Fox escrita por IsaS


Capítulo 4
Capítulo 3º


Notas iniciais do capítulo

Oiii gente!
Segue mais um capítulo! Eu sei que tá enorme, tá meio massante e a nossa Ness tá meio ranzinza, mas as coisas começarão a mudar a partir de agora! Portante, continuem comigo! Aos lindos que comentaram: não tema, responderei logo mais!
Obrigada pelo carinho ♥



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CAPÍTULO 3º

 

                Entendi naquele momento que, talvez, não a tivesse notado direito. Ela parecia muito mais bonita de perto, o que eu achava humilhante. Meu look, de repente, parecia sem graça em sua frente e eu mexi em meus cabelos, muito mais envergonhada por estar vestida daquela forma infantil do que por ter, simplesmente, invadido o seu espaço. Não que eu achasse que Alice tivesse me arrumado melhor afinal, vestidos e saltos de quinze centímetros não ajudariam em minha insegurança.

                Ficamos nos analisando por outro minuto, enquanto sentíamos o choque passar. Consegui analisar mais seus curiosos traços, ela me lembrava das figuras que vi num livro de Carlisle sobre o Oriente Médio. Suas sobrancelhas eram escuras e delicadamente arqueadas acima de seus olhos castanhos e amendoados, que se curvavam delicadamente para cima nas laterais. Apesar de estar com os cabelos presos, como no dia anterior, notei o tom escuro deles e como seus fios eram ondulados, prendendo-se com o resto dos cachos num coque.

— Bem, isso é novo. – ela sorriu, surpresa. Sua voz era um pouco rouca, mas ainda sim soava como sinos. Seus dentes retos e levemente mais afiados formavam um sorriso simpático quando, por fim, conseguiu assimilar o que estava acontecendo.

— Pois é. – dei de ombros e me xinguei mentalmente por ter lhe dado uma resposta tão idiota. – Estou bem surpresa, pra falar a verdade. – tentei consertar.

— Como eu... – ela precisou reformular a frase, e eu ri um pouco enquanto ela balançava a cabeça negativamente, tentando colocar as ideias no lugar. – Como não te notei antes por aqui?

— Sou nova na escola. Comecei ontem. – fiz uma careta e sorri fracamente. Resolvi não mencionar meu surto de ansiedade ao tê-la visto, primeiro, ontem. Ela poderia achar que eu era uma psicopata que seguia as pessoas, pensei. Mas era como eu realmente me sentia, ué...

— Ah, isso explica... – ela pareceu ficar um pouco sem graça. – Sou Max.

— Renesmee. – estendi a mão para cumprimenta-la e ela a apertou levemente.  – Ou só Nessie.

— É um prazer... E obrigada! – ela riu, divertida.

— Obrigada? – perguntei confusa, enquanto recolhia minha mão.

— Sim! – deu de ombros. – Você me elogiou, certo?!

                Por um minuto, pela primeira vez na minha vida, esqueci-me de meu dom. Quando a toquei, só pensava como ela era realmente bonita. Sorri, sem graça.

— Ah, sim! – remexi meus cabelos nervosamente. – Esse é meu dom, e é meio desconcertante, ás vezes.

— Seu dom é elogiar as pessoas? – ela perguntou confusa, um sorriso quase iluminou seu rosto.

— Não! – disse alto demais, e me senti estúpida. Sorri e tentei não parecer tão envergonhada. – Não. Eu posso transmitir meus pensamentos através do toque. Imagens, sonhos, sons, o que for...

— Ah! – ela pareceu surpresa, mas logo sua expressão voltou a ser divertida. – Faz mais sentido, agora!

— Pois é! – estava ficando nervosa com o desconcertante silêncio que havia se instalado entre nós. – Está aqui porque chegou atrasada? – tentei puxar assunto.

— Sim. – ela bufou, descontente. – Minha moto quebrou. Não ligou nem com reza braba.

— Eita, que azar. – fiz uma careta. – Se precisar de carona, posso te levar para casa depois da escola. Se quiser, claro. – quase fiz outra careta pela falta de tato.

— Eu agradeço, mas não sei se vou aguentar essa baboseira até o ultimo período. – ela revirou os olhos e, de repente, estávamos conversando sobre o quanto a escola era um lugar chato para se estar.  

