10 anos depois escrita por LightHunter


Capítulo 22
Capítulo 22 - Gus




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12 anos atrás

Acordo tranquilamente e me espreguiço na cama. Melhor coisa acordar pra ir para a escola sem ninguém gritando no seu ouvido ou sem o barulho chato do despertador. Sorrio e penso que hoje vai ser um ótimo dia.

Olho para o relógio e meu coração para por um momento. Eu tinha cinco minutos para chegar à escola.

Pulo da cama, as cobertas caindo no chão, e me visto enquanto escovo os dentes. Por algum motivo, o despertador não havia tocado. Pego um pão com manteiga duro deixado em cima da mesa e mordo enquanto abro a porta. Assim que dou um passo para fora, piso em uma garrafa de cerveja vazia e caio no chão de costas.

Merda.

Me levanto e olho para o sofá, onde meu pai se encontra deitado com um dos braços para fora do móvel, a mão segurando uma garrafa de cerveja pela metade. No chão, mais meia dúzia de garrafas se encontravam espalhadas a sua volta. Suspiro e pego todas com as duas mãos, levando-as ao lixo. Pego um cobertor no quarto e cubro ele, tirando a garrafa pela metade e esvaziando-a na pia do banheiro. Desligo a TV e saio pela porta, respirando fundo. Então, começo a correr.

Assim que entro na escola, a inspetora do corredor me leva para a sala onde ficavam os alunos que chegavam atrasados. Começo a mexer no celular, mas rapidamente fico com tédio. Deixo a mochila no chão e peço para ir ao banheiro.

— Rápido. E nada de desviar do caminho, mocinho. – Saio pela porta da sala e assim que ela se ocupa de novo com papeis da escola, vou para as escadas e desço dois andares, onde não serei escutado. Assim que piso no último degrau, começo a ouvir um choro abafado.

Desço mais um lance e encontro Letícia chorando perto do corrimão, a maquiagem toda borrada.

— Ahn, com licença… - Digo, me aproximando e cerrando o punho. – Mas vai ter que sair daí. Aqui é meu lugar de paz. E não dá pra ter paz com um crocodilo chorando.

— Vai se foder, Gus. – Ela volta a chorar e parte de mim sente pena dela, mas então me lembro o que tinha acontecido e essa parte fica calada.

— Suas lágrimas não estão queimando os degraus da escada? Ou não são venenosas que nem a sua saliva? – Sorrio e dou mais um passo, tomando ciência de que a qualquer hora eu poderia levar um tapa.

Ela me ignora e continua a chorar. Reviro os olhos e paro do lado dela. Isso vai ser difícil, penso e me viro para a loira.

— OK, por que você tá chorando? Percebeu que foi uma vaca comigo e meus amigos?

— …você vai acreditar se eu disser que sim? – Letícia olha para mim com os olhos vermelhos de tanto choro.

— Não. Mas boa tentativa. Enfim, fiquei sabendo que você e Gabrielle meio que brigaram.

— Sim, eu… Eu percebi que ela é uma vadia. – Ela recomeça a chorar, e dou tapinhas nas costas dela (talvez um pouco forte demais).

— E precisou de todo esse tempo pra descobrir isso? – Solto uma risada, mas me calo quando recebo m olhar de ódio da garota.

— Bom, isso e… que eu errei com vocês. – Ela pega minha mão, e estremeço. – A coisa que eu mais quero agora é me reconciliar com vocês. Sério. Eu… preciso da amizade de vocês de volta. Por favor.

— Eu… Você sabe que o problema não é comigo. Eu não tenho – quase – nada contra você, Letícia. Mas todos os outros tem, e você tem que concordar que foi uma verdadeira megera naquele dia antes das ferias.

— Eu sei, mas eu errei. Todo mundo erra. E eu quero pedir desculpas a eles. Como eu faço isso? – Letícia agora está olhando fixamente para mim, e desvio os olhos para o chão.

— Eu não sei. Vai ter que descobrir sozinha. E a aula já vai começar, acho melhor ir no banheiro lavar o rosto.

A menina se levanta e me dá um beijo na bochecha.

— Obrigada, Gus. – Ela começa a subir as escadas para o banheiro.

Fico parado por um momento até que me recomponho. O que diabos tinha acabado de acontecer? De qualquer jeito, o que acontecesse não dependia dele, e sim do grupo inteiro. Sento de costas para uma das paredes da escada e olho para os lados.

Assim que me certifico que ninguém estava andando pelos corredores, tiro um dos azulejos que fazia limite com o chão, revelando um buraco. Coloco a mão dentro e retiro uma garrafa de vodka aberta. Dou três goles seguidos, sentindo o líquido arder e os degraus girarem um pouco. O sinal toca, e consigo escutar as salas explodindo em conversas. Tiro alguns papeis de dentro do buraco, e vejo que nenhuma das salas do ensino médio desceria pelas escadas agora, então poderia cabulas mais uma aula.

Cruzo as pernas e continuo a beber, pensando no meu pai jogado no sofá e na cerveja balançando em sua mão quando o achei.


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