A Lenda dos Dragões escrita por Hakiny


Capítulo 11
Lembranças de Jean: O Homem no Lago


Notas iniciais do capítulo

Trago aqui algumas memórias do nosso querido lobo!
Elas vão aparecer mais vezes e ajudar a esclarecer a história.
(Jean sabe das coisas)
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/735430/chapter/11

— Ei! Para onde você está indo?

Karin descia as escadas na tentativa de alcançar Nicholas.

— Karin, se pretende agir como minha esposa, ao menos me aqueça em noites frias. — Nicholas dizia com um sorriso no rosto.

As bochechas de Karin assumiram um tom avermelhado notório. Um pouco distante dos dois, Chow gargalhava sem o menor pudor.

— Eu gostava mais quando você queria bater nele — A princesa resmungou.

— Eles encontraram algo em comum, natural que não se estranhem mais como antes.

Jean explicava.

— Algo em comum? —  A garota arqueou uma das sobrancelhas.

— Sim, te irritar — O lobo se aproximou da garota.

Os olhos de Karin analisaram os dois rapazes e a satisfação em seus rostos a fizeram ferver:

— Estou a ponto de cancelar essa missão e voltar para o meu castelo.

— Não seja precipitada… — Jean dizia com certo desespero.

Karin se atentou a reação do rapaz. Na verdade, ela estava curiosa sobre Jean desde o momento em que ele apareceu em sua porta.

“De onde ele conhecia o pirata? Por que tanto interesse em ajudar na busca pelos dragões?” Eram as perguntas que a princesa repetia em sua cabeça. Ela pretendia buscar respostas depois, mas por hora o silêncio parecia a melhor escolha.

— O que faremos agora? — Chow se pronunciou.

— Iremos até as terras da família de Hao primeiro! Como é o local mais próximo…

— Vocês vão até o duque da colina, recolher informações sobre o dragão de ferro, e eu irei até o Hao. — Nicholas interrompeu a fala de Karin com autoridade.

— Sozinho? — A garota indagava.

— Você mesma disse que não temos muito tempo até o dragão negro retornar, não foi? Nos separar parece uma boa ideia. — Nicholas argumentou.

— Eu discordo! Temos cerca de um mês! — Karin andava na frente de todos.

— Você está indo para o lado errado, princesa…

O pirata suspirava.

— Não caio mais nas suas Nicholas! — A princesa continuou a caminhada.

— Karin! — Jean alcançava a garota — Você realmente está indo pelo lado errado…

— Por que você é assim?! — Karin gritava enquanto mais uma vez tentava agredir o garoto, sendo novamente impedida por Jean. — Como você aguenta ele?

Karin se virava para Jean, claramente irritada.

— Com o tempo você se acostuma. — O garoto disse de forma tranquila.

Jean tinha um sorriso gentil, sempre teve, desde quando ela o viu pela primeira vez no país do Dragão.Talvez esse fosse o motivo de Karin continuar com aquela jornada, sua aura era tão pura quanto a de uma criança. Jean era confiável e se ele confiava em Nicholas, talvez o pirata merecesse uma chance.

O tempo de que Jean falava eram mais ou menos quatro anos, ele se lembrava bem do dia que havia visto Nicholas pela primeira vez.

Naquele dia, o sol havia acabado de nascer, a noite tinha sido longa e tortuosa. Os Trolls do subterrâneo estavam atacando a alcatéia, eles eram extremamente agressivos e fortes. Seus movimentos eram imprecisos e confusos, a frase “A ignorância é uma dádiva”, nunca foi tão bem aplicada como naquele momento. Era quase impossível lutar com um inimigo completamente aleatório em todos os seus ataques.

Os lobos estavam cansados e preocupados, os trolls estavam avançando e nenhuma investida estava sendo realmente efetiva, a cada batalha as baixas ficavam maiores e era  quase certo que os monstros chegariam até a aldeia.

Na beirada do lago que banhava uma extensa parte da floresta onde habitavam os lobos, Jean tentava lavar o sangue que cobria a sua camisa, um certo desespero tomou seu rosto, ele odiava sangue. Aquela noite tinha sido sua primeira batalha, ele vinha tentando evitá-las desde muito novo, sabia que aquela não era sua especialidade e não via nenhum tipo de prazer na violência. Obviamente isso não era muito bem visto pela alcatéia, ele era filho de um guerreiro poderoso, o mais respeitado alfa da alcatéia, ele tinha tudo para ser o seu sucessor só lhe faltava força de vontade. A pressão sobre seus ombros tirava de Jean o sono, pelo menos até aquele dia, pois agora, o novo motivo de suas insônias, com certeza, seria os corpos de seus companheiros estirados no campo de batalha.

