10 anos depois escrita por LightHunter


Capítulo 11
Capítulo 11 - BB




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Presente

Acordo com o sol batendo na minha cara, e esfrego os olhos até tudo ficar nítido. Depois de algumas tentativas, consigo me sentar e minha cabeça lateja, um zumbido invadindo minha mente fazendo meu ouvido doer.

Olho em volta, tentando me localizar. Vejo MUITAS garrafas de bebida espalhadas pelo que parece ser a sala da casa de alguém. Algumas pessoas estão deitadas no chão, dormindo. Outras estão penduradas na janela, desmaiadas. E um garoto havia subido no… Aquilo era um lustre? Ele abraçava duas garrafas de cachaça pela metade e um filete de baba descia por seu queixo.

Percebo que estou sentado em um sofá preto, e lembro-me vagamente de ter empurrado alguém pra conseguir esse lugar. Olho pra baixo, sentindo um enjoo repentino por causa da bebida, e vejo a garota que havia empurrado no chão, deitada ao redor de uma poça de vômito.

Assim que a tontura passa, consigo me levantar e uma corrente de frio faz com que meu corpo estremeça. Noto que estou sem nenhuma roupa, e começo a andar, procurando um quarto. No caminho, começo a me lembrar de relances da festa.

Bebida, muita bebida. Também tinham drogas, e eu havia usado a maioria delas. Acho que isso explica porque minha mente está tão embaçada. Lembro de ter transado com duas, talvez três pessoas, e que eu havia vomitado em alguma delas. Credo.

Abro uma porta e vejo as paredes pretas e identifico como sendo o quarto da dona da casa. Cristina, esse era o nome dela. Isso. Onde será que ela estava?

Abro o armário dela e encontro uma calça jeans que deveria servir em mim e uma camiseta unissex sem estampa, meio gasta. Deve servir. Visto as roupas em meio às pessoas desmaiadas, e percebo que estou sem meu celular.

— Sinto minha garganta queimar quando pronuncio a palavra, e vou até a cozinha beber um copo d’água. O líquido desce queimando até minha garganta se acostumar, e logo a dor passa. Vejo meu celular no parapeito da janela, e guardo ele no bolso.

Pego um chinelo rosa choque e saio para a rua, percebendo que o quintal da casa estava cheio de vidro quebrado, copos de plástico jogados no chão e várias poças de vômito. A luz do sol incomoda meus olhos, e me viro contra ele, vendo as horas na tela do celular: 15:30. Bocejo e ligo para um Uber.

Enquanto espero o carro chegar, entro no Whatsapp e tento ler as mensagens, que parecem dançar sob meus olhos. Meu nariz estava ardendo, me pergunto o que eu tinha cheirado ontem a noite. Cocaína, provavelmente, mas não seria a primeira vez. Olho para o primeiro ícone da conversa, onde 56 mensagens estavam esperando para serem lidas, e meu coração dispara quando vejo de quem é.

Ju.

— Merda, merda, merda. – clico no número dela e coloco o celular no ouvido. Ele toca até cair na caixa postal. Chuto uma cerca e guardo o celular no bolso; depois eu me preocuparia em ler as mensagens que ela havia me mandado. O carro chega, e peço para o motorista me levar até a rua onde eu morava.

Assim que o Uber vira a esquina, peço para o motorista parar logo no começo da rua, que eu andava o resto sozinho. Ele me olha co repreendimento, talvez pelo meu estado, e dou o dinheiro que ficava na capinha do meu celular para ele. Saio do carro e o motorista acelera, logo sumindo de vista.

Começo a andar, assobiando. Vejo homens descarregando móveis para dentro de uma casa modesta, e decido entrar na casa do lado. Tento abrir a porta da frente, e ela surpreendentemente não estava trancada. Solto um riso de deboche; quem não trancava a porta hoje em dia? Só se fosse muito distraído mesmo. Como não havia carro nenhum parado em frente à casa, deduzo que a casa estava deserta. Vou para o quarto da dona, e procuro por um carregador. Deixo meu celular carregando na tomada enquanto olho a rua pela janela. Já havia invadido quase todas as casas da rua, e nenhum dos donos havia notado que alguma coisa estava faltando.

Apesar de ter uma casa, não gostava dela. O aluguel era pago por meu pai, até eu conseguir arranjar um emprego fixo. Ele achava que podia me recompensar fazendo isso, mas eu queria me manter o mais longe possível dele. A conta de celular, Ju se dispunha a pagar por mim, comigo prometendo que estaria tentando arrumar minha vida. A maior parte do tempo, eu invadia casas alheias e me alimentava, tomava banho e descansava. À noite, eu estava sempre na casa de alguém bebendo ou ficando chapado, e de manhã tudo começava de novo.

Eu já conhecia essa casa muito bem, já havia invadido umas três vezes. Pertencia a uma moça loira que era médica no hospital da rua de cima. Era impressionante como ela nunca havia notado que sua comida havia sumido ou que algo estava fora do lugar. Vou para o banheiro e ligo o chuveiro, tirando a roupa e entrando na água fria.

Sete horas depois, eu estava andando por essa mesma rua, a lua brilhando no céu acima de mim. Estava cambaleando pela calçada escura, o nariz vermelho e uma garrafa de cerveja na mão. Subo a rua e escuto vozes e música vindo do bar ao lado do hospital. Jogo a garrafa no lixo e coloco uma touca na cabeça, escondendo meu cabelo desgrenhado. Entro no bar, que tinha uma luz fraca, perfeita para disfarçar o vermelhidão no nariz.  A música me deixa tonto, mas consigo alcançar o balcão, e chamo uma garçonete.

— Uma margarita, por favor. – As palavras saem emboladas, mas não tanto para serem incompreendidas. A garçonete logo me serve, me olhando estranho, e percebo traços familiares em seu rosto. – Perdeu alguma coisa? – Deixo o dinheiro em cima da bancada e vou para uma mesa, as luzes ficando mais brilhantes e a música ficando abafada.

Começo a beber e brincar com o saleiro e os guardanapos que ficavam em cima da mesa. Percebo que a médica da casa que eu havia invadido estava em uma mesa próxima, e começo a encará-la. Viro o copo e peço mais um para a garçonete. Ela logo me entrega o segundo copo, e eu volto a beber. De repente, sinto um formigamento nas mãos, e a música parece parar.

Um homem que estava mexendo no laptop se levanta, indoem direção à médica. As luzes agora piscam, e não sinto mais minhas pernas. Tento me levantar, mas acabo escorregando e caindo no chão frio. É quando o homem passa ao meu lado que meu corpo começa a ter espasmos e tudo fica escuro.

*

Ouço vozes que parecem batucar meu cérebro, fazendo-o latejar de dor. Sinto a cama macia embaixo de mim e o travesseiro que apoia minha cabeça. Tento abrir os olhos, mas a dor parece aumentar. Tento reconhecer a voz de Ju ou de meu pai, mas eles não estão lá. Quando consigo fazer com que meus olhos abram, vejo sete pessoas paradas na entrada de um quarto do hospital. Abro a boca e tento pronunciar uma frase, mas apenas uma palavra sai:

— Gente… - Todos olham para mim, e a escuridão me envolve novamente, fazendo com que eu perca os sentidos.


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