Minha vida em pequenas Escalas escrita por Iset


Capítulo 36
Com ela e por ela


Notas iniciais do capítulo

Oi meus leitores lindos como estão? Fantasminhas um salve! Prontos pra mais um capítulo! Nossa baby já está com 10 meses! Quase finalizando o primeiro ano do nosso papai!



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Como era de se imaginar, eu provavelmente seria linchado assim que deixasse o berçário. 
Então aproveitei que a bebê foi colocada num dos "bercinhos de amostra", e eles ficaram cheios de sorrisos bolos,  para escapar dali.

Liguei para Lacey e ela veio me aguardar nos fundos do hospital com o carro do Joseph.

— Você salvou minha vida —exclamo ao adentrar o carro.

— E aí como estão as Vick, o bebê? E como foi com a Emma no juízado?

— A Vick teve uns problemas durante o parto, mas vai ficar bem. Kate é uma gracinha. E a Emma, eu acho que a gente devia invadir aquele lugar, pegar ela é fugir para alguma das tribos africanas que você visitou — falo tentando manter o humor, para não acabar chorando devido ao nó que se forma alguma minha garganta toda a vez que lembro que minha baixinha está sozinha naquele lugar.

— Tem uma tribo no sul da etiópia que...

— Você devia ser ser voz da razão. — A interrompo.

— Eu tô brincando, sei que não está sendo fácil,  mas precisa ficar firme. Não pode fazer nenhuma loucura. Mas se a coisa ficar muito feia, o pai sabe pilotar pequenos aviões.

— Bom saber. Mas mudando de assunto, ainda estamos namorando ou um ex presidiário não faz o seu estilo? — Pergunto com um sorriso forçado.

— Sabe como é, se não for pra namorar um cara que me faz ser presa, tem uma filha com tendências canibais, engravidou uma garota durante o velório do pai adotivo e tem o mesmo pai que eu, nem quero!  — Ela fala com aquele sorriso lindo.

— Você é maluca e eu te amo. Só a gente vai ter que omitir isso da Emma tá, deixamos para contar esses detalhes sórdidos da minha vida, depois que ela já estiver formada na faculdade, com sua casinha e filhinhos … — Falo dando um selinho.

— Por mim tudo bem. — Ela diz girando a chave.

Poucos minutos depois estamos no meu apartamento, eu tomo um banho demorado e quente, coisa que não podia me dar ao luxo nos dias na prisão.  Visto uma roupa velha e vou para cozinha onde Lacey está brigando com as panelas depois de ter queimado o omelete.

— Suas panelas me odeiam. —Ela diz jogando o conteúdo no lixo com panela e tudo.

— Eu sei que não sabe cozinhar muito bem, mas panelas não são descartáveis tá, e aliás são bem caras — falo juntando minha frigideira do lixo. Olho ao redor e vejo as mamadeira da Emma sobre a pia, pego a sua favorita, uma cor de rosa com o desenho da Peppa pig e sinto meus olhos arderem.

— Vou levar para ela amanhã,  deve tá sentindo falta. — suspiro — Que droga! Essa casa fica tão silenciosa sem ela.

— Logo ela vai estar de volta, agora porque a gente não pede uma comida e enquanto esperamos… — Ela fala mordendo o lábio inferior.

— Você não resiste a um ex presidiário, não é? — falo já a enredando num abraço.  Sinto seus lábios no meu pescoço e a levando sobre a bancada da cozinha, empurrando as coisas pro chão e a beijando com vontade.

Vejo outra mamadeira picar no chão e lembro da Amber.

— Ah meu Deus a Amber!— Exclamo assustado, ela provavelmente devia estar pensando que eu pulei fora das responsabilidades com o bebê. Me afasto da Lacey que me encara com uma cara de pouco gosto.

—  Me dá só dez minutos eu preciso saber o que houve nos exames e saber como ela está. — digo percebendo que escala não gostou nada.

— Agora?!

— Desculpas Lacey, é só cinco minutos eu já volto.  — falo saindo a caça do meu celular.

Ligo para Amber e explico a situação é o porque de eu ter desaparecido nos últimos dias. Ela me conta que o médico pediu mais exames antes de confirmar, mas que provavelmente nosso bebê, sofreria de algum problema cardíaco, pois não estava com o desenvolvimento esperado para idade gestacional. Conversamos durante um bom tempo, e tento acalmá-la, embora eu mesmo estivesse com os nervos a flor da pele. Quando finalmente consigo deixar o telefone, já se passaram mais de duas horas e Lacey já deixou o apartamento sem que eu me desse conta disso.

