Ao seu lado escrita por nanacfabreti


Capítulo 8
A troca




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Mais tarde, depois comermos novamente bobagens em algum fast food, consegui convencer Ian a ir comigo até a casa de meu pai.

Ele não queria que eu revelasse sobre sua doença, também achei desnecessário.

—Está nervoso? —Perguntei notando a tensão em cada gesto de Ian.

—Deve ser normal, afinal eu nunca passei por essa situação. —Ele comentou enquanto prendia os capacetes na moto.

—Uau, estou honrada por ser a primeira garota a apresentar o pai para você. -Falei em tom escárnio.

Ian balançou a cabeça e logo deu uma fungada.

—Que cheiro é este?

Respirei fundo para identificar o que era aquele cheiro doce e desconhecido.

—Meu pai deve estar fazendo algum bolo, ou sei lá... —Concluí já entrando em sua casa.

—Seja o que for, parece bom. —Ian afirmou enquanto segurava minha mão.

Na sala o cheiro se fazia ainda mais presente, era um aroma meio instigante.

—Pai!? —Gritei para saber em que cômodo ele estava.

Ian permanecia ao meu lado como uma estátua, apenas seus olhos moviam-se.

—Filha, aqui, na cozinha! —Sua voz veio de longe.

Caminhamos pelo corredor e em momento algum senti medo da reação de meu pai, já Ian parecia mesmo preocupado.

—Pai, trouxe alguém para você conhecer. —Avisei enquanto ele tirava uma travessa do forno.

Seus olhos passaram rapidamente por mim e depois fixaram-se em Ian.

—Foram vocês que chegaram com aquela moto barulhenta? —Ele colocou-se ao meu lado assumindo uma postura protetora.

Pigarreei.

—Pai, esse é Ian. —Tentei trazê-lo para a realidade da educação, enquanto via Ian mudar de cor.

—Sou muito cuidadoso senhor, e viemos de capacete. —Ian começou a falar diante do silêncio de meu pai. —Eles...deixei-os presos na moto.

Respirei fundo.

—Pai, eu...estou começando a ficar envergonhada e arrependida. —Arregalei meus olhos tentando não ser devorada pelo constrangimento. —Vamos Ian, talvez não tenha sido uma boa ideia...

—Me desculpem. —Ele balançou a cabeça como se estivesse voltando a si. —Acho que começamos mal, mas eu realmente não gosto de transportes de duas rodas, principalmente quando minha menina está em cima deles.

—Acho que o senhor tem razão, eu já estava pensando em trocá-la por um carro. —Ian começou a falar.

Meu pai balançou a cabeça positivamente e estendeu a mão em sua direção.

—Sueddy, Jonas Sueddy, e...pode não parecer mas estou feliz em recebê-lo.

—Ian Sodier e...fico feliz que esteja feliz. —Ele encolheu os ombros.

—Bem, querem um pedaço de bolo quente? —Ofereci enquanto eu cortava em quadrados todo o bolo.

Seguimos os três para a sala, cada um com um prato nas mãos.

—Está muito bom pai. —Elogiei satisfeita.

—Eu nunca comi um bolo assim antes. —Ian parecia ter gostado mesmo.

Meu pai começou a explicar  que era um bolo indiano, falou sobre a origem de cada ingrediente usado em sua fantástica receita, contou muito sobre a Índia e sobre suas viagens.Em pouco tempo Ian já estava solto, ele sabia desenvolver uma conversa e meu pai parecia ter gostado dele.

—Vamos caminhar um pouco pela praia? —Convidei-os depois de muitas historias.

—Vamos, claro. —Ian levantou-se.

—Vão vocês, eu tenho que ler alguns e-mails, mas podemos comer uma pizza depois.

—Vamos ver como vai estar meu apetite depois. —Segui Ian.

O sol já não estava tão quente e o céu começava a se alaranjar.

—O que achou? —Ian perguntou enquanto caminhávamos sobre a areia.

—Refere-se ao meu pai?

 —Isso... Eu nunca me senti tão apreensivo e desejando tanto que uma pessoa gostasse de mim. —Ele expôs seu receio.

—Acho que ele gostou de você, meu pai costuma ser bem sincero, e apesar do começo desastroso, acredito que foi tudo bem.

