Entre Dois Mundos escrita por VeraCurva


Capítulo 5
Capitulo 5 - Uma Noite de Revelações




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Certa noite após a hora do recolher, quando finalmente se tinha instalado o silêncio no dormitório da residência, Charlotte decide sorrateiramente escapar-se para fora da segurança dos terrenos do Instituto como já era habitual.

Sabia exactamente a melhor hora para o fazer, por onde e como passar . Não tinha perdido horas a fio na sua infância a observar os hábitos do corpo docente e dos Ewoks para agora não tirar proveito disso.

Cada vez que olhava pela janela, uma ansiedade arrebatadora quase lhe fazia parar o coração, no entanto, receava que, um dia, a sua elevada curiosidade pelo mundo “lá fora” lhe custasse muito caro. Mas, enquanto isso, desfrutava ao máximo e com cautela.

Abriu a porta do dormitório, esboçando um sorriso maroto e a passos largos afastou-se do corredor até alcançar uma passagem secreta que daria até uma das muitas minas de água da serra de Sintra, na estrada que levaria até ao cimo do monte.

Abriu os braços e inspirou bem fundo, gozando finalmente da sua liberdade.

— ”Finalmente, cá fora outra vez!”

Olhou em volta tentando lembrar-se do trajecto feito duas noites atrás para assim dar continuidade à sua exploração.

O céu estava bastante estrelado, não havia uma única brisa, o que não era normal para aquela época do ano. Era a noite perfeita para sobrevoar acima das árvores, contudo, hoje, sentia mais vontade em correr.

Lançou-se a correr o mais rápido que pôde pela encosta abaixo, nada podia estragar aquela noite e abalar a sua alegria pela exploração...quem sabe talvez encontrasse alguém de fora para tentar algum contacto.

Bella, por sua vez, no dormitório da residência, fingia que dormia, estando impaciente para também ela escapar do Instituto, mas no seu caso, para dar continuidade à sua actividade favorita e, até àquela altura, secreta: caçadora do sobrenatural, ou seja todo o tipo de seres mágicos, criaturas do submundo ou mitológicas, que punham em risco a vida dos seres muggles e deste modo terem de ser banidas, caçadas ou exterminadas do mundo não mágico. Nesta noite, na lista de pesquisas de Bella, estavam os transmorfos, dado os relatos que vinham a ouvir já alguns dias passados no meio da Serra, maioritariamente durante a noite, de algo estranho e invulgar por lá vaguear, e que Bella acreditava estar associado a estas criaturas.

Sem acordar os colegas para não ter de dar satisfações, principalmente se apanhasse algum dos Prefeitos pelo caminho, remexia nos seus documentos para se instruir mais sobre os seres que tinha em vista para a sua caçada nocturna. Sabia o básico sobre os transmorfos. Utilizavam a forma de animais para se infiltrar em famílias e no mundo não mágico, sendo que alguns usavam as transformações como pretexto para ganhar a confiança de humanos e quando estes menos esperassem, atacá-los-iam, matá-los-iam e/ou mesmo apenas transformá-los-iam em criaturas semelhantes pelo simples prazer de aumentar a sua espécie. Eram raros aqueles que possuíam poderes mágicos, o que os tornava ainda mais perigosos.

Os transmorfos eram exímios na arte da dissimulação e do roubo, com as suas capacidades apuradas de agilidade e flexibilidade, tornavam-se difíceis de capturar e principalmente de os reconhecer.

Contudo, havia formas de os combater, ou enfraquecer e Bella preparava a sua Canon EOS 100D, que para si era como se de uma relíquia se tratasse, pois sabia que os olhos de um transmorfo revelariam um ténue reflexo prateado em torno da íris através de fotografia.

Em todo o caso, se houvesse um confronto, levava consigo um frasco com água benta algo que provoca graves queimaduras na pele deste tipo de criatura, bem como objectos em prata tais como pó, dardos e correntes, visto este elemento químico ser uma substância com a qual é possível matar um transmorfo. Tudo o resto, fosse qualquer tipo de armas, crucifixos cravados no corpo, alho, balas de qualquer outro material que não prata, e demais objectos de ataque, eram ineficazes, pois os transmorfos tinham a capacidade de se regenerarem, desde que nada acertasse no coração ou na cabeça.