                Comparamos nossos horários de aula e só tínhamos aulas juntas de quinta-feira, e me animei por ser no dia seguinte. Falamos de música e descobrimos que tínhamos gostos parecidos, apesar de ela gostar mais de rock clássico do que eu. Depois falamos de roupas e ela elogiou meu suéter de raposinhas com um sorriso divertido nos lábios. Reparei que ela vestia jeans surrados, um moletom cinza por baixo de sua jaqueta de couro e os mesmos all stars vermelhos de ontem e, sinceramente, a elogiei por ficar tão bem vestida usando peças tão simples. Falamos de nossos relacionamentos. Mencionei Jacob sendo como “diferente do que ela acharia normal” no contexto em que vivíamos e ela riu.

— Eu não sei como alguém que precisa de sangue para viver pode ser normal pra você, mas sim, “namoro”. – ela quase fez uma careta, usando os dedos como aspas enquanto dizia a palavra ‘namoro’. – Ele se chama Zayn Mohammed. Ele é um vampiro árabe, e se intitulou meu namorado nos últimos três meses. Estou rezando o alcorão inteiro para que ele largue do meu pé e saia da minha casa, o quanto antes. – disse e rimos juntas.

                Ela era árabe, afinal, mas não entrou em detalhes sobre sua família ou o motivo de estar ali. Também achei melhor não comentar que, junto a mim, viviam mais oito vampiros e um lobisomem. Não queria assustá-la logo de cara porque eu sabia que uma família tão grande como a minha era vista, muitas vezes, como uma ameaça. Preferia mostra-la que, na verdade, minha família estava ali e que, juntos, éramos tão inocentes quanto flores do campo. Não fazíamos mal pra ninguém, sem contar os bichinhos que bebíamos, para nossa própria sobrevivência. Mudei de assunto e mencionei, indiretamente, minha dieta de sangue animal. Na verdade, eu estava curiosíssima sobre sua dieta peculiar comparada a minha e de minha família.

— Eu também caço. – ela deu de ombros. – Mas gosto de cozinhar e gosto de comer gordices humanas, ué!

— M-mas... – gaguejei, ainda meio surpresa por lembrar-me do dia anterior e sua satisfação enquanto mastigava aquele pedaço de boi. – O que acontece depois?

— Bem, - ela me olhou de loslaio percebendo, talvez, o meu choque com sua alimentação. – nada acontece. Nosso veneno queima a comida que deveria fazer digestão. E só. Nada de gases. Nada de ir ao banheiro...

— Ah! – eu me preocupava com isso, de verdade. Ela riu de minha insegurança, seus olhos puxados transformados em pequenas luas. – Sendo assim, até experimento um dia.

— Eu conheço um lugar que faz o melhor hambúrguer dessa aldeia esquecida por Deus, te juro! – ela juntou as mãos para enfatizar seu ponto de vista. – Posso te levar lá! Pelo menos, para que experimente algo que não se arrependa depois.

— Ei, eu adoraria! – eu não queria comer comida humana, mas adorei a ideia de estarmos planejando sair juntas.

                O sinal tocou, nos lembrando de que nosso primeiro período só havia começado e que, infelizmente, teríamos ainda mais duas aulas até o intervalo. Suspiramos juntas, com pesar.

— Eu gostei de te conhecer. – confessei e quase me bati por ter sido tão sincera assim, na cara dura. Ela sorriu.

— Eu também. – ela levantou-se e colocou sua mochila em seu ombro. – Nos vemos mais tarde, acho.

— Até mais tarde. – eu me despedi e ela caminhou em minha frente enquanto eu entrava numa sala que exibia um grande “22”.

                Fui a primeira a chegar ao refeitório, sentando-me na mesma mesa que no dia anterior, com apenas uma fruta em minha bandeja. Por algum motivo, pensei que se eu saísse primeiro, teria mais chance de identificar Max e chama-la para sentar-se conosco. Por isso, quando o professor de biologia finalmente abriu a porta da sala, segundos depois eu já estava passando por ela, torcendo silenciosamente que ninguém tivesse visto minha corrida fora do comum. De longe pude ouvir os passos suaves de Alice e Jasper andando abraçados pelos corredores, encontrando-se com meus pais e, por fim, os passos pesados de Emmet abraçado com Rosalie. Continuei roendo as unhas enquanto minha família pegava a fila da merenda escola, torcendo para que elas já estivessem grandes quando fosse encarar o segundo período para que, enfim, pudesse roê-las novamente.

— Não quero presenciar você comendo seus dedos. – Emmet sentou-se, sendo acompanhado pelo resto dos vampiros que haviam chegado, cada um carregando suas bandejas com comida.

