Nós escrita por Graciela Pettrov


Capítulo 10
Vontades


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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E acabou que eles pegariam o mesmo ônibus, pois bem em cima da hora, quando acabavam de chegar ao banco, o ônibus que fazia linha para o bairro passou e ambos fizeram sinal para que o veículo parasse.

O Uchiha deixou que ela entrasse primeiro e a observou passar na roleta e sentar-se em um dos bancos altos no meio do ônibus. Enquanto passava seu Cartão-Transporte, ponderava se deveria sentar-se ao lado dela ou não.

Suspirou de alívio quando a mesma acenou e apontou para o banco ao seu lado. Ele sentou e pôs a mochila no colo.

Quando o veículo entrou em movimento, Sasuke olhou Sakura de esguelha e a notou concentrada em seu celular. Ela digitava algo e logo depois o levou a orelha, estava atendendo ou fazendo uma ligação.

O Uchiha a observou falar, os lábios se mexendo tão rápido que ele sequer conseguira entender alguma palavra, também o fato de não querer mostrar que estava prestando atenção dificultava a leitura labial.

Sasuke não sabia com quem nem o que ela dizia, mas sua expressão era uma que ele ainda não tinha visto nela. Era uma expressão triste e derrotada, como se a pessoa do outro lado da linha a estivesse machucando com palavras ou a diminuindo de alguma forma. Não havia mais apenas dois vincos entre suas sobrancelhas, mas sim sua testa inteira franzida.

Ele sentiu novamente aquele impulso de tocá-la.

Não é um encontro!

Pensou consigo, então baixou os olhos para a mochila e começou a se entreter com os zíperes pendurados.

...

Ino a ligou e a ligação caiu, enquanto aguardava uma segunda, Sakura observou Sasuke brincar com os zíperes, passando-os entre os dedos. Totalmente perdido em seu mundinho, como se simplesmente tivesse esquecido da existência dela ali.

Ela aproveitou o momento para tirar uma dúvida. Catou o caderninho da bolsa e começou a escrever. O balanço constante do ônibus dificultava bastante o ato.

Depois de terminado, pousou o caderno sobre suas mãos na mochila:

"Onde você mora?"

Sasuke leu, o cenho franzido, pois as letras estavam horríveis, todas tremidas, parecia que uma criança do primário havia escrito.

Sakura olhou para a frase e deu de ombros, depois sorriu lhe passando a caneta.

"Há seis quadras daqui" ele escreveu de volta, as letras também um pouco tremidas.

"Moro há três. Somos do mesmo bairro!"

Aquilo era novidade para o Uchiha, como era possível que morassem tão perto e não se conhecessem?

"Me mudei há pouco tempo" Sakura complementou, sanando assim as dúvidas dele a respeito de nunca terem se topado pelas ruas. O bairro não era tão grande assim.

Sasuke assentiu, procurando rapidamente algum outro assunto para continuar a conversa, mas escrever naquelas condições era tão ruim!

Ele nunca desejara tanto que ela já soubesse Língua de Sinais.

Ele nunca desejara tanto poder ser ouvinte.

Desanimado, devolveu o caderno para ela e então constatou que a conversa não continuaria nem se quisesse, pois Sakura já estava falando ao telefone novamente.

Sasuke voltou a brincadeira com o zíper, esperando sua parada chegar.

Enquanto Ino tagarelava em seu ouvido do outro lado da linha, a Haruno deixou sua voz em plano de fundo e se concentrou bem em Sasuke. Seu perfil bem desenhado e cabelo meio bagunçado.

Sua mente enchendo-se de perguntas que ela nem mesmo sabia de onde vinham: Será que Sasuke tinha noção de sua aparência? Ou era tão alienado quanto a isso como era com os olhares que as pessoas o lançavam?

Como ele seria se não fosse surdo? Afetaria em sua personalidade de alguma forma? Ele tinha tudo para ser um daqueles caras que usavam e descartavam as garotas ao seu bel-prazer.

O Uchiha pareceu sentir o peso do olhar dela sobre si e tirou sua atenção da mochila para encará-la. Havia um pequeno sorriso em sua boca, daqueles tímidos que não mostra os dentes e te faz imaginar como seria ele completo. Não era como a risada muda que ele dera antes, mas um sorriso que te faz querer fazer a pessoa gargalhar, só pra ver como fica o rosto dela assim.

Sakura sentiu isso, um ímpeto tão forte que a fez pensar, por uma fração de segundos:

E se eu simplesmente não fosse pra casa? E se eu o chamasse pra descermos aqui mesmo e continuássemos nossas aulas?

"ALÔ, AINDA TÁ AI?"

A voz estridente da Yamanaka a trouxe de volta para a realidade.

