Ao seu lado escrita por nanacfabreti


Capítulo 14
Três Regras




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—O que devo esperar deste evento? –Ian impostou a voz enquanto manobrava para estacionar em uma vaga apertada.

—Musica ruim e ponche não alcoólico quente. –Respondi sem titubear.

Ele parou por um instante e sorriu com o canto dos lábios.

—Nossa, você sabe mesmo como promover uma festa. –Ele zombou.

Ri alto.

—Só estou sendo sincera, não quero ouvir reclamações posteriores. –Me justifiquei enquanto corria os olhos pelo pátio que estava cheio de alunos fantasiados.

—Sua sorte e que qualquer lugar é bom se for em sua companhia.

Apenas sorri, eu estava tão apreensiva e Ian parecia tão animado, despreocupado que acabei por relaxar, era o melhor a fazer.

Ele recolocou se tampão no olho e desceu para abrir a porta para mim, respirei fundo , segurei sua mão e caminhamos festa a dentro.Deviam haver mais pessoas fora do que dentro do salão de festas, o que era comum.

As fantasias eram as mais diversas, bruxas, eu havia parado de contar na quinta que avistei, o melhor foi que não chamávamos a atenção, as pessoas estavam tão distraídas que certamente não notavam que tratava-se de Ian ali.

—Acho que estou começando a acreditar que a musica é ruim. –Ian cochichou em meu ouvido.

—Eu avisei. –Gritei puxando-o em direção ao salão.

Na entrada um arco de balões verdes e vermelhos, no centro dele uma faixa exibia a frase:"FESTA DE APRESENTAÇÃO DOS CARTÕES DE NATAL". Eu estava curiosa para ver como haviam ficado, era algo que realmente importava para mim, já que nos anos anteriores eu havia participado com tanto afinco.

Antes de entrarmos, o cheiro do ponche de frutas misturado com a fumaça artificial que tinha todo ano me fez sentir em casa, uma banda desconhecida tentava fazer um cover da musica thriller , mas quem dançava,parecia ignorar o ritmo da música,acelerei meus passos, um corredor de cavaletes exibia os exemplares dos convites.

—Nossa, ficaram muito bons. –Elogiei enquanto caminhávamos por entre eles.

Ian permaneceu em silencio enquanto eu vibrava com cada cartão que via.

— Lívia, você estava mesmo nisso, não é? –Ele inclinou-se para que eu pudesse ouvi-lo.

Arquei as sobrancelhas sem entender muito bem a pergunta.

—O que está dizendo exatamente? –Indaguei.

—Estou me sentindo culpado por ter tirado você disso, afinal eu fui o causador da sua saída. –Ele começou a explicar.

Balancei a cabeça incrédula.

—Não sinta-se culpado, talvez você não saiba mas, aproveitei minhas tardes de forma bem mais prazerosa ,com uma pessoa muito interessante. –Apoiei-me em seu ombro para dizer bem perto do seu ouvido.

Ian tentou conter seu sorriso.

—Sério? –Ele entrou no jogo. –E acha que eu devo me importar com essa pessoa?Ela me oferece perigo?

—Hummm...eu diria que sim. –Voltei a me aproximar para não precisar ficar gritando. –Na verdade, eu só tenho olhos, ouvidos e tudo mais para essa pessoa, apenas ela.

Ian sorriu largamente, entrelaçou seus braços em minha cintura , com dois passos me colocou contra a parede e colou seus lábio nos meus, estávamos nos beijando em público, e mais, no colégio.

Não me opus, na verdade me entreguei inteiramente àqueles lábios macios, naquele instante tudo silenciou, eu já não ouvia nada além do pulsar descompassado do meu coração, senti minhas pernas virarem molas, entrelacei meus braços no pescoço de Ian.Eu poderia beijá-lo um milhão de vezes mas sempre me sentiria daquela forma.

Abri meus olhos, já me faltava o ar e ele ainda estava com os seus cerrados, as luzes coloriam seu rosto, sua beleza era intocável, incontestável, e ele era meu, Ian, sempre ele, só ele para me entorpecer daquela forma.Mesmo sem conseguir respirar não interrompi nosso beijo, deixaria que ele o fizesse, preferia perder os sentidos em seus braços que respirar longe deles.

