10 anos depois escrita por LightHunter


Capítulo 23
Capítulo 23 - BB




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Presente

Estou vendo o noticiário na TV quando a porta do meu quarto abre. Gus entra, e repouso a colher da gelatina na bancada, pra não jogar na cabeça dele.

— O que você quer? – Pergunto, olhando enquanto ele se sentava na cadeira em frente à minha cama. O botão para chamar os médicos está na minha mão, e meu dedo está perto para pressioná-lo se qualquer coisa acontecesse.

— Me reconciliar. – Gus se reclina e olha para mim, apoiando os braços no joelho.

Solto um riso fraco e olho para ele.

— Você… Acha mesmo… Que pode aparecer depois de dez anos e querer “se reconciliar”? Você tem amnésia ou algo assim, Gus?

— Eu não “apareci aqui”! Foi VOCÊ que resolveu ter uma overdose no bar onde EU estava. E eu realmente esperava que pudéssemos nos entender. Já se passaram dez anos, BB. DEZ ANOS!

— Sim, e até hoje eu tenho pesadelos com isso. Eu acordo suando, tremendo, gritando. Sabe o único jeito que eu achei pra parar de ter esses sonhos? Do mesmo jeito que eu tive a overdose.

— Eu sofri tanto quanto você, BB.

Meu rosto estava vermelho de raiva, e minhas mãos estavam tremendo. Mostro o botão para ele. – Saia daqui. Agora. Ou eu aperto e te tiram daqui a força.

Gus se levanta em silêncio e começa a andar, mas para na porta do quarto. Ele se vira para mim, e seus olhos estão marejados.

— Eu nunca quis que isso acontecesse com você. – Ele aponta para onde estou, para a minha situação. – Você sabe disso. Depois do que aconteceu comigo…

— Eu queria sentir pena. – Olho para ele com frieza, e me recosto. – Mas você está tendo o que merece. Eu preciso descansar, feche a porta quando for.

Ouço a porta se fechando e passos se distanciando assim que fecho os olhos. Quando apenas o som da TV fica audível, abro os olhos e vejo Ju parada na minha frente.

— Eu ouvi uma discussão. Quer que eu…

— Não, deixe ele ir. Apenas me deixe descansar.

— Bom, isso não será possivel, Baby. – Era como Ju o chamava, um trocadilho com seu apelido. – Você recebeu alta, e NÓS vamos para sua casa. Quero ver a situação do lugar.

Vinte e cinco minutos depois, Ju e eu nos encontramos no carro dela, e estou olhando pelo retrovisor para ver se ninguém conhecido se aproximava.

— Eu estava TÃO preocupada! – Ju fala de repente, e se vira para mim. – Como pode ser tão irresponsável? Você tem noção de como eu me senti quando eu recebi a notícia de que estava internado aqui? Eu me senti culpada por isso. Imagina se algo pior tivesse acontecido…

— Mas não aconteceu, não é mesmo? – Cruzo os braços e olho para baixo, a voz fraca.

— ESSA NÃO É A QUESTÃO! – Ela respira fundo e olha para mim. - Eu vou passar uns dias aqui para me certificar de que está tudo certo. Para ter certeza que você não vai ter outra recaída e sim… se estabilizar.

— Eu não preciso de uma babá.

— Bom, você não me deu escolhas, não é mesmo? – Ela liga o carro e vamos para minha casa. Ela vira a esquina e desce a rua até a última casa, de madeira branca desgastada.

Ela abre a porta com uma chave que Lara deve ter dado a ela junto com o resto dos meus pertences, e entramos. A casa estava com as janelas fechadas fazia um bom tempo, por isso o ar estava quente e abafado.

— Isso está imundo! – Ela passa os dedos pela bancada e mostra-os cheio de poeira. – A quanto tempo não vem aqui?

— Hm… Semana passada completou 4 meses, eu acho. – Finjo pensar, mas já sabia a data de cor.

Ela me olha com censura, e subo para meu quarto. Ela me segue e fecha a porta assim que entra comigo.

— A primeira coisa é tirar todas as drogas aqui de dentro. E com isso eu digo TODAS MESMO. – Ela se abaixa e tira três garrafas de vodka de baixo da cama.

Após uma vistoria minuciosa, Ju e eu nos deparamos com uma pilha que incluía várias garrafas de cerveja, umas dez de vodka, cinco de uísque, sete de tequila, duas de cachaça. Ah, e vários saquinhos plásticos com ervas, pós, comprimidos e etc.

— Isso… Superou minhas expectativas. – Ela sussurra espantada. – E elas não eram baixas.

— Bom, é isso. Agora queime tudo e vá embora. – Pego as chaves de seu carro e jogo pra ela.

— Para com isso! Eu só vou embora quando conseguir um emprego. Ordens do papai.

— Ordens do… VOCÊ AVISOU O PAPAI? – Bato na mesa de madeira, e um dos saquinhos explode, pó branco voando por toda a cozinha.

— Olha o que você fez! – Ela solta um gritinho esganiçado e me dá um tapa na cabeça. – Sim, avisei! E ele falou que só vai continuar pagando o aluguel da casa quando se estabilizar.

— Eu não preciso da ajuda e nem do dinheiro dele. – Respondo seco.

— Bom, não é o que parece, não é mesmo? Agora vá tomar banho enquanto eu jogo tudo isso fora, você está com cheiro de Hospital.

— Aaaaaargh! – Subo a escada rápido e bato a porta, e Ju revira os olhos para mim.

Parece que eu e minha irmã voltamos a ter 15 e 16 anos, afinal de contas. Giro a torneira e água fria cai em meu rosto.


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