Um passo errado escrita por nanacfabreti


Capítulo 5
DANÇA Comigo?




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O domingo com Erick tinha sido perfeito, Alicia só voltou para sua casa quando a noite começou a cair. Estava feliz mas sabia que não duraria por muito tempo. David. Não dava para deixar de pensar nele.

Alicia estava ciente que depois de ter passado o dia aos beijos com seu irmão, não podia levar aquele namoro adiante, até porque, Erick foi apenas a gota que precisava para o copo transbordar. Ela tinha certeza de que não amava o namorado, na verdade nunca amou. Sabia também que não seria fácil colocar um ponto final naquele relacionamento, não daria para ser por telefone, mas o que mais temia era a reação de David, se soubesse de seu envolvimento com o irmão.

Ela queria tanto poder falar com alguém, dividir aquele peso.Seu celular tocou, era Jéssica. Seria um sinal?

—Fala Jess... –Ela sentou-se no sofá da sala

—Tenho que pedir perdão pra você Ali, sei que prometi te ajudar hoje, mas, acordei agora a pouco. –Jéssica estava rouca.

Alicia respirou fundo, não sabia uma forma de colocar a amiga a par dos fatos sem contar as partes principais.

—Não esquenta...Por fim não vou precisar tirar minhas coisas de lá, mas e você, a ressaca foi tão grande assim?

—Ali...você nem imagina o que eu fiz. –Jéssica deu um risinho. –Acabei ficando com o Tom.

—O quê? Como assim ficou com o Tom?

—Ele foi atrás de mim ontem, disse que ia me acompanhar porque estava preocupado, que eu tinha bebido de mais...aí eu resolvi desviar o caminho. Eu dormi na casa dele, acordamos há uma hora atrás.

—Nem sei o que dizer... –Alicia sentiu-se de certa forma, aliviada. –Isso vai acabar virando coisa séria.

— Não, o pior foi sair de lá, a família inteira na sala, a mãe dele já me tratou como nora...eu não sabia onde enfiar a cara.

—Mas e aí? Vocês ...

—Claro né Alicia! Somos fogo e gasolina e vou te confessar uma coisa, ontem,ver ele morto de ciúmes do Erick...aquilo mexeu comigo.

Alicia engoliu a seco ao ouvir a amiga falar o nome do cunhado.

—Jess, eu preciso te contar uma coisa... –Alicia começou sentindo que se não conversasse com a amiga acabaria enlouquecendo.

—Espera aí que eu vou pro meu quarto. –Jéssica se animou. –Sinto que vem noticia bombástica por aí.

Então, quando a amiga do outro lado da linha avisou que estava pronta, Alicia começou, contou tudo, tudo mesmo, desde a manhã em que foi abordada por Erick até os beijos naquela tarde de domingo.

Jessica ouviu todo o relato em silêncio, sem esboçar reação. Uma história dessas, envolvendo a amiga certinha jamais passaria por sua cabeça.

—Sei que é horrível, eu estou traindo o David com seu irmão e me sinto péssima quando penso nisso, mas tudo começou antes de eu saber antes desse parentesco. –Alicia choramingou.

—Você me deixou sem palavras...eu não desconfiei de nada!

—Me desculpe por não ter contado antes mas, eu estava tão envergonhada.

—Ali, eu é que estou envergonhada, dando em cima dele ontem...nossa, minha cara está queimando.

—Bom, vergonhas a parte... o que eu faço amiga?

—Dá um pé na bunda do David e vai ser feliz! –Jéssica quase gritou. –Eu já disse que não sei como você aguenta o chato do David.

—Claro, aí eu apareço com o Erick e digo para todo mundo: "Olha gente, troquei de irmão!"

—E daí Ali, a vida é sua, faça o que é melhor pra você. –Jéssica tentava encorajar a amiga.

—Bom, vou dormir, amanhã vejo o que faço. –Alicia desligou e tentou dormir.

Não parou de pensar em Erick nem por um minuto, mas tomou uma decisão, não ficaria mais com ele até que terminasse com David.

No dia seguinte acordou com o toque do seu celular, olhou para o relógio, eram dez da manhã.

—David? –Ela atendeu sentindo um frio na barriga.

—Que história é essa do Erick estar trabalhando no haras? –Ele estava cuspindo fogo.

—Bom dia David...

—Um dia fora e esse cara já começa a fazer besteira! Sua avó sabe o porquê de ele estar aqui em Santo Valle?

