Entre Dois Mundos escrita por VeraCurva


Capítulo 6
Capítulo 6 - O Oráculo Druida - Premonição ou Mentiras?




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Foi numa dessas noites, naquela primeira semana de Dezembro, após as aulas terem terminado, em que  as três feiticeiras se apressavam a terminar de jantar e dirigir-se à residência para planear a saída ao pub, claro sem o conhecimento dos directores. Uma aclamada banda folk celta, os Magmell, ia actuar no Fauno. As suas músicas eram contagiantes e o pub ficava cheio e ao rubro.  Era raro este grupo actuar numa Sexta feira, e como tal, as jovens não podiam deixar passar a oportunidade.

Amélia estava impaciente, insistindo para que as amigas se despachassem pois eram já 20h45 e temia que chegassem numa altura em que já não haveriam lugares sentados. Chamava-as a cada minuto, ansiosa para se escapulir do Instituto com as duas profissionais nessa área por conhecerem todos os recantos e acessos de fuga.

Silenciosamente saíam finalmene do quarto, cada uma controlando se vinha alguém para poderem chegar ao exterior e atravessar os campos sem serem vistas para por fim ultrapassarem as barreiras de segurança e seguirem por atalhos, alguns deles ardilosos pelo meio da floresta até alcançarem as instalações do Pub, no entanto, desta vez, e por estarem já atrasadas, decidiram dividir-se pois para Charlotte era mais fácil descer os caminhos estreitos rapidamente ao assumir uma forma animalesca qualquer dado a sua condição de transmorfa, e para Bella e Amélia, a viagem era mais cómoda e rápida na mota de Bella ,a sua estimada Kawasaki Ninja 300, que chegara semanas antes em encomenda por via aérea enviada pelos seus pais directamente da Austrália,estando muito bem escondida com um feitiço de invisibilidade não muito longe dali.

— Vemo-nos lá em baixo, meninas! - despediu-se Charlly voltando costas.

Após escolher um dos vários caminhos, assumiu a forma de um robusto Pastor Alemão correndo ao máximo.

— Bute fazer uma corrida, vamos nós chegar primeiro, queres apostar, Amélia? - Respondeu Bella com um sorriso de desdém.

Amélia acenava afirmativamente cheia de entusiasmo.

Ao chegarem ao Fauno, os Magmell afinavam já os últimos acordes para poderem dar início à sua actuação.

As alunas iam procurando por uma mesa vaga,  ao mesmo tempo que Charlotte já dava uns pulinhos e o seu sorriso rasgado já dizia tudo, a atenção para o que quer que fosse que não tivesse a ver com a música, era nula.

— Ali, ali ali!!!- apontava ela para o fundo da sala, arrastando Amélia consigo pelo pulso.

— Calma miúda com essa bandeira toda ainda nos roubam o lugar, hey, vai devagar! - resmungava tentando acompanhar o passo. Tinha sido realmente um grande erro levar saltos altos para aquele lugar.

— Vão indo, eu peço as bebidas. - Avisou Bella alegremente, apoiando os cotovelos ao balcão e empinando ligeiramente o traseiro abanando a cabeça ao ritmo da música.

As outras duasjovens conversavam e comentavam sobre cada pessoa que viam e riam a altas gargalhadas. Charlly batia com as mãos na mesa ao ritmo da primeira música de Magmell deixando Amélia a falar sozinha.

— AAAAAH! Eu adoro esta!! Anda lá Méli, mexe-te! - exclamava apoiando-se sobre os joelhos no comprido banco.

Amélia ria, mas não tinha muita disposição para alinhar em grandes loucuras pois os pés doíam-lhe tanto que quase que tinha de se descalçar.

— Estás a ir lindamente, sim, vai, vai…. -Incentivava a feiticeira dos Mezzaluna.

Bella ainda aguardava pelo pedido e lançou um olhar para a mesa das amigas, troçando com elas e rindo também.

— Viemos para um antro de perdição e pecadores. Isto não é nada boa ideia.