Aos poucos o som foi voltando ao normal, ou melhor, eu fui voltando ao normal,Ian estava com o rosto enfiado em meus cabelos, sussurrando palavras gentis em meu ouvido, certamente devo ter mesmo perdido os sentidos por um instante, no entanto me sentia nas nuvens.

—Lívia, está tudo bem? –Ian preocupou-se com meu estado.

—Nunca estive tão bem. –Sorri, mesmo porque meus lábios tinham vontade própria.

—Então o que acha de explorarmos essa festa? –Ele segurou-me pela mão.

—Estou de acordo. –Afirmei já me colocando em movimento.

Passamos por entre as pessoas que estavam afastadas da pista de dança, eu procurava rostos conhecidos em meio as fantasias, na verdade , rostos mais conhecidos, pessoas do meu convívio, mas num primeiro momento não vi ninguém, as mãos de Ian começaram a suar embora ele estivesse disfarçando bem que estava a vontade.

Havia uma mesa montada com o bom e velho ponche em seu centro, em volta salgadinhos e doces faziam lembrar uma festa infantil, em uma das extremidades da mesa avistei o diretor, e a professora de história, sem fantasias, vestidos como de costume.Eles estavam numa conversa animada, entretanto Roberto notou minha presença imediatamente.Antes eu era bastante conhecida por colaborar nas atividades extra curriculares do colégio, por hora ele me tratava como a garota que colou os cabelos de Cristine.

Depois de alguns instantes nos analisando ele se inclinou em direção da professora e cochichou algo em seu ouvido, ela sem disfarçar voltou sua atenção para Ian e eu, que fingi não estar vendo aquela movimentação.

—Quer um copo de ponche? –Ian riu alheio ao que estava acontecendo.

—Se soubesse as historias que existem por trás dessa bebida, entenderia porque a jarra ainda está cheia. –Tentei agir naturalmente.

—Quer que eu encontre alguma outra coisa para você beber? –Ele ofereceu depois de cair na gargalhada.

Com o canto dos olhos notei que eles ainda falavam olhando em nossa direção.

—Do outro lado do salão, geralmente lá tem latas de refrigerante, é mais garantido beber algo industrializado. – Puxei-o rapidamente na direção oposta de onde estávamos.

Enquanto cortávamos o salão ouvi uma risada bem conhecida, era Júlia, a marinheira mais sexy que eu já vira, estava dançando com um garoto ruivo do último ano, parecia muito animada. Estava decidindo se iria ou não falar com ela quando ela me avistou.

—Lívia? Você veio? –Ela gritou enquanto vinha em minha direção.

Ian ensaiou soltar minha mão, apertei a dele com força.

—Surpresa! –Dei com os ombros, não pensei em nada mais original.

—Você é mesmo uma traidora! –Ela deu um tapinha leve em meu braço, depois correu os olhos para Ian, em seguida, para nossas mãos unidas e finalmente, com a expressão mais confusa possível voltou a me encarar.

—Sei que já se viram ,mas oficialmente apresentando, Ian está e Julia, minha amiga, e Júlia, este como você sabe... é Ian. – Eu totalmente nervosa tentei fazer ...bem, nem sei o que tentei fazer, eu não havia tido tempo para pensar nas apresentações.

—Olá. –Ian timidamente acenou com um das mãos.

—Olá ...Ian. –Ela encarou-o de forma atípica, Júlia parecia perdida. –Bem, vocês vieram juntos? –Ela voltou-se para mim.

Eu precisava ser sincera, não tinha mais como fazer diferente, por fim Julia merecia minha honestidade, mesmo que meio tardia.

—Julia, Ian e eu estamos namorando. –Fui direta, era só o que me restava fazer.

Ian olhou para mim , Júlia permaneceu estática, seus olhos claros pareciam duas telas de TV exibindo tudo o que passava-se com ela naquele instante.Medo, surpresa, raiva , tudo em menos de um segundo.

—Como? –Ela indagou perdida , seus olhos moviam-se para todos os lados.

Respirei fundo.

—Olha, eu sei que temos que conversar, mas aqui, hoje..não é o melhor momento. –Ponderei e automaticamente estiquei meu braço para tocá-la.

