Ao seu lado escrita por nanacfabreti


Capítulo 7
Felicidade




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As batidas secas na minha porta pareciam fazer parte de um sonho meu, estavam abafadas, longe da realidade.Abri meus olhos e a claridade me incomodou, aos poucos comecei a me lembrar de tudo que havia vivido, o cheiro do perfume de Ian estava em mim provando que tudo havia sido verdade.

—Mãe? —Gritei afundando minha cabeça no travesseiro.

Ela abriu a porta cuidadosamente.

—Filha, eu sei que é sábado mas já passa do meio dia, você precisa comer alguma coisa. —Ela advertiu sem entrar em meu quarto.

—Mãe, eu já vou levantar. —Avisei rouca,ainda estava morta de sono.

—Tudo bem, mas...  sabe por que a casa parece ter areia no chão? Você derrubou alguma coisa? —Ela parecia intrigada.

Senti meu estômago gelar.

—Ontem eu derrubei um pacote de sal, fui abrir e cabei derrubando. —Improvisei sem conseguir pensar em algo melhor. —Pensei que tivesse limpado direito...

—Você é mesmo desastrada, mas não se importe, eu já limpei. —Ela se preparou para fechar a porta. —Sabe que eu odeio pisar em coisas que lembram areia.

—Sim mãe, eu sei. —Fingi indiferença quando na verdade meus níveis de adrenalina estavam perigosamente altos.

Eu tinha ciência dos meus atos, sabia que havia arriscado fugindo naquela noite, só que eu não estava nenhum pouco arrependida, nunca havia me sentido mais plena quanto naquele instante.

Arrumei minha cama e limpei os vestígios da areia que haviam ali, em seguida fui tomar um banho.

Meu apetite havia desaparecido mais uma vez, acabei fritando ovos e comendo com pão.

—Liv, vou ao cabeleireiro, quer vir comigo? —Minha mãe me questionou enquanto eu lavava alguns pratos.

—Não, acho que vou tirar a tarde para arrumar meu quarto. —Menti, eu queria mesmo era voltar a dormir para estar bem disposta mais tarde.

—Vai ficar com seu pai esse final de semana? —Ela perguntou e eu senti que havia algo subliminar na questão.

—Quer que eu vá? 

—Na verdade o pessoal do escritório quer sair para jantar, tipo uma reunião informal. —Ela começou a se explicar. —Não quero que fique sozinha aqui.

—Tudo bem, mais tarde vou a um parque de diversões com um pessoal do colégio...   —Omiti minha verdadeira companhia, mas já esperava pela lista de questões que eu teria de responder.

—Então está certo, também não vou chegar tarde. —Ela surpreendentemente encerrou a conversa, parecia meio sem jeito.Isso me fez pensar que ela possivelmente teria um encontro.

 Há algum tempo isso teria me irritado, no entanto vi naquilo a possibilidade de fazer com que ela aceitasse melhor minha relação com Ian, quando soubesse.

Pouco antes das seis horas da tarde ele ligou no meu celular ,avisou que estava me esperando na garagem do prédio.Meu coração respondeu da forma que eu esperava ao ouvir a sua voz, urgente.

Minha mãe não havia voltado, desci no elevador rezando para que ela não aparecesse justamente naquela hora.

Sua moto estava estacionada, mas Ian não estava lá, antes que eu precisasse pensar em qualquer coisa o som de uma buzina ecoou pelo estacionamento, vinha de uma picape prata, ele estava lá, sorrindo.Senti as batidas do meu coração em cada veia do meu corpo, e, aquilo era bom.

Abri a porta do carro e sentei-me ao seu lado,sem me deixar dizer nada Ian me puxou para perto dele e me beijou como se fizesse séculos que não nos víamos.

—Eu sei que parece loucura mas, eu não parei e pensar em você um minuto sequer. —Ele me olhou apaixonadamente.

Meu coração parou por um instante.

—Me senti da mesma forma. —Ri nervosa.

—Gosto quando você fica assim. —Ian me disse depois de alguns minutos a me olhar.

—Assim como?

Ele balançou a cabeça.

— Esquece, para ser sincero todos os seus jeitos e gestos me encantam. — Ele divagou enquanto ligava o carro.

O ar me faltou, eu não estava acostumada a receber elogios de forma tão intimidante.

— Aconteceu algo com a sua moto? — Perguntei estranhando a mudança .

— Eu só dei uma folga para ela, como vou trazer um daqueles ursos gigantes, preciso de espaço. — Ele encolheu os ombros.

— Urso gigante?— Ri.

Ele me olhou com preocupação.

— Você gosta de ursos de pelúcia, não gosta?

— Gosto, mas...

— Então eu vou ganhar um pra você, sou muito bom em tiro ao alvo. — Ele se gabou.

— Eu realmente não imagino você brincando para ganhar bichos de pelúcia.

  — Ai! — Ele colocou a mão no peito e fez uma meia careta.— Estou começando a me sentir mal  ao pensar o quão mal eu parecia pra você...

