10 anos depois escrita por LightHunter


Capítulo 21
Capítulo 21 - Gus




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/735903/chapter/21

Presente

Acordo com um pulo, e uma gota de suor frio escorre por minhas costas, fazendo com que meu corpo estremeça. Pelo canto dos meus olhos, sinto sombras semovimentarem, com cuidado para que eu não note. Acendo a luz, e todas elas desaparecem. Respiro fundo e coloco as cobertas de lado com um pouco de dificuldade, já que haviam grudado no meu corpo com o auxílio do suor.

Coloco os pés para fora da cama e sinto o chão gelado com os dedos do pé. Caminho até o banheiro, ligando a torneira e jogando água fria no rosto, com o intuito de ficar mais desperto. Assim que levanto a cabeça para me olhar no espelho, vejo sangue escorrendo pelo vidro, e dinheiro começa a cair do teto, ficando manchado de vermelho.

Esfrego os olhos e tudo desaparece. Ligo o chuveiro e entro de roupa na água gelada. Ignoro o frio e as roupas grudadas, e fecho os olhos. Pensamentos começam a invadir minha mente, pensamentos sobre morte, sofrimento, gritos, meu pai, sangue…

Abro os olhos e vejo o sol nascendo pela pequena janela do banheiro. Sinto minhas pernas dormentes e me levanto com dificuldade, desligando a água. Estremeço de frio, e percebo que não sinto minhas mãos.

Será que se eu correr eu me aqueço?

Abro a porta de casa e começo a correr em ritmo moderado, passando pelas casas brancas quase todas iguais. Água começa a espirrar de mim, e um cachorro começa a latir quando passo por ele. Pelo céu ainda escuro, suponho que são quatro da manhã, por aí. Viro a esquina da rua e acelero o passo. O bar está fechado e passo direto por ele, correndo sem rumo.

Viro mais uma esquina e bato contra algo sólido. Caio no chão, molhando a calçada, meu cabelo molhado caindo em cima do rosto.

— Gus???? – Ouço a voz de Maya e me levanto, tentando me recompor, mas minha aparência não ajuda muito. – O que está fazendo na rua essa hora?

— Eu poderia fazer a mesma pergunta. – Olho para a roupa dela, e percebo pela primeira vez que estou sem óculos. Ela fecha o sobretudo depressa, mas não sem que antes eu perceba que estava apenas de lingerie. – Eu... Me desculpa.

— Não precisa se desculpar. Vem, vou preparar um café pra você. Pelo jeito está precisando de algo que te acorde. – Ela começa a andar até o bar, e sigo ela.

— Eu não tomo café.

— Um chá, então. – Ela pega uma chave do bolso do sobretudo e sobe as grades que impedem a entrada de qualquer um no bar.

Sento em uma das poltronas, observando um cara adormecido em frente à lareira. Dou de ombros e observo enquanto ela prepara a bebida.

— Você está horrível. – Ela me entrega o chá, e agradeço com o olhar. – Por que está todo molhado?

— Eu… Estava tomando banho. – Respondo sinceramente.

Ela ri alto, e começa a limpar a bancada suja pelos clientes do dia anterior.

— Vai precisar de algo melhor do que isso para me convencer, mas não vou te forçara me contar algo que não queira. – Ela estremece e abro a boca para oferecer algo para esquentá-la, mas percebo que estou com tanto frio quanto ela. – Um minuto. Pode… Ver TV enquanto busco algo lá nos fundos.

Ligo a TV e a tela preta se transforma em algum programa pornô que alguém havia deixado no último volume. Os gemidos preenchem todo o recinto, e fico vermelho. Começo a procurar pelo controle em meio às almofadas e sofás e amendoins espalhados. Encontro-o agarrado com o homem que ainda dormia, e tiro dele com delicadeza para não acordá-lo.

Desligo a TV no exato momento em que Maya aparece atrás do balcão. Viro-me depressa para a mulher, gaguejando.

— E-eu não… Não fu-fui e-eu… - Acabo me embolando com as palavras e o controle cai no chão, ligando a TV e preenchendo o bar de novo com os barulhos eróticos.

Maya revira os olhos e aperta um botão, colocando em um noticiário matinal.

— Eu sei que não foi você, Gus. O Steve aqui – ela aponta para o homem adormecido – é cliente nosso a três anos, e toda semana é a mesma coisa. – Ela me entrega um cobertor e me cubro com ele, sentando em um sofá e terminando o chá. Percebo que ela havia trocado de roupa, e agora estava com uma calça de academia e uma blusa de manga comprida.

— Como você… - Começo a juntar os pontos e uma luz me vem a cabeça. – Você… Está morando aqui, Maya?

Ela para de andar por um segundo, e logo pega uma vassoura e começa a varrer, fingindo normalidade.

— Não seja bobo. Claro que não. – Ela fala baixinho. – Mas me diga – ela me olha e aumenta o tom de voz. – o que deixou você nesse estado, Gus?

Suspiro e olho para o chá, que estava no final.

— Eu… Toda essa coisa com BB, o hospital e tudo o mais. O que aconteceu aqui no bar. Apenas me lembrei…

— Não precisa me dizer mais nada. – Ela me olha com compaixão e sorrio agradecido. – Lembrei o que aconteceu. E eu sei que não é fácil. Mas estamos todos juntos agora, e o pior não aconteceu. BB está bem, aquilo não vai se repetir. E não vamos deixar que aconteça.

— É, certo… - Termino o chá e lavo o copo, ignorando os protestos da garçonete. – Bom, obrigado por isso, Maya. Vou para casa agora me trocar e voltar com o dinheiro da bebida.

— Deixa disso. Considere isso por conta da casa.

Sorrio para a garota e saio do bar.

— Obrigado. – Começo a andar, assobiando, e vejo o Sol nascer e as primeiras pessoas saírem para o trabalho, enquanto caminhava para casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "10 anos depois" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.