Sangue nas Areias do Foguete escrita por Pierre Ro


Capítulo 10
"Meu desejo insano de vingança"


Notas iniciais do capítulo

Olá! Tudo bem?
Desculpa a demora além do normal. Minhas férias acabaram e fiquei meio ocupado.
Nesse capítulo, maiores detalhes sobre o assassinato... Várias pistas estão aqui!
Boa leitura!



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— Como conseguiu esse cartão? – Perguntou Vinícius, para Camila, intrigado.

— Agora, quando tiraram sua mochila do quarto, isso caiu. Quem pegou, na verdade, foi Hugo, que me mostrou.

— Sim. Aconteceu nesse instante – Falou o rapaz de óculos, logo atrás.

— Certo – disse a detetive, pegando o objeto e entrando novamente no quarto. – Vinícius, pode vir.

            Ele a acompanhou e fechou a porta.                                   

            Louise estava com seu notebook. Sem perder tempo, abriu-o e injetou o cartão dentro de um leitor e, em seguida, no computador. Ninguém proferia palavra alguma. Os dois encontravam-se inquietos para descobrir o conteúdo que havia ali.

            Após ler o hardware, apareceu um único arquivo. Um documento de texto. Sem título.

            Clicaram nele, e apareceu um aviso. Era necessário colocar uma senha. Louise suspirou, desanimada.

— Ok, teremos que enviar isso para nossos especialistas. Só assim conseguiremos ver o que tem aqui – avisou ela.

            Antes que ela fechasse o computador, Vinícius segurou sua mão. Lembrou-se de algo importante.

****

            Ela concordou, e saiu com o irmão até o lado de fora da casa, onde alguns dos visitantes já estavam indo curtir a praia.

— Eu quero te falar uma coisa... – Avisou ela.

— Ué, diga!

— Você é a pessoa que mais confio nesse lugar. E mais considero. Quero que saiba que, se algo acontecer comigo, não se desespere. Mantenha a calma porque tudo dará certo. Vou deixa-lo ciente de todas as informações.

— Que tipo de informações? – Questionou, confuso, enquanto caminhavam.

— Dados sobre mim. Você vai saber o que estou falando. Mas, quero que saiba disso. Apenas.

— Não estou entendendo bem...

— Não precisa entender agora. Acredite! Só preciso que não esqueça, de forma alguma, disso. É muito importante. É a resposta para chegar nas informações. – Ele a fitou sem entender nada. Ela parou, aproximou-se dele e lhe deu um beijo na boca. Demoraram poucos segundos, até os lábios ficarem distantes novamente. Ela se virou para a praia novamente. Eles ficaram em silêncio durante um tempo. Vinícius ainda estava confuso, mas ela preferiu mudar de assunto – Mas então, fale-me sobre você, maninho...  O que rola entre tu e a Camila?

****

— Dá para saber quantos caracteres a senha possui? – Indagou ele. Seus olhos não piscavam.

— Sim. São cinco. – Ela respondeu, voltando a animação de mais uma descoberta.

— Agora eu entendo! Beijo. Escreva aí. A senha é “beijo”! – Ele respondeu, e ela rapidamente digitou a palavra.

E então, surgiu a mensagem de “Senha correta”.

Pela primeira vez naquele dia, abriu-se um sorriso no rosto de Vinícius. Louise também ficou contente.

Abriu-se o arquivo, e ambos leram em silêncio.

“Olá, Vinícius!

Você deve ter se lembrado do beijo que te dei e entendeu o porquê de eu fazer aquilo. Ainda bem que deu certo, então!

Se está lendo este texto, provavelmente já estarei longe. Se Deus quiser, realizada. Mas não se preocupe. De acordo com meus planos, voltarei para te ver. E toda a família que tão bem me acolheu. Não precisará esperar muito por isso, eu prometo.

Enfim, devo lhe confessar algo: Víni, não sou sua irmã. Meu nome de verdade é Caroline Bezerra. Aquela menina que viveu contigo na infância não era eu. Mas eu a conheci. A verdadeira Alice Dantas. Eu a vi morrer.