— Relaxa, Castiel, viemos só divertir-nos. - Acalmou Sam empurrando a porta.

— Se não quiseres entrar...estás por tua conta com os “pecadores” que aí vêm que possam fazer alguma coisa suspeita. - Avisou Dean. - Desmancha prazeres.

— Eu não vou ficar à porta, não sou porteiro. - Retorquiu o Anjo confuso.

— Considera isto uma folga. - Sugeriu Sam dando-lhe suaves palmadas no ombro. - Nem tudo é trabalho. Entramos, tomamos um copo, divertimo-nos….tu...sabes o que é isso, não sabes?

Dean prontamente interrompeu, deixando o anjo amuado.

— Não Sam, ele só sabe piadas secas em enoquiano.

— Não são secas, são hilariantes. E sei divertir-me sim! ….Acho eu. Ver televisão conta?

— Desde que não seja porn… - respondeu Dean sem que ele ouvisse.

Ao entrarem os três no bar, Dean deparou-se com uma esbelta figura debruçada ao balcão batendo os dedos ao ritmo da música.

— Hmmm, rapazes vão-se sentando que eu vou….pedir qualquer coisa e tentar ganhar o jackpot.

Dean aproximava-se da jovem percorrendo cada centímetro do seu corpo com o olhar deliciado e aproveitando o facto de o Pub estar cheio para apoiar as mãos na cintura destaa.

Bella tinha já o tabuleiro e chocada com aquele toque, volta-se e deparando-se com Dean, ambos recuaram um passo surpreendidos um com o outro.

Bella deixa cair o tabuleiro entornando algumas bebidas para cima do rapaz.

— Qual é a tua? - reclamou ela indignada.

— Hey, hey, e tu?? Este traseiro jeitoso era teu??

— Desculpa???

— Quero dizer, o que estás aqui a fazer? - desculpa-se prontamente o rapaz sem mostrar qualquer remorso.

— Eu venho cá frequentemente. Quanto ao traseiro, é meu sim, não tens nada que tocar.

— Para tua informação, se eu soubesse que o traseiro era teu, nem lhe tocava. Fugia! Fiz confusão com outra pessoa, só isso.

— É interessante saber que reconheces as pessoas pelo seu rabo. Bem, nesse caso tem cuidado se tens muito a mania de tocar nos traseiros de toda a gente, qualquer dia pode-te correr mal. - Avisou Bella voltando-se novamente para o balcão para pedir tudo novamente.

— Não vais ao menos pedir desculpa? - Implicou Dean incrédulo apontando para si próprio para que Bella visse como ele estava encharcado.

— Problema teu. - Responde ela prontamente sem olhar para ele.

As atenções tinham-se voltado para a pequena briga e as pessoas abriam alas para que se pudesse limpar o chão e os Magmell aproveitavam a ocasião para convidar quem quisesse dançar ali em frente podia aproximar-se.

— Olha, que se passa ali? - perguntou Amélia tentando ver o que se sucedia na zona do incidente.

Charlotte não respondia, estava estática, como se estivesse paralisada, com os olhos arregalados e ambas as mãos encostadas à face.

— Hey, que é que te deu? Viste algum fantasma? Fala, desembucha, que se passa ali? - Insistia Amélia.

Subitamente, a perfeita dos Vollmond senta-se muito direita na mesa mantendo o mesmo ar ridículo.

— Miúda, não me obrigues a tirar-te essa cara de parva à chapada. Que foi??

— Méliiiiii!!!!  Um fofinho chegou!!! Ai não acredito! Que é que eu faço? Será que me viu? Vou falar com ele?

Amélia rapidamente se debruçou sobre a mesa, direccionando o seu olhar para o rapaz a quem a sua colega se referia.

— Não posso! Olha-me aquele grandalhão também... Que pedaço de mau caminho aquele homem! Vai lá chamá-los, vai, vai, mexe-te!

— E a Bella? Depois não tem lugar, coitadinha!

— A Bella senta-se ao colo do outro que está com eles, aquele que se nota a léguas que tem a mania que é durão, não terá ela outro remédio.