A Haruno rapidamente virou o rosto para a janela e voltou sua atenção para a loira. Queria se socar ali mesmo. Que droga de pensamento foi aquele? Ela com certeza estaria o enchendo se pedisse mais aulas, talvez ele nem mesmo quisesse estar ali naquele momento!

...

O sorriso de Sasuke murchou e então sumiu no momento que ela virou o rosto para o outro lado, como se não quisesse interagir com ele além do que era necessário.

O sentimento da constatação disso foi como uma agulhada em seu âmago, que se aprofundou e instalou ali. Sentiu vontade de puxar aquela cordinha e descer do ônibus no momento que o mesmo parasse, apenas para fugir de mais uma vergonha passada. Não era a primeira vez que isso acontecia, de ele confundir as coisas e acabar passando por idiota.

Mas o fato de ser surdo não o tornava menos incapaz que as demais pessoas, apenas dificultava sua forma de interpretar as coisas. Isso o frustrava profundamente, as vezes por interpretar muito tarde e erroneamente, e as vezes por sempre confundir as coisas.

Como naquele momento.

Sakura e ele cruzaram seus caminhos apenas pelo resultado de uma matemática sistemática: ela precisava aprender algo e ele era o melhor nisso, por isso estavam fazendo monitoria juntos; eles moravam no mesmo bairro, por isso estavam juntos no mesmo ônibus.

Ele concluiu, conformado, que se não fosse essas pequenas coisas, Sakura sequer quereria ou se importaria em conhecê-lo.

Ninguém nunca queria.

[...]

A Haruno encerrou a ligação e automaticamente olhou de soslaio para Sasuke. Ele agora circulava a pequena tatuagem em seu pulso com o dedo indicador, perdido, distraído e simplesmente hipnotizante.

Era inexplicável o quão ela tinha vontade de saber o que ele estava pensando quando ficava perdido naquele mundinho.

Ela acompanhou seus movimentos lentos na própria pele, então seus olhos se detiveram na tatuagem que parecia pedir para ser tocada e observada de perto. Por impulso, ela o fez.

Não sabia porque, mas suas mãos simplesmente ganharam vida própria e quando deu por si já tinha puxado o braço dele para si.

Os olhos de Sasuke se arregalaram minimamente diante da surpresa e ele suspirou quando sentiu os dedos delicados de Sakura tocarem seu pulso. Era suave, quase não dava para sentir, como se ela temesse apertar demais, espantá-lo.

Sasuke a observou estudar a tatuagem. Sakura circulou todo o desenho do leque, achando incrível como o vermelho e azul contrastavam com a pele pálida dele. Notou, além disso, que dava para ver algumas veias esverdeadas no decorrer do braço. Novamente, por puro impulso, ela acompanhou uma delas até onde a manga da camisa estava dobrada.

Depois olhou para cima, deparando-se com os orbes negros a olhando. A expressão de Sasuke era de pura surpresa. Era como se ele nunca tivesse sido tocado daquela forma.

— É bonita. — Sakura falou pausadamente, esperando que ele conseguisse ler seus lábios.

E ele os leu. E absorveu. E então sorriu, daquele jeito tímido de quem não sabe receber elogios.

Diante disso, foram os olhos de Sakura que se arregalaram, pois ela tivera, diante daquela visão, uma vontade que deveria estar ali.

Desta vez, ela desviou os olhos, e foi assim que, por cima do ombro dele, ela pôde ver que estava chegando ao seu destino.

Como se tivesse tomado um choque, ela soltou rapidamente o braço do Uchiha e pegou o caderno, escreveu ligeiro e destacou a folha: "Minha parada é a próxima, eu te mando uma mensagem para podermos marcar o próximo encontro." estava escrito em letras tortas.

Jogou tudo dentro da bolsa, ficou de pé, puxou a cordinha e então se afastou. Já estava na porta antes mesmo de o ônibus parar.

Tudo foi tão rápido que Sasuke ficou sem ação até que a viu aparecer do lado de fora. Ele tomou o lugar dela na janela e a olhou.

Sakura acenou, então, desajeitadamente, gesticulou:

"Obrigada."

Sasuke grudou o rosto na janela enquanto o ônibus se afastava e só se afastou quando não conseguia mais vê-la.

Quando voltou para seu banco, estava sorrindo. O toque em seu braço ainda estava quente, como se ela ainda estivesse ali, passando os dedos por ele.

[...]

Antes entrar em seu apartamento e enfrentar o namorado, Sakura se deu um minuto para fechar os olhos e respirar fundo.

Ela precisava clarear as ideias.

Precisava tirar a visão da expressão surpresa e totalmente fofa de Sasuke quando o tocou.

Precisava esquecer que, na hora que ele deu aquele sorriso tímido, ela sentiu uma imensa vontade de beijá-lo.


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Notas finais do capítulo

Obrigadas pelos comentários, xuxuzinhos. Me deixa tão, tão feliz ♥



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