A reação de Julia foi surpreendente, antes eu pudesse alcançá-la com um passo rápido ela se desvencilhou de mim, seus olhos fitaram minha mão com repulsa, e não era por estar se sentindo enganada, era por preconceito mesmo, como se o fato de estar namorando Ian me tornasse uma ameaça eminente.Meu corpo ficou gélido no mesmo instante, sabia que Ian havia entendido o que estava acontecendo, sabia que aquilo o machucaria mais que a mim mesma.

—Bem, depois disso acho que não temos mais nada para dizer uma a outra, nem hoje , nem depois. –Fui seca sem ter coragem de encarar meu amor, que permanecia ali, firme ao meu lado.

Julia parecia em choque, mas pareceu envergonhar-se do que havia feito.

—Vamos Ian, quero algo para beber. –Falei passando por ela fingindo que aquilo não havia me afetado.

—É, Como eu previa. –Ian começou a dizer.

Encarei-o, seu rosto estava endurecido numa expressão derrotada.

—Não comece. –Repreendi-o enquanto me colocava em sua frente.

—Mas Lívia, não percebe o que está acontecendo? –Ele tirou o chapéu e coçou a cabeça, confesso que eu estava louca de vontade de fazer o mesmo, de repente aquele adereço começou a me incomodar.

—Ian, eu sei que isso vai se repetir... –Soltei meus braços. –Sei lá, por quantas outras vezes, mas eu não me importo, entendeu?Eu não ligo pra isso, desde que você aja da mesma forma.

Ele me encarou em silêncio por um tempo, depois sem nada dizer me puxou para um abraço.

—Tudo bem ,mas, o que acha de irmos? –Ele falou em um ouvido.

Afastei-me um pouco.

—Não sem antes cumprirmos as três regras. –Intimei a ele.

Ian arqueou as sobrancelhas.

—Do que está falando?

—Das três regras sobre festas de colégio. –Sorri maliciosa.

—Não sabia disso, na verdade nunca ouvi dizer. –Ele cruzou os braços contra seu peito, parecia curioso.

—Em que mundo você vive? –Provoquei-o

Ian sorriu com o canto dos lábios.

—Vamos, quais são as regras? –Ele me desafiou.

—Certo. –Tomei postura. – Não podemos ir embora de uma festa sem antes exercer três deveres muito importantes. –Comecei me aproximando ainda mais dele, a banda ainda tocava muito alto. –Um bebida, uma dança e um beijo, isso é o mínimo a ser feito em uma festa. –Contei com os dedos.

Ian estreitou os olhos e os manteve fixos em mim.

—Espero que tenha criado essas regas agora. –Ele parecia sério.

—Por quê? –Indaguei.

Ian colocou as mãos no bolso da calça.

—Certo, espero que não tenha usado muito essas regras. –Ele desfez a carranca e com uma das mãos segurou-me pela cintura.

Caí na gargalhada e enlacei meus braços em seu pescoço.

—Está com ciúmes? –Provoquei-o.

Ian baixou o tampão e voltou a cobrir um dos olhos.

—Uma bebida. –Ele pegou da mesa uma lata de refrigerante, abriu-a e ofereceu a mim.

Tomei um gole, estava com a garganta seca, Ian fez o mesmo depois de mim.

—Uma dança? –Voltei a desafiá-lo.

—Eu não sei dançar ...isso. –Ele reclamou da música que a banda tocava, era desconhecida e sinceramente ruim.

—Não precisamos dançar essa música, vamos dançar imaginado outra , uma que gostamos. –Tentei diluir o problema.

Eu não esperava, imaginava que teria que persuadi-lo ainda mais, no entanto Ian me puxou para o centro da pista de dança, envolveu minha cintura com seus braços e colou seus rosto no meu.Enquanto as pessoas em nossa volta pulavam e balançavam ao som de um rock animado, Ian e eu dançávamos lentamente.

—Back for good, do Take That. –Ele falou em meu ouvido. –Essa é canção em que estou pensando.

Sorri, eu não estava pensando em canção alguma, embora a idéia tenha partido de mim.Fiquei feliz, eu adorava aquela música.

—Hoje. –Falei a ele.

—O quê? –Ian não entendeu.

—Inventei hoje as regras, há minutos atrás na verdade. –Confessei .