No dia de seu desaparecimento, ela foi sequestrada por um homem muito mau. Foi vendida para outro pior ainda. E então, sua vida virou o seu pior pesadelo. Um monstro a mantinha em cativeiro em Brasília por dois anos e a estuprava quase todos os dias que ia para lá.

Comigo não foi diferente. Fui sequestrada um pouco antes que ela. Sofremos as mesmas crueldades. As mesmas dores. Foram três anos assim. Sendo tratadas como um pedaço de carne. Não sei como aguentamos tanto tempo.

Por outro lado, viramos amicíssimas. O suficiente para conhecer tudo sobre a vida da outra, de forma que eu pudesse me passar por ela.

Planejamos fugir diversas vezes. A grande maioria falhava, e quando falhava, a maldade que ele exercia sobre nós intensificava. Dói só de lembrar daquilo. Às vezes, ele chamava amigos e o seu próprio filho para usufruir dos “brinquedinhos” dele. Nojento!

Mas, um dia, nosso plano de fuga deu certo. Porém, antes de fugirmos, Alice levou um tiro e morreu. Eu a vi morrer. Choro sempre que lembro daquela cena triste. Eu, no entanto, não me livrei totalmente. Fui atropelada por um carro no meio da estrada. O homem que me sequestrou viu aquilo e achou que morri. Felizmente!

No entanto, até que não foi tão ruim esse acidente. O casal de mineiros que me atropelou eram duas pessoas boas. Levaram-me ao hospital e cuidaram de mim. Um ano depois, recuperei-me e eles me adotaram. Enquanto eu os ajudava em casa, dedicava-me aos estudos. Voltei a estudar e, no ano retrasado, formei-me em Psicologia na UFMG.

Ah, já ia me esquecendo da minha vida antes disso... Bem, quando eu tinha uns oito anos, minha família sofreu um acidente de trânsito. O carro caiu em um barranco. Meus pais, que lá estavam, morreram com a colisão. Por um milagre, o cinto de segurança e o corpo da minha irmã que estava ao meu lado, que também morreu, salvaram-me. Meus machucados eram leves. Com dificuldade, saí do carro e corri para solicitar por socorro. Não demorou muito, e houve uma explosão, e todos foram carbonizados.

Foi um trauma muito grande. Demorei muito tempo para superar. Até hoje, sinto dificuldade em não chorar quando me recordo disso.

Naquele mesmo dia, enquanto eu vagava na estrada deserta implorando por socorro, ele veio. Eu expliquei o que aconteceu e ele me disse para entrar no carro. Como fui burra! A partir daquele momento, minha vida virou um inferno.

Contei essa história pois quero que entenda, meus pais eram europeus. Eu não tinha avós, primos ou tios aqui no Brasil. Não existia ninguém que eu confiasse o suficiente para ficar comigo. Diferentemente de Alice Dantas.

Ela era carioca. E, coincidentemente, o meu sequestrador também. Vez ou outra ele ia para o Rio. Pensei bastante e decidi me vingar dele.

Nosso corpo era parecido. Apenas meus cabelos eram mais claros, e meus olhos, na verdade, são verdes. Se eu mudasse um pouco minha aparência, tentaria me passar pela Alice. Afinal, sabia de tudo sobre ela, já que conversávamos 24 horas por dia. Pedi a meus pais adotivos mudarem meu nome para Alice, e Ferreira foi o sobrenome deles.

E, enquanto isso, encontrar-me-ia com o criminoso que me violentava. Reuniria provas para incriminá-lo e garantiria que fosse preso. Antes, confesso, meu plano era mata-lo mesmo. Mas não sou como ele. Queria que justiça fosse feita, mas também sabia que apenas denunciá-lo não adiantaria de nada.

E nem foi tão difícil assim. Quando vi, soube que ele estava se candidatando a governador do Rio de Janeiro, o senhor Rodrigo Drummond.

Como suspeitava, conseguiria facilmente provas de que ele era corrupto.

Pesquisei um pouco mais, e descobri que a filha dele estudava logo no mesmo colégio do irmão da Alice! Era a oportunidade perfeita. Pensei em várias formas de me aproximar. Enviei meu currículo para o Colégio, que precisava de psicólogos, e me contrataram.