Solto um suspiro e mando um monte de mensagens pedindo desculpas a ela, que são apenas visualizadas.  Volto pro silêncio do meu quarto e vejo o “Izzo”, a boneca caríssima de Emma, jogado num canto do quarto. O pego do chão e sinto o cheirinho dela ainda nele, deito na cama e abraçado ao boneco, choro até adormecer.

Na manhã seguinte, ainda não há nenhuma mensagem de Lacey, apenas algumas de Derek falando em como eu fui sacana e terminando com algumas fotos da pequena Katherine. Ligo pro meu irmão e ele está tão preocupado com Vick, que não lembra de me xingar. O acalmo dizendo que cirurgia é assim mesmo, mas que logo ela vai estar bem, tomo um banho e vou para o trabalho.

Chegando na firma, vejo que meu nome não está mais na porta da minha sala e sou chamado ao escritório do supervisor.

Tento explicar toda a situação da melhor maneira possível,  mas segundo o supervisor, não é de interesse da empresa ter seu nome envolvido num escândalo internacional. Não entendi bem até ele me mostrar uma revista em que estampa o rosto choroso da minha mãe na capa e fala da luta dela para trazer a neta de volta ao lar.

— Eu sinto muito Noah, mas teremos de te desligar da empresa.

— Não, por favor.  Eu posso voltar a minha função antiga, eu posso fazer qualquer outra coisa, mas eu preciso do emprego. Se eu não tiver empregado vai ser impossível pegar a Emma de volta, por favor, não me demite.  — Imploro.

— Desculpas Noah. A decisão vem de cima, eu sinto muito. Como amigo, eu te recomendaria parar com essa briga com a sua mãe, não a conheço, mas pelo pouco que li sobre ela, a empresa que tem. Sei que ela não vai desistir e você não terá a menor chance. Faz o que ela quer e acaba com isso logo. Não tem porque você e sua filha ficarem sofrendo. — Ele fala com sinceridade no olhar.

Vou até a minha sala e pego as minhas coisas. Fico um instante olhando para foto da Emma que eu coloquei sobre a mesa no dia que assumi o novo cargo, sonhando que aquilo traria uma nova perspectiva de vida para gente. Cheio de sonhos e planos para o futuro, no entanto, mais uma vez eu falhei. Coloco a foto na caixa de papelão e jogo no banco traseiro do carro, este que eu provavelmente teria de devolver, pois desempregado não teria como arcar com as prestações.

Fico um tempo no veículo pensando no que eu faria, respiro fundo e vou até o abrigo, onde encontro Emma aos prantos nos braços de uma cuidadora que caminha de um lado pro outro tentando acalmá-la.

— Eu posso? — Digo tomando minha bebê, que imediatamente envolve os braços no meu pescoço e começa a se acalmar.

— Ela tá assim desde que acordou ontem, chamamos o médico para ver se estava tudo bem, ele acha que ela ficou nervosa com sua visita. — fala a mulher visivelmente exausta. Concordo com a cabeça e continuo embalar minha pequena até que acalme completamente.  E alguns minutos mais tarde tarde e ela já brincava tranquilamente comigo. Dou a mamadeira  e permaneço com  ela fazendo fazendo sua brincadeira favorita de de escondeu, achou.

— Olha só o que o papai trouxe para você — falo tirando a boneca da mochila e e ela imediatamente abre um sorriso — Trouxe seu cobertor, seu coelho também é é claro seu mordedor de taco de basebol. Será que a gente põe uns arames enfarpados nele como o do Negan? Para você tocar o terror nesse lugar? — pergunto e a vejo pegar o mordedor e imediatamente tentar bater na minha cabeça, como eu ensinei a ela algumas vezes.

— É, isso mesmo. Você é o bebê mais esperto do mundo sabia? — falo e beijo seus cabelos — Queria dar o fora daqui com você, mas se eu fizer isso, eu vou para cadeia, acho que aí não vai ter fiança e o papai não é muito bom para fazer amigos. A gente vai ter que ser forte, você precisa parar de chorar e comer direito, tá bom? — falo e e ela me olha como se compreendesse tudo, mas ela ainda era um bebê de dez meses e assim que me mandam a sair e a tiram dos meus braços ela cai num choro estridente. A vejo a levarem aos berros pelo corredor enquanto ela joga seu corpinho para trás irritada. Tento não chorar e a dou um sorriso falso como a cuidadora me instruiu para que Emma se sentisse mais segura, mas assim que entro no carro desabo sobre o volante.