O empregado dava indicações a Bella para que se dirigisse à sua mesa e se sentasse e só depois ele levaria os seus pedidos. Ela volta costas ao jovem com que tivera o pequeno acidente, agradecendo ao empregado e apercebendo-se da presença de Sam e Castiel e, apesar de apenas os ter visto uma única vez numa das recentes caçadas que se tornou competitiva inesperadamente entre ela e os rapazes , noite a qual ela nunca chegara a relatar às colegas de quarto dado que contavam em não voltar a reencontrá-los por acreditar que os 3 rapazes estariam ali apenas de passagem, decide cumprimentá-los com um sorriso e um aceno de cabeça.

— Aquela rapariga é, sem dúvida um poço de simpatia… - comentou Castiel sem se aperceber do que tinha dito. - Espera! Sam! Ela está aqui??

— Surpreendido, Cas? - respondeu Sam.

Castiel assumiu uma postura muito mais contida, olhando em frente, respondendo quase monocordicamente.

— Não, de modo algum...

Alguns segundos, após silêncio entre ambos e no final de uma música, aproveitando ainda os aplausos do público:

— Consegues vê-la?

Sam olha em volta até que avista a feiticeira junto das amigas. Amélia, apercebendo-se de que o alto rapaz olhava na direcção das três dá o seu melhor sorriso e acena de modo ridiculamente provocante, cochichando algo com Charlotte que, de um pulo , se volta acenando espalhafatosamente com ambos os braços.

Sam, chocado roda lentamente para a frente.

— Sim...atrás de nós. E está acompanhada.

— Acompanhada? Devemos ir lá? - pergunta Castiel.

— Para quê?

— Não sei…

Não tardou muito até que Bella e Charlly saíssem dos seus lugares na mesa para irem dançar uma música de grupo em números pares, mas ainda faltavam pessoas.

— Aquilo parece divertido. - comentou Castiel ao aperceber-se que as pessoas se riam dos disparates e erros no seguimento da coreografia, não conseguindo evitar abanar a cabeça melodiosamente.

— Então vai. - Incentivou o Sam disfarçando o riso.

— Eu não sei….

— Aprendes. É só imitar.

Castiel colocara-se então no círculo de pessoas. Ainda ninguém tinha conseguido atinar com a coreografia e os movimentos não eram sincronizados, não se apanhando o par no tempo certo nem no jeito certo, o que gerava gargalhadas que enchiam toda a sala parecendo mesmo um tradicional bar irlandês em festa.

Amélia estava agora sozinha na mesa e estava roídinha por poder falar com Sam que se encontrava na mesa da frente com Dean.

Para infeliz sorte de Amélia, duas pessoas tinham-se sentado nas pontas dos bancos da sua mesa, deixando-a sem forma de sair caso pretendesse.

A única alternativa era passar por de baixo das mesas, pedindo licença às pessoas que se assustavam com aquele jeito estranho e incomodativo de passar.

Ao chegar finalmente à posição de Sam e Dean, ajeitou o cabelo e as roupas e com um grande sorriso meteu prontamente conversa com eles. Dean deu um salto de susto.

— Jesus! Que é isto?

— Olá!! Posso juntar-me a vocês, não posso? Que gentileza, obrigada. Eu estava ali sozinha e sabem, estava a pensar para comigo mesma “Oh, por que não fazer-lhes companhia”? És o Sam, não és? - Sabia agora o nome do jovem devido a momentos antes de se aproximar ter escutado algumas palavras trocadas entre os irmãos.

— Hmm….sim….este é o meu ir-….

— Muito, muito prazer, eu sou a Amélia. O apelido é capaz de ser muito complexo para vocês, mas Amélia já é óptimo. Deixem-me falar-vos mais um pouco sobre mim...bem, eu sou uma rapariga muito tímida, e envergonhada, não sou capaz de meter conversa com ninguém…

Dean tentava aguentar-se mas revirou os olhos e Sam estava incrédulo com a capacidade de uma pessoa ser falar tanto e com tanto descaramento, mas por educação mantinha-se atento à rapariga achando-lhe de certa forma, alguma piada.

