Quimera escrita por iago90


Capítulo 13
Capitulo 13 = Catástrofe parte 3




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...

Quando recobrei meus sentidos, já haviam se passado uma hora, totalizando 9 horas ali em baixo. Felizmente, eu vi que o pedregulho não estava mais lá, e sim uma passagem estreita para o que parecia ser o que sobrou de um estacionamento subterrâneo. Mas o melhor não era isso. E sim que ali havia corrente de ar, e um cano quebrado que jorrava agua sem parar. Agua...todos ali já tinham tomado um “banho” nas aguas. A situação parecia que estava melhorando aos poucos. A sensação de claustrofobia diminui sensivelmente desde que abrimos o caminho. O que nos levou a única coisa que faltava. Comida. William já tinha separado as partes que poderiam ser comidas da mulher, e Rafaela achara alguns ratos. Ratos esses que Wellington se recusou a comer, assim como Venera. Quando chegou a hora de acender a fogueira, todos nos unimos ao redor dela

—-Alguém quer falar alguma coisa?—disse Leandro

—-Sim. Isso é perda de tempo—falei

—-Bem, ainda bem que ninguém se importa mendigo—falou Rafaela—Bem...eu espero apenas que todos nós consigamos sair daqui. E que o mundo lá fora não tenha acabado. Isso seria trágico—A luz do último celular se apagou. Estávamos na total escuridão agora—E...acho que é só

—-Bem, eu espero encontrar todos vocês fora daqui—começou Will—tenho certeza que—Will foi interrompido pelo riso do bebe em seu colo que fez todos sorrirem

—-Bem, liguem logo essa coisa

—-Isso não é elétrico loirinha

—-Não importa, só acendam logo isso.

E assim, Leandro fez as faíscas batendo dois pedaços de metal e a bateria de um dos celular dos mortos.

—-Okay, todos para tras.—Ele disse e assim puxou um isqueiro do bolso—acho que o velhinho que estava com isso não vai mais precisar

E então, ele ascendeu a fogueira. As roupas queimaram rapidamente. O estacionamento não possuía muitos carros a vista. A fraca luz do fogo iluminava agora um carro amassado por uma parte do estacionamento que cedeu. O que me lembrou de que havia gasolina ali, então seria melhor deixar aquilo longe da fogueira. As carnes já estavam no espeto. Seria algo cômico, se não fosse carne humana. Mas...para falar a verdade, aquele ali era o primeiro churrasco que eu participava.

—-Bem, já limpei os músculos da pele que cobriam eles e outras coisas ruins. Então vamos comer isso primeiro okay? Cérebro pode ser muito bom, mas não quero ninguém aqui depois com doenças cerebrais.—falou William terminando de montar o apoio para os espetos.

—-Pena que não temos sal aqui—lamentou Rafaela

E então, após esperarmos a carne ficar pronta, o que levou quase uma hora, comemos. O gosto para todos era como se estivessem comendo uma carne de boi temperada com areia e leite, segundo as palavras de Venera. Todos odiaram mas comeram, até mesmo Rafaela que desistira dos ratos. Todos sentiram repulsa no primeiro pedaço, menos eu. Para mim aquilo era a melhor carne que eu já havia comido em toda a minha vida. De fato, faltava tempero, mas mesmo assim estava extremamente deliciosa. Nem mesmo os pedaços de carne que roubamos aquela vez do bar da Cinelândia estava tão saborosa quanto essa. E isso, sem dúvida, me assustou até os ossos.

...

As horas que se seguiram depois foram mais reconfortantes e menos desesperadoras. Estávamos lá em baixo a 15 horas, e agora que a adrenalina estava indo embora, o cansaço bateu sem demora. Venera e Leandro apagaram encostados na parede, Rafaela se deitou num amontoado de roupas que tinha recolhido dos cadáveres, fazendo uma espécie de cama. Até mesmo o bebe tinha adormecido junto a mesma. William dormiu de frente para o bebe, e consequentemente de frente para Rafaela. Wellington e eu éramos os únicos acordados.

—-Então...

—-Então???

—-Um bandido é?

—-Yep...

—-Legal—Eu não tinha ideia do que falar com aquele cara. Do tipo: zero—Você acha o mundo lá em cima acabou?

—-Duvido muito cumpadi. O que quer que tenha sido, não foi forte o suficiente para destruir o Rio de Janeiro. Se não, a gente não estava aqui

—-Pode crer...Por que você virou bandido?

—-Eu faço parte do ADA desde que me entendo como gente. Comecei como aviãozinho—“O que diabos é um ‘aviãozinho’?” pensei comigo mesmo—e depois fui subindo e subindo. Até que recebi minha primeira arma. Era uma pistola. E ainda vinha com um silenciador. Da pra acreditar?

—-Mas você sabia atirar?

—-Claro que não. Então eu tive que treinar. Não é? Hunf, eu pedi pro dono do morro pra ele me dar um local pra ficar praticando. Para a minha sorte ele gostava de mim, então o cara descolou um local de tiro para eu ir

—-Aonde?

—-Floresta da tijuca

—-Ah...—Nunca tinha ido la, mas Reginaldo já me disse que la era uma floresta imensa

—-Eu ia la sempre a noite. Com uma porrada de munição na mochila e a arma no fundo dela, num fundo falso sabe

—-Sim sim—sabia não

—-Ai eu me isolava e ficava treinando

—-Mas por que cara?

—-Eu não sei. Acho que aquilo me acalmava. Era só eu, a floresta e minha arma. Até que chegou o dia do meu primeiro assalto a mão armada. Direto em um ônibus. Foi aqui mesmo no centro. Entrei no ônibus como quem não quer nada. Era já tarde da noite. Quando ele ia virar pra ir pra central, eu anunciei o assalto. A merda era que uma viatura tava passando na hora e viu eu dentro do ônibus. Os candango pararam na frente do ônibus e mandaram o motorista abrir a porta de trás. Minha saída tava bloqueada. Pensei rápido e peguei uma refém. Mulheres sempre são as melhores reféns por que todos têm medo de matar uma mulher. Eu só não sei o porquê disso. Tsc, mas enfim, os puliça ficaram com medo de machucar a mulher e tals, mas nesse meio tempo a porra da confusão já tava formada. Sair dali só se fosse direto pra cadeia. Até que eu tomei uma decisão que eu até hoje me arrependo

—-Você matou a refém?

—-Não...eu deixei um dos policiais cegos de um olho. Mas o tiro foi para matar. Quando eu disparei, a bala acertou a lateral esquerda da sua cabeça, o que pegou parte no seu olho. A distração que eu precisava. Corri no meio da multidão e tratei de achar um lugar para me esconder que acabou sendo em um banheiro químico

—-Eca mano. Que nojento, e olha que eu sou um mendigo

—-Na hora, foi a única coisa que eu pensei. Mas deu certo

—-E o policial?

—-Nunca mais o vi. Mas ainda me sinto mal por ter deixado ele cego

Pelo visto, Wellington era aquele bandido que não gostava de matar. Me pergunto se ele algum dia irá realmente matar alguém. Ou se seria ele quem iria perder a razão e matar a todos...Mas depois de comer aquela carne humana e me deliciar com ela, tudo continuava a indicar que eu iria perder o controle...temos que sair daqui. E rapido


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