Quimera escrita por iago90


Capítulo 2
Capitulo 2 = O mendigo e a garota




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2 anos atrás

Eu vivo nas ruas. Vivo aqui desde que me entendo como pessoa. O centro do Rio de janeiro é um local divertido, mas não para mim. Já eu, tenho que lutar para sobreviver todo o dia, na selva de pedra. Tsc, é quase poético isso. Se não fosse a realidade. Ser um mendigo é ruim. Ser um mendigo no rio de janeiro...é foda.

27/12/2013

Dizem que o ano novo é amanhã. Não é muito difícil de saber isso. Sempre as mesmas conversas. “Ano novo, vida nova”, “Esse ano eu com certeza vou...”, “ ano novo, fulano novo”. Não pra mim. Para mim será só mais um dia como outro qualquer. Será só mais um dia onde iriei ter que revirar o lixo afim de cessar a dor de cabeça, mais um dia em que serei invisível para as pessoas, mas um dia em em que ninguém se importará comigo. Começo o dia cedo, já sendo chutado para fora do meu pequeno e insignificante papelão por um guarda que fala comigo usando a bota do sapato para me dizer que estava atrapalhando a via. Me levantei resmungando, peguei minhas coisas, que não são muitas, apenas uma pequena faca, meu papelão, uns panos velhos e tão sujos que nem mesmo aquele produto da Tv que “promete tirar as manchas mais difíceis” iria conseguir limpar eles.

Sai rumo a lugar nenhum. Esses eram os meus dias. Rodar sem rumo, sem missão, sem proposito. Rezando para nenhum maluco decidir me acertar uns tiros ou então simplesmente me queimarem vivo como fizeram com o Caio. Pobre caio...queimaram ele no meu lado. Os filhos da puta estavam bêbados e acharam que seria divertido queimar mendigo...descanse em paz Caio

Agora é 12h. Dezembro no Rio de janeiro é época de sol. Mas não só sol. Um puta sol de rachar. O calor é tão intenso...e eu to com tanta sede e fome. Minha sorte é que aqui no centro os prédios são tão altos que as ruas ficam quase sempre com luz, mesmo ao 12h.

Minha barriga ta doendo. Não como a 2 dias. O resto sanduiche que achei será o meu almoço. Devoro aquilo como se não houvesse amanhã. Barriga quase cheia, mas a dor ainda está intensa. Agora eu precisava de agua. Agua...acho que consigo ela se eu olhasse no lixo também. Pelo menos um copo de refrigerante...nada. Hora de andar de novo.

Agora são 16h da tarde e eu não aguento mais andar. Estou de volta no largo da carioca, mas a sede é demais. Minha visão esta turva? Socorro...eu não consigo mais me mexer. Alguem...por favor. Me notem, não tem como não me verem aqui! Estou no meio do largo da carioca! Ei não sou invisível! ME NOTEM!
Tarde demais. Minha visão me abandona...estou apagado.

—-olha ali...bebeu tanto que não aguenta nem mais andar

—-Viu? É por isso que eu não dou dinheiro pra eles. Esse aí provavelmente cheirou até não dar mais

—-Só mais um cracudo...que lastima.

Lentamente as vozes vão desaparecendo...e ali mesmo...eu apago.

Já é noite quando eu acordo. Tem uma garrafa d’agua na minha mão e um pacote de biscoito torcida na outra. Eu chorei...eu chorei de alegria. Seja quem for...obrigado.

08/01/2014

O sol de janeiro já está queimando forte no céu azul, e ainda são apenas 7h da manhã. As pessoas já estão chegando para trabalhar, O ritmo da cidade está de volta ao normal. Dois dias atrás a chuva varreu as ruas do centro por completo. Enchentes vieram e carros ficaram ilhados, pessoas que ainda estava trabalhando ficaram presas em seus prédios, e nós, os mendigos, sofremos. Sofremos, pois, a agua é impiedosa. Eu tive sorte, diferente de 3 colegas meus que foram mortos por afogamento. Um deles um carro ainda veio pela correnteza da agua e o acertou. Ele tombou na agua e até agora não acharam seu corpo. Mas isso n é o pior. A fome. Diga-me...você já sentiu fome? Digo...fome mesmo. Fome ao ponto de vc n conseguir falar, um fome que faz sua cabeça doer, seus sentidos ficarem nublados e você desmaiar. Fome de todo seu corpo começar a se desligar para poupar forças? Então...eu estava quase assim aquele dia. A fome estava me corrompendo. Conforme as horas foram passando, as ruas foram enchendo e esvaziando de pessoas. Me arrastei até Cinelândia afim de tentar arrumar algo para comer. Quando avistei um grupo de turistas. Um deles estava com um pacote de biscoito na mão. Minha boca começou a produzir tanta saliva que eu podia jurar que estava babando. A mulher que estava com o saco tropeçou e caiu no chão, derramando todo o biscoito no chão. Ela xingou algo e se levantou com a ajuda do seu suposto companheiro, marido, sei lá. Estava focado demais no biscoito para notar. Assim que eles saíram, eu disparei até lá e em frente ao Teatro Municipal, saciei minha fome. O biscoito era um chamado Salgadinho da Piraquê. E naquele momento, ele era a comida mais saborosa do mundo. Mas assim que acabei de comer, notei que tinha alguns guardas me olhando. Tratei-me logo de sair dali, antes que viessem me bater.

