Harry Potter e a Senhora do Tempo escrita por Mimis


Capítulo 30
A história de Sibila




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Harry se pegou rindo. Parecia que fazia muito tempo que não ouvia algo tão absurdo e ridículo. Ao seu lado Rony já não tentava abafar o riso e até Hermione pareceu abandonar o ar preocupado quando se dirigiu à ex-professora.

— Francamente Trelawney, FRANCAMENTE...Filha de Alberforth Dumbledore? FILHA?! Ora eu...eu não tenho nem como argumentar com a senhora....

Sibila Trelawney encarou lentamente os três bruxos à sua frente. Ao se fixar em Harry, este porém percebeu que ela estava realmente lúcida, e podia ver o enorme esforço que isso exigia. Conjurou uma xícara de chá com um pires desparelhado, e a entregou ainda fumegante para a velha bruxa. Ela aceitou, ainda séria, sorvendo o líquido lentamente. Os amigos esperaram, embora Harry reparou que Hermione mexia nervosamente as mãos. Após tomar todo o chá ela sacudiu a xícara três vezes, virando-a de borda para baixo. Virou-a novamente para cima e espiou alguns segundos seu fundo. Deu um risinho audível – o que fez Hermione fungar irritada – e ajeitou-se na cadeira:

— Certo meus queridos, sentem-se! A história será boa, lhes garanto.

“Nasci e me criei aqui em Mould-in-the-Wold. Um povoado com muito bruxos, trouxas são raras exceções. Esse povoado já foi muito importante para o mundo mágico, muitos dos grandes bruxos nasceram aqui. Inclusive, e tenho certeza que vocês sabem, Alvo Dumbledore. Essa bela propriedade é da minha família a gerações, a grande Cassandra Trelawney morava e dava consultas aqui, sendo esse povoado muito famoso por causa dela inclusive. Desde pequena adorava brincar no quintal enorme, observando as borboletas e caçando gnomos. Sempre soube que tinha essa comunicação com as artes místicas e não era uma criança muito sociável, até para os padrões da minha família. Desde muito pequenina tinha apenas uma amiga: Ária. Éramos vizinhas de quintal, e nossas famílias eram relativamente unidas. Ela era filha única, sua mãe Lornna Jordan era uma mulher mesquinha, um pouco burra e medrosa e vivia da fortuna da família, uma combinação bem explosiva, e claramente não ligava para a filha, Até eu ter uns 9, 10 anos achava que minha querida amiguinha não tinha nem pai pois não falava dele, não falava nada sobre toda sua família, desde pequena eles não eram importantes para Ária. Ela sempre se importou apenas consigo mesma, e eu descobri isso tarde demais. Era extremamente bem resolvida com isso, ainda mais quando percebeu o quão poderosa era; para meu desgosto porém tinha muito receio de seus poderes, eu ao contrário adorava expor meus dons mediúnicos, que haviam se manifestado desde cedo.

E um dia, algumas semanas antes de irmos para Hogwarts, seu pai apareceu. Eu e todo o povoado ficamos enlouquecidos quando soubermos que Ária era filha de Alberforth Dumbledore, portanto sobrinha do poderoso Alvo Dumbledore. Ela também, inclusive. Parecia que toda essa aura especial que ela parecia emanar finalmente fazia sentido. Ária ficou bem mais feliz de fazer parte da família Dumbledore do que ter um pai. Ele não era importante, e sim seu legado. Mas não foi exatamente como ela queria. Alberforth proibiu veemente a ida de Ária para Hogwarts, provavelmente por causa do irmão famoso e das desavenças que haviam entre eles. Falou que iria ser o responsável pela educação mágica da filha. Ária ficou realmente magoada, tudo o que queria era aumentar sua fonte de saber para se tornar uma grande bruxa quando crescesse. Ela já era uma excelente bruxa autodidata, procurando saber tudo o que podia por si própria. Seu pai então avisou que ficaria no povoado o máximo possível para ensinar a ela o que precisasse, mesmo ele não sendo professor.

Sem alternativa ela entregou todo o seu saber à esse pai ausente que mal conhecia.

Logo eu embarquei para Hogwarts, e durantes os anos seguintes trocávamos cartas regularmente. E a tristeza e ressentimento que Ária sentira pelo pai não tê-la deixado ir até Hogwarts deu lugar à animação por estar sendo sua pupila. Ele estava ensinando-a de uma maneira que estava deixando-a maravilhada. Alberforth era um bruxo muito poderoso e com um conhecimento fora do comum, segundo a própria Ária me contava em suas cartas. Aprendeu entre outras coisas, a odiar o tio Dumbledore, odiar bruxos sedentos pelo poder que só faziam o mal. Alberforth achava, creio eu, que ensinando a filha longe de seu irmão, e de bruxos das trevas como Grindewald ou mesmo Você-sabe-quem, que Ária estaria sendo bem instruída. Ledo engano. Ària cresceu odiando quem não precisava e desconhecendo o mal que deveria conhecer, para se proteger e até combater. Alberforth também não conhecia a filha realmente, essa falta de empatia por todos e sede de conhecimento, e na verdade não achou importante conhecer, desde que pudesse transmitir seu legado. 

