Atro Cataclisma escrita por EvellySouza, NatyKatarynna


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

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  Estávamos à volta da fogueira feita em uma área um pouco mais afastada da cidade.

  Muitas árvores nos rodeavam, péssimo lugar para dormir, porém o ‘menos pior’ em um perímetro de 10 km. Depois do incidente na farmácia, eu devia estar mais cautelosa, mas dormir mais um dia sentada em um banco de jipe não ia rolar para ninguém ali. Todos estavam visivelmente cansados, inclusive Joseph.

  O fogo macerava lenta e cuidadosamente os galhos secos, quase como se não quisesse danificá-los. Eu observava, calada, assim como todos que estavam à volta, emergidos em seus próprios mundos, em suas próprias preocupações e saudades.

  ̶ Capitã Fernandez, gostaria de levantar um questão que tem me incomodado nesses últimos dois dias. – cabo Gabriel se pronuncia quebrando a calmaria. – Aproveitando que todos estão aqui. Já que essa é uma questão que tem sido unitária entre nós. – ele gesticula as mãos fazendo uma volta com ela apontando para os outros para enfatizar.

  ̶  A conversação em nosso meio nesses momentos não são censuradas, cabo. – respondo sem dá muito crédito. Eu só queria ficar em paz, tentar acalmar minha mente, mas parece que não era o que eu ia ter.

  Ele engoliu em seco, todavia prosseguiu:

  ̶  Temos visto uma grande discrepância em nossas escalas de vigília e a de seu esposo. Não quero que a senhora me entend...

  ̶  A forma correta de você referir-se a ele é como Sargento Joseph, cabo Gabriel. – corrigi-o rispidamente antes que ele termine sua frase. Sem esboçar qualquer reação, continuo observando o fogo enquanto movimento delicadamente um graveto seco em minhas mãos.

  ̶  Desculpe. – ele disse meio envergonhado. – Sargento Joseph tem tido estalas de vigília curtas, cada vez com um espaçamento maior entre elas, não tem nos ajudado nas supervisões das áreas, nas buscas por água e alimentos. Enquanto vários de nós têm chegado a ficar até 8h horas ininterruptas na ativa.

  ̶ Isso não tem sido justo, capitã. – dessa vez é Milena quem se pronuncia.

Eu estava tão esgotada mentalmente que demorei alguns bons segundos para interpretar a insinuação. E eu não sabia o que responder, sinceramente. Não queria ser irônica ou grossa, eles realmente merecem explicação, não quero uma rebelião. Mas eu não tinha um pretexto coerente para oferecer, e não conseguia pensar em nada.

Mantive-me calada, assim como Joseph, ele sabe que não pode se meter nessas dissidências.

Levantei a cabeça examinando cada um separadamente, até por fim chegar em Joseph. A sua expressão era cautelar, ele parecia estar escondendo alguma reação.

̶  Ergam-se todos. – falo séria.

Eles se entreolham e levantam-se vagarosamente, completamente confusos pela situação.

̶ Posicionem-se em pé atrás de mim. – digo, e todos o fazem. Uso o graveto seco que está em minhas mãos para desenhar um quadro no chão. O fogo ilumina a área de forma que todos conseguiriam ver. – A ordem será soldada Milena, sargento Marcus, sargento Joseph, cabo Gabriel, sargento Lauren e eu, capitã Fernandez, aqui. – aponto os nomes na lateral do quadro. – Tenente Dylan ficará exclusivamente na direção do jipe e a só será alocado para vigília se houver algum episódio não planejado. – não olho para trás para ver suas expressões, apenas continuo. – Essas serão suas novas determinações de horário, e elas serão fixas, salvo imprevistos. – faço uma breve pausa, talvez esperando algum som atrás de mim, mas apenas silêncio. – Soldada Milena, 4 horas de vigília. Sucedida por sargento Marcus que manterá vigília por 4 horas. Sargento Joseph assumirá após ele por mais 4 horas, seguido por Gabriel que fará a vigília por mais 7h. – um som de espanto é ouvido, não sei quem foi mais continuo preenchendo o quadro. – sargento Lauren assumirá após Gabriel por mais 4h e por fim, será substituída por mim, que farei a guarda, se não houver trabalhos maiores, por mais 5h. – termino de preencher o quadro esboçado no chão úmido. – E então me levanto, ficando frente-a-frente com ele. – Façam as contas, terão bastante tempo para descansar. Espero não receber mais insinuações. – finalizei olhando fixamente para Gabriel e saindo sem rumo em seguida.

Meu nível de humor estava em decadência, contudo eles estavam certos. Obviamente as escalas têm sido injustas, Joseph normalmente fica menos que 3 horas de vigília. Mas que escolha eu tinha? Jamais faria isso em uma situação normal, só que nada nesse mundo de merda tem sido normal, então o que eu posso fazer?

Nunca fui questionada por um subordinado. Minhas ações sempre foram pautadas em argumentos concretos, talvez por isso. Todavia, agora eu estava sendo questionada, e sei que todos os outros tinham questionamentos que não tiveram coragem suficiente para colocar para fora, seja por medo ou por obediência. E isso não me deixava nem um pouco confortável. Joseph é tudo que tenho, mas nunca fui tão sentimental a ponto de colocar família à frente de uma missão, sempre fui devota aos meus compromissos, contudo agora eu estava fazendo isso. Então o que esse declínio de atitudes faria com meu caráter daqui uns meses, semanas ou até dias?

A possibilidade de uma resposta ruim chegava me dá arrepios, mas no fundo eu sabia que a probabilidade era grande. Isso me assustava, porém não tanto quanto a criação de um filho sem alguém por perto que eu confiasse para me ajudar.

Fiquei por um bom tempo sentada em alguma raiz de árvore no meio da escuridão da floresta, afastada dos outros e perdida eu mesmo próprios paradoxos.

Quando me dei conta já haviam passado meia hora. Me levantei em um pulo, pois já haviam passado do horário estipulado para que dormíssemos. Fiz o mesmo percurso de volta, e quando estava chegando perto percebi um burburinho, me escondi atrás de uma árvore rapidamente para que pudesse ouvir direito o que estava sendo dito sem ser notada.

̶ Será que era o que estávamos desconfiando mesmo? – Marcus pergunta.

̶  Ele desmaiou? – ouço Milena.

̶ Eu não sei, saiam de cima! – Lauren falou um pouco mais alto – Me deem espaço para trabalhar!

̶ Devemos chamar ela? – duas pessoas perguntaram quase que sonoramente. Não consigo identificar as vozes.

̶ Não, não mesmo! Preciso saber o que ele tem antes dela voltar. – Lauren respondeu.

Droooogaaa!

Corro até me aproximar do local, mas paro assim que percebo o barulho que fiz. Saio da floresta caminhando normalmente. Todos já haviam se afastado do corpo de Joseph que estava inerte no chão, menos a sargento Lauren, ela continuava a examiná-lo.

̶  Senhora, o sargento Joseph começou a convulsionar e nós não sabíamos exatamente o qu... – Gabriel começou tentando justificar.

Levanto a mão aberta sinalizando para que ele parasse.

O ódio fervia meu sangue.

Continuo andando em direção ao corpo de Joseph.

̶ Eu falei que você não estava autorizada à examiná-lo. – digo entredentes. – Saia.

̶  Minhas atribuições me permitem fazer a checagem mes...

Saco minha arma e levanto-a lentamente até que fique na direção de sua cabeça.

̶  Saia!


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