Atro Cataclisma escrita por EvellySouza, NatyKatarynna


Capítulo 16
Capítulo 16




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O choro de uma criança me acorda, abro os olhos levemente, tentando me situar e levanto ainda um pouco tonta.

       Joseph está ao meu lado dormindo, seu semblante é tão sereno que paro naquela cena por alguns instantes, é uma das imagens mais lindas que já vi. Um bebê chora novamente me tirando daquele transe, começo a caminhar em direção ao som, o bebê continua chorando. Começo a sentir uma aflição no peito, uma premonição ruim, levo a mão ao peito como se aquilo fosse capaz de amenizar, mas não é o caso. Saindo do quarto percebo que não estou mais no barco, estou na minha antiga casa, a mesa de vidro que havíamos acabado de comprar ainda está desmontada no chão da cozinha toda embalada, Joseph prometeu que montaria assim que chegássemos dessa missão, mas então explodiu tudo, e cá estamos nós. O bebê chora novamente, continuo andando vagarosamente em direção àquele som que parece vir do nosso antigo quarto de visitas.

  O quarto está vazio, exceto por um berço de madeira velha no centro, me aproximo para ver o que tem dentro e ao colocar os olhos sobre o berço há um bebê lindo lá dentro. Ele para de chorar ao me olhar e abre um leve sorriso, meu coração que estava apertado se enche de uma alegria e amor tão grande que mal cabe dentro de mim, estendo os braços para pegá-lo, mas um estrondo seguido de ruídos excruciantes é ouvido, meu pé escorregada pela madeira do assoalho, sinto a água começar a envolver todo meu corpo, olho para trás onde outrora estava a porta por onde passei, porém ela já não existe, no lugar só há um imenso rio com águas assustadoramente agitadas, entro em desespero ao perceber que estou me afogando, não consigo lembrar como se nada, o desespero aumenta enquanto me debato na tentativa de me agarrar a algo. Não há nada. Meu corpo quase completamente submerso pela água, olho de longe a parte do quarto que ficara em terra firme, os mortos estão todos ao redor do berço se apropriando do meu bebê.

─ CAAAAMILLY! – ouço alguém gritar, me tirando daquele pesadelo. – CAAAMILY! AMOR! – é a voz de Joseph, ele está sentado na cama prendendo meus braços com toda sua força. Minha consciência leva uns segundos para tomar ciência do que está acontecendo, a cama toda bagunçada, eu estava pingando de suor, com o coração para pronto para sair pela boca. – Ei, olha para mim, você está aqui, segura comigo! – ele começa a desapertar meu braço, e vagarosamente aproxima seu corpo do meu e então me abraça. Meu corpo todo está tremendo, mas os braços deles em volta do meu corpo me passa uma sensação de segurança.

─ Os mortos levavam ele. – a cena vívida de repete mais uma vez na minha mente. – Esse não é um mundo para se colocar um filho, Joseph. – um arrepio corre toda minha espinha, enquanto distintos cenários perigosos para uma criança passavam pela minha mente naquele instante. – O que nós estamos pensando?

─ Do que você está falando, Camilly? – ele me olha fixamente, tirando os braços de volta do meu corpo, e se tentando se mover sobre a cama para ficar frente a frente comigo.

Vejo seu olhar espantado, se transformando em um olhar sereno e compreensivo.

─ Amor, foi só um pesadel... – uma crise de tosse acompanhada de sangue o interrompe.

─ Joseph, desde quando está tossindo com sangue? – digo. Percebo que o pano molhado com o veneno na formiga junto a algumas ervas que a mulher havia colocado sobre ele estavam no chão. No impulso para me segurar ele nem tinha visto que tinha tirado do local. ─ Amor, ela disse que só esse veneno só age enquanto estiver em contato com a pele. – junto o pano e as ervas que haviam se espalhado. – Deite, deixa eu colocar novamente sobre você.

Ele obedece, deitando a cabeça novamente sobre o colchão.

─ Você não está falando sério não é, Camilly? – ele pergunta com a voz embargada, fitando o teto do barco.

Não tenho uma resposta imediata para aquela pergunta.

Agora já com a consciência totalmente recobrada, só tenho a certeza que eu não deveria ter jogado isso em cima dele, sem ao menos ter pensado sobre isso. Bastantes situações precisavam serem colocadas na ponta do lápis. Cair na real, pensar racionalmente.

Será se não estávamos sendo egoístas ao jogarmos uma criança neste mundo do qual nem nós havíamos nos adaptado, sem qualquer responsabilidade com o futuro que ela ou ele teria ao ser exposto com tudo aquilo?

Dado a situação dele, como eu poderia criar uma criança e cuidar da saúde dele ao mesmo tempo, e ainda ter tempo para o meu trabalho, já que sem ele, nos teríamos que depender de doações?

Estar em cima desse muro, é uma sensação horrível.

─ Camilly? – Joseph me tira de dentro na nevoa de pensamentos. – Realmente falou sério?

─ Sim. – falo, recostando minha cabeça sobre o colchão para ficar frente a frente com ele. ─ Não digo que é isso que deveríamos fazer. Só estou dizendo que nunca paramos para analisar racionalmente sobre ter essa criança sob as circunstâncias que estamos vivendo. – seguro o seu rosto entre as mãos. – Amor, daqui uns meses meu corpo não ter a mesma agilidade, nem a mesma força. Estarei cansada com mais facilidade, meu corpo precisar de mais nutrientes. Sem contar que não sabemos o que acontecerá quando nossos superiores descobrirem que estou grávida e que você foi infectado. E se eles nos exonerarem, iremos viver do quê?

─ Nós daremos um jeito, sempre demos. – ele coloca as mãos sobre as minhas.

─ Amo seu otimismo, é um dos motivos pelos quais me apaixonei por você. Mas, olhe para o parâmetro geral, e se eu morrer? E se você morrer? – ele desvia o olhar para o teto. – E se essa criança nascer com alguma doença? São muitos “e se...” para analisarmos. – passo a mão sobre o colchão em busca da sua. – Por favor, amor, não me torne a vilã da história, só pense a respeito.

Ele se vira pra mim, mais antes que ele abrisse a boca para falar, um alvoroço é ouvido na parte de cima do barco.

E em seguida um tiro.


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