O guerreiro esfregava incessantemente o tecido de sua roupa, o sangue insistia em permanecer, num ataque de fúria, o garoto arremessou a camisa longe. O movimento fez com que sua espada caísse no lago.

— Maldição…

Jean tentava alcançar a espada o mais rápido que podia, mas ela já havia afundado. Instintivamente, o garoto se preparava para mergulhar, mas sentiu seu ombro ser puxado para trás.

— Não faça isso! Ele não é chamado de Fronteira do Inferno atoa. — Henry dizia com um tom sério em sua voz.

Os olhos de Jean, que antes haviam se fixado nos de seu companheiro, agora olhavam novamente para o rio.

— Isso é a pior coisa que poderia ter me acontecido. — O garoto sussurrava.

— Tivemos muitas perdas, Jean… Precisa aprender a lidar com isso.

Henry deu alguns tapinhas nas costas de Jean e se afastou.

Novamente sozinho, o guerreiro refletia sobre tudo o que havia acontecido na noite anterior. “O Alfa é o resultado de uma batalha.” Essa era a frase que seu pai sempre dizia durante o seu treinamento, e também foi a que ele disse quando Jean se recusou a lutar contra Dorian pelo título de Líder da alcatéia.

Jean se sentiu miserável diante de seu pai, mas o terror que tomou o seu corpo foi maior que qualquer consideração pela sua família.

Os pensamentos de Jean foram interrompidos pela presença de um corpo boiando no rio, apesar do rosto estar submerso, era claramente o corpo de um homem.

Jean o observou por alguns segundos, até o momento em que o suposto morto se moveu bruscamente até a beirada do rio. O garoto gritou de forma aguda, mas logo usou suas mãos para abafar o som. Jean olhou para seus companheiros e se sentiu aliviado por não ser ouvido. Voltando sua atenção novamente para o rio, viu que o homem o olhava com um sorriso, mantendo metade do seu corpo ainda dentro da água, apoiando apenas seus braços na beirada.

— Isso aqui é seu? O estranho homem retirou a espada de Jean, da água.

— Nossa! Sim! É a minha espada! Jean se aproximava para pegar seu pertence.

— 2 moedas de prata. O homem tirou a espada do alcance de Jean.

— O que? Essa espada é minha! O lobo estava incrédulo.

— Eu sei disso, mas eu a resgatei para você. Mereço uma recompensa. O homem analisava a espada.

— Essa espada foi um presente do meu pai, ela é uma das coisas mais preciosas que eu tenho… Jean dizia com certo pesar na voz.

— Hum… Esse item é tão valioso pra você?

O lobo acenou positivamente com a cabeça diante a pergunta do estranho.

— Então vai custar 3 moedas! O estranho sorriu.

— O QUE? ESTÁ QUERENDO ME VENDER A MINHA PRÓPRIA ESPADA? Jean elevou o tom de voz ao ponto de chamar atenção de seus companheiros.

— Não, se eu quisesse vender uma espada tão boa quanto essa, conseguiria pelo menos 10 moedas. Eu só quero dinheiro rápido.

As palavras do homem fizeram Jean entender a situação, ele estava claramente faminto. Seu rosto estava abatido e suas vestes muito rasgadas. Jean passou tanto tempo preocupado com a sua espada, que nem se perguntou o motivo de ter um homem boiando em um rio tão perigoso.

— Quem é esse homem? Um dos membros da alcatéia se aproximou.

— Está tudo bem, Colt.

Jean acenou para o companheiro. O outro lobo entendeu que aquilo não era da sua conta e se afastou.

Jean voltou sua atenção para o estranho e retirou as moedas do bolso. — Que tal duas moedas e uma refeição?

O homem saiu da água e entregou a espada para o lobo. — Feito.

Depois de uma caminhada significativa, a tribo dos lobos, juntamente com o forasteiro, chegaram até a alcatéia.

A recepção misturava alegria e decepção. Muitos felizes pela volta de seus entes queridos, outros deprimidos pelo oposto disso, mas um sentimento era unânime, preocupação.

— Estou com fome. O homem parecia estar se lixando para tudo a sua volta.

— Por aqui…

Jean o guiou até um salão cheio de pessoas, onde no meio havia uma mesa gigantesca, repleta de comida.

— Sinta-se a vontade.O lobo disse com um sorriso.

Não foi necessário dizer duas vezes, pois o homem já havia se sentado e agarrado uma bandeja de carne.

