IV escrita por Ane


Capítulo 5
Taehyung




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— Por que que você tá tão quieto hoje, Taehyung?
          Era quase fim de tarde quando o grupo de três amigos andava pela calçada, já há alguns minutos longe da escola. O mais velho fora o que havia falado, levantando um pouco a sobrancelha enquanto encarava o amigo que em dias normais estaria provavelmente falando sobre o último episódio do anime que havia assistido na noite anterior (pela terceira vez no dia), ou sobre o tempo que ele havia demorado para aprender alguma música no saxofone, ou principalmente sobre o seu plano de se tornar um artista em um futuro que ele desejava que fosse próximo (em dias normais ele falaria sobre isso quase cinco vezes em diferentes momentos). Mas lá estava ele, mesmo que com o queixo erguido e confiante como sempre, calado e pensativo. O outro amigo, ao lado direito de Taehyung, concordava com um pequeno murmúrio e ambos estavam agora olhando para ele, esperando uma resposta.
— Talvez seja a puberdade… – com suas mãos entrelaçadas na parte de trás de sua cabeça, Taehyung continuava olhando para o horizonte.
          Ele estava falando sério ou só fazendo uma piada? O amigo da direita formou um pequeno ponto de interrogação em sua mente, às vezes ele não conseguia diferenciar; enquanto isso, o outro apenas revirava os olhos e dava um alto suspiro.
— Algum plot twist no episódio de ontem daquele tal anime que você tá falando faz quase um mês? – O amigo mais velho, à sua esquerda, perguntou novamente, ignorando a resposta anterior.
— Na verdade sim, e um grande plot twist pra ser sincero, mas esse não é o ponto. – Taehyung respondera, apontando o dedo para ele.
— Sério? Qual foi? Eu não assisti ontem… – O outro amigo perguntava curioso, mas Taehyung apenas tirou algo do bolso de trás e parou dramaticamente na frente dos dois, mostrando um papel que parecia um folheto.
— Uma...audição…? – O mais velho lia encolhendo um pouco os olhos.
— Você vai fazer outra audição? Eu nunca tinha ouvido falar dessa tal Big alguma coisa... – O outro dizia pensativo.
— Eu não vou fazer uma audição. Bem... talvez, mas na verdade eu só tava querendo passar por lá para ver o lugar, ver como funciona e tudo mais… até porque eu nunca tinha ouvido falar dessa empresa por aqui…
          Os dois amigos se olharam por alguns segundos e então olharam para Taehyung de novo. Eles não pareceram muito convencidos com a sua resposta.
— Pensei que depois da última vez você não iria mais tentar ir para nenhuma audição… – O mais velho começou.
— Eu disse que eu não vou… – Taehyung iniciou, mas logo foi interrompido.
— Que eu me lembre, na última vez você não ficou… muito bem depois que não passou. – O outro dizia com um olhar preocupado, enquanto Taehyung revirava os olhos. – Ficou tocando músicas tristes no seu saxofone por umas três semanas…
— Eu nunca pensei que dava pra tocar Sadness and Sorrow do Naruto em saxofone… – O mais velho pensou alto, e o outro concordou com ele.
— Olha só, eu só tava querendo passar por lá e eu queria saber se algum de vocês quer ir comigo. – ele falou, um pouco mais sério do que o normal, tentando ignorar as risadas dos dois.
— Não vai dar pra mim, eu vou ter que estudar. – disse o mais novo.
— Minha mãe me deixou de castigo por umas duas semanas então… da escola pra casa. – dizia dessa vez o mais velho, mas Taehyung sabia que isso era provavelmente uma desculpa.
— Eu vou sozinho então… – Ele encolheu os ombros e guardou o folheto no bolso novamente.
— Você não acha que deveria deixar isso tudo de lado por um tempo? – o mais velho iniciou – Quer dizer, você não engana ninguém Taehyung, é claro que você não vai passar lá só para olhar. Eu só acho que… – suspirou – eu não quero que você se machuque de novo por esperar demais. Às vezes as coisas só não acontecem e sei lá, talvez a gente só deve deixar pra lá às vezes.
          O outro levantou a sobrancelha e concordou com a cabeça, apesar de parecer um pouco incerto se deveria.
          Taehyung olhou para os dois e sorriu. Apesar da aparente descrença de ambos, ele sabia que eles só estavam preocupados.
— E eu agradeço pela preocupação, meu grande amigo. – ele pôs a mão no ombro do outro e enfatizou essa última parte um tanto teatralmente – Só que, como eu disse quase um milhão de vezes, eu vou lá só para ver. E mesmo se eu por um acaso super distante fizer uma audição, o que é impossível já que eu não tenho autorização dos meus pais, eu não posso desistir, não é? Se eu quiser ser um artista, o que eu vou ser, eu tenho que fazer outras audições no futuro. Se eu for olhar para todas as vezes em que eu me machuquei, eu nunca mais sairia de casa e nem tentaria mais nada na vida. – suspirou e então cruzou os braços, enquanto olhava por cima da cabeça dos amigos com um ar de reflexão – Eu acredito que quando a gente tem um sonho, a gente tem que  se esforçar pra poder pelo menos tentar realizá-lo… E de qualquer forma, – olhou para eles novamente – eu vou acabar me machucando algum dia, mesmo que simplesmente tropeçando na rua. Até mesmo se eu me tornar um cantor, eu vou acabar me machucando também em algum momento. Mas pelo menos vai ser fazendo algo que eu gosto. E se, novamente se, – enfatizou – eu fizer uma audição hoje, ou amanhã, ou ano que vem e receber outros milhares de “nãos”, ainda sim… acho que eu vou continuar tentando. Acho que eu já me acostumei tanto com os “nãos”, que eu talvez nem fique tão triste em ouvir outro novamente, então não se preocupem comigo.
          Taehyung abriu um sorriso para os dois.
          O amigo mais novo continuou olhando para ele, com um certo pesar. Taehyung era realmente um amigo que ele admirava e que gostaria de pelo menos ter um pouco do seu espírito, que mesmo em momentos ruins, parecia alegre e confiante. O mais velho, talvez até o admirasse mais, mas não gostava de demonstrar. Ele sabia que Taehyung iria tentar fazer mais uma audição, apesar dele negar, e mesmo que ele dissesse que não iria se incomodar em não passar novamente, nos dias que seguiam a uma audição falha, como o outro havia apontado, ele sempre acabava mostrando tristeza, por mais que tentasse o contrário. Ele era tão transparente que mesmo que quisesse esconder, não conseguia, e isso era mil vezes pior do que vê-lo tagarelando sem parar sobre algo que ele gostava. Respirou fundo e por um instante demonstrou o mesmo afeto no olhar como o mais novo mostrava à todo momento.
— Sabe… ás vezes você fala umas coisas tão profundas e bonitas que nem parece você, pra ser sincero. – O mais velho disse, em um suspiro.
          O mais novo sorriu e pareceu concordar, enquanto Taehyung encolheu os olhos e se virou novamente, fingindo estar ofendido.
— De qualquer forma, eu vou lá… como eu disse, só pra ver como é. – começou a andar, fazendo com que o amigo mais velho revirasse os olhos novamente.
— Será que se você passar dessa vez você para de ficar falando todo tempo que vai ser um artista famoso e ter muito dinheiro e coisa assim? – O mais novo chegou mais perto e se pôs a direita de Taehyung novamente.
— Se ele passar, aí é que ele vai ficar falando mais ainda. – o outro dizia enquanto ria e ajustava a bolsa pesada nos ombros, aproximando-se à esquerda dele como antes.
          Taehyung já nem ficava tão irritado com a insistência dos amigos, apenas ria, mesmo não querendo.
— Eu já falei que eu não vou… ah quer saber, desisto.
— Sua mãe tá sabendo que você vai visitar essa tal empresa? – perguntou o mais novo.
— Sim, e inclusive, ela acredita em mim. – Ele parecia irritado, mas os dois amigos riram novamente.
— Enfim, eu dobro ali na próxima esquina então, até amanhã galera. – Taehyung pôs cada braço nos ombros dos dois e os apertou como em um tipo de abraço. – Perderam a chance de eu pagar um sorvete pra vocês. A próxima vez que eu vou fazer essa caridade é só daqui há um milhão de anos.
          Os três riram juntos e, logo depois de cumprimentá-los, Taehyung seguiu o seu caminho e depois de alguns passos dobrou uma esquina.
— Ele vai acabar fazendo uma audição, de alguma forma não é? – dizia o mais novo.
— Com certeza. – o outro respondera com um sorriso e os dois logo voltaram a caminhar novamente.




