Ao seu lado escrita por nanacfabreti


Capítulo 16
Esperança




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Os dias posteriores foram estranhos, Ian parecia ter entrado numa espécie de depressão, falava pouco, não sorria, mas me queria por perto, e isso já era uma grande coisa.

Ele se culpava, não pela morte de Suelen em si, mas pela forma que conduziu as coisa quando descobriu sobre sua doença.Eles já não eram mais namorados ,mas ela ainda gostava dele.

Embora aquilo me entristecesse, eu entendia seu estado, se para mim, que mal conhecia aquela garota, já era triste, imaginava como estava sendo para ele, que teve um relacionamento, que dividiu bons momentos.

A meu ver, Ian estava passando por um choque de realidade, ele não havia tido tempo antes para isso, logo que soube que era soropositivo, começamos a sair e isso deu a ele uma nova perspectiva, mudou o foco e acho que ele gastava seu tempo pensando mais em como me proteger, do que propriamente em como aquela doença podia ser perigosa para ele.

Houve um tarde em que estávamos em seu quarto, claro, seus pais não estavam lá,o telefone tocou e ele atendeu com urgência.

—Marla...tudo bem? –Ele sentou-se na cama de costas para mim.

Até então nenhuma novidade, era perfeitamente normal um telefonema de sua irmã, mas depois de um tempo de conversa, notei que Ian parecia não querer que eu soubesse sobre o que falavam, ele só respondia com monossílabas, e eu não conseguia definir qual era o assunto, mas meu sexto sentido fez minha barriga gelar.

—Aconteceu alguma coisa? –Toquei suas costas.

Ele não olhou para mim imediatamente e eu, já o conhecia bem o bastante para saber que sim, ele estava  me escondendo algo.

—Não –ele sorriu de forma forçada –Marla só queria saber como eu estou, ela soube da Suelen.

Ajeitei-me na cama e cruzei os braços sentindo minha garganta queimar. Eu odiava a sensação que me dominava.

—Espero que não esteja me escondendo nada. –Encarei-o de forma séria.

Ian contraiu seu queixo, ele parecia dúbio, coçou o rosto e respirou fundo.

—Tudo bem Liv, eu não consigo mentir pra você.

Fechei meus olhos temendo o que estava por vir.

—Vai, fala então... –Assenti começando uma oração interna, eu não estava pronta para mais nada de ruim.

—Existe em Londres, onde a Marla mora, um programa de testes de uma vacina contra o HIV, é algo experimental e eles precisam de voluntários. –Ian começou a me contar enquanto acariciava minha perna. –Minha irmã já havia me falado sobre isso antes, mas...

—Mas começamos a namorar e você não deu importância, agora está pensando em ir? –Tive que interrompê-lo, Ian estava dando voltas e eu já sabia onde ele queria chegar.

—Na verdade, eu não pensei em nada, – ele me encarou– queria falar com você, eu nunca tomaria uma decisão sem consultá-la.

Corri meus olhos por seu quarto buscando as palavras certas, obviamente eu não queria ficar longe dele, mas, como podia me opor a algo que seria para seu bem.

—O que seu médico diz disso?Ele já sabe?

—Já. –Ele balançou a cabeça. –Mas é como eu disse, são experimentos, eu vou ser tipo uma cobaia. –Ele encolheu os ombros, resignado.

Bem, ele estava trocando telefonemas com sua irmã, já havia falado com seu médico, de forma que eu, estava sendo a última a saber.Aquilo não era bom, na verdade, eu me senti enganada, como se Ian estivesse fazendo tudo pelas minhas costas, e agora, depois de tudo acertado estava jogando sobre mim a responsabilidade de decidir.

—Eu não gostei da forma que você armou tudo isso – comecei a chorar – devia ter me contado antes,no começo, e não agora.

Ian me abraçou desesperado.

—Liv, eu não armei nada, eu só quis buscar o máximo de informação para depois, juntos, nós dois decidirmos. –ele segurou meu rosto –eu já disse, não faço nada sem seu aval.

