I Lived escrita por Miss Addams


Capítulo 2
Encontro Terrestre




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Miles andava distraído, queria ficar longe e perto o suficiente, aquele era um momento perfeito para se afastar do acampamento. Um passo de cada vez era dado calmamente, até se esqueceu de colocar uma música para tocar em seu celular como é o seu costume. Estava em meio à natureza e se sentia bem ali, por algum motivo inesperado desde que chegou só usou seu celular para tirar algumas fotos.

Tinha encontrado o lugar perfeito até que viu uma garota sentada de costas para onde todos estavam e de frente para o lago em uma vista de tirar o fôlego mesmo à noite, graças à cachoeira ao fundo. O céu estrelado perfeito para quem queria se isolar. Exatamente como ela, percebeu isso, mas antes que pudesse sair sem ser notado. Ela virou na sua direção um pouco assustada por estar em seu mundo próprio e não esperar ninguém ali.

“Desculpe. Eu não vi que estava aqui antes.” – Ele disse meio incerto e constrangido por atrapalhar o momento dela.

“Não tem por que se desculpar.” – Ela fez uma careta por ter sido pega e ele pensou em sair dali para não ser o chato e intruso. Até que olhou seus olhos e reconheceu aquele olhar, aquela dor ele sabia bem o que significava. Não conhecia aquela garota, talvez fosse um abuso, mas ficar sozinha não seria bom esse tipo de dor que consome por dentro e lentamente, talvez ela precisasse da companhia certa.

“Por acaso você fuma?” – Ele perguntou despreocupado depois de certo tempo que o silêncio pairou entre eles, se fosse em outros tempos sequer se aproximaria de uma garota como ela.

“O quê?” – Ela ficou desnorteada com a pergunta. Não a esperava. “Não, eu não fumo.” – Por fim respondeu.

“Você se importa de que eu fume aqui? É que se eu fumar lá, minha mãe vai implicar comigo.” – Ele olhou para onde estavam os pais sentados ao lado da fogueira do acampamento.

Ela ficou indecisa, não queria sair dali, demorou muito tempo para encontrar um lugar onde pudesse ficar sozinha com seus pensamentos. Não estava mais a fim de fingir sorrisos, completamente falsos, não fazia por mal, se perguntassem se ela estava bem. A resposta ainda era sim, só que naquele momento queria ficar olhando o céu estrelado e pensar nele.

“Não, pode ficar a vontade, eu já vou sair.” – Ela deu os ombros porque agora não tinha mais clima e não conseguiria esconder seu momento.

“Não saia. Eu cheguei depois, vou ficar tão quieto que nem vai parecer que eu estou aqui.” – Miles se sentou em uma distância que lhe pareceu correta, sem ser intruso e sem estar longe o bastante.

E ali ficaram em silêncio onde só se escutava o barulho das pessoas ao longe, o lago, os grilos e a cachoeira ao fundo. Violet pensou que se sentiria desconfortável com a presença dele ali, mas havia um respeito da parte dele por ela que a fez bem mesmo que vulnerável. Não queria chorar estava seca do tanto que já chorou pela morte de Finch, só não conseguia evitar ás vezes se sentir assim, com saudade.

“Quando meus pais me falaram que viríamos acampar eu queria voltar a ser uma criança e me esconder debaixo da cama.” – Miles chamou a atenção de Violet. “Desde a Flórida e vir de carro até aqui, sem saber como tudo vai acontecer, você sabe, ficar sem celular, internet, amigos...” – Ele se interrompeu por ter terminado o seu cigarro, o amassou e colocou a bituca no bolso, não tinha coragem de sujar aquele lugar.

“E o que te fez mudar de ideia?” – Violet não conseguiu resistir à curiosidade em fazer a pergunta.

“Eu amo tecnologia, muito, mas agradeci pela natureza daqui me fazer esquecer dela.” – Ele sorriu e ela entendia. Estava há três dias sem tocar em seu celular. “Além do mais, ás vezes tudo o que eu quero é ficar sozinho por que ás vezes ninguém consegue me entender. Sabe?” – Miles falou sem olhar para ela, olhou para o lago e pensou em Alaska.

“Apesar de ser um desconhecido, você acertou em cheio ao meu respeito, mas a questão é mais profunda.” Violet, olhou para ele mesmo que não recebesse o seu olhar de volta. “Você não entenderia.” – Concluiu, pensando no seu estereótipo.

“Eu reconheço o seu olhar.” – Miles a olhou por fim. E Violet o encarou curiosa, não parecia o mesmo olhar gentil de antes. “Pode parecer estranho, mas eu entendo o que você está sentindo. Você se faz inúmeras perguntas com possibilidades do que poderia ter acontecido, se aquilo não tivesse sido feito. Os dias foram passando e você seguiu respirando e apesar da dor imensa que carrega por sua perda. Os outros perguntam se você está bem, se precisa de algo, ainda que neguem ficam com pena de você. Mas há também solidariedade por que muitos imaginam estar no seu lugar. A verdade é que só quem perdeu alguém entende como é difícil seguir em frente.”