Era dolorido não ter a Emma comigo, mas a ver chorando desesperada, emagrecendo e com aquelas olheiras escuras sobre os olhos, que mesmo dormindo pouco ela nunca teve, era avassalador.  Pego o celular e ligo para minha mãe.

— Você venceu, ela é sua. Eu tô indo tirar a apelação, vai poder pegar ela, tira ela desse lugar. — Falo assim que minha mãe atende.

— Noah…

— Eu tô indo lá agora, dentro de algumas horas já vai poder pegar ela, você estava certa, eu tenho que parar de pensar em mim. De ser egoísta.  Ela tá sofrendo naquele lugar, sei que ela vai estar melhor com você. Tira ela de lá — Digo e desligo.

Ouço o telefone tocar, mas decido não atender. Passo no juizado e acerto tudo e depois numa loja de conveniência compro uma garrafa de vodka e volto pro meu apartamento. Sento no sofá e vejo que ainda tem brinquedos da Emma pelo chão, algumas  roupinhas para dobrar e a marca das mãozinha dela no espelho.

Coloco a garrafa sobre a mesinha e a encaro, sozinho, desempregado, com uma filha que eu tinha de abdicar e outro bebê que provavelmente nasceria doente ou talvez nem chegasse a nascer. A vodka parecia a melhor ideia no momento, anestesiar tudo aquilo, era o que eu queria. No entanto, continuei parado, olhando para garrafa sem conseguir fazer nada, talvez por horas, eu não sei. Só sei que quando levantei dali estava escuro, peguei as chaves do carro e dirigi por um tempo sem rumo, tentando pensar no que Carolina me diria naquela situação. A Carol era muito melhor que eu em ver a luz no fim do túnel,  ela certamente saberia o que eu devia fazer, como fazer e quando fazer, e se eu seguisse suas instruções daria certo no final. Mas eu não tinha mais a Carol, nem a Emma e ao que tudo indica nem mesmo a maluquinha da Lacey.

Respirei fundo e continuei dirigindo até um enorme letreiro de uma casa de karaoke lgbt me chamar a atenção por seu slogan de balões e arco íris, muito semelhantes aos que eu vi Carol prender no quarto da Emma, quando ela ainda era Davin.

Estaciono e adentro o local meio desconfiado, sento a uma mesa, enquanto escuto um loirinho desafinado cantarolar alguma canção em italiano e peço uma cerveja a garçonete.

Depois de algumas cervejas uma dupla sobe ao palco e começa a cantar uma música do Steven Tyler que me faz lembrar de todo os momentos engraçados e cheios de amor que vivi com a Emma, começo a rir do nada e vejo que atrai os olhares das mesas próximas.  Me desculpo e depois de mais duas cervejas decido me arriscar no palco. Subo um pouco envergonhado e escolho uma música do Nirvana. Começo a cantar e vejo a cara de desgosto pela minha falta de talento e paro a canção.

— Eu tive um dia péssimo,  vocês podiam pelo e nos fingir não estão tendo seus tímpanos estuprados, não é? — falo e vejo algumas pessoas sorrirem. — Mas tudo bem eu entendo, bom sabe eu vi que aqui é um bar gay, eu não sou gay, mas sabe eu tenho inveja de vocês e se não fosse o detalhe de dar a bunda, eu seria gay — falo e vejo as caras curiosas.

