Quimera escrita por iago90


Capítulo 10
Capitulo 10 = Passado parte 2




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Nos entreolhamos novamente. Um lobo e um morcego. Um lobisomem e uma Gárgula. E então avançamos um contra o outro, mas antes que eu pudesse ataca-lo, minha mente foi novamente puxada e então regurgitada de volta a realidade. William estava me sacudindo bruscamente.

—-Hã hã hã? O que foi?

—-Você estava gritando. Estava assustando todo mundo no ônibus

Olhei ao meu redor e notei os olhares para mim. Até o motorista estava me olhando por aquele espelhinho. Foi bizarro. Nunca tinha recebido tanta atenção assim.

—-Desculpe pessoal...pesadelos

—-Na próxima vez que pegarmos o ônibus, lembre-me de não sentar ao seu lado okay?

—-ta ta ta ta! Não enche o saco.—olhei para a janela e odiei o que eu vi—ainda estamos no transito!?

—-Sim, estamos na lagoa agora

—-lagoa?

—-A lagoa rodrigo de Freitas cara

—-ah...essa lagoa...

—-Meu Deus Alex, você nunca saiu da área da Carioca não?

—-Não. E por que eu deveria?

—-Explorar, descobrir coisas novas e ...

—-E nada—falei cortando Will—Eu não tenho motivos para descobrir coisas novas, não quero descobrir coisas novas e estou feliz com o que eu já sei

—-Como por exemplo usar poderes sobrenaturais?

—-Eu não pedi por isso

—-É mas você tem. Karalho Alex, nunca se perguntou o por que disso ai?

—-Não

—-Então deixe eu ao menos examinar você. Talvez eu possa descobrir mais sobre essa

—-Professor, entenda. Mesmo que eu aceite você examinar o meu sangue, como você faria? Hein? Usando seringas do lixo ou coisas parecidas?

—-Não, eu poderia...

—-bla bla bla e bla. Pelo amor de Deus, você não pode ser um mendigo comum não?

—-Minha mente não me deixa ser comum

—-Bem, então beba um pouco

—-E ficar com mais sede do que eu já sinto? Não valeu

—-Bem, só estou dizendo que você deveria relaxar mais.

—-Lissandra  também dizia isso.

—-É...lembra de como conhecemos ela?

Um sorriso se formou no rosto de Will—Claro. Foi em 2013, logo depois do Reginaldo ter encontrado você na rua morrendo de fome e sede.

—-É, eu não lembrava nem da onde eu era, ou qual era o meu nome

—-Bem, tecnicamente você ainda não lembra né?

—-É...Lissandra que decidiu me chamar de Alex...Sinto falta dela.

—-Todos nós sentimos Alex. Eu, você e o Reginaldo

—-Mas não é justo. Ela morrer daquele jeito...

—-Ela morreu fazendo o que mais gostava

—-Mas será que ninguém poderia ficar no lugar dela aquele dia? Porra, ela estava naquele hospital a horas

—-Não Alex. Era o trabalho dela

—-Mas não é justo...Eu sinto tanta a falta dela Will. Era como se eu já a conhece-se a anos. Talvez ela estivesse já na minha vida antes, talvez eu já tenha sido seu marido...ou sei la

—-Marido? Não viaja também cara

—-Não é justo...Eu amava ela Will

—-Eu sei Alex...eu sei

Não demorou muito para eu cair em sono novamente. Mas desta vez, foi um pesadelo no lugar de algum sonho doido

Era março de 2013. Dia 21, uma quinta feira ensolarada. Will e Reginaldo tinham ido procurar comida e só voltariam para o nosso barraco bem de tarde. Já eu fui ver Lissandra. Ela largava seu turno ao 12h. Conheci ela depois que William me apresentou a mesma. Ela sorriu pra mim mesmo sem me conhecer. Lissandra era medica estava fazendo sua segunda faculdade, essa em Biologia. Sempre que podia, comprava presentes para aqueles dois. Livros de biologia para William e doces para o Reginaldo. E comida. Aquela mulher realmente não era deste mundo. Ela uma vez até nos acobertou para entrarmos no hospital para tomarmos banho lá. Nem preciso dizer que ela levou uma baita bronca daquelas do diretor do hospital quando ele descobriu.