Senti seu corpo balançar delicadamente, ele estava rindo.

—Uma bebida, uma dança e um beijo? –Ele afastou seu rosto para me olhar.

Balancei a cabeça confirmando.

—Não podem ser dois beijos? –Ian sorriu malicioso.

Pisquei apaixonada.

—Quantos quiser. – Aprovei já me entregando ao seu beijo, dessa vez tão delicado, sem pressa.

Então ficamos ali, dançando nossa música imaginária.

—Podemos ir se quiser. –Concedi, sem notar que algumas pessoas nos observavam.

Ian correu os olhos rapidamente ao redor .

—Acho que estamos chamando a atenção, que tal uma volta lá fora? –Ele sugeriu sem parecer incomodado com a situação.

Por mais que estivéssemos fantasiados e que a iluminação estivesse fraca, nós não imaginávamos que passaríamos despercebidos, na verdade, essa nem era a intenção.

Caminhamos seguidos por muitos olhos, estávamos indo em direção á saída que levava até a área das piscinas, podia ser até impressão minha mas, era como se de repente todas as atenções estivessem voltadas para nós, como se todos nos olhassem.

Eu já esperava por aquele tipo de reação, olhos arregalados, cochichos ,especulações, mas surpreendente foi o puxão que meu braço sofreu quando estávamos prestes a sair do salão de festas.Com o tranco puxei a mão de Ian que virou-se no mesmo instante.

—O que está acontecendo? –Ian perguntou com sua voz mais grave olhando para um outro pirata que permanecia segurando meu braço, Leonardo.

— O que está fazendo Léo? –Perguntei indignada, depois de me soltar dele.

—Eu é que pergunto. –Ele estava raivoso. – O que está fazendo com esse cara?

—Eu sou o namorado dela. –Ian adiantou-se. –Algum problema?

Léo parecia estar se preparando para saltar sobre Ian, movimentei-me de forma que caso isso acontecesse, eu estaria entre os dois.A banda ainda tocava, mas a grande maioria das pessoas já havia detectado a briga.

—Vocês só podem estar brincando, não é? –Léo voltou-se para mim. –Lívia, que brincadeira é essa?

Engoli e respirei fundo.

—Léo, não devo satisfações a você. –Tentei não ser dura. –Mas é verdade, Ian e eu estamos namorando. –Afirmei em alto e bom som, não só para Léo, mas, para todos que estavam em nossa volta.

Ele tirou o chapéu da cabeça e jogou-o no chão, estava furioso.

—Lívia, você só pode estar louca. –Ele passou as mãos pelo rosto e arrancou seu tampão do olho. –E você... –Ele dirigiu-se a Ian. –Não tenho como classificá-lo, mesmo estando doente ainda quer colecionar garotas, isso é no mínimo nojento.

—Cale a boca Leonardo. –Gritei antes de qualquer outra pessoa, minha voz ecoou no salão, já que finalmente a banda havia parado de tocar. – Você não tem o direito. –Reclamei com o dedo em riste.

Não sei o que passou pela cabeça Ian, mas ele segurou-me pela cintura, parecia temer meus atos.

—Vamos Lívia, vamos embora. ––Ele usou um tom bem mais calmo para falar comigo.

—Lívia, você não sabe o que está fazendo, isso vai acabar mal. ––Leonardo segurou minha mão quase implorando .

Ian olhou para ele, mais uma vez a fúria estampava seus olhos claros.

—Cara, eu estou me segurando. –Ele disse entre os dentes. – Não encoste mais a mão nela. –Ian explodiu.

—Quem não deve encostar as mãos nela é você. –Leonardo começou a gritar também com o dedo apontado para Ian. –O que pretende? Alguém para compartilhar sua doença?

Um segundo depois de ouvir os duros insultos de Leonardo, as mãos de Ian já estavam se fechando, eu imaginei como aquilo terminaria.

—Ian, não dê ouvidos à ele, vamos para casa. –Eu me virei para ele e segurei seu rosto com minhas duas mãos. –Sabe que só uma coisa importa.

Todos falavam ao mesmo tempo ,mas, eu consegui distinguir a voz do diretor que parecia se aproximar cada vez mais, certamente ele lutava contra aquele mar de alunos que se aglomeravam para ver a briga, pareciam sedentos.

