10 anos depois escrita por LightHunter


Capítulo 13
Capítulo 13 - Maya


Notas iniciais do capítulo

Hey, galeris :) Então, eu vou viajar por um tempo, então esse vai ser provavelmente o último capítulo que eu vou postar por enquanto, e quando eu voltar de viagem eu escrevo mais, OK? Espero que estejam gostando da história até agora! Boa leitura ♥



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Presente

Espero Lara e Lena voltarem da sala de consulta, Gus do meu lado mexendo no celular e Vic e Skye trocando carinhos no lado oposto do saguão. Nina está brincando com seu gatinho malhado, e eu estou com as pernas cruzadas, nervosa. Nem sei o porquê de ainda estar aqui; eu não era mais próxima de nenhum deles. Acho que só queria receber notícias boas sobre o estado de BB para não ficar com um peso na consciência de que um homem havia morrido no meu bar.

Lena aparece no saguão com uma compressa de gelo pressionada contra seu ombro, seguida de Lara, que parecia cansada. Nina se levanta, pegando as chaves do carro, e olha para Lena, impaciente.

— Vamos então?

As duas começam a andar em direção à saída, quando a voz de Lara ecoa pelo saguão.

— Espera um pouco. Vamos todos ignorar o fato de que estamos todos reunidos aqui, depois de dez anos sem nos falarmos, com um dos nossos amigos internados?

Olho para todos ao meu redor, que estão pensativos. Uma chama de raiva se acende dentro de mim; ela realmente achava que algum dia voltaríamos a ser como éramos? Que o que aconteceu poderia ser apagado? Perco a paciência e me pronuncio, levantando-me:

— O que você espera que a gente faça, Lara? Queria que todo mundo se abraçasse e esquecesse tudo o que aconteceu?

— Mas dez anos se passaram… - Dessa vez a voz da médica fraqueja.

— Maya está certa. E estamos todos cansados. Podemos conversar melhor amanhã, se quiserem. – Gus se levanta também e começa a andar em direção a saída. A expressão de Lara endurece, e ela volta para o escritório.

— Ei, será que podemos ir agora? – Nina pega Lena pelo braço bom e as duas saem do hospital, entrando no carro e indo para suas casas, o gato malhado entrando no banco de trás pela janela entreaberta a tempo.

Vejo Gus saindo pela porta e corro para alcançá-lo. Ele parecia acuado, e sua mão ainda tremia um pouco. Assim que chego perto do homem, desacelero e começo a andar do seu lado, olhando para o chão e chutando uma pedra na rua conforme andamos em direção ao bar.

— Você… Tá bem?

Não recebo resposta, e olho para ele, que cruza os braços e começa a chutar pedras, me imitando.

— Lembrei do que aconteceu com…. Você sabe, alguns anos atrás… E não deve ser fácil reviver tudo isso outra vez. Se precisar de alguma coisa…

— Eu estou bem, OK? Não preciso da pena de ninguém. Eu consigo me virar. – Ele me encara, com raiva e medo no olhar, e começa a acelerar o passo. – Preciso ir, tenho minhas coisas para resolver também. – Ele vira a esquina e começa a descer a rua em direção a sua casa. Fico parada tentando absorver o que havia acontecido. Não esperava essa reação dele, ainda mais quando eu estava apenas tentando ajudar.

— Deixe pra lá, ele deve estar chateado. – Ouço uma voz atrás de mim e me viro. Vic vem andando na minha direção, de mãos dadas com Skye. – Não deve estar sendo fácil para ele também. Nem todo o tempo do mundo pode apagar da mente dele o que aconteceu.

— Por que… Você está sendo legal comigo? – Recuo um passo, cruzando os braços e franzindo a testa.

— É como a Lara disse, já se passaram dez anos desde a última vez que nos vimos. Talvez seja hora de seguir em frente, sei lá.

Fico parada em silêncio por um momento, trocando o peso do corpo entre um pé e outro.

— Quer carona para casa? – Dessa vez quem fala é Skye, seus olhos me analisando. – Tem espaço no carro, se você quiser.

— Não, obrigada. Tenho que resolver algumas coisas no bar antes de voltar pra casa, como por exemplo limpar o chão que deixaram sujo de batida de morango. – Olho para Vic, censurando-o.

— Em relação a isso, eu pediria desculpas, mas não foi minha culpa. Foi apenas um reflexo, eu não pude evitar. – Ele retribui meu olhar, apesar de conseguir perceber um sorriso se formando em seu rosto.

— Hm, sei. De qualquer jeito, tenho que ir. Até mais, garotos. – Me viro e vou para o bar, ouvindo Skye e Vic se afastarem, entrarem no carro e irem embora.