 Eu não respondi nada, por fim nem mesma eu sabia o porquê de pensara assim.

Quando chegamos perto do parque ele estava mais bonito do que pela manhã, as luzes coloridas pareciam me chamar, tudo estava funcionando, todas as atrações em movimento.

— É lindo... nem acredito que estou aqui, com você... —Levei minhas mãos à boca, encantada como uma garotinha.

Ian entrelaçou seus dedos nos meus, animados começamos a caminhar por entre as barracas de doces e brincadeiras.

— Quer comer alguma coisa?Um algodão doce?

— Um algodão doce. — Concordei apontando para um carrinho que estava fazendo enormes nuvens coloridas.

Ian pediu dois, um rosa para mim e um azul para ele e apesar de parecer infantil, foi apaixonante vê-lo devorando-o  de forma inocente e despreocupada.

Caminhamos de mãos dadas encantados com tantas coisas diferentes, Ian insistiu para que fôssemos na montanha russa, eu não quis,altura nunca foi atrante aos meus olhos.

— Tenho muito medo, muito mesmo. — Argumentei sentindo um frio na barriga só de me imaginar em cima daquela coisa.

— Eu vou te proteger. — Ele tentou me persuadir fazendo uma voz sedutora.

— Não adianta, na montanha russa eu não vou. — Fui enfática.

Ian ergueu uma das sobrancelhas, estava tramando algo.

— E na roda gigante? — Ele propôs.

Olhei para o brinquedo,era das grandes, no entanto haviam até mesmo crianças na fila.

Respirei fundo tentando reunir coragem.

— Tudo bem, na roda gigante eu vou. — Assenti. — Me parecia romântico até.

Seguimos para a fila e não demorou nada para chegar a nossa vez.

— Não está com medo, está? — Ele segurou minha mão sentindo que estava gélida.

  — Apreensiva eu diria. — Tentei me convencer enquanto sentávamos na cadeirinha.

— Ainda dá tempo de desistir. 

— Não, agora eu quero ir. — Afirmei.

Assim que começamos a subir fechei meus olhos, o medo que eu achava que tinha de altura, acabava de ser confirmado.Meu corpo inteiro parecia ter se transformado em pedra.

— Abra os olhos, veja que vista linda temos daqui de cima. — Ian sussurrou em meu ouvido, seu hálito quente me fez voltar parcialmente do transe em que eu me encontrava.

— Eu realmente passo essa. — Falei entre meus dentes.

Ouvi um riso discreto em meio aos gritos e gargalhadas que se misturavam naquele instante.

Senti que havíamos parado, entretanto sabia que era no alto.Antes de perguntar qualquer coisa senti novamente o ar quente que vinha de Ian, seus lábios deviam estar muito perto de mim, em um segundo senti que ele beijava o contorno da minha orelha, descia pelo meu rosto e meu pescoço.

— Abra seus olhos. — Ele pediu baixinho.

— Não, não tenho coragem.

— Abra seus olhos,você não devia perder isso. — Ian insistiu mais uma vez.

  Balancei a cabeça, Ian era mesmo perigoso...abri primeiro um dos meus olhos e animada com o que via, abri o outro.

— Não é lindo? — Ele me perguntou abobalhado.

Ian estava certo, aquela vista era linda, luzes, pessoas e brinquedos formavam um cenário extraordinário.

— É maravilhoso. — Elogiei boquiaberta.

Ian segurou meu rosto tomando minha atenção para ele.

— Lívia, com você eu sinto coisas que nem imaginava que existiam.

Senti meu coração acelerar ainda mais.

— Eu sei, você despertou isso em mim também. — Confessei meio sem jeito.

Ele engoliu seco e uma veia de sua testa pulsava descompassada.

  — Eu amo você. — Ele me disse antes beijar meus lábios.

Ian cheirava açúcar, sua boca estava doce e a roda gigante voltou a girar, aquele misto de sensações e sentimentos me permitiram pensar que a felicidade fosse algo palpável.

Como prometido, ele ganhou uma Hello Kit para mim, tudo bem que eu o vi subornando o dono da barraca de tiro ao alvo, mesmo assim valeu.

Aquela havia sido uma noite perfeita, eu quase não acreditava que Ian havia dito que me amava.Eu sabia que estava perdidamente apaixonada por ele, e obviamente esperava que um dia ele me fizesse uma declaração como aquela, só não imaginava que seria tão cedo.

Por todo caminho de volta aquela declaração parecia latejar em minha cabeça, enquanto as palavras pareciam ter desaparecido da minha boca.Quando  estacionou o carro em uma das vagas do prédio, ele desprendeu o cinto de segurança e se inclinou em minha direção,Ian me olhava de forma intensa, como se quisesse ver além de mim.

— Ian... sobre o que você disse na roda gigante...   — Comecei precisando saber se aquilo não havia sido apenas um delírio causado por meu medo de altura.

Ele balançou a cabeça, parecia estar saindo de um transe, depois com as costas da mão roçou meu rosto.

— Livia, eu apenas fui sincero, tinha que dizer o que estava sentindo...Não pense que eu estou te pressionando, porque não é isso....