— Eu vou à casa de banho. - Interrompeu Dean levantando-se do seu lugar, debatendo-se por passar naquele mar de gente compactado num tão pequeno espaço.

Neste momento tinha ainda mais dificuldades pois o grupo começava a alargar-se devido à música que estava a tocar agora, que requeria muito espaço, apesar de só restava em cena Castiel, Charlotte e Bella ao som de Ryan’s Polka, um ritmo estonteante que procuravam aguentar até ao fim os rodopios e pulos ao ritmo da melodia que acelerava quase de forma inhumana. As raparigas não sabiam se haviam de berrar da adrenalina ou das dores que já se faziam sentir nas suas pernas, mas queriam continuar ali, segurando-se os três com o máximo de força que ainda tinham para os rodopios.

O público em delírio acelerava e acompanhava a caixa acústica, batendo com os pés no chão e as mãos na mesa, lançando gritos de alegria puxando pela banda e pelos últimos dançarinos.

— Eu...eu acho que me vou sentar… - queixou-se Castiel pretendendo afastar-se, mas fora impedido.

— Ah não vais não, vais ficar até ao fim, anda lá! Bora! - Encorajou a transmorfa debruçando-se sobre o jovem pois com tanto barulho era difícil comunicar.

— Hey, CC! Bora, braços! - Chamou Bella dando sinal a Charlotte para que o tomasse.

A música terminava e os três únicos resistentes à polka preparavam-se para se sentar mas a banda anunciava uma música a pares mais calma e Charlotte via ali a sua oportunidade de se aproximar de Castiel. Puxava-o pela mão fazendo força para trás devido a uma certa resistência que este apresentava.

— Vá lá, vá lá, só mais esta, é muito gira, eu ensino-te.

— Mas…

— Não sejas cortes. Vá, mão esquerda para eu te dar a minha direita, e a tua direita na minha cintura.

— Na tua…? Tens a certeza?

— Anda lá, não sejas santinho. Não me digas que és um anjo, não? - 
Gracejava Charlly, mal sabendo ela que abordava um aspecto do jovem que era real.

— Mas como é que tu sabes que eu… - Castiel estava um tanto confuso, julgava que a jovem por alguma razão sabia da sua condição angelical. - Eu não sei se….-  Castiel preparava-se para falar mas era abafado pela música e por Charlotte, que se encostava cada vez mais e firmava mais a sua mão na dele, tentando dar o sinal para irem para a esquerda.

— Olhos nos olhos sempre, ok?

Bella por sua vez, vendo ambas as colegas entretidas com os rapazes, decide dar um saltinho à loja esotérica no andar de cima do Pub, pois necessitava de comprar material e uns ingredientes para as aulas. Em vez de ir pela escada no interior da sala onde se encontrava, faria-o pela porta existente no exterior do edifício visto que o acesso às escadas interiores estava apinhado de gente.

Dean, ao fim de quase 20 minutos tinha finalmente chegado ao wc, dado a final interminável que havia para o uso das instalações sanitárias. Seguidamente deparou-se com outra fila, mas desta vez em direcção à loja esotérica, dado que o wc se situava também no 1º andar do pub, e de onde ouviu uma voz que lhe pareceu familiar.

— ....Que raio….?

Bella neste momento estava à conversa com Maria, uma rapariga que trabalhava na loja há algum tempo. Maria era uma jovem com os seus vinte e poucos anos, humana e, como tal, não possuía qualquer tipo de magia, no entanto, as pessoas não mágicas auto intitulavam-se de bruxos ou bruxas apenas por conhecerem mezinhas caseiras transmitidas pelos seus avós ou graças ao uso do intelecto para o caso das interpretações das cartas.

— Então Maria, como têm corrido as coisas por aqui?

— Oh sabes como é, pouca animação aqui em cima como sempre. E tu, que te traz por cá hoje? -Perguntou a jovem no seu típico jeito suave.