A tarde veio e se foi e a noite não demorou a cair. Mais um dia...mais um inferno de dia vivendo nas ruas. Me pergunto como deve ser morar em uma casa feita de tijolos, concreto e aquelas coisas. Como é ter um celular, como é ter uma vida...Meu nome é Alex...não lembro do meu sobrenome, acho que tenho 18 anos...e sobreviver aqui é um saco.

22/03/2014

Sábado, dia vazio. As ruas não estão muito movimentadas hoje. Afinal, é sábado. Muitas empresas não abrem sábado. Tsc, o dia todo foi meio tedioso. Como sempre não tenho nada pra fazer a não ser arrumar comida e agua. Mas a noite...a noite da cidade nunca é tediosa. Entre putas, bares e turistas, sempre há ladrões. E essa noite não foi diferente. Estava voltando para o meu local caminhando pela Carioca quando ouvi os gritos de ajuda. Eu poderia ignorar, afinal, não era problema meu. Mas os gritos ficaram cada vez mais desesperadores e então foram silenciados, mas não ouve som de tiro ou coisa parecida. Curioso como sempre fui, corri na direção dos gritos, e me dei em um dos becos escuros que haviam por perto do largo da Carioca. La estava um cara em cima de uma mulher. Eu olhei por mais alguns segundos e notei que ele estava com algo brilhante nas mãos. Uma faca? Foi quando liguei os pontos. Ele ia estuprar ela. Eu paralisei de medo. Aquele cara poderia me matar. Não era como os guardas babacas que iam nos perturbar de vez em quando. Aquele cara era um bandido de verdade e se pudesse, iria me matar. Por outro lado, se eu não fizesse nada, aquela mulher iria passar pelos momentos mais horrendos de sua vida

—-Hey!—Gritei e logo depois me arrependi. O homem se levantou e se virou para mim. Ele parecia ter 1,85 de altura, enquanto eu só tinha meus 1,70. Branco, com os dentes sujos e vestindo uma roupa com um boné.

—-Garoto, não se meta aqui

—-Eu me meto aonde eu quiser, e não acho que esta mulher queira ficar com você—disse já aceitando minha morte

—-Eu já disse. Não se meta nisso

—-E se eu não obedecer?

—-Então terei que matar você—disse ele vindo na minha direção. O objeto brilhante era de fato uma faca. Ele estava bem perto, quanto eu tentei me colocar numa posição de combate. Ele primeiro me enganou levantando a faca com a mão direita, mas me acertando com um potente soco de esquerda no meu estomago. Eu fiquei sem ar na hora e me abaixei, e nesse momento ele cravou a faca nas minhas costas. Ainda estava sem ar, até mesmo para gritar. E continuou enfiando e enfiando, e a cada facada, sentia minha vida se esvaindo. Mas foi quando pensei: “Não...eu não vou morrer agora. Ainda não! ” E desviei de suas facadas me jogando para a esquerda. Ele caiu no chão devido a falta de apoio. E nesse momento eu peguei uma pedra solta no chão e lancei nele. Me virei para a mulher que ainda estava em choque e gritei para que corresse. Isso pareceu surtir efeito já que ela se levantou e correu.

—-Moleque você ta morto! —Gritou o homem enquanto se levantava em um salto e me colocava no chão e com suas duas mãos envolveu meu pescoço e começou a me sufocar—Aquela era a minha vadia. Como ousa roubar ela de mim! Você é só um mendigo, se eu te matar, ninguém vai sentir sua falta!

Eu estava ainda sangrando, e agora sem força nenhuma. Olhei para o lado e vi a faca do sujeito. Eu estiquei minha mão para pega-la enquanto o filho da puta continuava a falar merda atrás de merda. Não desviei o olhar para que ele não percebesse. Quando senti algo duro em minha mão, não pensei duas vezes e levantei minha mão com a faca, acertando seu pescoço. O homem se silenciou enquanto caia morto no chão. “Eu matei uma pessoa…Ele estava tentando me matar, mas mesmo assim. Eu matei um ser humano. ” Isso era tudo que minha mente conseguia pensar. Foi quando eu olhei para as minhas mãos. O que estava em minha mão esquerda e o que eu tinha usado para esfaquear o homem era uma lamina... Mas não era feita de metal...era algo vermelho. Toquei nela com minha outra mão. Era macia ao toque. Tentei bater com ela no chão e ela nem sequer arranhou. Foi quando tive a brilhante ideia de passar o dedo nela e levar a minha boca

—-Isso...isso tem gosto esquisito... isso... é sangue!?


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