Ele parou em minha frente, por um instante eu só ouvia o barulho das ondas quebrando.Quando ele tocou meu rosto senti uma vertigem boa.

—Isso tudo é muito louco e eu não quero que acabe. —Ian fechou os olhos e encostou sua testa na minha.

Compartilhamos o mesmo ar por alguns instantes.

—Me beije e pare de pensar bobagens. —Eu pedi desejando aquilo mais do que qualquer outra coisa.

Senti seus braços me apertarem fazendo com que ficássemos grudados um ao outro, suas mãos entranharam-se em meus cabelos de um jeito mais agressivo do que todas as outras vezes, mais uma vez meu coração disparou enquanto eu era beijada com gana.

—Eu amo você, mais que a mim mesmo. —Ele sussurrou em meu ouvido.

Senti vontade de me desmanchar em lágrimas, não de tristeza, medo ou qualquer outro sentimento que não fosse felicidade.

Eu estava perdida, nada mais me importava que não Ian, era como se estando com ele eu não precisasse mais de ar, ele era o que me bastava.

Voltamos depois um tempo, depois de ficarmos horas sentados na areia, um de frente para o outro apenas nos olhando, eu não sei o que passava por sua cabeça, mas na minha tudo o que havia era Ian, Ian e Ian...

—Não vão mesmo ficar para o jantar? —Meu pai insistiu quando avisei que estávamos indo.

—Não quero pegar estrada ao anoitecer. —Ian ponderou.

Meu pai ergueu as sobrancelhas.

—Tem razão, é melhor irem, não faltarão oportunidades. —Ele concordou.

Enquanto Ian colocava o capacete em minha cabeça, ele nos observava, antes de subir na moto fui até ele e abracei-o, achei seus olhos aflitos.

—Algum problema? —Preocupei-me

Ele balançou a cabeça em negativa.

—Não, você está em boas mãos, não tenho com que me preocupar. —Ele falou em voz baixa.

Confesso que me surpreendi.

—Ligo assim que chegar. —Avisei enquanto subia na moto.

Mal Ian estacionou a moto em frente ao nosso prédio, e meu celular começou a gritar.

—Já é seu pai? —Ian tirou o capacete.

Olhei para o identificador, o número era estranho.

—Oi... —Falei sem ter a mínima ideia de quem poderia ser.

—Liv, sou eu. —Era a voz da minha mãe. —Eu não estou na cidade e meu celular está sem bateria.

—Algum problema? —Perguntei preocupada.

—Não, é só um uma audiência que foi transferida para amanhã bem cedo, estou com outros advogados do escritório, e, achamos melhor ficar. —Ela começou a se explicar.

—Tudo bem, mas, vão ficar em um hotel? —Estranhei.

—Vamos, a empresa já acertou tudo por aqui, acha que pode ir para a casa de seu pai?

Respirei fundo.

—Acabo de vir de lá, ele fez um bolo e eu passei a tarde com ele. —Contei. —Mas, mãe, eu não vejo problema algum em ficar aqui sozinha, vou jantar e depois dormir, sem dramas.

Ela ficou em silêncio.

—Tem certeza? 

—Claro que tenho, vou ficar bem.

—Meu celular já está carregando e o número que apareceu no seu identificador é do hotel, meu quarto é o 31, qualquer coisa me ligue.

—Não vou ligar, não haverá motivos, até amanhã. —Quis encerrar a conversa, Ian parecia curioso.

—O que houve?—Ele arqueou as sobrancelhas.

—Minha mãe vai ter que passar a noite fora. —Encurtei a história.

—E você vai ficar sozinha?

Arregalei os olhos, uma ideia acabava de me ocorrer.

—Não, se você quiser... —Falei com uma entonação mais meiga.

Ian estreitou os olhos com desconfiança.

—No que está pensando?

—Na verdade foi só uma ideia, mas eu adoraria que você ficasse comigo, pediríamos uma pizza, veríamos um filme... —Tentei seduzi-lo com minha proposta.

—Eu?No seu apartamento? —Ele sorriu com o canto dos lábios.

—Eu juro que não há segundas intenções nessa proposta. —Brinquei.

