Minha vida em pequenas Escalas escrita por Iset


Capítulo 10
Vegetarianos, terroristas e Vikings


Notas iniciais do capítulo

Bom dia!!! Que tal mais um capítulo da nossa novelinha? Espero que gostem, nao se acanhem, deixem seus reviews!



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Vegetarianos, terroristas e Vikings

Depois de uma semana, eu finalmente recebo uma ligação, com uma possível proposta de emprego. Faço as entrevistas e ao que tudo indica, iniciarei minha vida profissional em Roma, na próxima semana.

E agora, chega o momento de me entregar novamente a odisséia chamada

Quem vai cuidar de Emma?

Desta vez decidi que uma creche será a melhor escolha, para o desenvolvimento social da minha viking. Aliás ela vai precisar de súditos para reinar certo? Visito algumas opções e depois de pesar os prós e contras, e achar totalmente desnecessário empenhar ⅓ do meu salário numa escola com aulas de idiomas e arte clássica para bebês, acabo optando por “La piu bella" uma creche domiciliar, situada no mesmo bairro da nossa atual residência.

Em casa, tudo estava menos estranho com a Vick, não poderia dizer que éramos amigos, mas ela tinha aquele charme e simpatia dos brasileiros, o qual que você precisa ser uma pessoa muito dura, para não deixar - se  seduzir. O fato, é que no fim da segunda semana, regada a muitas papinhas rejeitadas pela Emma, e as minhas receitas para alívio dos sintomas da gravidez, que aprendi na marra com a Carolina, já conseguimos conversar sem receios.

— Será que ela não tem alguma disfunção alimentar, nada do que tentamos, ela quis comer. Talvez devesse marcar um médico para averiguar. - Fala Vick com ares de preocupação.

Eu olho para Emma que solta aquele sorrisinho fofo.

—  Talvez não seja a hora certa, ou de repente precisamos comprar produtos orgânicos, eu li que alguns bebês têm alta sensibilidade para agrotóxicos e se recusam a comer, o corpo entende que é algo agressivo. - Diz Derek dotado de sabedoria.

— Ou ela só não queira comer algo que se parece com o cocô dela. - Digo e sou fulminado pelos olhares dos dois. _ Qual é essa comida saudável de vocês é uma droga! Ela adora o croissant e batata frita do café Branch.

— Deu batata frita para ela? - Questiona Vick incrédula.

— Ela precisa comer alguma coisa não? Qual é não me olhem como se eu tivesse dado vodka e cigarros.

— Noah ela tá construindo no paladar, se você dar um hambúrguer primeiro, é lógico que ela não vai querer brócolis.

— Ah vocês dois uniram forças é? Eu quero ver quando for a filha de vocês, que chorar meia hora por um palito de batata frita, se vão oferecer brócolis e aipo para ela. Olha a cara disso, que crianca vai comer um troço desse? Nem vocês comem isso! Aliás uma gestante devia comer mais legumes e parar de esconder chocolates nas fendas do sofá, para não dividir com ninguém. E o sr comida orgânica, devia trocar o bacon por tofu, se querem ser realmente exemplos nutricionais. - Digo e os dois me encararam e Vick fica pensativa e depois se volta para nós dois.

— Eu odeio admitir, mas o cabeçudo tem razão. Como queremos que a Emma seja saudável se, nós comemos porcaria o tempo todo…

— Ah só eu que to com medo de onde essa conversa vai chegar…. Sussurra Derek para mim. Antes de Vick continuar.

— Temos que começar a ter uma alimentação mais saudável nessa casa, isso! Verduras, legumes, equilíbrio, natureza… Vegetarianismo! A dieta vegetariana é muito saudável, devíamos tentar. Derek uma vez você me disse que odiava a maneira que os matadouros tratavam os animais e Noah? Você parece alguém que gosta de animais também, devemos ensinar nossos filhos a respeitarem a natureza como nós não fomos ensinados…

— Ah eu amo animais, vacas bem passadas e frangos bem fritinhos…. - Digo.

— Sabe que eu até que acho válido a gente tentar. - Fala Derek, balançando a cabeça.

— Ele só ta falando isso porque transar com você! Ele é pior que um leão por carne! - Digo fazendo os dois corarem.

NOAH! - Me repreendem os dois em coro.

