Quimera escrita por iago90


Capítulo 12
Capitulo 12 = Catástrofe parte 2




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...

8h se passaram. 8 horas de baixo da terra sem nem sequer saber o que estava acontecendo lá em cima. Pelo que eu sabia, poderia muito bem-estar acontecendo o apocalipse zumbi que nenhum de nós saberia. Tirando eu e Will, todos já estavam começando a ficar com fome. Fiz o máximo para dobrar o sangue nos corpos mortos para mantê-los comestíveis caso tivéssemos que recorrer a eles para nos alimentar, mas dobrar sangue de forma discreta era extremamente difícil e gastava ainda mais stamina que dobrar de forma normal. Os níveis de oxigênio ali de baixo provavelmente ainda se mantinham relativamente normais devido a algum buraco milagroso nas pedras, mas ele ainda assim estava já ficando pesado. O local onde estávamos era uma mistura do resto do ônibus com pedras. As pedras que não consegui segurar cortaram fora as laterais dos ônibus e continuaram a descer. Com isso um chão se de pedras e outros detritos se formou embaixo de nós. As vigas bateram sem cessar no escudo de sangue, e elas e arrebentaram a frente do ônibus. Algumas amassaram as pessoas, passando pelo teto do ônibus como flechas gigantes de metal. E não muito depois, estávamos afundando. Quando acordei a 8 horas atrás, o meu campo de sangue tinha se expandido ao ponto de remodelar o ônibus. Era uma espécie de caverna em “T” com a perna do dito “T” sendo o que sobrou do ônibus. Sair dali estava fora de questão. Qualquer movimento que eu tentasse fazer para mover as pedras iria resultar em algo nada bom.

—-Olha, estamos com fome, com sede e exaustos. Temos que comer—disse Venera

—-Não creio que vou dizer isso, mas concordo com a italiana—falou Leandro

Venera e Leandro discutiram a alguns minutos atrás por que Venera estava chorando e irritou Leandro. O mesmo se levantou e gritou para ela parar de chorar. O que resultou em um baita tapa de Venera em Leandro, que revidou com um chute. Em poucos segundos os dois já estavam brigando e caindo na porrada, até que Rafaela foi separar ambos. Eu mantive-me na minha. Gastar energia era estupidez ali.

—-Okay, mas como vamos preparar a carne deles?—disse Wellington

—-MEU DEUS! Vocês vão mesmo comer pessoas?! Tem noção do que vocês estão dizendo?! São pessoas! Pelo amor de Deus

—-Okay Rafaela, já entendemos. Mas não tem outra maneira de nos alimentarmos

—-Tem que existir. Pelo amor de Deus! Will, você é formado em biologia, não é?

—-Sou formado em Biologia, bioquímica e tenho doutorado em Botânica

—-Wow—Falamos todos nós em um unissom

—-Ka-ra-lho—falou Wellington

—-E antes que você pergunte Rafaela, sim, carne humana realmente faz mal.

—-HA! VIRAM!?

—-Entretanto...

—-Ai meu Deus...

—-Numa situação de alto stress, por exemplo, digamos, ser enterrado vivo né? O corpo humano pode desativar as “travas de segurança” e então fazer com que consigamos nutrientes de qualquer lugar. Cassete se for muito ruim a situação, até pedra serve.

Rafaela se calou após a explicação de Will. Na verdade, todos nós nos calamos. Não tinha mais o que dizer. Estávamos preste a comer carne humana. Nem mesmo os ratos que comíamos na rua era tão grotesco quanto aquilo.

—-Então... querem peito ou coxa?

—-Wellington, péssima hora para piadas—falei serio

—-Hey, só estava tentando amenizar as coisas

—-Novamente: Péssima hora pra piadas—dessa vez foi o Will

—-Eu pego um dos corpos—falei indo na direção do corpo do pai do bebe, que a essa altura estava chorando de fome. Arrastei um dos corpos para perto do nosso grupo. Era uma mulher. Cabelos negros e cacheados, aparentemente em seus 27, 28 anos. O corpo ainda estava relativamente morno, afinal, deixei o seu coração funcionando num ritmo bem, mas bem devagar, apenas para deixar o sangue correndo pelo seu corpo para não estragar por completo.