— Vim com as minhas colegas da escola desanuviar, como já estamos a entrar na fase dos exames intercalares deste ano e as coisas começam a ser mais puxadas ficamos mesmo a bater mal, necessitamos às vezes de espairecer e aqui estamos à vontade.

— Fazem bem. Olha ainda não temos novidades, só mesmo o artesanato, mas fica à vontade dá aí uma volta.

— Obrigada Maria...hmmm olha boa, este oráculo é novo por aqui? - Perguntou Bella apercebendo-se da existência de um oráculo druída animal de Phillip-Carr Gomm.

Já conhecia este oráculo e tantos outros que tinham sido apresentados no MLI, no entanto tentava não dar isso a entender, visto que Maria não sabia que tanto ela como Charlotte e Amélia eram ambas feiticeiras de verdade. Os verdadeiros bruxos evitavam revelar-se com receio de represálias por parte dos não-mágicos.

— Vou experimentar. Posso fazer-te uma consulta? - Sugeria Bella.

Maria ria-se cheia de expectativa e ao mesmo tempo curiosa.

— Podes, podes, então deixa-me só pensar ok….Que diz o oráculo acerca do meu campo afectivo?

— Muito bem….

Bella baralhava as cartas cuidadosamente, concentrando-se, prosseguindo a consulta calmamente. Maria dava suaves gargalhadas, não por levar a consulta na paródia, mas pelos disparates que lhe passavam pela cabeça e os nomes dos animais em gaélico.

Dean entrava na sala e, ao avistar Bella, viu ali uma chance de a provocar e, pouco a pouco, para ouvir melhor a conversa, fingiu estar a explorar a loja.

— ...Tudo uma cambada de tretas. As pessoas compram mesmo disto? Esta terra afinal é só parolos que ainda acreditam que Harry Potter e Senhor dos Anéis são reais, só pode…

Bella já se tinha apercebido da presença do caçador, mas dava seguimento à consulta. Várias pessoas observavam curiosas a forma de Bella expor o significado das cartas sem quase olhar para o livro.

Maria estava impressionada.

— Tens mesmo jeito para isto, Bella, muito fixe. Aparece cá mais vezes e ainda passas a dar consultas oficiais.

— Claro que sim, qualquer um pode usar psicologia e aldrabar as pessoas, não é? -Interrompeu Dean apoiando-se no ombro de Bella que, incomodada, fechou o livro com força.

— Estás a precisar também de um conselho sobre a tua vida amorosa, é? - Retorquiu a feiticeira rispidamente.

Dean ria com desdém. Sendo ele um engatatão, aquele comentário só podia ser uma piada foleira.

— Queridinha, a minha vida amorosa não te diz respeito, mas se queres saber,corre maravilhosamente bem. Mas já que insistes, abre lá esse livrinho de tretas. Se falhares, digo a toda a gente que és uma farsa e mentirosa.

— Combinado.

Bella sentia agora uma ligeira pressão sem no entanto conseguir entender ou livrar-se dela. Tinha de se concentrar e conseguir fazer Dean engolir aquela atitude.

— Primeiro que tudo, nome sff.

— Se querias tanto conhecer-me não precisavas de usar isto como forma de o fazer. - Troçava Dean - Mas confesso, foste bastante original no método utilizado.

— Se não levas isto a sério não me faças perder tempo. - Bella olhava-o com ar sério.

— Lá está ela com a mania que é uma super vidente… Mas enfim, que seja então. Winchester. Dean Winchester.

Maria rebenta em riso com a forma de Dean ter revelado o seu nome semelhante aos filmes de 007.

— Coitado. Sabes Maria, o pobrezinho lá pensa que é o James Bond. Deve andar numa de agente secreto. - Bella que tentava controlar-se para manter o seu ar sério.

— Olha lá, mas fazes a treta da leitura ou nem por isso? - Reclamava Dean.

— Claro, claro. Afinal até pareces mais interessado do que aquilo que mostravas. Mas bem, prosseguindo… Data de Nascimento?