Busquei mais e descobri que Beatriz Drummond frequentava uma rede social chamada “KnowNow”. Lá, ninguém sabe quem é quem. Porém, consegui, com a ajuda de um especialista em redes, descobrir que Beatriz era a “Bijuu4”. Não perdi tempo e comecei a conversar. Fingi que era lésbica, pois ela também era. Fomos conversando e viramos “íntimas”.

Quando cheguei no Rio, falei contigo, como você sabe. E logo me interessei a participar de uma festa na faculdade de Christian Drummond. Seduzi-o e peguei seu celular. Lá, continham diversas provas de que ele e seu pai cometeram crimes. Porém, aquilo não era suficiente para mim. Sabia que em seu computador pessoal teria muito mais.

Sim. Lembra quando a casa dos seus avós teve a janela quebrada? Era o Christian, que foi “guiado” para realizar tudo aquilo. Estou com a gravação de tudo.

Tudo ocorria como o planejado. Nem Rodrigo nem Christian desconfiaram que eu era a verdadeira Alice ou a Carol. Acreditaram que eu estava morta. Aliás, eu mudei bastante minha aparência.

Nessa viagem, quero conseguir mais provas. Assim que pegar o computador de Rodrigo e algumas confissões de Beatriz, fugirei para bem longe e entregarei tudo à Polícia. Ou jogaria direto na internet. Ou na Televisão! Ainda decidirei isso.

Sei que você merece uma história mais detalhada. Quando o conheci, afeiçoei-me demais a você. É uma pessoa muito boa. Mas, se eu contasse tudo, poderia estragar meus planos. E eu preciso saciar o meu insano desejo de vingança. Espero que me entenda e não mostre essa mensagem para ninguém. Nem mesmo para a Polícia. Confio em ti.

Atenciosamente, Alice Ferreira Dantas”

— Meu Deus! – Exclamou Vinícius, após ler todo o texto. Estava perplexo com aquela chuva de informações.

— Não sei se fico surpresa com uma mente tão calculista como a dela – comentou a detetive – Ou se sinto um profundo nojo pelo meu governador!

— Desgraçado! – Disse, raivoso – Ele matou a minha irmã! Matou minha irmã! Louise, já temos a resposta. Ele é um criminoso! Pode ter descoberto isso e matado essa Caroline também!

— Eu sei. Investigarei tudo, mas você precisa manter a calma. Apenas esse texto não é suficiente para acusa-lo de um crime de anos atrás. Muito menos o crime desta noite. Calma! – Ela explicou, pousando suas mãos no ombro do adolescente, que estava furioso.

— É melhor que ninguém saiba disso. Se tudo der certo, iremos conseguir provas para incriminar Rodrigo.

            Ele respirou fundo e assentiu. Era o mais sensato a ser feito.

— Mas acredito que isso tudo foi bem surpreendente para você. Tem razão em sentir raiva e tristeza – Ela o consolou.

— Está certa – admitiu, recuperando a calma – E agora? O que pretende fazer?

— Bem, vou interrogar mais suspeitos. Enquanto isso, vamos esperar a análise da cena do crime.

— Eu quero ajuda-la nessa investigação, Louise. Ser seu sombra – ele informou. Louise o fitou por alguns segundos, refletindo a situação.

— Mesmo que eu quisesse, não poderia fazer isso, meu querido. Veja bem, teoricamente, até você pode ser considerado um suspeito. Pelo menos, até encontrarmos um álibi.

            Ele a olhou com desconfiança.

— Está me achando suspeito de matar minha própria irmã? – Ele perguntou, indignado.

— Estou certa de que não foi você. Apesar de ter passado tanto tempo, conheço seu coração. Vejo verdade em seus olhos. Sabia quando você falava aquelas mentirinhas, e também quando falava a verdade. As expressões ainda são as mesmas.

            Aquilo o confortou de certa forma. Reencontrar a estagiária que mais o acalmou e foi presente na sua infância foi bom. Ela parecia ainda gostar do rapaz. Assim como ela o consolou quando sua irmã, Alice, desapareceu, também o consolou quando sua impostora partiu de vez.

— No entanto – ela continuou – não posso lhe tratar diferente dos outros. Acho que você me entende.