Bella sabia que desta vez, poderia capturar um exemplar desta espécie, face ao relatos estranhos em demasia nas zonas de Sintra, Vila Verde e Cascais.

— É agora que te apanho, estupor. - Afirmava de forma convicta enquanto terminava de arrumar todo o material na sua bolsa de pele que usava à cintura nestas situações

Silenciosamente, abandonou a residência e tentou seguir por um dos vários atalhos secretos que Charlly lhe tinha indicado sempre que ela quisesse sair à noite.

Bella recordava-se com frequência de que Kyra tinha sido uma das poucas pessoas a recebê-la entusiasticamente, de braços abertos e com um sorriso tão amável, tal como Amélia com a sua mania de ser protectora. Desde aí, andavam sempre juntas.

Bella tinha encontrado uma saída junto à fonte mourisca no centro da Vila, mais especificamente na Volta do Duche, o que era um pouco afastado do Palácio de Seteais, destino que pretendia como saída do instituto.

— Não acredito...AQUI??? - Reclamava para os seus próprios botões

Olhou para o mapa, indignada. Não conseguia entender onde poderia ter errado.

— O que ainda tenho para chegar a Monserrate...ainda por cima a pé!

Enquanto havia população na rua, principalmente jovens que se encaminhavam para os bares e para o miradouro do Palácio Nacional da Vila, Bella teria de agir com a máxima discrição até chegar ao seu destino, dado que ali, fora dos muros do instituto, já não usufruia do feitiço de protecção contra a visão muggle, feitiço o qual estava aplicado em todos os edifícios e espaços pertencentes ao MLI, que os tornavam invisíveis ao olho humano dos Não-Feiticeiros, criando também como que uma cópia daquele lugar num mundo paralelo onde habitava a magia.

Parou pouco depois para ouvir a conversa entre um grupo de amigos que comentava entre si com entusiasmo o que lhes tinha acontecido numa passeata pela mística Serra de Sintra nessa noite.

— A sério! Tó, nós íamos a passar o Chalet Biester e vimos uma raposa, mas uma bruta raposa, enorme, mas bué bué linda, a atravessar a estrada. Tipo, ficou encadeada pela luz do carro, nós acabámos por bater, não fomos a tempo de travar, né? E quando saímos do carro, tipo….não tava lá nada , meu!

— Ya! Vimos foi uma sombra a afastar-se já nos arbustos, mas tipo, não parecia ser o bicho, aquilo era tipo...da nossa altura, ‘tás a ver? Cena marada! Ficámos bué borrados de medo, demos meia volta ao carro e bazámos para cá.

Bella via agora a sua oportunidade para se aproximar do grupo e tentar saber mais. Sentia que esta era a sua noite de sorte.

— Boa noite, desculpem mas não pude evitar ouvir a vossa conversa e achei melhor falar convosco. Essa raposa fugiu da área protegida para a qual trabalho no Parque Natural e precisamos resgatá-la com a máxima urgência. É muito perigosa para as pessoas e o facto de ela andar à solta é também perigoso para ela.

— C’um catano!! -Exclamou uma das jovens do grupo agarrando-se ao braço do namorado. - Não sabia que as raposas atacavam pessoas!

— Pois, se tiver de atacar, ataca. Gostaria de saber se algum de vocês me poderia levar até ao local onde a viram?

Os jovens ainda em dúvida entreolharam-se.

— Meu, eu não volto lá, nem penses. Vai lá tu. - Disse um dos rapazes.

— És um coninhas pá! Anda lá, eu levo o carro, tu dizes onde é.

Bella sorriu-lhes pensando: “Cambada de tansos”.