—Eu não sei... imaginou se sua mãe resolve voltar? —Ele titubeou.

—Vou subir, espero você em meia hora. —Intimei-o enquanto atravessava a rua, não dei chance de resposta.

Corri para o banho, tinha certeza de que Ian não deixaria de ir, ele queria tanto quanto eu, mais tempo para nós dois.

Estava penteando meu cabelo quando mais uma vez meu celular tocou, estava certa de que era minha mãe.

—Oi. —Atendi sem esperar por uma surpresa.

—Lívia?Tudo bem? —A voz masculina não era da minha mãe.

—Leo? —Perguntei apenas para me certificar.

—Sou eu, você pode falar? —Sua voz estava baixa.

—Ah...Posso. Aconteceu alguma coisa? —Estava totalmente desconfortável.

Ouvi quando ele respirou fundo.

—Bem, nos últimos tempos as coisas ficaram estranhas entre nós, eu...eu posso ir até seu apartamento, ou sei lá, podíamos sair para conversar?

—Olha, por mim tudo bem, mas... sei lá, podíamos nos falar no colégio.

—Na verdade eu estava querendo te ver hoje. —Disse ele mais direto.

"Droga!"—Pensei.—Hoje eu não posso, tenho ...tenho um compromisso, mas amanhã nos falamos, e combinamos. —Fiquei tentando arrumar as palavras certas.

Ele silenciou.

A campainha tocou.

—Tudo bem então, até mais. —Ele pareceu muito decepcionado.

Pode parecer mesquinho, mas, eu estava tão eufórica em ao imaginar que era Ian quem estava em minha porta que nem me preocupei muito com Leo.

—Não acredito que estou fazendo isso. —Ele balançou a cabeça enquanto cobria o rosto com as mãos.

—Eu também não acredito. —Sussurrei num outro sentido.

Puxei Ian para dentro da sala antes que ele desistisse.

Tenso ele caminhou até o sofá,parecia não saber o que fazer.

—As vezes acho que você é louca. —Ele sorriu enquanto eu segui em sua direção.

—Acho que sou destemida, apenas isso. —Ajoelhei-me em sua frente.

Ian segurou meu rosto com uma das mãos e com a outra acariciava meus cabelos.

—Estou muito feliz em estar aqui, por mais estranho que isso esteja parecendo. —Ele falou em voz baixa.

Não sei explicar o motivo, mas quando ele me puxou mais para perto um nervosismo me inundou.

—Vamos pedir a pizza? —Levantei-me e fui até o telefone.

 Ian não percebeu nada.

Optamos por mussarela, nós dois.

—Vamos ou não ver um filme? —Ian intimou a mim.

—Bem, na verdade quando o convidei,  pensei teoricamente, então, não sei se vai gostar do que tenho aqui... —Tentei enrolá-lo, eu não conhecia seu gosto por filmes, mas certamente não eram os mesmos que os meus.

 Ian sorriu escancaradamente.

—Cinderela?A bela e a fera?Eu agüento... —Ele segurou seu queixo enquanto satirizava-me.

—Tudo bem, sangue e morte não é comigo, mas...fora os clássicos da Disney, eu tenho Dirty dance. Meu preferido.

Ian estreitou os olhos como se eu estivesse falando grego.

—É um musical?

—Nunca ouviu falar desse filme? —Mostrei toda a minha indignação.

—Sinceramente não. —Ele sorriu novamente.

Segurei sua mão e o guiei em direção ao meu quarto.

—Você vai gostar, prometo que não vai te dar sono. —Afirmei bastante otimista e imparcial. -Vamos assistir no meu quarto, a TV é maior, presente do meu pai.

Ele parou.

—Vai me levar para seu quarto? —Ele indagou intrigado.

Balancei a cabeça.

—Acho que sim.

—Sabe que o quarto de uma pessoa diz muito sobre sua personalidade? —Ele quis me provocar.

Aproximei-me dele e acariciei seu rosto.

—Estou certa que não haverá nenhuma revelação surpreendente, acho que você me conhece melhor que meu próprio quarto. —Girei a maçaneta sem ter tanta certeza do que acabava de dizer.