— Eu vou explicar, eu queria ser gay, mas tipo bem gay sabe daqueles que não consegue nem colar o Pôster da Lady Gaga no quarto para não ter que olhar para uma mulher todo o dia. E isso tudo porque assim eu não teria uma filha! Eu sou pai, e sério isso acabou com a minha vida! E não que eu não goste de ser pai, o problema é que eu não tenho cara de pai, nem jeito de pai. Eu sou um idiota, mas eu sou pai. E para completar eu sou um pai solteiro. Sim é uma merda— falo vendo a cara de “putz” das pessoas — Porque ser pai é fácil,  a gente troca uma fralda e as pessoas dizem “Uauuu ele troca fralda”, agora difícil é ser mãe,  e quando você é sozinho, você tem que ser os dois, aí complica. Porque você não pode entregar para mãe quando a coisa fica feia ou quando o bebê faz coco até na nuca. Porque bunda de bebê é pior que de pombo, eles cagam sempre quando você não tá preparado e nas horas mais inoportunas — falo e vejo mais alguns sorrisos — E tipo, as nojeiras que os bebês fazem são como as fases do Mario, quando começa a manjar de uma fase, fica pior, você começa melando o dedo na fralda, depois eles vomitam em você, aí cagam na roupinha… Ah! E a minha filha, ela é meio Viking, ela odeia banho, então eu tenho que entrar na banheira com ela, se eu não quiser que os vizinhos pensem que eu to fazendo um exorcismo — ouço gargalhadas — e aí ela cagou na banheira, bom ser pai é literalmente tomar banho de cocô. E o pior disso tudo é que mesmo com “nojinho” no fundo você acha engraçado. E um dia você se pega aparando o cocô do seu filho com a mão,  ou dizendo “vomita aqui na camisa do pai, no sofá não amor” agora se a garçonete gata do bar te trouxer um copo com marca de dedo você diz “nossa, que lugar imundo, povo sem higiene viu” — mais gargalhadas— As bactérias, né! Ah tá aí outra hipocrisia de se ter um bebê, tipo o bebê nasce, você esteriliza tudo, lava qualquer coisa que cair no chão, aspira a casa todo o dia, cuida, afinal, tem que proteger o bebê das “bactérias” aí seu filho cresce e começa a pegar as coisas e por tudo que é porcaria na boca, você entra em desespero, compra mordedores caríssimos, mas a cria prefere o seu celular, seu queixo, cabelo, tudo que ele puder engolir e ter os intestinos perfurados, porque bebês são suicidas! Sério, eles acordam pensando "como eu vou tentar me matar hoje" e o trabalho dos pais não é cuidar da criança, é evitar que ela se mate! —falo e vejo mais risadas — Aí tipo, você compra aquelas gaiolas, vulgo berços para prender a criança lá e diminuir a chance dele se matar e aí ela vira a menina do exorcista! Chora, berra, gira a cabeça, vomita é uma loucura. É, o camarada ali acha que tô exagerando, ele não deve ter criança em casa. — digo penteando meus cabelos para trás com os dedos —O problema do bebê é que ele é muito fofinho, eles te encantam, te fazem querer que todo o mundo transe e tenha bebês fofinhos também, voce manda seus amigos terem filhos! Bom mas os bebês, eles fazem coisas bonitinhas e eles têm que ser fofinhos, porque isso faz você esquecer o quão fodida tá a sua vida, porque me digam quem vai arrisca ter um segundo filho depois de passar por 10 meses sem dormir, sem conseguir comer, gastando uma fortuna em fraldas, que serão cagadas e descartadas,  tendo que trocar o barzinho pelo pronto socorro nas sextas? Que maluco faria isso? Que maluco, mesmo sabendo o quao assustador é ter uma criança que depende 100% de você, sente vonyade de se matar só de pensar em ficar longe dessa vida que ele nunca quis, mas que é a melhor coisa que ele ja fez ou teve? Prazer, Noah Johnson. — falo me curvando e ouço uma salva de palmas.

Volto para minha mesa e algumas pessoas me cumprimentam pelo “show” embora para mim eu só tivesse falando besteira. Alguns minutos depois o gerente do bar se senta a minha mesa e pergunta se sou comediante, digo que sou engenheiro mecânico e e ele cai numa gargalhada, achando que eu estava brincando.

— Não, sério. Me formei pela universidade de Toronto, trabalhava numa empresa de tecnologia automobilística. Mas agora estou meio que, analisando novas propostas que possam conciliar meu déficit financeiro — falo dando um gole na cerveja evitando falar “desempregado e cheio de contas”.

— Bom se quiser voltar no sábado, o pessoal adorou você, estão perguntando quando você volta.

— Eu não sou comediante. — falo sério. — Não passei quatro anos da minha vida enfiado numa universidade, para fazer pessoas rirem num bar.

— Eu pago cachê prós artistas.— Ele fala.

— E de quanto estaríamos falando? — pergunto e e ele anota o valor num guardanapo e me entrega.

— Ah… Sábado que horas?


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Notas finais do capítulo

E agora pessoas?