Ao longo do caminho, os jovens iam fazendo a Bella todo o tipo de perguntas, a jovem mal podia esperar para sair do carro, no entanto, procurava manter o seu disfarce de guarda do parque, respondendo a tudo amavelmente.

— Se não se importarem, gostava de saber como tudo aconteceu assim mais a pormenor. Vamos sair do carro todos e explicam-me. O animal pode estar seriamente ferido.

— Olhe isso já não sei, correu tão depressa para os arbustos...mal não deve ter ficado. - riu o rapaz que seguia no lugar do pendura. -Foi aqui mesmo, pára aí, Tó.

— Também quero ver a raposa, meu!- exclamou o condutor empolgado esfregando as mãos uma na outra.

— Eu agradecia que não. - Interrompeu Bella apercebendo-se da situação que se iria gerar. - Deve estar muito assustada devido ao choque e é muito arriscado ir muita gente. Pode fugir ou atirar-se a alguém. Nestas alturas, tornam-se muito imprevisíveis. -Bella pegou num walkie-talkie, simulando um contacto a uns colegas fictícios. - Delta 14, daqui Alfa 5, coordenadas enviadas via SMS. Aguardo no local. Temos um 296 Terra-Vermelho.

Os jovens aperceberam-se de que ela não iria estar sozinha e consentiram ir embora.

— Vão indo e obrigada pela boleia, tenham uma boa noite. E cuidado para não atropelarem mais nada.

Bella despediu-se do grupo de jovens ajeitando a mochila que levava às costas para além da bolsa de cintura, preparando a arma de dardos.

Aguardou que os jovens desaparecessem por completo para se embrenhar pelo mato adentro.

— Não deves andar muito longe então…

Colocou a jeito uma corda e a máquina de fotografar e andou mais um pouco até chegar a um local onde teve o pressentimento de que algo se iria passar naquele lugar.

Durante muito tempo, só se avistavam ginetas, corujas, lagartos, morcegos…Por vezes lá passava uma ou outra raposa, mas não aquela raposa específica que Bella procurava.

Quando a frustração e a impaciência começavam a ser mais fortes, a feiticeira notou a poucos metros dali uma agitação na escuridão e pela luz do luar, podia ver uns tons alaranjados típicos do animal pelo qual tanto aguardava. Agarrou de imediato na sua Canon, animando-se rapidamente.

A arma estava a postos e aguardou até que o animal estivesse na sua mira.

— Diz boa noite…..

A máquina dispara, o animal reage olhando na direcção de onde tinha visto o flash e numa fracção de segundos antes de se largar a correr, Bella dispara os dardos mantendo o sangue-frio e mão firme no gatilho. Disparou dois dardos que continham um líquido que provocava uma dor agonizante para a criatura, incapacitando-a de se mover e provocando um estado de fraqueza extremo.

Ouviram- se guinchos alterarem-se para gritos ensurdecedores de dor.

Bella saiu do seu esconderijo com a arma ainda a apontar para o animal que tomava agora a sua forma humana lentamente, contorcendo-se de dor, chorando e gemendo.

— Anda lá, mostra-me quem és para mandar a tua cabeça aos restantes!

Lentamente, a caçadora baixou o disparador de dardos, e o seu semblante era agora de surpresa. Sentiu todo o seu corpo trémulo e o bater do coração tão forte que parecia por vezes que parava. Não podia crer no que os seus olhos viam...Onde antes se via orgulho pela caçada, agora via-se horror e desespero.

— Pôrra... ai pôrra, que merda agora que eu fui fazer! TU?! Tinhas de ser tu?

Sem abrir os olhos, sofrendo horrores com a dor por todo o seu corpo, mas com a mão no antebraço e rebolando, Charlotte berrava o mais que podia, por entre soluços de choro.

— Por favor, não me mates! Eu não ia fazer mal a ninguém, eu só queria conhecer pessoas!

Bella apressou-se a retirar um dos dardos que tinha acertado na anca da amiga e quanto ao do braço, acidentalmente, tinha partido a ponta.