— Sim, entendo. Precisa ser imparcial.

— Isso. Mas você poderá me auxiliar, sim. Porém, informalmente. Agora, vamos lá? – Convidou, e se levantou. Ele logo fez o mesmo, animado. Saíram do quarto e foram direto para a sala.

— Detetive Louise – disse um dos seus agentes, assim que eles chegaram lá – A análise da cena do crime já foi feita.

— Já? Analisaram os quartos de cima e debaixo? E a praia? – Indagou-os.

— Sim, senhora! – Ele respondeu, mordendo os lábios – o senhor Edson está lhe chamando para dizer a análise dele.

— Ótimo, estou indo! – Informou, e caminhou até o local. Quando chegou na sala, viu os estudantes sentados, esperando. Aproveitou para dar um aviso. – Agora, podem sair, ir ao quarto... Fazer o que quiserem, mas mantenham por perto e em condições de serem acionados a qualquer momento.

            Eles concordaram e cada um saiu de lá.

            Louise desceu as escadas exteriores e foi até o corpo da vítima, que estava sendo transportado já. Lá, ela encontrou um homem moreno com barba rala, da Polícia Civil também.

— Edson? – Disse ela.

— Oh, Louise... Esse caso vai ser penoso de resolver! – Afirmou ele, olhando a policial.

— Hum, por quê?

— Depois da autópsia, poderei precisar mais, mas de acordo com minha experiência, acredito que o crime ocorreu entre meia noite e três da manhã. Ah, ainda farei análises mais profundas, mas pelo que vi, a vítima morreu devido às pancadas graves que levou na cabeça. Não só uma, mas quatro. De duas formas diferentes. Depois, foi arrastada até aqui. Duvido muito alguém ter planejado esse crime. Afinal, as marcas de que arrastaram a vítima estão bem evidentes. Ninguém com o mínimo de inteligência inventaria algo assim. É possível que mais de uma pessoa tenha feito isso. Venha, acompanha-me que quero lhe mostrar uma coisa – Ele pediu, e foram fazendo o caminho de volta para a casa.

— Hum, entendo. As marcas do arrasto viam de onde?

— Vinham da escada mesmo. Agora, tudo indica que o assassino não saiu da porta da frente. Mas sim, dos fundos. – Ele a guiou para os fundos da casa. A parte mais próxima da praia.

— Mas não existe porta alguma aqui! – Ela falou, confusa, após notar o fato.

— Sim. Exatamente! Só as janelas – Ele respondeu, com um sorriso malicioso, apontando para elas.

— Acha que o assassino a levou pela janela?

— Não qualquer janela, mas aquela janela – Edson falou, indicando com o dedo a janela do terceiro andar, do meio, que corresponde ao quarto de Beatriz Drummond.

— Oh! – Louise exclamou – Excelente pista!

— Além disso, veja o chão. – Ela olhou, bem embaixo da janela em questão, existia uma mancha meio avermelhada – Está assim porque já limpamos, mas tinha uma imensa poça de sangue aqui.

— Um assassino que não tem o mínimo cuidado de limpar as provas... Acho que não será tão difícil esse caso. Ela, então, deve ter sido jogada do terceiro andar e batido com a cabeça.

— Exatamente! O quarto de Beatriz estava meio bagunçado. O dela e do pai. Depois de ter levado as pancadas, foi lançada de cabeça no chão. Quebrou o pescoço com isso. Foi uma morte trágica.

— Então, parece que já temos a nossa primeira suspeita: Beatriz Drummond – afirmou ela, realizada.

— Vasculhando um pouco ao redor da área, eu encontrei algo interessante: Um pé de cabra manchado de sangue. No meio de um dos arbustos que estavam ao redor. A provável arma do crime!

— Excelente! Pancadas com um pé de cabra! Mais alguma coisa?

— Ah, e quando eu examinei a vítima, percebi que tinha algo curioso na sua... Bem, região vaginal – Disse ele, corado, olhando para ela.

— Ora, diga então! É o quê? – Ela questionou, aflita.

            Ele mordeu os lábios, e respondeu:

— Sêmen.

 


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Detestaram? Comentem o que acharem e digam suas teorias!
Até a próxima! o/