Os dias passam e eu realmente estava adorando meu novo emprego. A empresa, apesar de ser nova no mercado, já desenvolvia projetos de motores para importantes marcas automotivas italianas. Atualmente os designer automotivos, trabalhavam em um projeto para um novo motor de combustão para o modelo da Ferrari, do próximo ano. Apesar de novato, meu supervisor deixou claro que teria a mesma chance de meus colegas, tudo que precisava, era desenvolver um projeto melhor do que o deles.

Na sexta, Samuel convidou a Emma e eu para jantar, ele queria que eu conhecesse o filho Miguel e o namorado Luca. Samuel era um cara legal, descartei a brincadeirinha do meu irmão sobre o Sam estar dando em cima de mim e aceitei o convite. E posso dizer que a analizar meu histórico de amizades, sempre havia alguém jogando no outro time, ou nos dois, no caso de Samuel, no meu círculo de amizades. Mas de fato era a primeira vez que eu teria contato com uma família homoafetiva, e uma parte de mim estava bem curiosa para saber como era aquela dinâmica e como Miguel compreendia e  lidava com o fato de seu pai, ter lhe dado um padastro. Okay vocês vão dizer, Noah é uma família, como qualquer outra.

E eu não discordo disso, porém o resto do mundo, ou pelo menos boa parte dele não os veem assim. Se sendo um pai jovem e solteiro já recebo muitos olhares repreensivos, de pessoas que acham que estou fazendo besteira, (não que eu não faça né), fico imaginando como devem olhar para Sam e Lucca. Era muito corajoso da parte deles.

Chego por volta das seis e meia com uma garrafa de vinho, não tenho ideia se é bom ou ruim, roubei da adega do Derek, mas a julgar pela cara de felicidade de Samuel e o seu comentário sobre eu ser rico, a garrafa devia ser cara, e provavelmente Derek arrancaria minha pele por tocar nas preciosidades dele.

— Este é o Luca Perini, Lucca esse é o Noah, que eu te falei.  Ah e essa coisinha ai é a Emma, diferente de você, ela gosta do meu capuccino e das Croissants. - Fala Sam, colocando o dedo na ponta do nariz da Emma fazendo ela sorrir.

— Não é de se admirar, você costuma fazer sucesso com as garotas. - Diz ele em tom repreensivo e em seguida me estende a mão, dizendo que é um prazer me conhecer.

Lucca devia ter em torno de trinta anos, cabelos castanhos bem penteados e olhos claros bem chamativos, pois contrastavam com as grossas sobrancelha escuras , era um pouco mais alto que Sam, simpático e muito inteligente.

Conversamos durante um tempo, sobre trabalho e filhos, enquanto Emma encanta a todos com risadas e gracinhas. Por volta das sete a campainha toca e segundos depois que Samuel, abre a porta um molequinho magro e louro, vestido como super homem, adentra correndo, fazendo barulho e lançando a pequena mochila em forma do relâmpago mcqueen no chão.

Eu sorrio entusiasmado, vendo o garotinho falante abraçar o pai, contando sobre o taco de beisebol que ganhou do tio. Logo depois ele solta o menino no chão que imediatamente diz que é o Superman e nomeia Samuel como o Batman e os dois travam uma batalha que termina no tapete da sala.

Confesso que senti uma pontinha de inveja, aquele era o mundo que esperei por nove meses, quer dizer, oito na verdade. Olho para Emma quietinha no bebê conforto com sua chupeta cor de rosa e a naninha em forma de coelhinho, e já me imaginei no futuro tendo meus cabelos penteados e horas em enfadonhos chás se bonecas.

— Esse é o Miguel, comprimenta o “titio” filho. - Diz Sam, segurando o garoto pelos ombros.

O garotinho me estica uma das mãos e eu o comprimento, sentindo algo molha e grudento nos meus dedos. Em seguida recebo uma língua para fora e um balançar de cabeça provocativo.

— Miguel não! Desculpe ele é um ogro. - Fala Samuel enquanto eu solto a mão do garoto e vejo uma gosma verde na minha mão.

— Que é isso? - Falo intrigado.

— Geleca. Não tenho ideia do que é feito, mas Miguel já comeu isso e ainda ta vivo, então pode ficar tranquilo, se quiser lavar as mãos tem um lavabo no corredor.