—Quanto tempo você teria que passar lá? –Amarguei aquela pergunta, não imaginava ficar longe dele.

—Em torno de seis meses. –Ele assentiu com dor, devia estar da mesma forma que eu.

"Seis meses." –Pensei já me sentindo partida ao meio.Eu não saberia o que fazer, mas aquilo talvez fosse a única coisa que ele tinha para se agarrar.Como eu podia tirar isso dele?

—Ian, se existe um por cento de chance, então segure-a. –Afundei meu rosto em seu ombro e me acabei de chorar, sentindo sua falta antes mesmo dele partir.

Em pouco tempo ele acertou sua ida, sua mãe estava empolgada, no entanto algo me dizia que não era exatamente pela chance de cura de Ian, mas sim, porque dessa forma, ficaríamos separados.

Para minha mãe eu não contei, não queria dar aquele prazer para ela, embora, eu achasse que a própria mãe de Ian cuidaria de dar a boa notícia a ela.

Faltavam apenas vinte dias para sua partida, e eu me esforçava ao máximo para tentar parecer que estava bem, que estava firme.Só Deus e meu pai sabiam como eu verdadeiramente me sentia, eu estava acabada e não podia deixar isso transparecer.Era certo que se Ian notasse minha situação, desistiria de ir.

Com a proximidade do natal , minha mãe vinha me cercando de mimos, fazia meus pratos prediletos, comentava comigo sobre filmes que eu sabia que ela odiava e parecia ter esquecido nossas desavenças passadas.Eu não sei se estava ressabiada, ou se era mais uma vez aquele meu sexto sentido dando as caras, mas ela não me convencia,havia algo ali, velado, em suas boas intenções.

—Vamos passar a noite de natal juntas, não é? –Ela perguntou-me na antevéspera.

Ian viajaria no dia 27, portanto eu tinha apenas quatro dias para ficar com ele antes da sua partida.

—Não.Vou ficar com Ian. –Respondi seca já imaginando que ela faria um escândalo.

Ela fechou a cara instantaneamente.

—Graças a Deus que isso está acabando. –Ela falou tão baixo que na verdade, deve ter pensado alto.

Eu estava sentada no sofá e ela na poltrona em minha frente, senti meu sangue ferver e como já não estava em meus melhores dias, aquela foi minha deixa.

—Como você pode ser tão cruel? –Gritei colocando-me em pé. –Não pensa nem por um minuto em como eu estou me sentindo?

Ela também se levantou.

—Eu avisei a você que isso não acabaria bem. –Ela colocou o dedo em riste. –Você só está colhendo o que plantou.

Balancei minha cabeça sem acreditar que aquela ali, regozijando da mim dor, era minha mãe, alguém que deveria ser meu apoio.

— Se minha dor a faz feliz, aproveite, por que sim, eu estou sofrendo, mas seis meses passam rápido, e logo estarei feliz com Ian novamente. –Tentei não chorar. –Já você vai ser assim para sempre, amarga e infeliz.Meu pai fez muito bem em ter se separado de você.

Ela arregalou os olhos e se armou para dar mais um tapa em meu rosto, com um reflexo rápido segurei seu braço.

—Você não vai mais me bater. Entendeu? –Senti minhas lágrimas quentes e insistentes escorrendo em minha face.

Sem deixar que ela me dissesse mais nada corri para meu quarto e fui colocando tudo o que via pela frente em uma mochila grande.Eu estava decidida, não moraria mais com ela.

Entrei no elevador e não estava nem aí para os pais de Ian, quando dei por mim já estava em sua porta.

—Graças a Deus que é você... –Agarrei-o depois de soltar aquela bolsa pesada no chão.

—Liv, o que aconteceu? –Ele assustou-se.

—Vou passar um tempo com meu pai...Sem você nesse prédio eu não tenho motivos pra ficar aqui. –Chorei em seu ombro.