Ian estava dúbio, olhou para Leonardo, depois para mim, além do mais, ele sabia que uma luta corporal não acabaria bem para ele.

—Eu não sei como isso começou, mas sei como vai acabar. – Roberto finalmente esbravejou fazendo as atenções mudarem de foco.Ele colocou-se a frente de Leonardo que parecia estar cego, ele encarava Ian de uma forma assustadora. – Os rapazes não vão acabar com a nossa festa.

—Fique tranqüilo, minha namorada e eu já estávamos de saída. –Ian adiantou-se já me guiando para o lado externo do colégio.

Imaginei que Leo não terminaria ali, no entanto,ele me encarou novamente e depois deu as costas passando por todos como um rolo compressor, acompanhei-o por alguns instantes com meus olhos, Christine que estava fantasiada como uma das" angels da Victória secrets" tentou pará-lo, mas até mesmo ela quase foi atropelada.

Saímos sem nada dizer um ao outro, o trajeto até o carro pareceu levar horas, por bem as pessoas que estavam do lado de fora não estavam á par dos acontecimentos.

Ian entrou no carro depois de mim, sentou-se e bateu com força as mãos no volante, me assustei, ele estava bufando.

—Vai ficar assim? –Perguntei após um longo tempo de silencio, nada apenas sua respiração ofegante sonorizava o ambiente.

Ian finamente olhou para mim e sorriu irônico.

—Sabe o que me deixa mais irritado?

—Ian... –Toquei sua mão delicadamente. –Não dê ouvidos ao que falam; Eu não dou. –Dei com os ombros.

Ele voltou a sorrir da mesma forma.

—Lívia, eu pouco me importo com tudo o que acabei de ouvir, como disse outras vezes, já ouvi e sei que ouvirei coisas piores. –Ele balançou a cabeça.

—Não sei o que deu no Leonardo. –Lamentei.

—Não sabe? –Ian indagou um tanto alterado. –Qualquer um percebe que aquele cara é apaixonado por você.

Arregalei meus olhos e congelei.

—Isso é bobagem. –Aleguei sem saber se Ian estava certo ou errado.

—Eu sempre percebi isso, não é algo que ele faça questão de esconder ou disfarçar, e se vocês nunca tiveram nada, pode ter certeza de que ele ainda espera que isso venha acontecer.

—Claro que nunca tivemos nada! –Afirmei árdua, desconsiderando o beijo que dividimos no passado.

—Tudo bem ,mas, isso não muda o fato dele ser apaixonado por você. –Ele insistiu.

Ergui as mãos.

—Certo, e se for? O que isso interfere em nossa relação? –Assenti querendo encurtar aquele assunto.

Ian balançou a cabeça, voltou a ficar sério.

—Eu sei que estou sendo extremamente egoísta, mas, não posso mentir. –Ele encarou a mim. –Eu desejo profundamente que não interfira em nada , porque ,por mais que no fundo eu saiba que aquele cara seria uma opção melhor para você eu não posso sequer imaginá-la com ele ou com qualquer outra pessoa que não eu.

— Então não perca seu tempo pensando bobagens. –Inclinei-me em sua direção, podia sentir sua respiração quente. – Não quero ter que ficar repetindo incansavelmente que eu só quero você.

Ian me beijou, por uma, duas vezes, era como se não fosse o bastante.

— Para onde vamos agora? –Ele perguntou ofegante, suas veias estavam pulsando, dava para ver.

—Não faça isso comigo. –Choraminguei ainda recuperando meu ar. –Não posso passar outra noite fora de casa, ainda mais, essa noite.

Ian baixou as sobrancelhas numa expressão triste.

—Você tem razão, mas, não sabe como minha vida só faz sentido quando estamos juntos.

Sorri.

—Eu sei sim, para mim é do mesmo jeito. –Confessei enquanto aconchegava minha cabeça em seu peito, queria ouvir seu coração.

—Estamos perdidos então. –Sua voz ecoou em meu ouvido.

—É, acho que estamos. –Concordei.

Voltamos então para nosso prédio, permanecemos dentro do carro por mais um tempo, estávamos relutando em nos separarmos, por poucas horas que fossem , mesmo assim a realidade era bem menos romântica, eu tinha uma mãe decepcionada a minha espera, eu precisava dar a ela o mínimo de respeito, voltar cedo era o mais certo a ser feito.