— Gaita! Olha, mete isto na boca! - Ordenou ela, colocando-lhe um pano com uma mistura que servia de sedativo para que a sua amiga ingerisse a pasta e aguardou que adormecesse.

Charlly lutava o máximo que podia contra as dores mas o seu corpo não aguentava mais. A consciência de Bella pesava tanto como um bloco de cimento em cada ombro, mas, como iria ela saber que uma das suas amigas era na verdade, um transmorfo?

— Ouve-me…- gemeu Charlotte vendo tudo nublado e sem forças para se mexer, com a respiração ofegante, sob os efeitos do sedativo forte que Bella tinha obrigado a tomar. -Eu não sei quem és, mas peço-te...ajuda-me...vou morrer...não quero morrer, ajuda-me por favor!

Bella engoliu em seco.

— Pois ainda bem que não sabes e é bom que continues a não saber. Dorme, vá, dorme que isso passa num instante, não tarda estás como nova.

Mil coisas vinham à cabeça da caçadora enquanto fazia um esforço descomunal para carregar a transmorfa à laia de saca de batatas até ao Instituto.

— ”Olha agora….como é que eu vou aguentar com esta coisa até lá acima a tempo de preparar o antídoto e extrair a ponta do dardo? Que raio vou eu dizer-lhe amanhã quando ela fizer perguntas? E o Klaus! Se ele topa a falta dela! Porque é que ela também nunca me contou isto antes? Oh pá, desculpa, desculpa, aguenta-te só mais um bocado, não abras os olhos!” - Pensava Bella.

Sabia que não chegava a tempo ao Instituto para cuidar dela se continuasse a carregá-la aos ombros, então, após se certificar que não havia ninguém por perto, procurou na mochila um pó de teleportação que as levasse para um sítio perto da escola..no entanto, só lhe ocorria uma cave de arrumos de material de jardinagem na Regaleira, mesmo junto dos portões, que não era usada por ninguém.

— “Faltam 4h para todos se levantarem e esta aqui vai ter de faltar amanhã o dia todo. ‘Tá bonito para o meu lado, ‘tá!” -Monologava mentalmente a feiticeira.



No período do tempo de aulas, Bella só pensava na tragédia que seria caso tivesse sido outro caçador naquele lugar. Como iria ela confrontar Charlotte com a situação?! Receava que a amiga nunca mais lhe falasse, contudo, havia também a probabilidade de ambos os segredos ficarem guardados entre si e até que lhe era vantajoso ter um transmorfo do seu lado….



Esforçava-se por esconder o nervosismo e contava as horas para cuidar de C.C., mas Amélia, observadora nata que era, desconfiava da atitude evasiva e da desatenção de Bella nas diversas aulas que frequentavam juntas. Não iria parar de a chatear com perguntas até obter uma resposta. Dando por Bella a sair em jeito apressado da aula de , Amélia corria em direcção da colega tentando atravessar-se-lhe no caminho, o qual a jovem australiana evita e se desviava pedindo constantemente “com licença” mantendo sempre o mesmo passo acelerado e preocupação estampada no rosto.

— Eu meto-me à tua frente! Pára! - Gritava Amélia colocando-se frente a frente com a colega segurando-a nos ombros com ambas as mãos.

— Já parei. - Respondeu Bella bufando, apercebendo-se de que era inútil fugir.

— Olha para mim! Estás a olhar? Hã? Estás a olhar bem para mim? - Amélia tentava fixar o seu olhar no de Bella perante os olhos fugitivos da jovem.

— Estou.

— Nós não temos segredos, ok? Por isso, vais contar-me tudinho e agora!

— Tudo o quê Amélia? - Questionava a caçadora num jeito de tentar escapar ao assunto.

— Como assim tudo o quê, Bella Maria? Não me tomes por tola só porque sou loira. Sei bem que andas aí a esconder algo, por isso faz o favor de me o contares.

— Aqui não, Amélia!

— Aqui não? Mas é preciso um jantar à luz das velas? Filha, nah-nah, eu sou tua amiga e adoro-te, mas isso já é abuso! Podes contar comigo para tudo, menos para isso.