Vou até o banheiro e decidi aproveitar a viagem e dar aquela mijada básica, quando estou no meio do “trabalho” ouço um barulho estrondoso que me faz perder o controle do “instrumento” fazendo com que alguns respingos de urina caiam sobre minha calça.

— Droga! - Digo ouvindo o grito carregado de sotaque italiano de Luca.

— Miguel! Onde conseguiu essas bombinhas? Quantas vezes já disse que não quero você explodindo coisas dentro de casa! - Ressoa a voz de Lucca seguido do choro de Emma.

Lavo minhas mãos rapidamente e quando abro a porta vejo a mancha negra no assoalho rente a porta do banheiro.

Que peste”— Penso, ao constatar que o diabinho queria mesmo causar transtorno na minha estada no banheiro.

Samuel já tinha me alertado que Miguel era terrível, tanto que ele o chamava de “meu pequeno terrorista”, mas eu nunca imaginei que não se tratasse de exagero.

Quando chego a sala, Lucca tenta acalmar Emma, enquanto Sam, passa uma bronca no filhote de bin laden.

— Vem cá gracinha. - Digo, tomando - a nos braços. _ Como ele conseguiu bombinhas? Quando era pequeno era mais fácil comprar uma metralhadora do que isso. - Pergunto intrigado, afinal o molequw devia ter uns três anos.

— Ele tem um tio terrível, é que dá essas ideias pro garoto. Miguel é só um garotinho, um garotinho bem difícil, mas… tem só três anos então… Estamos tentando controlar o temperamento dele.

— Hum… - Digo apenas, afinal, mesmo com a Emma tão pequena, eu já tinha descoberto que a frase “Se fosse meu filho”, só servia para pagar com a língua mais tarde.

Durante o jantar, Miguel lança grãos de ervilha contra o pai, cospe a comida mastigada de volta no prato e também dentro do copo de suco, chora e se joga no chão quando é repreendido, batendo a cabeça contra a parede logo em seguida.  

Okay Emma, nunca mais digo que você dá trabalho.  

Mas eu estava tão desesperado por um pedaço de carne, depois de alguns dias do menu vegetariano de Derek e Vick, que nenhuma das malcriações do garoto, foi capaz de afetar meu apetite.

No fim da noite estávamos todos exaustos, inclusive Emma que resmungava sonolenta pois os berros e choro de Miguel atrapalharam suas sonecas de beleza.

Depois de me distrair por uns instantes e Miguel enfiar os dardos de sua pistola “nerf”, nas narinas se Emma e ter de usar todo o meu autocontrole para não esbofetear o moleque, Samuel decide por o garoto na cama. Quando volta, com uma cara de quem acabou de ser atropelado por um caminhão, se joga na poltrona, vejo que a paternidade, mesmo que compartilhada, não é nada fácil. E que talvez, mesmo que com Carolina aqui, eu também me sentiria exausto.

— Que achou do meu rebento? - Questiona me olhando.

— Ele tem muita energia. - Digo tentando me controlar para não dizer que ele era o pai do anticristo.

— Energia? Ele tem um reator nuclear. - Fala Lucca trazendo uma bandeja com canecas de café, me oferecendo uma logo em seguida.

— Pensam em ter mais  filhos? Tipo adotar sei lá? - Pergunto dando um gole na xícara e recebo um olhar assustado de volta.

— Não, nem pensar. Eu nunca quis filhos na verdade. - Diz Sam.

— Eu queria, sempre pensei em adoção, mas como você viu, nosso amiguinho aqui, me fez essa surpresa. - Fala Lucca revirando os olhos._ E você?

— Não… Eu não faria isso com a Emma. Eu fui um desastre de filho, mas adivinhem? Continuo sendo o filho favorito, porque sou único e graças a Deus minha mãe é alérgica animais. Porque ela colocaria facilmente um shih tzu no meu lugar.  - Falo e recebo risos de volta, sei que soa como um exagero engraçado, mas intimamente, sei que minha mãe realmente colocaria um cachorrinho no meu lugar e teria sido mais feliz com ele.

Conversamos durante mais um tempo e depois decido ir para casa, tento não fazer alarde, abrindo cuidadosamente a fechadura da porta. Quando adentro a cozinha, com Emma adormecida nos meus braços me deparo com uma cena aterrorizante:

A ex futura aprendiz de vegetariana, good vibes, natureba, geração do amor, se deliciando com um belo hambúrguer duplo, com camadas de bacon e queijo cheddar escorrendo por um dos cantos da boca.