Mas aquele dia estava estranho. Lissandra não saiu 12h como de costume. Nem as 13h. Ou as 14h. E conforme as horas passavam, mais a minha fome aumentava e mais a rosa que eu trazia em mãos perdia o seu brilho. Quando dei por mim já eram 19h. Decidi entrar no hospital e perguntar a recepcionista sobre Lissandra e por que de ela estar demorando tanto. A vadia me respondeu dizendo que a Lissandra já havia saído a muito tempo, e acompanhada de um cara.

“Aquela filha da puta!” pensei comigo mesmo...mas essa é a vida não é? E além de que, quem é que ficaria com um mendigo não é mesmo?

Decidi voltar para a Cinelândia a pé mesmo. Quando em uma viela estava uma multidão amontoada. Decidi investigar o que era...e no centro de tudo, lá estava Lissandra, com uma faca no lugar aonde deveria estar seu olho esquerdo, e uma rosa negra na mão esquerda. Eu cai de joelhos. A multidão ainda estava cochichando coisas que pra mim eram inaudíveis. Eu só me esgueirei e peguei a rosa de sua mão e me encolhi no chão. Ela a uma semana tinha apostado comigo que traria uma rosa negra pra mim. Não havia premio. Só a vontade de dizer: viu!? Eu te disse. Junto a rosa, enrolado em seu caule, estava um papel que dizia: “Para meu amigo sujinho, Alex”

Eu chorei. Chorei...e me encolhi no asfalto enquanto as pessoas se dispersavam para a polícia passar. Naturalmente, eu fui acusado por estar ali encolhido. Mas não me importei. Eu não me importei nem um pouco. Lissandra se fora...e eu não fizera nada para impedir. Eu perdi Lissandra...de novo

Quando acordei novamente, o ônibus já estava quase vazio. Will me balançava com vontade

—-Chegamos Alex—disse ele já impaciente—Meu Deus, você dorme a qualquer momento!

Ainda estava zonzo e com uma tremenda dor de cabeça.—Aonde?

—-Aonde? No ponto em que temos que descer para pegar o segundo ônibus! Idiota, bora que já são 14h da tarde.—O sol brilhava ainda bem forte no céu. Estávamos indo pegar o segundo ônibus, agora na gávea. Dessa vez não tivemos problemas. O motorista da vez foi legal conosco e nos deixou entrar por trás sem maiores problemas. Fui a viagem toda acordado, o que para mim foi uma vitória dado o fato de que eu dormia em qualquer lugar a qualquer hora do dia. Só precisava ficar quieto por alguns minutos. Mas quando estava já tendo a visão dos arcos da Lapa, eu notei que o sol estava brilhando de forma mais intensa de repente. E o brilho foi aumentando e aumentando, mas então me dei conta de que o sol estava já atrás do ônibus, e o brilho vinha diretamente da frente dele, penetrando as janelas do para-brisa com brutalidade, chegando a esquenta-lo. E a claridade que vinha da frente do ônibus aumentou gradativamente até cegar eu e todos os passageiros. Cobri meus olhos por instinto e ouvi o que pareceu ser um barulho alto, como se algo tivesse sido quebrado. A claridade cresceu e cresceu e de repente, se apagou por um momento, e eu pude ver no céu. Foi como se todas as luzes tivessem se apagado. Tudo sendo sugado para aquele ponto em particular. Mesmo a luz do sol foi sugada e o dia virou noite por alguns incontáveis segundos. E uma enorme bola de fogo surgia do céu. As pessoas no ônibus murmuravam sem entender o que viam. Alguns falavam que para lá ficava a catedral, crianças choravam e Will me olhava com o olhar perdido enquanto alternava entre mim e a gigante bola de fogo       que estava no céu do Rio de Janeiro, pairando acima de nós como se fosse a soberana do mundo. A rainha de tudo e de todos. E então, o silencio ensurdecedor e apavorante, antes de uma poderosa onda de choque acertar o ônibus com todo o seu esplendor, como se nós não existíssemos. E por fim, o dia virou noite.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem, esse foi o ultimo capitulo calmo e tals. Daqui pra frente será só porradaria e caos



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