Harry Potter e a Senhora do Tempo escrita por Mimis


Capítulo 29
Mould-in-the-Wold




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Harry, Rony e Hermione aparataram juntos no final de um bosque denso. O céu ainda estava bem escuro mas no final do horizonte despontavam alguns tímidos raios alaranjados. A névoa branca dava ao lugar um tom fantasmagórico. Em silêncio eles caminharam por um aclive no terreno e logo puderam distinguir algumas casas espaçadas, todas bem antigas em estilo colonial. Rony e Hermione caminharam mais alguns passos, as varinhas em punho iluminando o caminho, tentando ler uma placa velha de madeira escura próxima que indicava o começo de uma estrada de paralelepípedos de pedra.

— Mould-in-the-Wold! – Rony leu em voz alta, sua voz assustando alguns pássaros empoleirados numa árvore próxima. – Esse é o lugar que aquele maluco do Higglebottom nos falou certo?

— Sim Rony...Vocês sabem o que essa aldeia tem de especial não é? Harry com certeza sabe. Não é Harry? Harry?

Hermione se virou assustada procurando pelo bruxo. Ele estava parado, sua respiração muito pesada. Torcia para que no escuro da noite eles não conseguissem ver o pânico que seu rosto com certeza demonstrava.  Ele acabara de ouvir a voz de Snape dentro da sua cabeça lhe avisando que seu Voto Perpétuo havia sido revertido. Não era um aviso, uma zombaria, ou mesmo uma suposição. Harry tinha certeza que era uma constatação. Ele não sabia como mas acreditava cegamente naquelas palavras. Mas ao invés daquela afirmação poder lhe trazer algum alívio, indicava que algo acontecera com Melissa, o que o afligia profundamente. E apenas uma coisa ele precisava fazer.

— Sei sim Hermione, a aldeia onde nasceu Alvo Dmbledore. Agora vamos logo encontrar Sibila Trelawney.

Ela deu um leve aceno mas esperou ele para continuar. Rony se juntou a eles e os três subiram a estrada de paralelepípedos, novamente o silêncio tenso prevaleceu. Harry não conseguia parar de pensar nas palavras de Snape e na conversa que tiveram com Higglebottom. Em um primeiro momento ele não acreditou em uma palavra sequer do discurso desconexo do bruxo alternando xingamentos contra ele com súplicas e juras de amor à sua amada Sissy. Harry já estava perdendo a paciência, juntamente com uma Hermione extremamente mal humorada e um Rony completamente perdido quando o velho Sr. Weasley caminhou lentamente para uma velha estante empoeirada que exibia peças de carro e revistas trouxas, tocou levemente uma parte dela com a varinha e uma garrafinha com um líquido transparente rolou para sua mão. Harry e Rony sorriram pra ele, e Hermione pareceu dividida entre o riso e a reprovação. O amigo pegou da mão de seu pai o frasco e praticamente fez Higglebottom bebê-lo de um gole só. Harry sentou bem à frente do bruxo, que parara abruptamente de tagarelar e gesticular e apenas falou para ele: Preciso que você nos conte tudo o que sabe sobre sua amada Sissy. O bruxo imediatamente começou a falar, como se estivesse lendo um tedioso livro:

 “Sissy é como chamo carinhosamente minha esposa Sibila Trelawney. Na verdade ex-esposa. Nos casamos cedo, logo após ela deixar Hogwarts. Eu tinha um bom emprego no Beco Diagonal, Madame Malkin é uma tia distante e me ensinou o ofício de alfaiate mágico, sei manusear até 5 teares mágico ao mesmo tempo, ou sabia. Eu passava quase todo o tempo nos fundos da loja e morava num dos quartinhos do Caldeirão Furado. E foi lá no Pub que eu a conheci. Tão linda, tão aérea, tão misteriosa...Adivinhação era minha matéria preferida em Hogwarts e quando eu descobri que ela tinha o dom, me deixou ainda mais fascinado. E ela também ficou por mim, claro. Eu era bonitão, jovem, tinha um emprego estável. Adorávamos ficar conversando até altas horas, bebendo uma ou outra coisinha...Ela ficou alguns meses em Londres, procurando algum emprego que estivesse à altura de suas habilidades, o que foi algo bem difícil de encontrar, convenhamos. Antes dela partir lhe propus casamento, num jantar maravilhoso lá no Caldeirão, regado à muito Hidromel, o mais caro que consegui pagar. Ela aceitou, desde que não fixássemos um endereço por hora, enquanto não encontrasse alguém que estivesse à altura de seus préstimos. E eu, um bruxo apaixonado, concordei com todas as suas condições. Continuamos morando por ali, no meu quartinho no Caldeirão, esperando a chance de ouro de minha amada, chance a qual ela passara mais tantos outros meses indo de cidade em cidade, vila em vila procurando quem precisasse de seus dons maravilhosos. E eu fiquei esperando, trabalhando com o afinco de sempre, mas um pouco atrapalhado pela falta de minha jovem esposa, as noites passadas entre bebidas baratas e lamentações. Ela um dia voltou, sem aviso, e meu colega de trabalho, um bruxo muito estranho que se interessava muitíssimo pelo oculto, que não sabia sobre meu casamento, pareceu chorar de emoção ao vê-la entrar na Madame Malkin: ‘Não acredito que a talentosa Sibila Trewlaney está aqui!’ Eu imediatamente fechei a cara e lhe respondi ‘Não seja idiota Maffey, essa é minha adorada esposa, Sra. Sibila Higglebottom!’ Para meu espanto ela se sentiu ofendidíssima. Aquela noite tivemos nossa primeira grande briga. Me disse, com todas as letras, que não poderia usar meu sobrenome, que seu maravilhoso dom era fruto de sua linhagem, que devia honra-lo usando-o para sempre. Eu não concordei, claro. E aquela lua-de-mel em que vivíamos se transformou em um inferno, as brigas eram constantes, assim como suas viagens, pois os poucos empregos que ela conseguia eram abandonados, e ela novamente seguia a procura do próximo. Eu também não era mais o mesmo no Madame Malkin, cada vez relapso e cabisbaixo, preenchendo a falta de minha esposa com bebida, e a mesma desculpa para beber eu usava para tentar esquecer novas brigas. Vivemos assim talvez mais um ano, ou dois e então ela finalmente me deixou. Eu fui mandado embora, e meu pouco dinheiro acabou. Sem outros parentes vivos para me acolher, comecei a viver de bicos no próprio Beco Diagonal, e os poucos trocados que conseguia eram para comprar xerez vagabundo. Anos depois fique sabendo que ela conseguira emprego em Hogwarts, o grande Dumbledore finalmente reconhecera seu talento. Eu acabei vencido pela bebida, e virei um mendigo tanto para bruxos como trouxas. Perdi total contato com minha amada. Mas então há alguns dias atrás recebi uma coruja. Era uma carta dela, pedindo para que eu fosse vê-la. As poucas informações que ouvi sobre ela é que tinha se aposentado anos atrás e voltara a morar em sua aldeia natal, bem no interior, chamada Mould-in-the-Wold. Imediatamente aparatei até lá e a achei numa situação tão deplorável como a minha. Eu estava até que razoavelmente sóbrio, mas ela parecia completamente alucinada, e amedrontada. Falou muitas coisas das quais a bebida rapidamente apagou da minha memória, mas o medo que ela sentia por essa bruxa que ela chamava de Senhora do Tempo foi o que mais me marcou. Tão rapidamente quanto cheguei ela me expulsou de lá, não sem antes me entregar um pacote muito estranho e repetir muitas vezes para procurar por Harry Potter. Voltei para Londres mas estava tão abalado que bebi muito mais do que o normal, o que foi realmente muito. E apaguei, não sei quantos dias dormi nem por onde andei. Quando consegui pensar novamente me lembrei do que acontecera e resolvi procurar o Ministério, mas como sempre ninguém acreditou em mim, até estuporado eu fui. Então acordei aqui, justamente com a pessoa que realmente precisava encontrar: Harry Potter.”

— Se aquele endereço que seu pai achou estiver certo Rony, essa é a propriedade dos Trelawney. Mas, francamente, somente aquela maluca para morar num lugar como esse.

Harry foi despertado de seus pensamentos pela voz desgostosa de Hermione. Após subirem pela estrada principal da aldeia deserta a bruxa, que estava um pouco mais à frente, virou à direita, erguendo a varinha para que ela iluminasse a placa da madeira que nomeava as poucas ruas do lugar. Caminharam mais alguns metros e se depararam, entre duas casinhas muito simples com jardins muito bem cuidados, uma casa de três andares que no passado poderia ter sido uma das mais belas da pequena aldeia, mas que parecia prestes a desabar. Pararam na frente de um portão de ferro enferrujado, fechado com grossas correntes, que pareciam estranhamente novas. Ao tentar abri-las com o feitiço Alorromora ela se transformaram em serpentes metálicas, parecendo se enroscar mais nas grades. As duas então se viraram para eles e disseram baixinho:

— Atenção visitantes, nossa amada vidente não poderá os atender agora, ela está descansando, em contato com o mundo espiritual. Por favor retornem em outro momento...

— Ah, não vai me dizer que aquela louca agora dá consultas?!

Hermione olhou para Rony, rindo do seu comentário. Ela com certeza estava pensando o mesmo que ele. Harry também não pôde deixar de sorrir, mas logo voltou a ficar sério. Hermione percebeu a urgência dele, e se dirigiu para as serpentes:

— Ora, sinto muito mas precisamos de uma consulta urgente. Diffindo.

As serpentes metálicas apenas riram. Impaciente, Harry se sobrepôs à amiga.

— Para o azar de vocês não falo mais língua das cobras, então vou ter que ser um pouco mais convincente. BOBARDA!

As duas cobras metálicas explodiram em mil pedacinhos, e o portão de metal enferrujado se escancarou. Juntos, os três andaram rapidamente para a porta velha de madeira. Não precisaram usar feitiço algum para entrarem, ela já estava entreaberta. Cautelosos, eles adentraram numa casa atulhada de móveis e quinquilharias bruxas, tudo bem antigo e sujo.