Enquanto Ian adentrava-se aos meus aposentos, eu acompanhava com meus olhos por onde os seus corriam.Internamente agradeci a mim mesma por ter guardado há algumas semanas as bonecas que ficavam sobre minha cama, deixei apenas a pelúcia que havia ganhado dele no parque.

Em meu painel de fotografias haviam apenas três em que eu estava estampada, uma delas era da época em que meus pais eram felizes juntos, a outra eu não gostava, Julia havia tirado alguns meses atrás em uma festa que fomos juntas e a terceira também era antiga, Leo,Julia e eu, os três juntos no colégio numa época em que as coisas iam...bem.

O restante das  eram  fotografias de lugares por onde meu pai havia  passado.Muitos países, lugares diferentes, imagens impressionantes, Ian parecia ter gostado daquele painel.

—Você está bonita nessas fotos, aliás, você sempre foi muito bonita. —Ele apontou justamente para a foto que eu menos gostava.

—Eu odiava esse meu cabelo, foi minha primeira rebeldia. —Afirmei me lembrando de quando decidi tingir meus cabelos de vermelho, logo eu voltei ao castanho natural.

—Eu não me lembro de tê-la visto assim. —Ian permanecia focado naquela fotografia.

—Eu sei, você mal sabia que eu existia. —Sentei-me sobre minha cama, resignada.

Ele olhou para mim.

—E você me achava um delinquente. —Ele encolheu os ombros.

Era mesmo estranho termos estado sempre tão perto um do outro e nunca antes termos nos visto da maneira como estávamos.Eu nunca, nem nos meus mais distantes pensamentos imaginaria que Ian Soldier estaria um dia no meu quarto, muito menos que eu estaria tão indiscutivelmente envolvida e apaixonada por ele.

—E o filho do juiz?Por que tem espaço no seu mural? —Ele demonstrou desconforto ao falar sobre Léo.

—Somos...ou éramos amigos, eu nem sei mais... —Falei lembrando-me de seu telefonema recente.

—Tenho algum envolvimento nisso? —Ian prosseguiu.

—Não. —Balancei a cabeça negativamente. —Na verdade, as coisas mudaram um pouco depois que Julia e ele atravessaram a linha da amizade, no final, respingou em nós três.

Embora estivesse explicando minha relação com Léo a Ian, eu não tinha certeza do que realmente havia acontecido.

—Sabe... —Ian sentou-se ao meu lado. —As vezes tenho medo de ter feito a coisa errada, tenho muito receio de ter estragado as coisas entre nós.

Estreitei meus olhos sem entender o que ele estava querendo dizer.

—Ao que se refere? —Perguntei nervosa.

—Lívia, todos os dias ao acordar eu temo que você tenha caído em si e percebido no que se meteu. -Ele cerrou os pulsos e respirou fundo. —Se eu fosse mais sensato, não teria deixado as coisas chegarem tão longe, mas eu fui e continuo sendo egoísta, eu não tive coragem de fazer o que era certo, eu não consegui ser apenas seu amigo.

—Está dizendo isso...acha mesmo que eu não sei o que estou fazendo? —Levantei-me revoltada.

Ele passou as mãos pelos cabelos, estava nervoso.

 —Lívia, você parece esquecer que eu tenho H.I.V., e eu não vou negar, para mim é bom, mas é como se eu estivesse pisando em falso sabendo que uma hora o chão vai me faltar, então  vou ter que encarar a realidade. —Ele se levantou também. —Estamos juntos, nosso namoro vai avançando, eu estou envolvido de mais, e vou ter que entender se em algum momento você quiser parar de fazer isso.

Eu não queria, mas, não pude conter minhas lágrimas, um nó estava se fazendo em minha garganta.

—Achei que tudo estivesse resolvido entre nós, achei que soubesse como me sinto em relação a você. —Tentei ser firme, não queria desabar.

—Eu... —Ele ia começar a dizer alguma coisa mas eu me adiantei.

—Eu amo você, e embora seja a primeira vez que me sinta desta forma, estou certa do que é, eu amo você independente do que diz o seu exame de sangue. —Aproximei-me de Ian.

Ele me olhou como se estivesse sentindo dor, seus olhos demonstravam seu sofrimento, sem pensar em mais nada envolvi seu pescoço com meus braços e o beijei.