—-Hum, sempre quis comer uma morena

—-E depois, vocês querem falar de mim, sobre fazer piadas em horas erradas né?—disse Wellington me encarando junto com todo

—-Só estava tentando

—-Menos papo. Mais ação—disse Venera.

—-Bom, vamos precisar de fogo para preparar a carne. E para fogo, precisamos de combustível e de...—começou Will sendo cortado por Leandro

—-Algum local para colocar a carne

—-bem, vamos procurar. Vamos ter que achar uma pedra, e depois algo para enfiar na carne e algo para ascender o fogo, visto que temos bastante combustível.

—-Como assim bastante?—indagou Venera

—-Roupas--respondi

—-Roupas quando queimadas liberam fumaça preta e...

—-Oh sua puta! Se você tiver alguma ideia melhor, me avisa porra. Ah caralho, tomar no cu porra—gritei puto já com a merda da Rafaela.

—-Alex, calma mano

—-Calma!? CALMA!? ESTAMOS DE BAIXO DA TERRA A MAIS DE 5 HORAS. TODOS AQUI ESTÃO MORRENDO DE FOME, ESSES DOIS MERDAS—falei apontando para Venera e Leandro—NÃO PARAM DE BRIGAR E AGORA ESSA PUTA QUER ME VIR COM A PORRA DE “problemas com fumaça e tals” ? EU QUERO MAIS É QUE VOCÊ SE FODA GAROTA! VAMOS FAZER ESSA CARNE GOSTE VOCÊ OU NÃO

—-E QUEM COLOCOU VOCÊ NO COMANDO HEIN MOLEQUE?—gritou Leandro vindo na minha direção

—-Eu me afastaria se fosse você—falei olhando no fundo de seus olhos. Estava ardendo de raiva e para eu perder o controle ali não iria demorar muito. Leandro provavelmente notou isso e recuou na hora.—Agora, vamos fazer essa carne, come-la e depois vamos permanecer juntos até sairmos daqui. Garanto que depois disso, não vamos querer ver cara um dos outros tão cedo. Eu não quero. Agora vamos—ordenei e todos obedeceram.—Rafaela

—-sim?—respondeu ela claramente irritada

—-Sua preocupação é real e algo a se pensar. Eu vou dar um jeito para...

—-Eu não dou a mínima, “chefe”—disse ela me cortando—Já que as coisas que eu falo, de nada servem nesta merda, então você se vire. Não é o todo poderoso? Se vira agora mendigo—disse ela se virando e indo procurar por roupas.

—-Sabe—disse Will se aproximando de mim—Em períodos como esses, as pessoas sempre procuram um líder. Alguém para liderar elas, mas também...

—-Eu já entendi Will

—-Mas também alguém em quem elas possam culpar.

E assim, as próximas horas foram apenas de nós tentando fazer a fogueira, cortar o corpo da mulher com os pedaços de metal retorcido que haviam se soltado do ônibus, limpando ela, tarefa que ficou para William, afinal, ele era o único que teve estomago para fazer isso. Todos nós, excluindo Will, vomitamos no momento em que vimos a barriga aberta da mulher. O cheiro do corpo humano aberto não é ruim. Não. Para ser ruim precisa melhorar muito. Estomago dela estava já podre. Rins? Já era. Músculos e outras coisas ainda estavam comestíveis segundo Will. E quanto mais ele mexia, mais aquele cheiro impregnava o ar. William parecia uma criança brincando com um brinquedo novo, já nós só rezamos para que aquilo acabasse logo. Eu tratei apenas de abrir um buraco no teto usando o meu sangue para a fumaça ter algum local para escapar. A escuridão seria quebrada pelo fogo, mas o oxigênio também iria acabar assim que ligássemos ele. Estava quase sugerindo comermos a carne crua mesmo, mas acho que nem mesmo eu conseguiria comer aquilo cru.

—-Então...—disse Rafaela se aproximando de mim

—-O que foi Rafaela?