Enquanto ele dirigia, contei a ele sobre a discussão que acabava de ter.Sem querer deixei escapar que ela já havia me batido.

—Que droga! –Ele rosnou. –Eu não acredito que sua mãe chegou a esse ponto.

Eu não queria que ele soubesse, Ian se sentiria culpado, mas já era tarde, eu penas o fiz prometer que ele não diria nada ao meu pai.Tudo o que eu não precisava era de uma confusão em massa.

—Sua mãe acabou de me ligar. –Ele veio me receber apreensivo. –Ela está possessa.

—Não dá mais pai. –Abracei-o –Minha mãe está impossível, vou ficar com você, pelo menos nesse período de férias.

—Claro filha. –Ele beijou o topo da minha cabeça. –Quanto tempo quiser.

Em meu quarto na casa de meu pai, finalmente me senti bem, Ian ajudou-me a organizar minhas coisas e depois deitei com a cabeça em seu colo.

—Vamos fazer um pacto? –Propus de olhos fechados.

Ian riu.

—O que você quiser. –Ele acariciava meus cabelos.

—Esses dias que nos restam juntos serão os melhores...vamos fingir que não existem problemas, que não ficaremos separados, que minha mãe não é um robô sem sentimentos ...O que acha?

Ian ficou em silêncio por um tempo.

—Vou ver o que posso fazer Aladim... –Ele brincou.

—Isso quer dizer que tenho direito a três desejos? –Sentei-me para poder ficar mais perto dele.

—Não. –Ele me beijou rapidamente. –Pra você, todos os pedidos que quiser.

Permanecemos ali deitados, grudados como se fôssemos um só, acabei pegando no sono tamanho o meu conforto.

—Liv, acorde... –Ouvi a voz de Ian invadindo meus sonhos.

Pisquei algumas vezes, o quarto ainda estava claro.

—Nossa, eu dormi por muito tempo? –Esfreguei meus olhos e depois me sentei.

—Só o tempo necessário para que eu pudesse organizar algumas coisas. –Ele foi enigmático.

—Do que está falando?

Ian estendeu-me uma de suas mãos e me puxou.

—Vamos...não podemos perder nem mais um minuto dos nossos dias perfeitos. –Ele sorriu.

—Não estou entendendo. –Encolhi meus ombros enquanto caminhávamos para fora do meu quarto.

Na sala meu pai estava em pé com um embrulho nas mãos.

—Isso é pra você Lívia. –Ele estendeu-me o pacote. –Seu presente de natal.

Franzi a testa.

—Por que agora? –Perguntei já abrindo. –Era uma caixinha de uma agência de turismo, dentro um vale viagem. –O que isso significa?

—Calma. –Ele fez um sinal com as mãos. –Não é para já, Ian vai ficar seis meses fora, então teremos tempo de persuadir sua mãe.

Pulei de alegria como uma criança, eu não podia acreditar que meu pai planejava uma visita minha a Ian, em Londres...

—Jonas, não tenho como agradecer. –Ian abraçou-o

Ele apenas sorriu de volta.

—Eu ia entregar amanhã, mas alguém pediu permissão para sequestrá-la por uns dias e eu dei. –Ele balançou a cabeça meio sem jeito. –Vão,aproveitem,eu cuido de tudo por aqui.

Olhei para Ian e ele parecia esconder um segredo.

—Tenho tanta sorte –segurei as mãos de Ian e do meu pai –Os dois melhores homens do mundo, são meus.

Acabamos rindo.

Entramos no carro e eu já imaginava para onde estávamos indo mesmo sem Ian me dizer, meu pai ficou no portão nos olhando partir.

—Eu te amo pai. –Gritei colocando a cabeça pra fora do carro.

Ele acenou para mim.

Ian tocou minha perna.

—Pronta? –Ele sorriu.

—Mal posso esperar. –Inclinei-me para beijá-lo.


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