— Quem é o forasteiro? Uma mulher ruiva havia se aproximado de Jean.

— Eu o encontrei boiando no rio, se chama Nicholas. É tudo o que sei.

— Em que rio? A mulher arqueou uma das sobrancelhas.

— Fronteira do Inferno.

— Boiando? Pessoas não boiam naquele rio… não vivas, pelo menos. Ela dizia com uma voz firme — Tome cuidado com esse cara, e por favor pare de trazer para a alcatéia qualquer vira-latas que encontra por aí.

Dito essas palavras a mulher se retirou.

— Ela é sempre tão masculina assim?  A voz de Nicholas fez com que Jean se assustasse.

— Você é muito rápido…

— Não, sou silencioso, é diferente.

O rapaz sorriu e em seguida mordeu o pernil que segurava em uma das mãos.

— A Layla tem 17 anos e está carregando o título de alfa nas costas. Não está sendo fácil para ela. Jean suspirou.

— Tão jovem? Não tem alguém que possa fazer isso no lugar dela?

As palavras de Nicholas fizeram o coração de Jean apertar.

— Sim e não. Esse posto deveria ser meu… mas eu sou um covarde.

— Ela tomou o seu lugar?

Nicholas se sentou novamente a mesa, sendo acompanhado por Jean.

— É um pouco mais complexo que isso… Está vendo aquele cara ali? Jean apontou para um homem alto e forte — Ele se chama Dorian. Ele foi meu adversário na disputa pelo título, mas eu desisti…

— Não tem nada de errado em ter medo e fugir. Perdi as contas de quantas vezes eu fiz isso durante a minha vida. Lute apenas quando sentir que deve fazer isso.

As palavras de Nicholas fizeram com que Jean o visse como um miserável, mas o lobo se calou, ofender o ouvinte não parecia gentil.

— Bom... Logo após o ocorrido, o nome da minha família estava destinado a lama, até o momento que a minha irmã entrou no ringue. Jean se serviu uma bebida.

— Sua irmã tomou a sua briga? Nicholas se mostrava empolgado com a história.

— Sim,  E ela tinha 15 anos…

— Uou! Nicholas bateu com força na mesa — Ele não a machucou né?

— Ele não conseguiu. Ela limpou o chão com a cara dele.

Os dois garotos riram.

— Como a platéia reagiu?

— A platéia adorou! Todo mundo sabia do potencial dela, quem não gostou nada disso foi a família do Dorian. Disseram que ela só havia derrubado ele porque ele não estava lutando a sério contra uma garotinha. Jean explicou.

— Isso parece choro. O forasteiro dizia com desdém.

— Foi então que ela mandou chamar o próximo adversário e desafiou a família inteira.

— Uou! O garoto golpeou a mesa mais uma vez, chamando a atenção de outros presentes ali — Você precisa me apresentar essa garota! Precisa avisar que ela tem um fã!

— Eu realmente não consigo entender a necessidade de irmos juntos…

A voz de Nicholas trouxe Jean novamente aos seus dias atuais.

— Somos uma equipe! — Karin explicava.

— Dividir e conquistar também consiste em trabalho de equipe. — O pirata protestou.

— Vamos lá Nicholas, ficar com a gente não é tão ruim assim! — Karin dava pequenos beliscos no braço do rapaz.

Eles estavam há cerca de 4 horas em uma carruagem em direção a cidade que cercava a colina.

— Está tudo bem? — Jean encarava Nicholas.

— Não quero estar aqui… — O garoto sussurrou.

— Uau! —  Karin se pendurava pela janela — Quantas flores!

— Tome cuidado, Karin! — Chow a trazia para dentro novamente.

— Bom… —  Nicholas disse assim que o transporte parou — Para colina só dá para ir a pé.

— Ei, para onde você está indo?

Karin se atentou ao afastamento de Nicholas.

— Você realmente precisa parar de fazer isso.

O piratas dizia com um tom sério e seguiu seu caminho.

— Mas ele…

— O Nicholas nasceu aqui, na cidade que cerca a colina. — Jean interrompeu a fala da garota.

— Ele vai visitar algum parente?

Karin seguia Jean, que juntamente com Chow, já iniciava a subida.

— Algo assim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hey! Tudo bom? Eu acabei vacilando com o spin-off dessa semana. Eu pensei melhor e resolvi postar essa história aqui msm!
Em algum momento, eu vou precisar pausar algumas semanas pra escrever capitulos novos, e ai vou estar postando o spin nessa história msm ok?
Até semana que vem xD



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Lenda dos Dragões" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.