— Steve já sabe que você é uma pessoa completamente diferente quando ele não está por perto?

Natasha estava recostada no troco da árvore e olhava para os adolescentes de sua escola com certo desprezo. Ela não se julgava melhor que nenhuma daquelas crianças, ela apenas sabia o que a maioria falava sobre ela pelas costas e era disso que ela não gostava. Ao seu lado, Bucky soltou um riso nasalar que não denunciava graça ou concordância, era somente o mesmo riso característico que sempre dava quando Natasha falava, simplesmente porque sabia coisas demais e resolvia botar tudo pra fora.

— Ele sabe que eu estou aqui. – Disse quase sem entonação.

— E também sabe que você não é essa pessoa tão vívida é animada como ele pinta para todo mundo?

— Steve sabe que sou seu melhor amigo, Natasha, é somente isso que interessa. – Suspirou cansado.

— Não é nada pessoal. – Ela deu de ombros. – É só que você não é assim tão ruim na frente dele, eu nunca presenciei essa expressão derrotada na sua cara quando Steve tá por perto. Talvez isso signifique que o amigo do qual ele se lembra ainda exista aí em algum lugar, você só precisa encontrar o seu lado bom de novo.

— Natasha, ele é o meu melhor lado. – Bucky a encarou seriamente. – Foi por isso que eu voltei. – Desviou a atenção novamente, somente para encontrar Steve no meio daquela confusão de alunos. – É ele quem mantém o meu lado bom vivo.

— Isso soou extremamente gay, até mesmo para você. – Ela riu soprado, porque ela sabia qual seria a resposta.

— Estou pouco me fodendo pra isso. – Revirou os olhos.

— De qualquer forma, você não é o único. – Ela prosseguiu, também olhando para Steve, que ainda esperava a sua vez para pegar o seu sanduíche. – Ele também não é o mesmo.

— O que raios isso significa, Romanoff? – Bucky questionou entediado.

— Eu não sei ao certo que tipo de efeito você surte em Steve, ainda não entendi qual é a sua. A única coisa que eu sei é que conheço Rogers há 5 anos e, dentro desse espaço de tempo, nunca o vi com o espírito tão vivo quanto agora. Talvez sua presença seja o bem que ele precisava, embora ainda acredite que você é problema.

— Sou apenas o primeiro amigo de verdade que aquele baixinho teve. – Encolheu os ombros, afundando as mãos nos bolsos enquanto se acomodava melhor ao lado da ruiva na árvore. – Ele só tá feliz em me ver aqui por conta disso.

— Fazia quase 3 anos que ele não segurava um caderno de desenhos, Barnes. – Ela revirou os olhos. – Steve se recolheu numa concha e não permitia que ninguém invadisse. Ele só deixava essa maldita zona de conforto para se meter em confusão em prol dos mais fracos. – Suspirou. – Honestamente? Eu nem sei como somos amigos, e também não sei porque raios ele passou a me contar tudo sobre você.

— Ele precisava me substituir de alguma forma. – Deu de ombros. – Acho que foi a escolhida porque é russa e, de alguma maneira, ele imaginou que isso o aproximaria de mim.

— Ninguém te substituiu, ninguém jamais conseguiria. Steve só precisava de alguém com cérebro e que não ficasse no pé dele por choramingar pelo amigo que estava longe.

— Ele falava muito sobre mim? – Estreitou os olhos, ainda observando o Rogers.

— Ele só falava sobre você. – Bucky sorriu um pouco com aquilo. – Agora que você já sabe, só resta saber o que vai fazer com essa informação.

— Não se preocupe, Natasha, sei exatamente o que fazer com essa informação.

Ela não questionaria, não estava interessada nos detalhes do que o outro tramava, a única coisa com a qual realmente se importava era a felicidade de Steve, porque Natasha poderia ser fria com todos, mas em algum lugar de seu coração havia um espaço especial para seus amigos. Todos os seus amigos mereciam ser felizes, ela vivia sob esse lema. Eles se calaram quando o trio regressava para o ponto de encontro, cada qual com seu lanche em mãos. Steve foi o primeiro a chegar, sentando-se ao lado de Bucky, que sorriu largo para o amigo.

— O que tem aí, Stevie?