— Não é nada disso! Se queres mesmo saber, não te posso contar...mas acho que te posso mostrar. - Respondeu Bella hesitante, desviando o olhar. – Amiga, desculpa lá, só temos 15 minutos até à próxima aula, o que é que poderias mostrar-me nesse tempo? Ainda por cima a aula é com o Sr.Máximus “Peru”-sius… -troçou Amélia.

— Eu cá estaria mais preocupada com o prof. Klaus.

Após terminar a frase, a aluna dos Mezaluna arregalou os olhos e olhou em volta à procura da Charlotte….

— Uh-oh….onde está a Esquila?

— Amélia..o Klaus, se vê que a Double C não está connosco, vai ser um quarto reich! Ou a ela, ou a nós!

— Oh pá, ele também é todo coisinho com ela! - Amélia, encontando-se já ambas nos jardins de Monserrate, onde estavam a ter aulas naquele momento,  coloca-se em cima de um muro de pedra, imitando Klaus entre alguns exageros. - “Charrllotte” não podes saiiiirrrr, não te distrrraias, vou pôrrr o Stefan atrrás de ti, não te peidés ná sála! Heil! Ás 20 hórrás, vais à salá de estudós! HEIL! HEIL!

Bella não aguentava o riso e deixou escapar largas gargalhadas às palhaçadas de Amélia.

— Ele também não é assim. - Amenizava Bella.

— Sim eu sei, ele até é muito porreiro. Mas podia sei lá, descontrair mais. Quando ela menos espera, tá ele a controlar, sempre a observar, eh pá que deixe a rapariga viver.

— Sim, mas ela já contou o porquê e acho que a reacção dele até é normal. Mas ela também sabe dar a volta. Ele é assim por fora mas no fundo, sabe que pode confiar nela.

Amélia olhava para Bella com incredulidade.

— Menina! Ai sim?? E aquela vez que ele a apanhou a copiar da Lori? Isso não viste tu! Por isso é que é uma recordista nas detenções e está sempre longe de todos numa mesa! Aquela miúda, não mexe uma palha, mas é adorável, é o que a safa, tem uma sorte, todos simpatizam com ela. Malditos Esquilos e a sua purpurina...Mas bom, tinhas uma coisa para me contar.

Bella estava sem reacção, corada que nem um tomate tentando abafar o riso mas sem efeito. Fez sinal a Amélia para que a seguisse. Estava visto que não tinha opção.

— Pois, acho bem, á minha frente! Andôr!

Ao chegarem à Regaleira, Bella parou em frente à porta que dava acesso à cave. Sabia que era seguro pois ninguém tinha interesse em lá ir, a julgar pelo pó e as imensas teias de aranha.

— Agora espera aqui que eu volto já. - Alertou Bella seriamente. - Ai de ti que espreites!

— Se demorares muito, posso ao menos sentar-me, certo?

Bella abriu a porta e espreitou para onde supostamente tinha deixado Charlotte a repousar, mas a cama “improvisada” estava revirada e vazia.

— Pôrra, mas foste para onde? Não podes ter fugido!

Entrou rapidamente e procurou pela amiga, mas sem êxito. Aguardou uns segundos para pensar no que poderia ter acontecido durante a sua ausência, até que os seus pensamentos foram interrompidos por um grito familiar.

— Schei§e! (Merda!) au…..HIlfe!!...au…..

— Quem te mandou sair da cama?? - Acudiu Bella afastando uma pilha de pás e vassouras de cima da colega.

— Bett? das Bett ?? Wie bin ich hierhen gekommen? Warum tut es weh, so viel die Hand un kann kaum gehen? (Cama? Que cama? Como é que eu vim aqui parar? Porque é que me dói tanto o braço e mal consigo andar?)

— Calma lá, calma. Cala-te e fala em português. Tira-me essa cara de amuo que já me chega de sustos. Já te acalmaste? Se ficares quieta e calada, falamos.