                Às vezes eu me sentia mal pelo desperdício de comida que causávamos para fingirmos que éramos humanos.

— Deixe a criança em paz! Não vê que tá quase pulando da cadeira? – Rosalie repreendeu Emmet.

— Ah! Você falou com ela? – Alice piscou seus olhinhos de fada, como se não tivesse previsto o que havia acabado de me perguntar. – Estou curiosa! Nos conte!

— Sim. – respondi distraída. – Ela é super legal, é árabe, namora, é fã de Dio. – continuei procurando-a com os olhos, enquanto roía a unha do mindinho e respondia Alice de má vontade.

— Óia, Dio! – Emmet sorriu satisfeito. – Quem diria!

— Perguntou pra ela sobre o hambúrguer? – Jasper direcionou-me um sorriso divertido e eu assenti com a cabeça.

                Minha família continuava a sibilar comigo sobre a garota. Minha mãe estava com um sorriso no rosto, e parecia orgulhosa por conseguir fazer uma amizade. Meu pai parecia sentir o mesmo, apesar de ter captado em sua expressão o evidente incômodo por não conseguir ouvir aos pensamentos de Max. Meus tios continuam a me perguntar coisas sobre ela, como seu endereço, sua idade, onde trabalhava e se tinha algum poder especial, como eu. Fiquei sem graça de responder que sabia que ela gostava de rock clássico, mas não sabia nenhuma das respostas às perguntas mais básicas.

                Estava quase surtando de nervoso. Não havia qualquer sinal de Max e do palpitar familiar se seu coração por nenhum dos corredores ao redor da escola, ou pelo refeitório. Meu pai franziu o cenho ao notar minha aflição. Onde diabos ela está?, eu pensava, desesperada por sua ausência. Eu havia conversado tão pouco, e já havia sentido uma infinita afinidade por ela, como se tivéssemos que nos conhecer, como se ela tivesse que estar ao nosso lado, como se eu necessitasse de sua amizade pra continuar a encarar o dia-a-dia monótono naquela escola no fim do mundo. Eu já estava entediada no segundo dia de aula, do meu primeiro ano, e eu sabia que não aguentaria de tédio até me formar se não tivesse com quem conversar, se não tivesse uma companhia. E ela seria minha perfeita companhia. Ela era como eu!

                Mas ela não apareceu no intervalo, como não apareceu na saída. Eu tinha certeza absoluta: ela não havia gostado de mim. Entrei em meu carro e rumei para casa, sentindo-me ansiosa e chateada. Vi meu pai discordar de meu pensamento com o cenho franzido, enquanto entrávamos pela grande porta de mogno do casarão.

— Vamos sair pra caçar. – minha mãe entrou em meu quarto informando-me enquanto eu respondia a uma questão de biologia em meu caderno, movendo as mãos rapidamente. Eu havia começado o dever de casa faziam apenas cinco minutos e todos já estavam prontos. – Quer vir junto?

— Vou amanhã. – torci o nariz. A sede não estava me incomodando mais do que a sensação de abandono e desgosto que havia, melodramaticamente, passado na escola. Tentei parecer otimista para convencê-la. – Queria dar um pulo em Londres e comprar algumas coisinhas novas.

                Ela franziu o cenho, preocupada. Eu estava triste por deixar todos em casa meio tensos com meu mal humor. Todos pareciam viver envolvidos em como eu agia nos últimos dias e eu admitia, com um pesar mudo, que desde a mudança eu estivera ranzinza. As mensagens de Jacob não me confortavam e a saudade surgia, me deixando mais triste ainda. Conhecer Max não ajudou muito...

— Vai sozinha? – ela sentou-se em minha cama.  – Eu posso te acompanhar se quiser. Amanhã eu caço com Esme e Carlisle... – a ideia de caçar sem meu pai era visivelmente incômoda para ela e eu a toquei sorrindo.

 – Não precisa fazer isso. — transmiti o pensamento tranquilizador através de meu toque, com a imagem do meu desejo de pegar o trem sozinha e explorar a cidade, na tentativa de ficar mais relaxada. Sua expressão de pesar não mudou.

— Renesmee, você não precisa fazer tudo sozinha só porque Jacob está fora. – o rosto perfeito de minha mãe se iluminou com a sombra de um sorriso maroto nos lábios. – Ele estará aqui mais depressa do que imagina.