—Pelo amor de Deus David, nem você mesmo sabe. –Alicia interveio lembrando que não havia conversado sobre isso com Erick.

—Ele está envolvido em num roubo a uma joalheria...Ali, o haras movimenta uma grana alta. Sua vó está correndo risco colocando alguém como ele para trabalhar lá.

Alicia estava irritada, David tinha esse dom.

—Minha vó sabe o que faz, sem contar que esse não é um assunto meu. –Ela queria encerrar a conversa.

—Mantenha-se afastada dele Alicia, eu não quero que tenha nenhum tipo de proximidade com ele. –David mudou o tom, agora falava como um pai que aconselha a filha. –Quando eu voltar vou tentar arrumar toda essa...merda.

Alicia desligou o telefone, odiava quando David queria dar ordens a ela. Vestiu-se, tinha uma reunião com Regina, a dona da escola de dança.

—O Cassio me ligou na sexta-feira, ele quer mais uma apresentação além do número das meninas. —A mulher franzina de quarenta e poucos anos, confiava plenamente em Alicia e nunca tomava qualquer decisão sem antes consulta-la.

—Assim, em cima da hora? –Alicia surpreendeu-se. O jantar aconteceria em dez dias.

Ela fez uma careta e Alicia entendeu. Cassio costumava ser bem generoso quando o estúdio precisava de algum patrocínio.

—Pensei em algo diferente, não um solo de ballet.

—Nossa, em tão pouco tempo só se convidarmos alguém que já tenha algo pronto.

—Cassio me disse que os convidados de honra são argentinos. –Regina inclinou-se na mesa. –Pensei em um tango, daqueles, bem rasgado.

Alicia coçou a cabeça, viu dois problemas ali. O primeiro era que normalmente um tango é dançado por um homem e uma mulher, e, aquele estúdio era frequentado apenas por mulheres, ou melhor, meninas. O segundo era que com o pouco tempo que tinham, seria impossível coreografar uma dança tão complexa.

—Já tem alguém em mente? —Alicia cruzou os braços contra o peito, não conseguia pensar em ninguém.

Regina curvou os lábios para cima e fixou os olhos na garota em sua frente.

—Estou olhando para ela. —afirmou com o sorriso escancarado—Sei que você dá conta do recado.

Alicia se levantou sem tirar os olhos de Regina, começou a balançar a cabeça repetitivamente.

—Não me peça isso Re, eu não posso, estou ensaiando para o meu solo que é daqui a menos de um mês.

—Eu sei disso, mas não pediria se não fosse realmente importante. —Ela caminhou até Alicia com os olhos urgentes. —Conhece seu sogro, não conhece?

Alicia passou as mãos pelos cabelos e continuou encarando Regina, esperava pelo fim da história.

—E então, digamos que eu aceite, já tem um par pra mim?

Regina balançou a cabeça em negativa, depois encolheu os ombros.

—Ainda não. —Ela voltou a sentar. —Mas, pensei que pudesse me ajudar com isso também.

Era pior do que Alicia imaginava, além de ter dez dias para coreografar um tango ainda tinha que encontrar um parceiro que aceitasse embarcar naquela loucura.

Por mais que a dança fizesse parte de quem Alicia era, seu universo era o ballet clássico, de forma que ela não tinha tantos contatos com bailarinos de outros segmentos. No entanto, não podia deixar Regina na mão, não ela que já tinha quebrado tantos galhos para ela.

Alicia sentia que tinha uma divida e faria o que fosse necessário para pagá-la.

—Vou ver o que faço. —Afirmou acabando de ter uma ideia. —Se tudo der certo, teremos a melhor apresentação de tango que essa cidade já viu.

Regina sorriu, dessa vez mais despreocupada. Sabia o quanto Alicia era engajada e se dizia que daria um jeito, era porque daria.

Alicia não pensou muito enquanto dirigia, ela sabia para onde queria ir e tinha dentro de si o sentimento de que aquele caminho seria feito por ela com uma frequência maior que a de costume.

—Vó... —Alicia enfiou a cabeça para dentro do escritório dela. —Como estão indo as coisas com Erick? —Ela tentou não titubear ao dizer aquele nome.

—Muito bem, eu diria. —ela baixou óculos até a ponta do nariz e encarou a neta. —Ele me parece um bom rapaz, estou confiante.

—E onde ele está agora?