— Olhem-me esta… Acusa-me de me armar em agente secreto e ela afinal parece trabalhar para o FBI.  - Dean esboçava um sorriso e um olhar de troça - Já agora também não queres saber quantas refeições faço por dia, o tamanho da minha roupa interior…?

— Ok, eu desisto, não vale a pena… - Bella preparava-se para guardar o baralho e colocar o livro no lugar.

— Não, não, pronto, segue lá com isso. Não quero perder a oportunidade de te vir a desmascarar.

— Vá, vá meninos acalmem-se - Maria tentava apaziguar a situação. - Bella eu acredito nas tuas capacidades, vê isto como uma forma de lhe dares uma coça no fim. Vá, força aí miúda. - Piscava-lhe Maria o olho numa forma de incentivo.

Dean lança momentaneamente um olhar de esguelha a Maria levantando o sobrolho.

— Data de Nascimento, né? - Repetia Dean. - Pois bem então, memoriza aí para mais tarde te recordares de me oferecer uma prendinha: 24 de Janeiro de 1993.

— Hmm, muito bem. - Bella retomava o baralho em suas mãos baralhando-o concentradamente - Escolhe três cartas. - Indicou-lhe a jovem.

Maria recostou-se na cadeira em frente ao computador, voltada de frente para os dois, com uma mão apoiada no queixo.

— Ui, isto vai ser intenso. - Comentou ela esboçando um sorriso enigmático.

Dean, mantendo sempre um ar desconfiado e de superioridade, assim o fez. Retirou as três cartas, uma a uma, entregando-as a Bella que as colocava  em fila em cima da pequena mesa a seu lado.

— Então vá, diz-me lá aí o meu futuro… - Insistia Dean em modo de provocação - Vou estar recheado da gajas boas à minha volta, vou curti-las à grande sem nunca ter dores de cabeça com namoradas possessivas e ciumentas… Isso para mim já não é novidade nenhuma.

Bella começava a fartar-se do jeito machista e convencido do rapaz, mas decidiu não apimentar a provocação, dando início à interpretação das cartas pelo caçador escolhidas.

— Esta carta - colocando a sua mão direita sobre a primeira carta da fila - será referente ao motivo por trás do acontecimento.

— E podes traduzir isso para português sff? É que não sei se deste conta mas para mim o que acabaste de dizer é chinês.

— Esta carta representa aquilo que conduzirá a tudo o resto. - Elucidava-o Bella - Já entendes assim?

— Muito melhor agora, agradecido.

Ao virar a carta podia-se ver o Grou, passando Bella a explicar o seu significado ao rapaz.

— Representa o Conhecimento Secreto, a Longevidade e a Paciência.

— Sim realmente é preciso uma longa paciência para aturar isto. - Refilava Dean.

— Mas será que te importas? - Repreendia-o a feiticeira já lhe faltando a ela a paciência para as constantes implicações do jovem.

— Vá, vá, segue com isso que eu calo-me.

— Obrigada.

Respirando fundo tenta seguir com a interpretação.

— Ora bem, terás de ser paciente e perseverante, combinando isto com as capacidades de focalização e concentração, sem cederes a distrações. Poderás deparar-te com um conhecimento secreto, e lidar com o submundo ajudando até alguém  numa transição no momento da sua morte.

— Com o submundo já lido eu todos os dias ou já te esqueceste? - Murmurava-lhe Dean.

— Agradecia-te que não falasses muito sobre esse tipo de assuntos aqui. - Pedia-lhe Bella em tom baixo de modo a que Maria não os ouvisse.

— Sim, uma vez na vida tens razão.

Bella virava a segunda carta que continha a imagem de uma Vaca.

— Esta carta representa o efeito a nível emocional.

— O quê, vou-me apaixonar por uma vaca? - Dean ria-se não sendo capaz de evitar brincar com a situação.

— Nunca se sabe, para um boi como tu… - susurrava Bella entre dentes de rosto virado para o lado oposto ao rapaz.

— Hey, hey, acalma-te lá boneca - Dean conseguira ouvir o que a jovem havia dito a seu respeito. - Não te estiques.