                Franzi o cenho, repassando mentalmente todas as mensagens que Jacob e eu havíamos trocado ontem, nas quais ele dizia que provavelmente demoraria um pouco mais. Leah e Seth estavam dando trabalho quanto sua mudança e eu tentei não culpa-los como, na verdade, eu estava fazendo. Toquei-a novamente.

— Prometo voltar cedo. — minha alegria de poder agir como uma adulta, sem ser tão mamãezada o tempo todo a convenceu, com um suspiro derrotado. Sorri abertamente quando ela me beijou na cabeça e se despediu.

                Joguei os livros de lado e tomei um banho quente, me protegendo do frio em seguida com uma calça de veludo preta e justa, botas de cano longo, uma blusa de lã branca com gola rolê e meu casaco cinza com bolsos. Prendi meus cachos ruivos em um rabo de cavalo e, novamente, tentei ser positiva em frente ao espelho: vou explorar a cidade, pensei com alegria. Desci as escadas correndo, com minha bolsa a tira colo.

— Já está saindo, querida? – Esme sorriu do sofá, com a cabeça deitada no colo de Carlisle, enquanto eu me remexia inquieta de uma perna a outra.

— Sim. – sorri. – Vou dar uma volta em Londres, mas não volto tarde. – prometi, dando uma olhada em meu relógio de pulso. Já eram duas da tarde, eu precisava correr para a estação.

— Cuidado, Ness! – Carlisle me olhou com preocupação.

— Tem certeza que quer ir sozinha? – Esme estava igualmente preocupada, e sentou-se para dar-me atenção.

— Claro, vai ser rápido e seguro. Eu prometo que ficarei bem. – eles me olharam desconfiados enquanto eu levantava a mão para enfatizar minha promessa. Abafei um suspiro, ser superprotegida era, definitivamente, um porre.

— Alice disse que não haveria problemas... – Carlisle pareceu refletir por um segundo, os olhos desfocando-se de mim por pouco tempo, voltaram-se mais decididos para meu semblante desanimado. – Tudo bem, Ness! Qualquer coisa, nos ligue.

                Dei um pulinho de animação, perguntando-me internamente se realmente era justo passar por aquilo. Eu já parecia uma adulta, não deveria ser tratada como tal? Dei um beijo nos dois e passei por Jasper correndo para a entrada de carros, jogando-lhe um beijo. Na verdade, eu estava correndo temendo que mudassem de ideia e que, quando estivesse próximo à saída, eles me parassem e me impedissem de ver as coisas do mundo. Era a cara de todos eles fazer algo do tipo. Andei depressa pelas ruas de paralelepípedo, comprei minha passagem para Londres depois de enfrentar a fila com impaciência e, quando finalmente entrei no trem, bufei com toda a demora.

                Duas horas mais tarde eu já estava em Londres, fascinada com todo o movimento daquela cidade. Tentei memorizar os cruzamentos próximos da estação de trem e, em seguida, foquei-me em descobrir o que aquela cidade poderia me oferecer de bugigangas. Eu já estava com o closet estourando de roupas, mas meu impulso consumista herdado indiretamente por Alice forçava-me – em momentos de grande tensão, como o que estava passando – a gastar, comprar, ter. Minha mãe não se orgulharia muito, pensei quando saía de uma loja, carregada de lingeries novas cheias de renda.

                Enquanto eu tentava me familiarizar com as ruas, percebendo que já não estava mais tão próxima da estação de trem, imaginei se Jacob gostaria de me ver com alguma daquelas lingeries. Senti o rosto queimar e imaginei que estava corando com a situação. Era bom pensar nisso sozinha, já que eu não tinha lá muitas oportunidades para isso. Tentava o máximo controlar meus pensamentos sobre sexo com meu pai por perto. Além de ser desconcertante – e muito, por sinal -, era algo particular e que, com certeza, o deixava aborrecido por saber. Apesar de nunca realmente termos transado, Jacob e eu estávamos namorando e eu sabia e queria que esse dia chegasse logo. Eu nunca havia tido a oportunidade de perguntar se, de fato, ele me queria, mas eu podia imaginar que sim. Jacob não controlava os pensamentos como eu, o que já foi motivo para brigas entre meu pai e ele, tanto no passado quanto agora.