Mas mais ou menos na época que fez 16 anos, Alberforth a deixou simplesmente, sem motivos ou desculpas. Foi para Hogsmeade e reabriu o Cabeça de Javali, mesmo sempre falando impropérios sobre o irmão e desejando distância dele. Apenas quando já lecionava em Hogwarts soube que tinha estado ao lado do irmão contra Voldemort, nas duas vezes em que este reassumiu seu poder. Sempre foi um bom homem, aquele Alberforth, até conseguiu minha entrevista de emprego com Dumbledore depois que fiz uma ou outra ameaça sobre ter deixado sua filha desamparada. Tinha defeitos, claro, mas amou Ária do seu jeito, passando a ela tudo o que podia ou achava que deveria.

Ária, em contrapartida, ficou transtornada com sua partida. Não pelo lado afetivo, reconheço. Mas por todo aquele conhecimento que estava adquirindo, por aquelas magias e encantamentos que ela sabia que eram únicos e que só ela estava aprendendo sendo abruptamente tirado dela. Sua mãe não gostou nada dessa reaproximação de pai e filha, pra começo de conversa tivera apenas um breve relacionamento com Alberforth, bem mais velho que ela. Queria apenas que ele se casasse com ela para ter seu nome, que naquela época já era famoso por causa de Alvo Dumbledore. O que obviamente não aconteceu. Antes mesmo do próprio Alberforth deixar Ária, Lornna Jordan foi se juntar à parentes na Irlanda, com a desculpa de que voltaria dentro de um ano ou dois. Nunca voltou.

Nesse período as cartas de Ária ficaram mais espaçadas. Ela nunca se interessou em procurar o pai, ou mesmo o tio Dumbledore. Até hoje tenho minhas dúvidas que Alvo Dumbledore tivesse conhecimento sobre a sobrinha, acho que ele e o irmão nunca voltaram a serem próximos a ponto de Alberforth falar sobre ela. Na verdade não sei até hoje por onde Ária andou, o que fez, com quem esteve. Quando me formei em Hogwarts fui visitada pelo cupido e me apaixonei por um bruxo, a ponto de me casar. Sabia que estava pondo meus dons únicos de lado, mas o amor falou mais alto. Durante esse período turbulento em minha vida Ária praticamente sumiu, perdemos todo o contato. Só voltamos à nos falar logo depois que entrei para Hogwarts como professora, um belo dia recebi uma coruja dela marcando um encontro no Cabeça de Javali, lugar em que estava hospedada. Não sei o que mais me espantou: sua volta repentina ou mesmo o lugar que estava já que sabia da relação entre pai e filha, ainda mais naqueles tempos funestos. Ao chegar me deparei cum uma Ária radiante, no auge da beleza e emanando um poder que me fez tremer, eu sentira isso. Cheguei a achar que era uma Comensal, mas ao comentar isso ela apenas gargalhou, como se eu tivesse dito algo extremamente ridículo. Você-sabe-quem nunca a seduziria com suas promessas de poder e sangue puro. Ela não ligava pra isso, ela já tinha tudo o que ele poderia oferecer a ela. Ária era mais selvagem, mais inteligente e mais autossuficiente que esses bruxos das Trevas. Pra ela não existia bem nem mal, apenas o poder e o conhecimento que levavam a ele. O que ela queria então comigo, uma simples bruxa com dons místicos? O que todos querem, claro: uma profecia. Não sei como ela soube da profecia que tinha feito há alguns meses, naquele mesmo lugar. Tentei argumentar que não era fácil assim, simples como conjurar um feitiço. Ária não me ameaçou nem nada do tipo, apenas olhou bem nos meus olhos e disse: “Eu espero o tempo que precisar Sissy querida, mas eu tenho certeza que uma bruxa como eu será presenteada com uma profecia. E quando ela vier eu saberei.”

Não dei muito ouvidos à ela confesso, achei que estava se levando a sério demais. O tempo passou, muitos e muitos anos. Guerras bruxas começaram e terminaram, e eu decidi que era hora de me aposentar, voltar para minha casa, quem sabe procurar por meu velho amor e ter meu merecido descanso. Dias depois de retornar à Mould-in-the-Wold minhas vozes interiores começaram a ficar inquietas, o plano astral com certeza queria se comunicar novamente comigo. Não vou entrar em detalhes queridos, porque sei que vocês com certeza não entenderiam.