Maria limitava-se a rir perante aquele cenário,acreditava que apesar de toda a retaliação entre aqueles dois, ambos sentiam uma ligeira faísca um pelo outro.

— Como eu estava a dizer, temos a Vaca… - Retomava a feiticeira inspirando profundamente.

Dean solta novamente um riso contido fazendo Bella olhá-lo de esguelha de forma ameaçadora.

— Ok,ok, desculpa, segue lá com isso.

— Esta carta representa o alimento e a maternidade, e fala-nos acerca da Deusa...

— Olha agora a Vaca vai virar uma deusa… bem, assim começa a ficar mais agradável.

Bella ecoa uma tossidela fazendo Dean regressar ao silêncio.

— Esta Deusa simboliza uma mulher que será bastante importante na tua vida, que te trará protecção de coisas nocivas. Será alguém provida de generosidade e poderes curativos. Será uma pessoa que te fará sonhar e, estando a carta ligada à maternidade, alguém com quem muito provavelmente construirás família.

Dean rebenta em riso ao ouvir as palavras da rapariga.

— Pff… É isso e eu sou o Pai Natal, muito prazer… Filha eu já te disse, eu não me prendo a mulher nenhuma… NE-NHU-MA! … Jamais! Não chego a esse nível de afecto e sentimento nem que seja a gaja mais gostosa à face da terra.

— Nunca digas nunca. - Alertava-o Maria por detrás de si.

— Não te metas com cenas,ok? Eu sei bem o que falo, ninguém me conhece melhor do que eu próprio.

— Passemos para a carta seguinte - Sugeria Bella pegando na terceira e última carta.- Dragão de água, a carta que falará do efeito a nível físico.

— Eh lá, vou virar dragão e andar a cuspir fogo. Vou queimar e derreter “corazones”. - Gabarolava-se Dean.

— Eu desisto, assim não vale a pena…

— Vá Bella, leva isso até ao fim que pelo menos eu tou a gostar de ouvir. -Pedia-lhe Maria tentando amenizar o clima.

— Bom… - Bella respirava fundo tentando manter a calma e a concentração. - O Dragão da água está associado à Paixão, Profundidade e Ligação. Indica que trarás à luz do dia memórias ou desejos que tenham ficado reprimidos no teu inconsciente, o que te poderá assustar o seu regresso. Se encarares essa experiência com coragem poderás alcançar uma experiência de ligação profunda no campo afectivo, visto ser aqui o tema em causa. Embora por vezes te possas sentir tomado pelas emoções, sejam elas positivas ou negativas, com o tempo irás acabar por atingir o equilíbrio e a estabilidade à medida que esses sentimentos intensos que tens reprimidos forem integrados na tua consciência. E pronto, é isto.

— Já acabou? Já posso rir tudo agora?

— Faz o que entenderes. Nem me vou dar ao trabalho de gastar mais as minhas energias a discutir com alguém que não merece o meu tempo e o meu esforço.

— Então Bella… - Maria intervinha novamente para evitar mais arrufos. - Pelo que percebi e de uma forma resumida: Se ele for paciente e se concentrar sem ceder a distracções daquilo que o rodeia, irá encontrar a mulher da sua vida, aquela que o fará sonhar, a sua grande paixão, com quem formará família… Essa mesma mulher ajudará na cura de diversos danos, sejam físicos, emocionais ou psicológicos, ajudando também a trazer ao de cima os desejos que ele tem reprimidos lá no fundo, que ele no mais íntimo dele próprio até os deseja mas que o assustam a ideia de os voltar a enfrentar devido a coisas que ele já tenha vivido anteriormente, bastando para isso ele encarar tudo com coragem e aprender a controlar as suas diversas emoções, sejam elas amor, raiva, ódio, etc etc, e desta forma atingir a estabilidade no relacionamento com essa tal mulher e mesmo na própria vida.

— Sim basicamente é isso.

— Yup, só tretas como eu bem disse. Quanto é que te devo então?

— Eu não te cobrei nada.