— Se eu contar quantas garrafas de xerez barato eu tô encontrando aqui, deixaria metade de Londres bêbada. Logicamente se elas estivessem cheias... – Rony comentou, entrando e saindo de alguns cômodos do térreo. Realmente garrafas de bebidas empoeiradas estavam por toda à parte. Harry não deixou de sentir pena de sua ex-professora. Com certeza ela não estava vivendo seus melhores dias. Mas logo todos os mistérios voltaram à sua cabeça, fazendo seu sentido de urgência voltar com tudo.

— Realmente vai ser um desespero pra Trelawney ao saber que não há xerez em Azkaban. – Hermione disse baixinho, sua voz exalando amargura.

— Se ela for a culpada Mione...

— Eu confesso que não estou tão convencida assim, mas sinto algo muito estranho aqui eu...HARRY CUIDADO!

Harry se virou a tempo de desviar de uma garrafa vazia que vinha em sua direção, se abaixando atrás de uma mesinha velha. Rony e Hermione se esconderam atrás de algumas caixas cheias de livros. Mais e mais garrafas pareciam voar de direção a eles, arremessadas por mágica. Abaixado, Harry percebeu que elas vinham de um cômodo ao lado. Ele olhou para os amigos, e manteve contato com o Rony. O amigo pareceu entender e acenou minimamente pra ele. Ele cochichou no ouvido de Hermione e juntos eles miraram para o lado onde as garrafas estavam sendo jogadas e disseram juntos Reducto. Enquanto todas as garrafas explodiam no ar, Harry correu para o cômodo de onde elas vinham usando o feitiço Protego para se proteger dos estilhaços. Entrou abruptamente, e com um grito de horror Sibila Trelawney se jogou no chão, chorando e gemendo.

— POR FAVOR, POOOOOOR FAVOR NÃO ME MATE! NÃO QUERO MORREEEEEER!

— Eu não vou te matar, Eu não vou...FIQUEI QUIETA TRELAWNEY! SOU EU, HARRY POTTER!! VOCÊ NÃO QUERIA ME VER?! ESTOU AQUI!

Lentamente a bruxa sentou no chão, o rosto sujo ainda banhado em lágrimas. Rony e Hermione entraram no cômodo, e a amiga soltou uma exclamação de susto ou reprovação, ele não soube distinguir. Rony se limitou a olhar sério a ex-professora, incapaz de qualquer comentário engraçado.

— É...Realmente....Realmente é você Harry Potter, o menino que sobreviveu?

— Sim, seu ex-aluno professora.

— Você....você....Harry, meu querido...você veio me salvar...DELA?

Delicadamente, Hermione ajudou a ex-professora a se levantar. Rony puxou uma cadeira velha pra perto e ajudou a amiga. Juntos, eles acomodaram a velha bruxa. Harry então pode olhar melhor para sua ex-professora de Adivinhação e ela parecia mais um cadáver de tão magra que estava. Os velhos óculos que a deixavam parecida com um enorme inseto acentuavam não apenas os olhos – vermelhíssimos – mas também as olheiras profundas. Os cabelos, quase totalmente brancos, estavam soltos e desgrenhados, parecendo uma juba feia. Seus característicos xales estavam rasgados e imundos, assim como todas as suas vestes. Estava descalça, e além de um crosta grossa de sujeira, seus pés tinham vários cortes. Mesmo à beira das lágrimas, Sibila Trelawney sorria amorosamente para ele.

— Se ela voltar simplesmente a mate certo?

 - Quem é ELA afinal? - Harry disse, exasperado. Sibila fechou os olhos e respirou por um momento. Ao abrir, pareceu abandonar momentaneamente o ar de desamparo e maluquice.

— Srta. Dumbledore – ela sussurrou.

Harry piscou algumas vezes, parecendo não entender o que ela disse. Rony riu abertamente, mas Hermione perdera a paciência. Decidida, a amiga empurrou-o e apontou a varinha para a bruxa sentada na cadeira.

— Escute aqui Trelawney, nem mesmo essa sua cabeça cheia de xerez vai me impedir de usar a Maldição Cruciatus em você para saber se é culpada do que está acontecendo. Minha filha está em perigo, eu sinto que está e você vai me dizer AGORA o que está acontecendo, A SENHORA ESTÁ ME OUVINDO?

Trelawney olhou para a bruxa furiosa, e deu um sorrisinho abobado.

— Sempre delicada como um trasgo srta. Granger. Passam-se os anos e a senhora continua a mesma...

— Ah, mas agora a senhora lembra de mim hein? Que conveniente...

— Por favor Trelawney, POR FAVOR -  Harry se interpôs, irritado com as tentativas de Rony de abafar o riso. – Não existe nenhuma srta. Dumbledore...

 A velha bruxa o olhou séria novamente, parecendo perturbadoramente sã, com certeza mais sã do que parecia estar em dias, talvez em anos:

— Ouça Harry Potter, existe sim. Seu nome é Ária Dumbledore, a filha do falecido Alberforth Dumbledore, irmão do nosso querido Alvo Dumbledore.


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