O Dia dos Namorados era uma merda. Uma merda ainda maior quando seu namorado te larga por uma garota virtual. E a merda das merdas era a garçonete do Leaky Cauldron os encarando como se fossem seu novo OTP.
Pelo amor de Deus, James Potter não era seu namorado! Lily tinha raiva só de pensar em todas as vezes que Marlene a havia jogado pra cima dele e cada vez que Alice e Tonks a olhavam “inocentemente” e diziam que eles agiam como namorados.
Quer dizer, melhores amigos de infância se abraçavam com frequência. E iam assistir filmes românticos no cinema. E diziam que se amavam. E dormiam abraçados no sofá assistindo O Hobbit. Certo? Certo!
Logo, Lily Evans passaria o Dia dos Namorados com James Potter, seu melhor amigo, e ignoraria a voz em sua cabeça (que soava demais como Marlene) que dizia que eles faziam coisas que amigos não faziam. Eles iriam assistir Piratas do Caribe no cinema. E ele iria abraçar Lily enquanto ela chorava como a manteiga derretida que era em alguma cena mais emocional. E eles iriam jantar comida de qualidade no Leaky Cauldron, e comer aquela torta de mirtilo maravilhosa que só existia lá. E eles continuariam como sempre foram: amigos.
— Então, Lily Manteiga Derretida Evans, você realmente me surpreendeu! Não somente foi capaz de chorar em Piratas do Caribe como foi capaz de chorar na primeira cena! – falou James a encarando enquanto mordia o pedaço de pizza em suas mãos como o selvagem que ele (e todos os seus amigos tirando Remus) era.
— Você não pode me culpar! Eu achei que o menino ia se suicidar! – falou Lily cortando sua pizza com garfo e faca e revirando os olhos ao ouvir a garçonete que já os atendera e uma outra desconhecida discutirem se ela e James eram mais como Ariel e Eric ou como Anastácia e Dmitri. Esse povo não tinha mais o que fazer não?
— Lily, você começou a chorar no símbolo da Disney! – acusou James.
— Não comecei não! - defendeu-se a ruiva.
— Diga o quanto quiser, Lilypad! Eu vi lágrimas nos seus lindos olhinhos verdes! – falou James usando aquele apelido ridículo que ela tinha quando criança.
— Acho que você precisa arrumar o grau do seu óculos, Jamesie! – devolveu Lily. Se era pra usar apelidinhos ridículos, ele podia começar, porque ela tinha muita criatividade, talvez não tanta quanto Sirius, mas tinha.

— Você é impossível, Liriozinho. Já acabou a pizza? Porque eu estou pronto pra sobremesa! – declarou James erguendo a mão pra chamar a garçonete.
A garota, no crachá​ estava escrito o nome Erin, se aproximou e sorriu.
— Olá pombinhos! Aproveitando o encontro? – perguntou Erin. – Vão pular pra sobremesa? Hoje temos morango com chocolate!
Lily grunhiu e revirou os olhos. Aquela adolescente de óculos vermelhos estava muito inxerida.
— Vamos querer duas tortas de mirtilo por favor. – pediu James com seu típico sorriso galanteador e a menina corou violentamente.
— Ahn... Ehh... Claro! – falou a garota desconfortável. Pela cara dela dava pra ver que ela tinha no máximo 16 anos e nunca tinha ganhado um sorriso galanteador de um cara bonito como James. Toda atrapalhada, Erin voltou correndo pra cozinha puxando sua amiga pelo braço no caminho.
— Coitada, James! Você deixou a menina desconcertada! – brigou Lily, mesmo que estivesse rindo internamente da reação da adolescente.
— É o Efeito James Potter! Eu não posso evitar! – justificou bagunçando os cabelos e mexendo em sua mochila jogada ao seu lado no banco. De repente, a expressão dele migrou de confiança pra leve desespero. – Aí não!
— Nossa, o que foi? – perguntou Lily rindo. – Achou uma bomba aí? Ou é só um sanduíche de bacon do mês passado?
— Lily, a minha carteira sumiu. – afirmou James e se encolheu pois sabia exatamente o que viria a seguir.
— COMO É QUE É, SEU IRRESPONSÁVEL? O MEU DINHEIRO SÓ DA PRA PAGAR A REFEIÇÃO, SEM SOBREMESA! E NÓS VIEMOS SÓ POR CAUSA DA SOBREMESA! – gritou Lily sussurrando para não chamar atenção.
— Liriozinho, vamos pensar em alguma coisa! Não jogue o Efeito Lily Evans em mim! – pediu James, mas não obteve sucesso em desviar de si a expressão furiosa de Lily.- Lily, Lils, Lilypad, Lilyzinha...
— Pra você é Evans, Potter! – Lily falou a frase que povoou a adolescência de ambos no período em que James namorou Emmeline Vance.
— Eu já falei, Evans Potter só quando a gente se... – James começou a responder automaticamente e então pareceu ter alguma ideia genial. – Casar! É isso, Lils! A gente tem que se casar!
— Se os dois estiverem solteiros aos trinta, sim, esse era o trato. – falou Lily sem entender onde diabos James queria chegar.
— Não! Não é isso! Eu estou falando da estratégia mais incrível possível pra gente conseguir sobremesa grátis! – contou James empolgado e encarou o anel que Lily ganhou de seu pai quando fez 16 anos. – Tira o seu anel, Lils!
— Você é doido. – afirmou Lily, mas entregou o anel de brilhantes pra ele.
No momento em que a garçonete saiu da cozinha com as tortas, James se ajoelhou na frente de Lily estendendo o anel e todos no restaurante olharam para os dois.

— Lily Evans, eu não me lembro de um momento na minha vida onde você não estivesse lá comigo. O seu cabelo vermelho, o seu sorriso aberto, as sardas que você cobre com maquiagem por mais que eu insista que não deve fazer isso e a minha parte favorita, essa dupla de esmeraldas que você chama de olhos. – declarou James e sussurros se espalharam pela clientela e funcionários do Leaky Cauldron. – Eu nunca vou aprender como viver sem você Lily, porque nunca houve um momento em que você não fizesse parte da minha vida. E isso é porque sem Lily Evans não existe James Potter. Casa comigo, Lily?
Ela não esperava por aquilo. Aquilo sim era demais. Aquela declaração maravilhosa fez a Srta. Manteiga Derretida Evans se desmanchar em lágrimas, e por um momento ela se pegou desejando que fosse real. Por um momento ela quis que ela é James não fossem só amigos.
— Lily? – chamou James e ela percebeu que todos aguardavam sua resposta.
— Sim. – foi a única coisa que saiu, e o Leaky Cauldron explodiu em aplausos e vivas enquanto James abraçava Lily.
Ela ouviu em algum lugar bem distante a garçonete dizer que não só a sobremesa, como também a refeição, eram por conta da casa, mas Lily não prestou atenção. Estava mais ocupada abraçando James com força e sentindo o cheiro amadeirado do seu perfume. Estava mais ocupada sussurrando algo no ouvido do melhor amigo que ela já não queria que fosse só amigo:
— Sem James Potter também não existe Lily Evans.