— Peito de peru. – Entregou-lhe o sanduíche. – Pode ficar, esse é seu.

— Own, está me alimentando, Rogers? Que docinho. – Bagunçou os cabelos do loiro, que soltou um muxoxo.

— Estou pensando em tomar de volta, tsc. – Steve deu atenção ao seu próprio lanche. Bucky riu.

Era final de outono e a temperatura estava baixa demais para que eles permanecessem debaixo daquela árvore, mas era o lugar favorito daquele grupo, não poderiam evitar. Clint também entregou um sanduíche à Natasha antes de começar a comer o seu próprio. Tudo ficou em silêncio enquanto eles mastigavam seus lanches em busca de algum alívio à fome que sentiam, mas Steve parecia inquieto. Mastigava lentamente enquanto se movia para um lado e para o outro, parecendo distraído em vários momentos.

Observando-o meticulosamente de esguelhe, Sam buscava em sua expressão algo que denunciasse alguma preocupação. O Wilson sabia que ele detestava as aulas de educação física, mas não fazia sentido estar tão agitado daquela forma. Mordia mais um pedaço de seu lanche quando o viu suspirar de novo. Sam não se segurou e revirou os olhos antes de começar a falar.

— Beleza, Steve, qual é o seu problema hoje?

— Hn? – O Rogers ainda mastigava um generoso pedaço quando foi questionado.

— Você parece no mundo da lua, todo pensativo e preocupado. O que foi que você fez agora? – Arqueou uma sobrancelha. – Pelo amor de Deus, não me diga que arrumou outra briga!?

— Quê? Não! – Steve respondeu assim que engoliu. – Não tem nada a ver, Sam.

— Então por que tá se empertigando todo?

— Hoje é a minha primeira aula de karatê. – Suspirou.

— Quê?! – Clint e Sam disseram em uníssono.

— Acho que não vai me fazer mal aprender algumas técnicas, certo? – Debochou.

— Mas... Mas... Você detesta educação física! – Sam ainda não compreendia.

— Eu detesto ter que subir naquela corda idiota e o fato de que precisamos correr entorno do ginásio para fazer testes de aptidão. – Revirou os olhos. – Não tenho nada contra exercícios físicos e artes marciais. – Deu de ombros.

— Você deixou Steve se matricular nisso? – Sam encarou Bucky.

— Vai ser melhor para todo mundo se ele aprender a se defender sozinho. – O moreno deu de ombros, mordendo mais um pedaço do sanduíche.

— Não é como se Bucky fosse me impedir. – Steve revirou os olhos.

— Esse cara é, praticamente, a sua consciência. Te impedir de fazer coisas idiotas é o mínimo que esperamos dele. – O Wilson revirou os olhos.

— Por que todos vocês passaram a regrar mais os meus passos agora que Bucky tá de volta? Saco! – Bufou.

— Não, Steve, você está errado. – Clint interferiu. – Não foi a volta de Bucky que nos deixou assim, foi a sua briga estúpida com Dylan que deixou.

— Você deixou todo mundo assim depois que quase se matou naquela briga idiota. – Sam também bufou.

— O que nos deixa preocupado é que suas brigas ficaram cada vez mais sérias. Antes eram somente briguinhas nas quais você perdia um pouco de sangue e saía todo esfolado, mas saía andando. Depois da sua última briga, o medo é que você saia numa ambulância em todas elas e acabe ficando em coma. – Clint concluiu.

— E é por isso que repito. – Voltou a encarar Bucky. - Você deixou Steve se matricular nisso?

— É karatê e defesa pessoal, deixem Steve em paz, caralho! – Bucky bufou, terminando o lanche. – Não é como se ele fosse sair de lá e começar a arrumar encrenca com qualquer ser humano, ele só vai aprender uns golpes e a se defender devidamente. Vai ser bom pra ele, vai ser bom pra todo mundo. Desse jeito vocês param de encher tanto o saco, inferno!

Steve encarou o amigo por um tempo. De onde raios saíra aquela pessoa? Não muito depois, ele sorriu para o loiro e fez alguma piada sobre o kimono de Steve deixa-lo ainda menor do que era e tudo pareceu voltar ao normal. De um jeito esquisito, mas soava normal.