Quando abri a porta da sala tudo estava exatamente igual a quando eu saí,sem cheiro de comida, nenhuma louça na pia, a impressão que dava era de que minha mãe não havia saído do quarto, meu coração se apertou.Caminhei até seu quarto, a porta estava semi aberta, provavelmente ela havia deixado daquela forma para poder ouvir quando eu chegasse.

Entrei cuidadosamente, a luz estava apagada e a televisão ligada, o som estava muito baixo.

—Mãe? –Sussurrei para chamar sua atenção.

Ela estava deitada de costas para a porta, lentamente virou-se para me olhar.

—Que horas são? –Ela perguntou com a voz rouca.

—Pouco mais de meia noite. –Respondi sem exatidão.

—Está indo dormir? –Ela perguntou de forma seca.

—Sim, eu vou para o meu quarto, vou dormir. –Falei sabendo que ela queria ver se eu não estava alcoolizada ou coisa do gênero.Esse era o verdadeiro motivo para aquele breve diálogo, era notável que se pudesse não falava comigo.

—Deixe a porta aberta por favor. –Ela continuou antes de se virar e dar as costas para mim.

—A do meu quarto? –Questionei sem entender.

—Sim, não quero que tranque a sua porta. –Ela foi objetiva.

O que minha mãe estava pensando?Será que achava que eu fugiria no meio da noite?Pior, será que achava que eu podia estar querendo recolher Ian em meu quarto sem que ela soubesse?

Tudo bem que eu já havia feito algo parecido na noite em que ela passou fora de casa, mas...bem, em todo caso preferi não bater de frente, desejei-a boa noite e parti.

Minha vida realmente estava movimentada, tantas coisas acontecendo em questão de horas,finalmente senti que podia relembrar as melhores com mais calma, deitada já pronta pra dormir , fechei meus olhos e deixei que meus pensamentos fossem ara onde deveriam estar. De repente meu corpo se aqueceu, o cheiro de Ian se fez presente, eu quase podia sentir sua respiração, abri meus olhos assustada, ele não estava ali mas, desejei que estivesse, realmente minha mãe tinha razão por ordenar minha porta aberta, não fosse sua cisma eu provavelmente consideraria a opção de fugir para o último andar daquele prédio.

Eu não sabia se Ian estava dormindo ou não, por isso não liguei, peguei meu celular e digitei uma mensagem:"Não paro de pensar em você". Menos de um minuto depois ouvir o bip do meu telefone, uma resposta

"Eu também...quer fugir comigo?"

Ri sozinha, a proposta me pareceu tentadora.

"Seria ótimo, mas... estou sendo vigiada."

"Que pena, sinto sua falta..é sério."

Respirei fundo, estava prestes a sair ao seu encontro.

"Logo estaremos juntos. Só mais algumas horas..." Afirmei respirando fundo

"Ok, vou tentar dormir, amo você."

"Boa noite, também amo você."

Meu sono estava bem leve, talvez por isso pude perceber quando alguém entrou em meu quarto, passos bem leves. Minha mãe aproximou-se da minha cama e ficou ali por alguns minutos, permaneci fingindo dormir, não sei se ela foi checar se eu havia fugido ou se havia levado Ian para dormir ali comigo, de qualquer forma, se eu de fato estivesse cedido aos meus impulsos, teria sido pega.

Um cheiro forte e aconchegante de café despertou-me de mais um sonho com Ian,abri meus olhos calmamente, meu quarto estava claro, iluminado pelo sol, eu havia me esquecido de fechar as cortinas á noite, o barulho vindo da cozinha fez meu coração se acalmar, minha mãe havia voltado ao normal, ou pelo menos algo próximo disso.

Ansiosa, procurei com as mãos meu telefone, pensei em mandar uma mensagem desejando bom dia , ou talvez Ian tivesse tido a mesma ideia.O aparelho acusava o recebimento de uma nova mensagem, meu coração desnecessariamente acelerou.

"Me desculpe, perdi a cabeça e com isso a razão, preciso falar com você...Por favor, me ligue ou me atenda.

Leonardo."

