intoxicação em cerca de uma semana, mas acabou contraindo uma bactéria hospitalar que baixou suas defesas e agora ela estava com uma pneumonia. Tudo aquilo parecia um ciclo que não teria fim, sempre que ela dava sinais de melhora, outra coisa aparecia. E a essa altura do campeonato, minha mãe já havia me convencido de que eu não era o melhor para Emma. Sob hipótese alguma eu a entregaria a adoção, e minha mãe também já não considerava a ideia, pois havia se apegado muito a bebê nesse meio tempo, a solução para o melhor para Emma que “encontramos”, ou devo dizer praticamente imposta devido a minha falta de trato com um bebê, foi que Emma fosse viver com ela e meu pai, assim que deixasse o hospital.

E esse dia chegou e do hospital a levei diretamente para casa de meus pais.  Por mais que eu me sentisse um derrotado, de alguma forma estava convencido de que era o melhor para ela, afinal, eu quase a matei. Naquele dia volto para casa, sem ela, e mesmo ela tendo ficado tanto tempo no hospital, agora oficialmente ela não era mais minha e  tudo parece ainda mais vazio naquele apartamento.

Eu tentava me ater às palavras dos meus pais:

“É o melhor para Emma”

“ Você tem apenas 23 anos, precisa se dedicar a sua carreira, ela tem que crescer e ter orgulho de você”

“ Você não sabe e nem tem como cuidar de um bebê”

“ Ela vai te agradecer por isso”

" Precisa deixar seu egoísmo de lado e pensar no melhor pra sua filha!"

Vou até o quartinho da Emma e começo a colocar todas as suas coisinhas na mala, no alto do guarda roupas há algumas caixas com brinquedos, sapatos e entre elas uma caixa com fotos minhas na tampa me chama a atenção.

Carolina fazia aquilo nos meus aniversários. Ela chamava de “festa na caixa”, fazia quitutes gostosos, suco, um pedaço de bolo e colocava um presente, mas ainda faltavam meses pro meu próximo aniversário.

Pego a caixa e vou até a sala.

Sento no sofá e com um certo receio abro a caixa, há um jogo de videogame, duas latas de cerveja importada, um maço de cigarros, uma entrada para o jogo dos Yankees que já havia acontecido, e um Dvd.

Pego o dvd e o coloco no aparelho, a imagem da Carolina aparece na tela, com o barrigão enorme sentada no sofá, exatamente onde estou no momento.

— Bom dia papai! - Ela diz com um sorriso colocando o unicórnio rosa na tela e balançando um chocalho. Meus olhos se enchem de lágrimas e ela continua.

— Você deve ta se perguntando: Que merda é essa? Bem! Se tudo correu como esperado e o correio fez seu trabalho direito, já devemos estar com nosso baby há algumas semanas. Deve estar uma loucura pior do que na gravidez, eu ainda devo estar brigando com a balança, irritada, estressada e cansada. E sim se eu me conheço eu devo estar te deixando louco não é? - Ela diz levantando a sobrancelhas e eu desabo a chorar.

— Talvez você esteja tão cansado quanto eu, mas eu não vou ver isso, amor, vou dizer que você tem seu trabalho pra de "distrair" que nào tem que amamentar etc... e tal... Então tenha paciência comigo, com o nosso bebê, as coisas vão melhorar. Eu espero. E mesmo que pareça difícil ver isso entre meus gritos, dizendo que você não sabe fazer nada, que não me ajuda, que você é infantil, que vou voltar pro Brasil e todas as coisas ruins que eu tenho certeza que estou dizendo a você… Saiba que nós te amamos, precisamos de você… Você, Noah é nosso porto seguro, nosso herói, o anjo da guarda sem asas e um pouco atrapalhado, que nos protege e nos ama. E hoje a gente resolveu te dar uma folguinha, jogue seu video game, beba uma cerveja e eu não vai precisar se esconder na garagem pra fumar escondido okay? Sim eu sei que não largou o cigarro, mas faça isso na sacada e use enxaguante bucal, porque não quero você fedendo perto do bebê. E lembra que tem um filho e não queremos um câncer de pulmão… Então pega leve… Também tem duas reservas de entradas pro jogo, isso se os yankes chegaram na final, chama um amigo, veste aquela sua camiseta velha e se divirta. Tenha um tempo para relaxar e botar a cabeça em ordem, recarregar as baterias e depois volta para gente tah? - Ela diz me olhando nos olhos, com aquele sorriso lindo.

— Eu te amo, Quer dizer… Nós te amamos papai e obrigada por tudo que tem feito e por ainda estar aqui, mesmo que no quarto agora tenha uma louca cheia de olheiras, andando de um lado pro outro com um bebê que chora dia e noite e que briga com você o tempo todo. Bom é isso. E se por acaso eu tiver de mau humor hoje, traz chocolate quando voltar do jogo. Eu te amo.

 A tela fica preta e as lágrimas rolam pelo meu rosto, passo alguns minutos estático e depois revejo o vídeo diversas vezes.  Levanto coloco as cervejas na geladeira, tomo um banho, visto minha camiseta dos yankees e jogo videogame. Acho que eu passo umas três horas na frente da tv, antes de decidir ir ao estádio. O jogo já havia acontecido há mais de um mês, mas eu sento na arquibancada e fico olhando pro campo, lembrando das vezes que viemos juntos aos jogos. Apesar de tantos anos juntos, Carolina nunca conseguiu entender as regras do beisebol e todo o jogo ela fazia as mesmas perguntas, enquanto se empanturrava de cachorro quente e pipoca doce.