— Então mãe… Lembra que eu disse pra senhora que eu iria dar uma volta por aí e passar naquela empresa, só pra tirar umas dúvidas e etc?
          Taehyung falava com o celular junto de seu ouvido, tentando formular cada palavra com cuidado enquanto se esforçava para soar o mais simpático possível, como se fosse pedir algo para a mãe. Ela, no outro lado da linha prevendo o que viria, apenas suspirava e murmurava de vez em quando para que ele continuasse. Inclusive já até estava esperando uma ligação do tipo.
— Então, – prosseguiu – eu tava andando por aqui e uma moça me parou e falou “nossa porque você não tentar fazer uma audição? nós estamos aceitando. Você tem cara que seria um grande artista...” e eu respondi  “ah muito obrigado! Mas eu não tenho autorização dos meus pais aqui…” aí ela perguntou “por que não tenta ligar para um deles para eu poder conversar?” aí eu pensei “ué, porque não?” e ela me emprestou o celular e agora eu… tô aqui falando com a senhora.
— Taehyung… – ela começou, e Taehyung sentiu que fosse ser repreendido.
— Eu sei que eu falei que não ia, mas… ela foi tão educada e gentil que…
          Olhou para trás e viu a moça segurando uma prancheta, logo atrás de uma mesa improvisada, observando-o com um olhar esperançoso e curioso. Taehyung sorriu para ela e então virou-se novamente.
— Não deu pra negar… – continuou em um sussurro.
          Taehyung passou mais algum tempo no telefone tentando convencê-la, enquanto a moça vez ou outra o espiava só para ver ele repetir uma série de “eu sei…” ou “é a última vez…”, suplicando cada vez mais. Depois de um tempo, ele virou-se para ela novamente, dessa vez com uma expressão mais animada que logo seguiu com ele entregando o telefone sussurrando um animado “deu certo”. Em seguida, a moça passou a falar com a sua mãe, anotando vez ou outra alguma informação e esclarecendo para ela todo o processo que ela já conhecia muito bem, enquanto Taehyung respirava fundo e murmurava para si mesmo que dessa vez tudo daria certo, com um sorriso. Não estava nervoso, nem tremendo, e nem tudo o que costumava sentir normalmente nesse tipo de situação. Algo lhe dizia que dessa vez poderia dar certo.
           A moça desligou o telefone depois de alguns minutos e olhou para ele, com um sorriso.
— É isso, então. Vamos lá? – disse ela, pegando alguns papéis da mesa.
  Empolgado, Taehyung concordou com a cabeça e a seguiu logo em seguida. Estava confiante. Talvez naquele dia, depois de tanto tempo, poderia ouvir um “sim”. E mesmo que não, como havia dito para seus amigos, ainda não desistiria.
           Era seu sonho, afinal.


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