Charlly olhou para Bella recuperando o fôlego. Inspirou bem fundo e expirou com força.

— Ok, estou calma. Mas dói tanto, ai ai!!!!

— Imagino….ouve, há uma coisa que preciso de te dizer mas promete que não te passas!

— Eu não posso ir a lado nenhum, pelos vistos!

— Hum...ok acho que vou directa ao assunto. Mas antes….sabes que podes contar comigo, não é?

Charlotte mantinha o seu olhar fixo e esbugalhado em Bella, acenando lentamente com a cabeça, sem fazer ideia alguma do que a colega estava a falar.

— E tu estás a esconder qualquer coisa de nós, não estás?

— Mas eu não tenho nada! Além do braço e do pé magoados, mas eu não sei porquê!

Bella começava a ficar impaciente mas a conter o riso devido às parvoíces da colega.

— EU VOU REFORMULAR! Isto assim é difícil. Ok... Bella Caputo, respira... OK... Bom, C.C. tu não sabes o que eu sou, mas eu já sei o que tu és e é por isso que estás aqui, neste estado. Por culpa minha, mas eu juro que não sabia que eras tu! Porque eu nem sabia que tu eras…..bom….e desculpa, a sério, eu jamais te magoaria!

— Então, tu raptaste-me, é isso?

— Duh...não idiota! -Suspirou Bella batendo com a mão na testa.

— Bella, eu já percebi, só que custa-me a acreditar, mas eu entendo. Tu não sabias, mas pelo menos, salvaste-me a vida. Até o Klaus descobrir que andei a faltar o dia todo…

— Não te preocupes agora com isso, há mais uma pessoa que pode ajudar nesse assunto, mas para isso, ela tem de entrar.

Charlotte consentiu, embora receosa. Ninguém excepto Klaus, que sempre tinha cuidado dela, sabia até à data do seu segredo, e agora temia que a notícia se espalhasse e gerasse conflitos ou discriminação. Sabendo que Amélia se desbocava de tudo, embora não sendo por maldade, causava-lhe algum transtorno...e isso poderia pôr em causa outro segredo mais obscuro que ela guardava só para si e que a consumia por não poder partilhar pois sentia que mentia a todos os que estimava principalmente a Klaus….a palavra ou emoção “desgosto” não era nada comparado com o que ela imaginava que pudesse vir a acontecer.

Amélia entrou, tropeçando e reclamando de tudo.

— Credo, trouxeste alguém para esta espelun….OI?????? Que raio te aconteceu miúda??

— Hmm….Surpresa?! - Cumprimentou Charlly com um ar bastante embaraçado.

— Bem, senta-te lá, parece que vamos ter uma longa conversa as três. - Avisou Bella fazendo sinal a Amélia para que se sentasse, preparando um fardo de palha como almofada improvisada no chão.

— UI, a coisa parece mesmo séria… - Murmurou Amélia olhando para as duas colegas com alguma relutância.



Após todas as explicações e detalhes, Amélia tinha uma certa dificuldade em manter a boca fechada tal era o seu espanto por aquilo que os seu ouvidos ouviam. A chuva típica daquela altura, dos inícios de Novembro, começava a dar sinais de chegada naquele dia. Bella e Amélia teriam de se apressar para não chegarem demasiado tarde às aulas que se seguiam de modo a não levantar grandes suspeitas. Deixariam ali Charlotte a repousar por mais uns tempo e no final do dia de aulas regressariam para ambas ajudarem a colega a deslocar-se até ao quarto.

Dado os dias de chuva intensa que se seguiram naquela quinzena, tanto Bella como Charlotte se mantiveram maioritariamente do tempo pelas instalações do instituto, não dando espaço para aventuras arriscada como as da noite que tanto ainda recordavam. Apesar disso, de quando em vez, lá iam as três num breve salto até ao Pub Medieval do Fauno que ficava a uns escassos 500 metros de distância da Regaleira, saboreando por lá as famosas tostas mistas em largas fatias de pão alentejano acompanhadas do típico e delicioso hidromel.


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