Ian apertou-me contra ele, meu coração batia tanto ou mais do que quando nos beijamos pela primeira vez, suas mãos corriam pelo meu corpo e eu fazia o mesmo, eu queria sentir sua pele. Entrelacei minhas pernas em sua cintura e ele me levou até a cama, o peso de seu corpo sobre o meu me trazia o maior conforto do mundo.

Sua camiseta era fina, eu podia sentir o desenho dos seus músculos sob ela, mesmo assim eu desejava mais, corri minhas mãos e num ato certeiro comei a despi-lo, Ian não resistiu, em poucos segundo seu tórax estava nu, era exatamente como eu imaginava.

Sua pele estava tão quente que parecia estar febril, mal conseguíamos respirar.

— Não era isso que eu deveria estar fazendo. —Ian Sussurrou em meu ouvido.

—Eu acho que estamos no caminho certo. —Afirmei convicta.

Votamos a nos beijar, logo Ian se esquivou.

—É melhor começarmos assistir logo o filme, de preferência Cinderela. —Ele disse ofegante.

Segurei seu rosto.

—Por que está querendo fugir?Não estamos fazendo nada errado. —Disse sabendo exatamente o que eu estava querendo.

—Lívia, não faça isso comigo. —Ele choramingou.

Eu não havia planejado nada, não era intencional, mas para ser sincera , desde que tive a constatação de que estava amando Ian, eu pensava que em algum momento seria com ele que eu teria minha primeira noite de amor.

—Você continua achando que eu não sei o que estou fazendo? —Firmei minha voz.

Ele fechou os olhos por um instante, seu rosto estava completamente avermelhado.

—Não está querendo me provar nada, está? —Ele arqueou as sobrancelhas.

—Parece que estou fazendo alguma coisa que não tenha vontade? —Desafiei-o.

Ian sentou-se na cama, parecia ainda mais desejável.

—É sobre isso que eu me referia há pouco, isso deveria ser natural, mas entre nós... —Ele começou.

Coloquei-me em sua frente.

—Ian, eu nunca passei por isso antes, eu nunca me envolvi assim com ninguém, mas você é a pessoa certa, eu sei que é. —Por algum motivo eu queria que ele soubesse que aquele seria um momento especial para mim.

Ele cobriu o rosto com as duas mãos, parecia ter acabado de receber uma notícia desastrosa.

—Você nunca...nunca esteve antes com ninguém? —Ian constrangeu-se ao me perguntar sobre aquilo.

—Não, eu nunca... —Tentei ser mais clara, revirando os olhos.

Ian respirou fundo.

—Eu não posso fazer isso com você. —Ele balançou a cabeça.

—Não pode?Não podemos ter um namoro normal porque eu sou virgem? —Espantei-me com a hipótese.

Ian franziu o cenho, estava inexpressivo.

—Não, claro que não é por isso, eu só não tenho coragem de expô-la desta forma, eu nunca me perdoaria se algo desse errado e você se contaminasse. —Ele chacoalhou a cabeça como se quisesse se livrar daquele pensamento. —Eu amo de mais para arriscar.

Eu mal podia acreditar no que ele estava falando.

—Ian, tenho certeza de que você não estava usando preservativo quando foi contaminado, e tanto eu quanto você sabemos que esse método é totalmente seguro. —Irritei-me.

— Eu sei disso,mas, eu entro em pânico só de imaginar que posso contaminá-la, eu quase enlouqueço quando penso nisso. —Ele parecia já mais calmo.

—Então você já pensou nisso... comigo? —Provoquei.

—Acha que sou feito de aço? —Ele me encarou. —Você me desperta todos os tipos de sentimentos bons, e hoje quando decidi vir aqui, sabendo que estaríamos sozinhos eu sabia que de alguma forma falaríamos sobre isso, claro que não imaginava que assim tão diretamente, afinal, eu não imaginava o quão determinada você é.

—Eu sei o que eu sinto, eu sei bem o que quero e estou completamente resolvida sobre minhas decisões. -Voltei a me aproximar dele. —Ian, eu estou apostando todas as minhas fichas em nós, estou disposta a enfrentar qualquer coisa para ficar com você, eu estou inteira nisso, mas você tem que parar de colocar obstáculos entre nós cada vez que estamos bem.