— Ainda bem, porque também não tinha intenções de pagar por uma trafulhice. - Responde-lhe o rapaz com desdém.

Bella ficara bastante ofendida com o que o caçador lhe acabara de dizer.

— Já te podes ir embora agora. - Indicava-lhe com uma expressão de ligeira revolta que tentava esconder, mas a qual Maria se tinha apercebido.

— Era mesmo essa a minha intenção, era escusado pedires.

E dizendo isto, Dean afasta-se despedindo-se de Maria com um aceno de cabeça, abandonando a sala deixando a feiticeira sozinha com a funcionária.

Bella ajeitava as cartas, reformando o baralho, colocando tudo no seu devido lugar sem retirar do seu rosto a expressão revoltada.

— Bella - chamava-a a funcionária ainda sentada na sua confortável cadeira - Anda cá.

— Estou só a arrumar isto.

— Deixa tar isso que eu depois arrumo, assim sempre tenho algo com que me entreter mais logo.

Bella aproximava-se…

— Agora aqui só entre nós as duas… - Maria olhava-a com um ar de mistério. - Ele mexe contigo não mexe?

— Tás parva? Eu lá tenho paciência para um gajo daqueles?

— Eu não perguntei se tinhas paciência ou falta dela. Perguntei-te se mexe contigo… Mexe, não mexe?

— Nem te vou responder a isso. - Bella desviava o olhar para a porta da loja.– Não precisas, já deu para entender tudo. - Maria sorria.

— Entender o quê? – Que há aí uma faiscazinha entre vocês dois.

— Põe lá faísca nisso, aquele fulano dá-me com cada choque no meu precioso cérebro que até me atrofia.

— Não é esse tipo de faísca que tou a falar Bella, tu sabes bem ao que me refiro.

— Preferia não o saber...

Maria solta um pequeno e tímido riso face à resposta da jovem.

— Vá conta-me lá como o conheceste, agora fiquei curiosa...Sim porque deu para ver que este não foi o vosso primeiro contacto.

— Vais mesmo obrigar-me a recordar aquela infeliz noite? - Questionava-a Bella com um ar de amuada.

— De noite… ui ui…  - Brincava Maria sorrindo em jeito maroto.

— Hey, não te ponhas com cenas.

— Eu??? … Não, claro que não, por quem me tomas. - Imitando uma expressão séria. - Mas sim, vá, explica-me como foi, não me deixes aqui consumida por esta curiosidade toda.

— Ok, ok, se fazes assim tanta questão...

Maria abanicava repetidamente a cabeça sorrindo em gesto afirmativo. E cedendo ao pedido da jovem Bella lá lhe esclareceu o modo como conhecera Dean naquela noite, mas numa versão ligeiramente alterada para não referenciar o facto de caçarem criaturas do submundo nem lhe revelar a sua condição de feiticeira.

— Uau, mas que maneira tão original para se conhecer um rapaz todo jeitoso. - Constatava Maria após Bella ter terminado o seu discurso.

Bella olhava de lado para a funcionária de sobrancelhas franzidas.

— Não faças essa cara Bella. Tens de admitir que apesar do seu feitio peculiar, o rapaz é bem giro.

— Mais uma vez, não te vou responder…

— Bella, Bella, Bella… - suspirava Maria. - Custa-te assim tanto admiti-lo? Estás-te a fazer de durona para quê? - e olhando em redor da loja - Estamos aqui só as duas, não há problema em assumi-lo.

— Ok… - Suspirava Bella  em jeito impaciente- Até tem o seu “Quê” de engraçado, apesar de toda aquela arrogância e mau feitio.

— Engraçado não… Giro e jeitoso sff.

— Ou isso, que seja. - Bella encolhia os ombros num gesto de desimportância.

— Tás a ver, foi assim tão difícil admitires?

— Mudemos de assunto, sim?

— Ok, ok, não te chateies comigo. Queres que te ajude a ver umas coisinhas para levares então? - Perguntava-lhe a funcionária querendo suavizar o humor da feiticeira.

— Sim, acho que seria uma excelente ideia. Obrigada.


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