— Não. — Segurei sua mão. — Você está entendendo errado...Comecei reunindo toda a minha coragem —Ian eu amo você e tenho certeza disso. —Baixei meus olhos, era estranho dizer em voz alta algo que não saía dos meus pensamentos.

Ele sorriu com uma ruga em sua testa.

— Eu deveria estar muito feliz por isso, mas...

— Por favor, não envolva sua doença nesse assunto. — Irritei-me já prevendo o rumo da conversa.

— Esse é o problema, por mais que você me faça sentir que sou normal, quando começo a divagar um futuro com você, é como se uma voz me trouxesse de volta à minha realidade. — Ele desviou seus olhos dos meus.

— Então ignore essa voz, no lugar dela ouça a minha. — Segurei seu rosto entre minhas mãos e o beijei. — Eu amo você, independente de qualquer coisa.É nisso que você deve pensar de agora em diante.

Era a primeira vez que estava voltando para a escola desde meu entendimento com Ian, estava ansiosa para vê-lo, no domingo nos falamos apenas por telefone, fui ver meu pai e o resto do tempo passei com minha mãe, ela parecia meio carente.

— Liv, quero conversar com você. — Julia falou antes de sentar-se atrás de mim.

— Sobre o quê? — Fui indiferente.

Ela tocou meu ombro.

— Sobre nós, mais uma vez estamos assim...

—Assim como? — Fingi não entender a que ela se referia.

—Estamos estranhas uma com a outra, de novo.

Olhei para ela.

— De novo. — Concordei com ela. — Incrivelmente nossas crises sempre partem de você.

Ela pareceu envergonhar-se.

— Você não tem mais tempo para mim. — Ela alegou chorosa.

— Você sempre tem suas crises, ora com ciúmes do Leonardo,ora com você mesma.Isso me cansa.

— Leonardo é pagina virada. — Ela decretou.

Balancei a cabeça.

— Já ouvi isso um milhão de vezes. — Afirmei.

— Olha, eu prometo que vou ser uma amiga melhor, mas você tem que admitir, estava estranha esses dias.

Comecei a bater com o lápis na mesa, um ato involuntário.

— Estranha porque joguei cola na cabeça da Cristina? — Perguntei séria.

Julia riu comedida.

— Para ser sincera, eu gostei disso, você foi muito corajosa.

— Justa, eu diria. — Classifiquei meu ato. — Não consigo acreditar na ignorância de algumas pessoas.

Julia mudou sua expressão.

— Na verdade eu não sei como reagiria no lugar dela, eu não sei se me arriscaria...

Senti meu sangue borbulhando.

— Não está me dizendo que tem medo de contrair H.I.V. , simplesmente por estar pegando um objeto da mão de Ian?

— Não! — ela arregalou os olhos. — eu sei que as coisas não funcionam assim, mas você tem que entender, isso é assustador.

Fechei meus olhos e comecei uma contagem infinita, eu estava prestes a explodir com Julia, era extremamente difícil para mim, aceitar que pessoas tão bem informadas preferissem a ignorância.

— Ian tem o mesmo direito de estar aqui que você e eu temos, mas não vou discutir, talvez um dia você entenda por conta própria. — Limite-me a dizer.

Arrumei minhas coisas com tanta rapidez que até me surpreendi, saí direto para o pátio, não queria ouvir mais nada, Ian era tudo o que eu precisava.

Quando seus olhos me encontraram senti uma paz fulgente , era como se estivesse encontrado o paraíso.

— Senti tanto a sua falta. — Respirei fundo enquanto nos aproximávamos.

Seus olhos brilharam.

— Eu também. — Ele parecia estar se contendo.

— Algum problema? — Perguntei quando segurei sua mão e ele puxou-a.

— Acho melhor disfarçarmos, pelo menos por enquanto. — Ian falou em voz baixa.

Caminhamos para o nosso lugar de sempre.

— Está sugerindo que nós devemos nos esconder? — Indaguei decepcionada.

— Não quero expor você, não além do que já tenho feito.Percebe como as pessoas olham para nós?

Eu percebia.

— Eu não ligo.Não devo satisfações a ninguém. — Revoltei-me.

Ian arrancou um pedaço de grama e passou por minha mão.

— Estou fazendo isso porque amo você, porque só quero seu bem. — Ele foi meigo.

Um golpe baixo eu diria, sua declaração acabou me desarmando e me deixando sem reação.

—  E eu amo você, e quero que todos saibam disso. — Afirmei manhosa.

Ian sorriu e meu coração voltou a disparar.

— Eu sei, e isso basta. — Ele me encarou.

— Isso vai ser por pouco tempo, não vamos nos esconder para sempre. — Deliberei.

—Para sempre? -Ian franziu a testa. -Vai mesmo querer passar tanto tempo assim ao meu lado?

Balancei a cabeça.

— A cada minuto eu fico mais certa de que é exatamente isso que eu quero. — Respondi séria.

Embora discreto, percebi que ele sorriu feliz.


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