E uma noite ela novamente apareceu. Estava mais poderosa que nunca, mais culta e determinada. Podia sentir que eu estava prestes a lhe dar o que queria. Eu fiquei em pânico, sabia que ela tinha se transformado num monstro. Não sei o porquê mas queria ser chamada de Senhora do Tempo. Mas eu estava velha, e consumida pela bebida. Naquele dia particularmente tinha me excedido um pouco, o que talvez foi minha salvação, pois ela percebeu que naquele estado não lhe faria profecia alguma. Tão rápido quanto apareceu ela desapareceu novamente, me deixando em pânico claro pois poderia voltar a qualquer minuto. Não sem antes me deixar numa espécie de maldição Imperius: eu não podia sair, não podia falar com ninguém, podia ser apenas eu mesma aqui na minha propriedade, sendo prisioneira apenas para lhe dar sua tão sonhada profecia.

Ela então voltou a morar em sua velha casa, magicamente protegida para ninguém saber que estava lá. Eu não entendia muito bem o que pretendia, ela oportunamente me servia de um estoque de xerez que eu jamais imaginava ter, achando que teria muito mais controle sobre mim. Nos meus raros momentos de lucidez a via enviando cartas, estranhíssimas, sempre assinando S.T.; ela mesmo me contava coisas que não faziam sentido, mas que envolviam muitas vezes você Harry Potter.

Quem diria que meu bom xerez e meu velho Higglebottom pudessem ter me salvado. Há alguns dias ela simplesmente desapareceu, e não voltou. Quando consegui ter uma consciência de mim mesma novamente, mandei um mensagem para meu bom ex-marido, o único em quem confiava, e ele apareceu, também consumido pelo tempo e pela bebida. Transtornada por tudo que estava passando e em pânico que ela voltasse, finalmente meus dons se manifestaram e fiz uma nova profecia. E algo realmente surpreendente aconteceu: a profecia não foi completada. Não sei exatamente a razão a única coisa que consegui fazer foi entrega-la a Higglebottom para que ele o encontrasse Harry. Rezei tanto para que ele fizesse algo certo e, ora ora, parece que aqui estamos!”

Sibila Trelawney terminou sua narrativa parecendo extremamente feliz. Harry olhou para Rony e Hermione, que estavam ainda observando muito sérios a antiga professora. Ela de repente levantou-se e começou a remexer nervosamente nas garrafas empoeiradas, com certeza à procura de alguma ainda cheia. Hermione ainda parecia absorta em pensamentos, mas Rony finalmente disse baixinho.

—Ária Dumbledore...Ária Dumbledore...Uma nova bruxa das trevas...E está atrás de você colega, como se você fosse o único bruxo realmente interessante a se desafiar.

Harry sorriu para o amigo, sem muita convicção. Ele mesmo estava tentando processar todas essas informações, essa bruxa perdida da linhagem dos Dumbledore, sedenta por poder e sem motivações aparentes. Sabia que aquela velha bruxa não era exatamente uma fonte confiável, mas tinha algo que não saia de sua cabeça e ele tinha que pelo menos tentar.

— Trelawney! Sibila Trelawney! Aqui, professora, olhe pra mim! – Harry a encarou novamente, sério. A bruxa o olhou, com uma garrafa nas mãos – Preciso saber se essa tal Senhora do Tempo sabe sobre minha filha.

Em um outro momento Harry teria apenas sentado e se deliciado com as reações de Rony e Hermione: o ruivo tropeçando nos próprios pés, caindo de cara no chão, olhando para ele esperando que seus olhos saltassem ou coisa do tipo. Hermione simplesmente cobriu a boca com as mãos, petrificada.

— Ora, Harry querido não sabia que tinha uma filha... – Trelawney disse, ignorando as reações de Rony e Hermione.

— Sim, Melissa Granger-Potter.

— Meus parabéns pela filha. E meus pêsames pela mãe dela... – a velha bruxa apontou para Hermione, desdenhosa. A amiga porém aproximou-se dele, como se tivesse sido atingida por um balaço. Harry pegou sua mão delicadamente.

— Não sei como explicar Hermione, e na verdade não temos tempo. A única coisa que sei que o feitiço foi revertido, e precisava apenas ter certeza. Venha, vamos Rony – e indicou com a cabeça para o amigo segui-lo, ele ainda segurando firme a mão de Hermione. – Ária Dumbledore está atrás da Melissa, e nossa filha precisa de nós.


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Notas finais do capítulo

Demorou mais saiu!!! Coments!