                Distraí-me completamente com esse pensamento e, atrapalhadamente, percebi que havia andando para mais longe da estação. Os cheiros no ar não eram mais amadeirados, com um toque de café e da poluição dos carros e dos ônibus vermelhos. Era um cheiro úmido, acre e nojento. Estou perdida, pensei enquanto olhava meu relógio de pulso e fazia uma careta. Já iam dar seis horas. Andei para o lado oposto que eu estava indo, na esperança de encontrar os cruzamentos que havia memorizado próximos a estação. O dia começou a escurecer e eu apressei o ritmo quando escutei passos atrás de mim.

                Eu sabia que poderia muito bem apenas virar e, com um simples golpe, deixar meu tolo seguidor desacordado. Mas eu não queria chamar a atenção – não que houvessem realmente pedestres na rua aquela hora. Não corri, não gritei, não fiz qualquer movimento brusco quando meu seguidor puxou meu casaco e me empurrou para um beco próximo. Apenas pensei no azar daquilo tudo. Pensei em Alice enlouquecendo, prevendo esse incidente e deixando todos em casa malucos de preocupação. Gemi com esse pensamento e o meu agressor pareceu gostar daquilo, provavelmente achando que sua intromissão violenta teria me machucado. Coitado!

— Hey, bonitinha. – não me concentrei em seu rosto, mas senti o odor de álcool que emanava dele. Fiz uma careta de repulsa enquanto ele me prensava na parede. – Se você não gritar, vai doer menos.

                O quê? O quê?  Eu não me incomodaria com um roubo estúpido mas, estupro? Isso, por acaso, era um castigo por eu ter pensado em sexo com Jacob, era isso Universo???

                Soltei um grunhido, de repente com um ódio mortal daquele maldito homem em minha frente. Eu estava pronta para me defender – já havia visto muitas vezes meus familiares lutando entre eles para ter aprendido alguma coisa útil. Considerando que eu lutaria com um humano, deveria ser mais fácil, pensei. Ensaiei mentalmente meus golpes em apenas meio segundo: empurra-lo com força o suficiente para que batesse a cabeça na outra extremidade do beco; intercepta-lo por trás enquanto lhe sufocava o suficiente para fazê-lo desmaiar; arrancar seus testículos em apenas um puxão – tudo isso segurando minhas sacolas. Mostrei os dentes, com um som áspero saindo de minha garganta, pronta para atacar, enquanto o homem a minha frente com a barba por fazer pareceu hesitar. Medo, pensei satisfeita. Dobrei levemente os joelhos colocando-me na posição para, finalmente, empurrá-lo. Então ele sumiu da minha frente. Ele simplesmente se fora.

                Pisquei confusa. Que porra foi essa?, pensei. Na escuridão do beco, nenhum humano conseguiria enxergar Max nocauteando aquele infrator sem piedade, em apenas dois segundos. Escutei um barulho seco e fiz uma careta: com certeza ela quebrara-lhe o maxilar com apenas aquele soco. Enquanto eu ainda estava encostada na parede, tentando lidar com o choque daquele acontecimento repentino, eu a ouvia no celular.

— Gostaria de informar um homem ferido. – ela passou o endereço para a polícia com tranquilidade e desligou o aparelho assim que pediram seu nome. Em meio segundo estava em minha frente, os olhos brilhando pela adrenalina.

— Como você... – comecei uma pergunta mas ela me interrompeu, parecendo brava.

— Que diabos faz aqui? – aquele tom incisivo irritou-me levemente. Seus olhos suavizaram minimamente. – Você tá bem?

— Estou ótima! – exclamei. – Eu ia arrancar os testículos do sujeito, mas você me atrapalhou.

— Como é? – ela levantou as sobrancelhas, de repente querendo rir. Bufei com mais raiva ainda.

Se eu quis algum dia que Max fosse minha amiga, eu me arrependera naquele instante. Estava putíssima por ter atrapalhado minha cena de luta inspirada em meus tios e filmes de kung fu. Como se não bastasse ser mais bonita, arg!

— Isso mesmo que você ouviu. – bufei. – Afinal de contas, o que você faz aqui? – perguntei incrédula com sua postura rude.

— Eu trabalho aqui perto! – ela resmungou. – Vamos embora antes que chegue alguma viatura e você queira arrancar os testículos das autoridades, também.

                Caminhamos juntas, parecendo estar ambas tão irritadas que simplesmente fizemos um silêncio mortal até chegarmos à estação de trem. Compramos nossas passagens e sentamos lado a lado, mesmo extremamente irritadas uma com a outra. E, apesar de estar puta da vida com Max, ter falado com ela pela segunda vez no dia era reconfortante. Admiti isso com pesar.


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Notas finais do capítulo

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