Agora foi a vez de Violet reconhecer o olhar de Miles, estava enganada, ele a entendia melhor do que ninguém.

“Me chamo Violet.” – Ela se apresentou estendendo a mão.

“Miles.” – Ele a cumprimentou. “Agora não somos mais desconhecidos.” – Se limitou a um pequeno sorriso.

“Ela se chamava Alaska Young...” Miles fez uma pausa porque foi dominado por uma emoção que há muito tempo não sentia. Talvez não era só Violet que precisasse se lembrar. “Até seu sobrenome é contraditório. Eu me apaixonei por ela a primeira vista, logo de cara, não foi só atração. Ao ver Alaska eu acreditei em amor a primeira vista. Ela era intensa em tudo o que fazia, eu ficava louco ao seu lado. Chegava a pensar que se as pessoas fossem chuva, eu seria a garoa e ela o furacão.”

Violet sorriu pela forma que o garoto quase desconhecido definiu a garota que ele amava.

“Ela era tão misteriosa. Tão profunda! Nunca vou saber se foi realmente um acidente de carro, sabe?” – Ele encarou Violet por alguns segundos para que ela entendesse a eterna dúvida que o corroía internamente. “Eu sempre tive o gosto peculiar de memorizar as últimas palavras de personalidades, uma de minhas preferidas é do poeta do século XV, François Rabaleis. Em seu leito disse: ‘Saio em busca de um Grande Talvez’. Eu a imagino lá neste tal lugar.”

Miles não conseguiria mencionar o tamanho alívio por voltar a falar de Alaska em voz alta, depois de tanto tempo. Era reconfortante por que hoje ele era alguém melhor e isso devia a ela.

“Theodore Finch não era o meu tipo de cara. Mas, ele surgiu na minha vida para me salvar. Literalmente! Ele conseguiu me tirar das trevas em que me encontrava, eu só não percebi que cada vez que ele como ele estava se afundando em sua própria escuridão. Até que eu tive que reconhecer o seu corpo.” Violet parou de falar por alguns instantes ao se lembrar que como o encontraram deformado, sem vida.

Miles ficou em silêncio escutando atento e absorvendo a história de Violet.

“Dá mesma forma que ele despertou a vontade de viver em mim. Ele me destruiu por partir e me deixar aqui. Por me deixar assim.” – Ela voltou a falar. “O tempo passou e eu me reconstruí pedaço por pedaço, depois que parei de me questionar os por quês, entendi que mesmo com sua partida ele deixou muito de si em mim.” Violet abriu um sorriso verdadeiro aberto pela verdade dita e isso fez com que as lágrimas que ela escondia escorregassem de seus olhos. “Ele tirou sua vida, mas isso não me fez amá-lo menos. Eu segui em frente melhor do que antes, só que algumas vezes, como agora, eu sinto sua falta é um sentimento arrebatador e repentino é como se sentisse ele comigo. Entende?”

Miles só conseguiu balançar a cabeça positivamente, se abrisse a boca para falar sua voz sequer sairia. Sentia a garganta fechada pela emoção.

“Pelo menos você teve uma certeza, ainda que isso não torne tudo menos trágico. Alaska amava um livro de Gabriel García Márquez, chamado O general em seu labirinto. Talvez, Theodore estava preso em seu próprio labirinto e não soube mais como sair.” Miles tentou usar a metáfora favorita de Young.

“Talvez!” Violet disse pensativa, mas agora aliviada encontrou alguém que compreendia a dor de perder um amor tão cedo.

 “Como vocês imaginam o lugar onde estão Theodore e Alaska?” – A voz repentina fez com que Miles e Violet se assustassem por não esperar mais ninguém ali. E depois olharam na mesma direção.

Do lado oposto por onde Miles chegou, estava uma sombra atrás de uma árvore, logo surgiu um garoto com olhos cansados e um grande fone pendurado pelo pescoço. Ele prestava atenção em toda a conversa, estava ali, desde antes da chegada de Violet, preferiu não a incomodar.

“Você é o Clay Jensen?! Seu trailer está do lado da minha família.” Violet deduziu se lembrando dele.

Clay apenas confirmou com a cabeça a verdade, estava mais interessado na resposta deles. Se lembrou do que trazia consigo, pegou sua mochila e abriu mostrando várias garrafas de cerveja.

“Vocês querem?” Ele perguntou incerto, era um convite mudo para que entrasse na conversa.

Violet e Miles se entre olharam e deram o ombro ao mesmo tempo, assim Clay foi até eles e entregou para cada um uma garrafa de cerveja aberta.

“Eu recebi um pacote com fitas cassetes, um mapa e instruções. Cada fita continha as razões dela ter se matado.” – Clay voltou a falar depois de um gole de cerveja. Miles e Violet só o encaravam com curiosidade, aquele era o mesmo olhar. O mesmo maldito olhar. “Hannah Baker” Clay esclareceu. “O meu por quê!”

“E não posso explicar mas ficando lá, sob as estrelas, me senti em paz pela primeira vez em dias.”

Os 13 Porquês


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