Decididamente não era a mensagem esperada, sinceramente eu não estava nem um pouco interessada em saber o que Leonardo tinha a me dizer, eu sabia que minha relação com Ian não seria vista com bons olhos por ele, aliás, também por ele, afinal, dava para contar nos dedos de uma mão e ainda sobravam quatro , a quantia de pessoas que estava m ao nosso lado.

Larguei o celular na cama e segui para meus rituais de higiene, de repente um nuvem negar pairou sobre a minha cabeça, o pior é que eu sabia que aquilo podia piorar.

—Bom dia. –Fui objetiva ao cumprimentar minha mãe que ainda mexia nas panelas.

Ela me olhou com uma expressão enigmática, seu rosto estava abatido, e suas enormes olheiras estavam mal disfarçadas com maquiagem.

—Bom dia. –Ela respondeu encarando-me. –Tem café pronto, torradas e aquelas flores... –Ela apontou para um arranjo de flores coloridas. –Chegaram há pouco, são pra você.

Senti um ponta de empolgação em sua voz?Seria ela se rendendo aos encantos de Ian?Independente de qualquer coisa corri em direção ao ramalhete e, antes de tudo procurei pelo cartão, eu mal controlava a ânsia de ler o que dizia aquele pedaço de papel.

Meu coração acelerou-se de forma descontrolada, minhas mãos ficaram trêmulas .Antes de terminar de ler, olhei para minha mãe, ela estava parada me observando, certamente foi a primeira a abrir o pequeno envelope, era obvio que ela sabia que aquelas flores tinham sido enviadas por Leonardo e não por Ian.

—O que foi? –Ela me encarou de braços cruzados, seu tom era de cobrança.

Larguei as flores sobre o sofá e respirei fundo.

—Você leu o cartão, não tenho nada a dizer. –Fui ríspida.

Ela arregalou os olhos.

—Eu não... na verdade eu li porque não sabia de quem eram, só por isso. –Ela se atrapalhou enquanto tentava se explicar.

—Certo, então se fossem do Ian, há esta hora provavelmente estariam no lixo? – Indaguei querendo provocá-la.

Deu certo, seu rosto se fechou enquanto ela caminhava em minha direção.

—Lívia, tudo o que sei é que Leonardo gosta de você, e, ele é uma opção muito melhor. –Ela encarou-me. –Ele sim é o rapaz certo para você.

Ri irônica.

—E quem decide isso é você, mãe? –Alterei minha voz. –E os meus sentimentos?

—Lívia, você não vai suportar essa situação por muito tempo, uma hora esse rapaz vai adoecer e você não tem estrutura para suportar isso. –Ela usou desta vez um tom mais ameno, talvez para atenuar o que acabava de dizer.

Estreitei meus olhos, estava no meu limite.

—Como você é cruel. –Sibilei com raiva. –Quer saber, eu vou para a casa do meu pai, vou passar meu domingo com ele. – Passei por ela.

—Lívia, eu quero conversar com você! –Ela gritou. –Eu já soube o que houve ontem na festa do colégio.

Voltei um passo, já imaginava a forma com que as coisas haviam chegado até ela.

—Certo, então sabe que Leonardo se intrometeu na minha vida e que, por pouco não saiu aos socos com meu namorado?

Ela balançou a cabeça.

—Sua vida está uma bagunça, tudo porque está sendo inconsequente. –Ela sentou-se no sofá.

Caminhei até ela de volta.

—Sabe que agora você me intrigou...Como ficou sabendo?Agora tem um informante? –Questionei achando o fato muito estranho.

—Lívia, você está me desrespeitando! –Mais uma vez sua voz estava alterada.

—A recíproca é verdadeira, eu também estou sendo desrespeitada. –Falei antes de partir para o meu quarto.

Bati a porta com força, não queria que ela viesse atrás de mim, peguei meu celular enviei uma mensagem para Ian, pensei em mencionar o que acabara de acontecer, mas não queria preocupá-lo, então desejei apenas bom dia.

Enquanto mudava de roupas, decidida a seguir para a casa do meu pai , meu celular tocou, era Ian.

— O que acha de subir alguns andares? –Foi a primeira coisa que ouvi depois de dizer alô.