Assim que entro no bar, percebo que quase todos os clientes já haviam ido embora. Apenas um cara, que ficava o dia inteiro no bar, se encontrava no sofá em frente à uma televisão dormindo; e uma garota e seu namorado se encontravam na bancada do estabelecimento, pagando a conta com o outro garçom que às vezes cobria meu turno, quando eu tinha que sair para resolver algumas coisas.

Me recosto contra a parede do bar e fecho os olhos, respirando fundo. Sinto o mundo girar, e sento em um banco, comendo amendoim de um pote que ficava em cima de todas as mesas do bar. O casal se despede do garçom e passa por mim para se dirigir à saída.

— Até mais, Maya. Voltamos aqui semana que vem!

— Tchau, Pete. Tchau, Kelly. Obrigada por virem. – Sorrio para eles cansada, e eles logo vão embora.

O garçom começa a limpar a bancada, e me levanto, amarrando o avental nas minhas costas e indo ajudá-lo.

— Hey, me desculpa por ter deixado você cuidando de toda a confusão aqui no bar hoje. Tive que ir ao hospital ver se aquele homem estava bem… - Pego um dos panos e me encaminho a uma das mesas, começando a limpá-la.

— Tudo bem, eu consegui conter a situação aqui. Ah, eu também limpei o chão que estava cheio de batida pra ninguém escorregar. E o homem? Está tudo bem com ele?

— Sim, ele teve uma overdose de acordo com a médica, mas já está bem, eu acho. – Olho para ele, sorrindo agradecida. – Obrigada Fê, por ter me ajudado nesses últimos tempos, cobrindo meus turnos e tudo o mais…

— Relaxa, Maya. Sabe que pode contar comigo se precisar de qualquer coisa. – Ele retribui o sorriso. Voltamos a organizar o bar, e dentro de poucos minutos tudo já está limpo.

Tiro meu avental e me despeço de Felipe. Ele pergunta se preciso de carona, e recuso novamente. Vou até a entrada e vejo ele indo embora com seu carro, subindo a rua e desaparecendo ao longe. Encosto a cabeça na parede e fecho os olhos, sendo tomada pelo cansaço. Olho para o homem dormindo no sofá do bar e percebo que está na hora de eu ir me deitar. Estendo o braço e vejo que horas são no meu relógio: 4:27.

Desligo a música, que tocava baixa, e apago as luzes. Vou para o fundo do bar, onde ficava a dispensa, e caminho até uma porta de metal branca. Olho em volta para me certificar de que realmente não havia ninguém por perto, e tiro uma chave do bolso. Coloco na tranca, e a porta faz um click antes de abrir, revelando seu interior.

Todos os funcionários do bar, que incluiam eu, Felipe e mais um garçom, Danilo, além de nosso patrão, o dono do bar, pensavam que a porta dava apenas para outra saída do bar, onde o caminhão com suprimentos vinha toda semana descarregar garrafas de bebidas, frutas e aperitivos. Passo pela porta e sigo por um corredor mal iluminado que logo se dividia em dois. Todos eram instruídos a seguir pela esquerda, onde ficava a tal saída, mas eu virei para a direita, onde o corredor mal-iluminado se estendia até uma porta de madeira velha.

Olho para trás, e noto mais uma vez que estou sozinha. Abro a porta, que range um pouco, e entro em um espaço pequeno e escuro, tomando cuidado para não derrubar nada. Minha mão tateia pelo escuro até achar uma cordinha que ficava pendurada no teto. Puxo a cordinha, e uma lâmpada se acende, iluminando o pequeno quarto. De um lado, alguns livros, uma pequena televisão-caixa em cima de algumas gavetas velhas e um espelho de mesa. Do outro, uma cama pequena bagunçada, uma pilha de roupas em um canto, e fotos coladas na parede – uma das únicas lembranças que eu havia guardado.

Essa era a minha “casa”. Escondida de tudo e de todos, até mesmo do próprio dono do bar, que pensava ser o lugar onde ficava a fiação do lugar, que quase nunca sofria problemas. Apesar de pequeno, era reconfortante saber que tinha um espaço apenas meu, ainda que não fosse realmente meu. Vejo a pilha de roupas e tiro as que estou vestindo, ficando apenas de roupa íntima. Abro uma das gavetas e coloco a chave da dispensa dentro, vendo de relance alguns crachás de outros lugares onde trabalhava. Com sorte, em alguns meses eu teria dinheiro suficiente para conseguir pagar o aluguel de uma casa perto daqui.

Deito na cama, recapitulando tudo o que o dia havia me proporcionado, e meu coração se aperta ao lembrar de todos os antigos amigos que eu havia reencontrado, apesar de todos estarmos diferentes e ainda mais distantes uns dos outros. Meu coração se aperta novamente ao me lembrar de Lara, e dos motivos que haviam me separado dela. Estendo a mão e alcanço a cordinha da lâmpada, desligando a luz e fechando os olhos, meus pensamentos logo se transformando em sonhos.


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