Ele sorriu e me abraçou.

—Nem nos meus dias mais otimistas eu imaginaria encontrar alguém como você.

—Isso quer dizer que estamos de acordo? —Quis saber, cheia de segundas intenções.

—As coisas vão acontecer naturalmente, isso não significa que hoje, eu preciso mesmo estar certo de que não vou oferecer nenhum risco a você, conversarei com meu médico sobre isso. —Ele assentiu.

—Tudo bem, mas ele vai dizer tudo o que eu te disse, você vai ver. —Conjecturei, em seguida coloquei o filme para que pudéssemos assistir.

Nos deitamos lado a lado, Ian passou seus braços em volta de mim, sua respiração estava em minha nuca, eu sentia arrepios a cada segundo.

—Está gostando do filme? —Olhei para ele.

—Acho que sim, parece uma história interessante. —Ele foi vago.

Era a primeira vez em que eu não conseguia me concentrar naquele filme, foi a primeira vez que não senti inveja da Baby...A cada vez que ele despercebidamente beijava meus cabelos, minha vontade era de agarrá-lo, foi o que fiz.

—Você não está facilitando as coisas. —Ele reclamou sem me largar.

Apenas sorri.

Depois de um certo tempo, meus olhos começaram a pesar, Ian realmente parecia interessado no filme e eu entre uma piscada e outra acabei adormecendo em seus braços.

Certamente sonhava com algo muito bom,cheguei a ouvir o som do despertador, longe e abafado, ajeitei-me na cama e ignorei-o.

—Lívia, acorde... —Algo parecido com a voz de Ian parecia me chamar.

—Que novidade você nos meus sonhos... —Sussurrei ainda de olhos fechados.

—Lívia, não é um sonho, acorde! —Desta vez aquele chamado pareceu-me bastante real.

 Respirei fundo e abri os meus olhos, Ian estava bem em minha frente, seus olhos assustados, cabelos bagunçados e beleza intacta.

—Já é de manhã? —Sentei-me na cama ainda confusa.

—Já são quase 7:00 horas, eu peguei no sono a só acordei por causa desse seu despertador. —Ele levantou-se .

—Vamos nos atrasar para o colégio. —Concluí já mais centrada.

 —Será que sua mãe voltou? —Ian preocupou-se.

Balancei a cabeça imaginando.

—Se ela tivesse voltado teria o colocado para fora antes de ter um infarto. —Acabei rindo.

—Vou me trocar, me espere lá em baixo. —Ele beijou minha testa e pegou sua camiseta para vestir-se.

— Posso ficar com ela? —Perguntei.

—E eu pego o elevador sem camisa? Imagine se uma senhora resolve subir também.

—Você tem razão. —Admiti . —Imagine se uma adolescente bonita resolve subir também.Vista-se.

Ian caiu na gargalhada antes de ir.

Rapidamente me arrumei e desci para esperá-lo, Ian logo apontou de carro, por todo o caminho seguimos nos olhando sem acreditar no que havíamos feito.

—Vou deixar você um quarteirão antes. —Ele anunciou.

Cruzei meus braços.

—Ian, qual o problema de nos verem chegando juntos?Somos vizinhos, nada mais normal que eu aceite uma carona.

Ele me olhou com desconfiança, continuou dirigindo.

—Temos que tomar cuidado...

Senti um aperto no coração, eu pude perceber um fundo de mágoa em suas palavras.

Quando estacionou, Ian abriu o porta-luvas.

—Antes que eu me esqueça, está aqui, mas não é um presente, é uma troca. —Ele me estendeu pequeno rolo de malha azul clara.

—Sua camiseta! —Fiquei feliz enquanto a desenrolava. —Mas... por que disse que é uma troca?

Ian olhou-me com uma das sobrancelhas erguidas, seu sorriso parecia com o de quem acabava de fazer alguma molecagem.

—Peguei uma das suas fotos, aquela que você está de cabelos vermelhos.

Coloquei as mãos no rosto.

—Não acredito que fez isso, eu disse que odeio aquela foto. —Reclamei.

—Mas eu, gostei. —Ele piscou e desceu do carro.


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