—E seus pais? –Perguntei muito interessada na proposta, minhas mãos tremiam.

—Saíram bem cedo, estão cuidando dos preparativos de uma quermesse , voltam só ao anoitecer.

Era tudo o que eu precisava, ficar ao seu lado.

—Em cinco minutos estarei em sua porta. –Avisei enquanto calçava meus sapatos.

Peguei minha mochila como se realmente fosse para a casa do meu pai, afinal, na verdade não sabia se depois acabaria indo para lá, passei pela sala e minha mãe continuava no sofá, inerte.

—Você não vai a lugar nenhum. –Ela se levantou impedindo minha passagem.

—Vou. –Encarei a ela, eu não baixaria minha guarda.

Ela me segurou pelo braço com agressividade.

—Você não vai estragar sua vida Lívia, o Leonardo –ela começou– ergui meu dedo e apontei para ela.

—Eu não vou ser seu passaporte para o pai do Leonardo. –Praticamente cuspi aquela frase.Eu sabia de seu interesse por ele.

Assim que ela assimilou o que eu dizia, sua mão estalou em meu rosto e pegou-me desprevenida. Aquele tapa doeu fisicamente, mas, doeu ainda mais emocionalmente.Respirei fundo e ela parecia assustada com o que acabava de fazer.

—Volto no final da tarde. –Avisei antes de fechar a porta.

Do lado de fora tive que me apoiar na parede para não cair, minha respiração estava curta, mas não chorei, segurei o quanto pude e peguei o elevador.

Quando saí , Ian estava a minha espera, parecia ter acabado de acordar, me enrosquei em seu pescoço.

— Enfim ...posso voltar a respirar. –Sussurrei em seu ouvido.

Eu não contaria o que tinha acabado de acontecer.

Ele me apertou contra seu corpo.

— Não imagina como me faz feliz quando fala assim. –Ele me beijou.

Fomos direto para seu quarto, as cortinas ainda estavam fechadas, a cama desarrumada parecia atrativa, Ian envolveu-me em seus braços jogou-nos sobre ela.

— Eu poderia ficar aqui para sempre, essa cama tem seu cheiro. –Sussurrei em seu ouvido enquanto ele ainda beijava meu pescoço.

Na penumbra seus olhos pareciam iluminados enquanto ele me olhava de forma furtiva.

—Essa cama, esse quarto, tudo tem aqui tem mais de você do que de mim. –Ele respirou. –Lívia...Tem tanto de você em mim que eu já perdi minha identidade.

Senti fogo e gelo ao mesmo tempo, o que eu podia responder?Estava tão afetada que tudo o que consegui fazer foi apertá-lo contra mim para ter certeza de que Ian era real.

Ele beijou-me mais uma vez, suas mãos corriam pelo meu corpo, ele colocou suas mãos por dentro da minha blusa, minha pele estava febril, senti como se pusesse entrar em combustão a qualquer momento. Eu não havia planejado nada, não me passou pela cabeça ter algo mais íntimo com Ian em sua casa, eu não pretendia tomar a iniciativa como da outras vezes, mas, quando eu percebi que Ian estava indo para esse caminho, quando ele começou a desabotoar minha camisa eu não hesitei, não pensei em nada, deixei que ele tomasse as rédeas, dessa vez tudo que fiz foi me entregar à ele.

Aquela foi a primeira vez que senti Ian totalmente sem reservas,tudo nele estava mais intenso, obviamente ele não deixou de se preocupar com a nossa proteção, mas, foi natural, sem as sombras que ele costumava colocar em cada toque entre nós.

—Não acredito que fizemos isso, aqui... –Respirei fundo sob os lençóis. –Isso é loucura.

—Se isso é loucura, eu quero permanecer insano. –Ele fechou os olhos e jogou a cabeça para traz, repousando em meu peito.

Passamos o resto do dia juntos, esquecemos do mundo que existia fora daquele quarto, pelo menos até o momento que seus pais avisaram que estavam voltando, mas, isso foi tarde da noite.

Minha mãe não me fez pergunta alguma, ao me ver chegando, seguiu para seu quarto, não sei se imaginava onde eu estava, o fato é que eu não estava me preocupando com o que ela pensava, aquele tapa tinha acabado com qualquer chance de entendimento entre nós.


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