—-Como está indo com o buraco hein?

—-Péssimo. Não consigo abrir nada por essa pedra. E pior que isso, vamos precisar de agua daqui a pouco. E eu não sei aonde conseguir e

—-Silencio

—-Mas o que? Você veio aqui só pra me mandar ficar cala...—não pude terminar de falar pois a engenheira colocou a mão na minha boca

—-Ta ouvindo? Fecha os olhos e tenta se focar no nada

“nossa, ficou biruta de vez” pensei comigo, mas Rafaela estava tão concentrada que decidi faze o mesmo. E pouco a pouco...o barulho de algo correndo

—-Sabe o que isso significa?

—-Não vamos falar ainda pro grupo. Ainda não sabemos o que isso pode ser. E se é que isso é agua

—-O que mais poderia ser?

—-Esgoto? Dejetos? Agua contaminada?

—-Okay...isso seria muito ruim.

—-Rafaela, vai cuidar de trazer combustível que eu vou cuidar aqui da agua

—-O que me garante que você não vai ficar com ela só para você?

—-Por que eu vou precisar de todos vocês para escapar

Ela não pareceu ter acreditado muito, mas foi embora. Agora restava a mim tentar descobrir como abrir um buraco no teto sem fazer tudo desmoronar, e ainda descobrir o que tinha do outro lado dos escombros. Só coisa fácil, não é?

Comecei com a agua. Fazer um buraco no meio dela estava fora de questão. Os tremores que eu poderia vir a causar iriam com certeza desestabilizar a nossa pequena caverna. Eu teria que ir retirando as pedras pequenas uma a uma e depois me virar com a grandona. E foi o que eu fiz nos próximos 30 minutos. Cada pedra era do tamanho do meu braço, e extremamente pesadas. Após tirar todas as menores e quase não sentir os meus braços, restava a grandona. Aquele pedaço de concreto com aço deveria ter 2 metros de altura com sabe-se la quanto de profundidade. O negócio era grande. Bem grande. Agora tinha que achar um jeito de move-la. Olhei para o resto da caverna. Mesmo no quase total escuro, eu conseguia ver o vulto deles. Se eu não soubesse quem eram aquelas pessoas, eu provavelmente estaria agora sentado agarrando o meu joelho. Tentei me esgueirar pelas laterais da mesma, mas era arriscado demais por isso decidi parar logo após entrar. “talvez seja melhor focar no buraco do teto por agora, e depois sim voltar para esse pedregulho” pensei comigo enquanto me afastava da parede e olhava pra cima “Agora é só descobrir como abrir um buraco ali, longe e grande o suficiente para fazer a fumaça sair”. Mesmo que eu não tivesse gostado, Rafaela tinha razão. Uma vez no centro da cidade, uma loja pegou fogo e eu estava perto da loja dormindo. O fogo se espalhou bem rápido, o que fez com que a fumaça fosse gerada de forma rápida também. Era 13h quando a loja pegou fogo. 13 em ponto. Pontualidade inglesa como William gosta de dizer. 6 mortos e 15 feridos por intoxicação. Eu estava entre eles. Eu respirei muita fumaça enquanto estava tentando salvar algumas pessoas da loja. Consegui tirar 2 pessoas antes de apagar e bater de cara no asfalto com tudo. Quando acordei estava numa ambulância.

—-Já peguei a carne--disse William gritando da escuridão—Tenho uma coxa, um braço e uma cabeça

—-Meu Deus cara, que nojo!—gritou Leandro do outro lado

—-Que foi? O cérebro humano é cheio de nutrientes bons para

—-CALA A BOCA ESQUISITO!—dessa vez foi a italiana quem gritou—De qualquer forma, eu e o Wellington estamos terminando de pegar a roupa aqui

—-E eu já consegui as hastes de metal que precisávamos—gritou Rafaela

—-Excelente. Eu limpo elas e logo poderemos comer.