— Ah Carolina, eu daria qualquer coisa para ter você aqui. - Falo olhando pro céú. _ Que droga?! Você tinha que me deixar sozinho nessa? Eu quase matei a Emma, desculpa mas eu não posso fazer isso meu amor, eu não posso cuidar dela. - Digo  abaixando a cabeça e mais uma vez me entregando ao choro.

— Senhor, o estádio vai fechar precisa sair. - Diz o zelador com uma vassoura nas mãos

— Okay eu já estou indo. - Secando as lágrimas com as mãos disfarçadamente, mas ele percebe e se senta ao meu lado.

— Dia difícil rapaz?

— Meses difíceis.

— Eu acho que já te vi por aqui.

— Eh eu vinha aos jogos com a minha esposa, ficamos famosinhos depois que a kissCam nos filmou e eu a beijei sem parar de olhar pro jogo, está com quase 500 mil acessos no youtube. Queria ter dado mais a atenção para ela e não para um jogo idiota.

— Ela te deixou foi?

— Ela morreu.

— Nossa…. Uauu… Sinto muito.

— Já faz três meses, temos uma filha. Que eu quase matei dando o remédio errado, ela me mataria se tivesse aqui e com razão.

—Ah que isso as pessoas fazem burrada, eu mesmo tenho muitos filhos e ano passado atropelei um deles. Ele ficou bem

— Sua mulher não te matou?

— Não a mãe dele esqueceu a número 3 dentro do carro por seis horas uma vez… se não fosse eu... Pais, mães, babás, todo mundo faz burrada, uma vez o outra, o negócio é aprender com os erros e tentar não fazê - los novamente. Ser pai não é algo fácil.

— Eh, mas eu sou muito bom em fazer burradas e se ela tiver sorte de conseguir que eu não a mate acidentalmente, ainda assim eu não acho que serei uma boa influência para ela.

— Não há pai mais mal influente que o pai que não existe. Ele deixa tamanho vazio, provoca tantas interrogações, seu filho pode gastar a vida tentando entender-se por causa disso, você não acha? Pode ficar aí mais uns minutos eu vou estar na portaria.

Fico mais uns minutos e vejo as luzes se apagarem, de certa forma o zelador tinha razão, eu mesmo fui privado do convívio paterno e isso me incomoda mesmo hoje, homem adulto de barba na cara.

Meu pai biológico eu sequer conheci, e meu pai adotivo, estava ocupado demais a maior parte do tempo para me criar. Com a Carolina não foi muito diferente, viu o pai três vezes na infância toda. Nós dois tivemos pais, pais que nos amavam, mas que poucas vezes demonstraram esse sentimento, não nos acolheram, não dividiram, não viram nosso primeiro dente ou passo, não celebraram nossas conquistas, embora estivessem vivos não estavam presentes. E isso machucava, na verdade ainda dói. E estou prestes a fazer o mesmo com minha própria filha.

Engulo a seco, me levanto e vou até a portaria outro homem está sentado na cabine e eu pergunto pelo zelador, que fazia a limpeza.

— Não temos zelador há anos, uma empresa terceirizada faz a limpeza a cada semana. - Ele responde e eu fico intrigado, mas decidi não discutir.

Pego o carro e dou meia volta quando pego a rampa de acesso pro meu bairro, Passo no posto de gasolina compro duas barras de chocolate e as deixo no túmulo da Carolina. Já é noite quando chego a mansão dos Johnson e adentro a casa sem cerimônia, minha mãe está no escritório assinando uns papéis, ela para e vem na minha direção.

— Não precisava trazer as coisas dela hoje já está tarde!

— Eu não vim trazer as coisas dela, eu vim buscar a minha filha.

— O que? Achei que tínhamos entrado num acordo.

— Eu mudei de idéia.

Depois de muita discussão com meus pais eu consigo levar Emma para casa, dessa vez dentro de um bebê conforto devidamente instalado. A primeira coisa que faço quando chegamos em casa é separar os remédios dela da “ farmacinha”. Arrasto o berço até o meu quarto, mas nos próximos dias ela acaba dormido sob meu peito na cama. Já que é o único lugar que ela parece confortável para dormir mais que quarenta minutos. Os dias passam e eu recebo uma intimação judicial e segundo ela, meus pais entraram com um pedido de guarda compulsória da menor Emma carolina Smith johnson.

Semanas passam e eu não preciso dizer que armei um barraco terrível em frente da empresa deles, e dois dias depois meu pai furioso, mexeu os pauzinhos e eu fui demitido.

Desempregado, sem uma esposa, com todas as coisas que aprontei na adolescência e tendo dado valium para um bebê de menos de dois meses, eu sabia exatamente o que iria acontecer na audiência. E antes mesmo que ela fosse marcada, vendo meu carro e coloco meu apartamento para alugar, pego Emma, uma mochila e uma mala com algumas roupas e lembranças e faço o que qualquer pai faria numa situação dessas.

Eu fujo.

E com minha filha num moisés, a mochila nas costas enquanto tento arrastar a mala pesada, desembarcamos no velho mundo.

 


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Finalmente Noah tomou as rédeas de sua vida e agora vai se aventurar em novas terras ao lado da Emma e do irmão? Mas o que os aguarda no velho mundo?
Não deixem de conferir as desventuras amorosas do gêmeo Derek em A escolha perfeita! Bjus e no próximo capítulo, Emma e os duplicados!