Ela não percebe minha presença e eu tiro cuidadosamente o celular do bolso, começando a registrar a cena.

— Te peguei! Sua devoradora de animais inocentes! - Grito saltando na frente dela gravando um vídeo e acordando a Emma que desanda a chorar.

Vick arregala os olhos e tenta esconder a prova do crime sob um pano de prato.

— Bonito dona victória Walker, isso vai pro muro da vergonha. Fazendo todo mundo comer mato e a noite, você vem comer as vaquinhas indefesas né.

— A menina está chorando. - Fala com as bochechas ainda cheias de carne. _ E é hambúrguer vegano. - Ela mente.

— Vegano uma ova. - Digo destapando o lanche e provando um pedaço. _ Vick, que feio!

— Vacas comem capim certo? Então tecnicamente sou uma vegetariana de segundo grau.  - Ela diz na maior cara de pau.

— Interessante essa teoria, dona Victória. - Digo balançando Emma.

— Ah, vai ter uma festa para arrecadar fundos em prol dos refugiados sírios, muitas empresas daqui vão participar. Se quiser ir. - Ela diz me estendendo um convite e eu faço uma cara de desentendido.

— Não tá convidando o gêmeo errado não? - Pergunto intrigado.

— Seu irmão vai estar lá também cabeçudo.

— Que alívio, por um instante pensei que a namorada do meu irmão, estava me convidando para sair. - Digo apertando a cabecinha de Emma contra meu peito.

—Vai sonhando cabeçudo… E Derek e eu não estamos namorando…

— Não? Hummm...Eu posso ta meio desatualizado no assunto, mas, morar juntos, fazer compras, assistir a Greys Anatomy embaixo do cobertor consistia em namorar na minha época. - Constato.

— Eu tô grávida de outro cara, acabei de sair de um relacionamento. Não é a hora certa de me envolver com alguém. - Explica ela.

— Nisso, eu até concordo. Mas levando em consideração que você não vai encontrar outro cara bonito, alto, solteiro, com melenas sedosas, educado, amável, simpático e que já está financeiramente estável antes dos 30 por aí, se eu fosse você não perderia essa chance. Se ele não fosse meu irmão e  eu tivesse uma vagina, eu estaria transando com ele agora. - Falo e me dou conta que Emma está nos meus braços. _ Ai, esqueca o que o papai falou boneca. - Digo com a minha cara de mancada, eu precisava aprender a controlar minha língua perto da Emma, ou assim que aprendesse a falar, acabaria sendo expulsa do berçário. Vick apenas ri e balança a cabeça.

— Você devia ter feito marketing ao invés de mecânica. - Ela diz mordendo o hambúrguer.

— Funcionou? Se forem transar, não façam barulho, tem um bebê casa. Caralho, falei transar de novo na frente da Emma!

— E caralho. - Ela observa.

Faço uma careta e vou pro quarto com Emma aos berros, dou um banho, com ela aos berros, a visto e tento dar-lhe uma mamadeira, mas ela reluta e briga  enfurecida. Pelas três da manhã já não aguento de sono, Emma oscila entre minutos de sono, resmungos e choro. Ela desperta mais uma vez e eu cubro minha cabeça com o travesseiro, tentando não escutá-la ou fazer qualquer barulho.

"Quem sabe ela desiste e dorme?" - Penso.  

Depois e quinze minutos de choro ininterruptos e duas batidas de Derek na parede do quarto, eu me dou por vencido e a pego nos braços.

— Quer que seu tio nos expulse de casa? - Pergunto enquanto esfrego os olhos. Pego minha filha, e a enrolo no cobertor cor de rosa, a coloco no bebê conforto e dirijo por quinze minutos o carro de Derek pelo quarteirão. Estaciono na frente de casa e adormeci ali mesmo, com Emma presa à cadeirinha.




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Notas finais do capítulo

Então gente, que eztao achando dos novos personagens Samuel, Lucca e Miguel?
Nao esqueçam de conferir as desventuras amorosas de Vick e Derek em A escolha Perfeita! Noah também da umas voltinhas por lá...