—-Eu vou procurar por ratos. Não vou conseguir comer uma pessoa cara

—-Bem, você quem sabe—disse Venera com o bebe no colo—Quanto mais carne, melhor

—-A gente poderia matar esse bebe e comer ele não é?—comentou Wellington

—-Ta doido filha da puta?

—-O que? Não é como se ele fosse sobreviver mesmo—disse Wellington

—-Não! A resposta é não!

Enquanto eu ouvia eles discutindo, trabalhava para achar um meio de abrir um buraco no teto. Reforçar o ônibus com os detritos foi uma excelente ideia. Por Deus, só estamos vivos aqui porque eu fiz isso. Mas isso ao mesmo tempo me jogou numa situação ruim. Se eu desfizer esse reforço, tirando a gosma de sangue, poeira, reboco entre outras coisas, a possibilidade do teto inteiro ceder é bem grande. E fazer um buraco no teto também não era possível. Acima de nós existia sabe-se lá quantas pedras exercendo força e mais força contra a nossa “caverna”. Mesmo que eu abrisse um buraco no teto do ônibus, ainda teria que me preocupar com os quilos e quilos de rocha que estavam logo acima do mesmo. Minha única chance era realmente mover aquela pedra na parede para o lado e torcer que houve agua e algum local para a fumaça sair. Comecei a tentar dobrar meu sangue e usá-lo como uma lamina, mas foi inútil. Eu ia levar horas até cortar aquela pedra enorme só com essa pequena quantidade de sangue.  Eu ia precisar de uma lamina maior, ou então de mais força para mover para a pedra para longe. Olhei de volta para escuridão e tentei me lembrar de quantas pessoas haviam no ônibus antes. Tirando nós 6, o ônibus estava com todos os lugares ocupado. Ou seja...havia ainda bastante sangue naqueles corpos. Mas dobrar ele também estava fora de cogitação. Eles iriam notar o barulho e os corpos ficando sem sangue nenhum. Só me restava era continuar a empurrar o pedregulho para fora dali. O problema? Além do peso enorme, eu não sabia dizer se aquele pedregulho era realmente um pedregulho, ou apenas a parte visível de algo bem maior.

—-E ae Alex?—disse Rafaela se aproximando de novo

—-Nada bom. Furar o teto além de ser extremamente difícil—mentira—iria causar possivelmente um desmoronamento.

—-Eu estava com medo disso. Então só nos resta...

—-Isso mesmo. Empurrar essa merda pra longe

—-Bem, vamos ter que avisar aos outros

—-Não precisamos avisar ninguém Rafaela. Me ajude aqui com isso aqui—falei começando a empurrar a pedra. Rafaela suspirou e veio me ajudar. Empurramos, e empurramos e empurramos...mas a pedra se mexeu apenas alguns centímetros, e nós já estávamos exaustos.—vamos!—gritei de raiva—se mexe!!!

—-Alex, quieto

—-Tudo bem ae?—perguntou Wellington enquanto era iluminado pobremente pelas luzes dos celulares

—-Tudo ótimo Wellington—disse Rafaela—temos que mover essa pedra.

Talvez eu não pudesse corta-la com sangue, mas poderia talvez move-la com sangue. Mas para isso eu teria dobrar sangue para dentro das rachaduras daquela coisa de pedra. E para dobrar sangue eu tenho que movimentar as mãos. Eu poderia usar a quase escuridão para esconder o sangue, mas ainda teria a possibilidade da Rafaela notar que o peso da pedra estará menor. “Ah foda-se” foi tudo que consegui pensar no momento. Comecei a fazer força na pedra novamente, mas dessa vez bem menos, e com o ombro, enquanto usava a minha mão esquerda para dobrar o pouco de sangue que restava nos outros corpos, deixando apenas um ainda com o coração batendo. O plano de usar a escuridão estava funcionando. O sangue estava entrando por dentro das rachaduras. Comecei então a empurrar a pedra com mais força e agora usando o sangue como um terceiro braço. Os resultados foram um pouco mais satisfatórios, mas agora eu estava duplamente mais cansado, mas estávamos finalmente tendo progresso...só mais um pouco e então...


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Notas finais do capítulo

Espero que curtam o capitulo senhores



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