—Acho que nas baias, —Ela voltou a fazer anotações em um papel sobre sua mesa. —a Olivia, filha do prefeito veio dar uma olhada em seu cavalo, pedi para que ele a companhasse e depois, o liberei para almoçar.

Alicia saiu de lá direto para as baias, odiava aquela garota, uma pirralha de dezesseis anos que vivia se esfregando um tudo o que fosse do sexo masculino. Tinha certeza de que com Erick não seria diferente.

Assim que chegou à porteira que dava acesso aos cavalos, seu coração reagiu quando seus olhos avistaram Erick. Ele usava o uniforme do haras, camisa polo verde escura, calça bege clara e botas de montaria.

Estava acostumava a ver os demais funcionários usando aqueles mesmos trajes, mas Erick...Ele tinha conseguido ficar ainda mais bonito e sensual.

Alicia caminhou até ele praguejando-se, estava decida a propor sobre esperarem até a volta de David para só então voltarem a se envolver. Naquele momento ela teve duvidas se conseguiria fazer aquilo.

—Pode me ajudar a descer Erick? —Ela ouviu a voz de gazela vinda de Olivia que acabava de voltar com seu cavalo.

Ela estava toda de branco, a calça agarrada demais desenhava todas as curvas do seu corpo e as botas longas deixavam-na desnecessariamente sexy. Enquanto Erick estendia os braços para ajuda-la a descer do cavalo, Alicia chegou.

—Bom dia... —Ela cumprimentou sem saber que horas eram.

Erick e encarou e seu sorriso fez a raiva que ela sentia desaparecer como num passe de mágica. Seus olhos se iluminaram, ele só pensava nela, e não estava vendo a hora de conseguir uma brecha para encontrar uma maneira de falar com Alicia.

—Oi Alicia... —Olivia falou depois de limpar a garganta propositalmente, cortando o clima dos dois.

—Oi Olivia. —Alicia respondeu seca. Não gostava daquela garota, e agora achava que tinha mais um motivo que reforçava sua antipatia.

—Erick, eu preciso falar com você sobre o rancho. —Alicia estava duplamente desconcertada. —Minha vó me disse que você já está liberado para o almoço.

Olivia não escondeu a decepção.

—Sério? Eu ia pedir para me ajudar a selar Black Moon, a égua do meu pai. —Disse fazendo biquinho.

Alicia revirou os olhos, estava voltando ao seu estado de irritação.

—Peça a outro funcionário, —Alicia começou a procurar com a cabeça, tentando avistar alguém que pudesse ficar no lugar de Erick. —André! Pode vir ajudar a Olívia? —Ela gritou assim que avistou o rapaz que segurava o balde de comida dos cavalos.

Ele sinalizou que sim com a cabeça e Olivia não conseguiu esconder sua decepção.

—Nós vemos. —Erick despediu-se da filha do prefeito e seguiu atrás de Alicia que já caminhava rumo a saída.

Quando chegaram na varanda da casinha, Erick que até então não tinha chegado nem perto de Alicia, puxou-a pelo braço fazendo com que ela ficasse de frente para ele.

—Eu estava morrendo de saudades. — Passou a mão pelo rosto da garota que ainda amargava o sabor do ciúmes.

—Fazia tempo que estava com aquela...Com a Olivia? —Alicia indagou tentando, inutilmente, disfarçar o quanto estava incomodada.

Erick franziu a testa, depois levou uma das mãos até sua boca tentando esconder um sorriso de satisfação.

Balançou a cabeça e abriu a porta da num ato rápido. Puxou Alicia para dentro e antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa colocou seus lábios nos dela. A princípio ela resistiu, tentou afastá-lo forçando as duas mãos contra seus ombros. Foi em vão, ele não recuou porque ele estava esperando por aquele momento desde que ela tinha partido na noite anterior, já Alicia teve de se entregar, ela não tinha forças para lutar contra aquele sentimento, muito menos contra aquele desejo que só crescia e que parecia ocupar todo o espaço existente dentro dela.

— Que graça! —Erick colocou os braços em torno da cintura de Alicia e começou a provocá-la. —Está com ciúmes de mim?

Ela ficou séria, estava com vergonha por ter sido tão declarada.

—Quem aqui está com ciúmes? —Ela tentou sair de dentro de seus braços. Erick segurou mais firme.

—Ninguém... —ele riu. —Mas e com saudades? Será que pode admitir ao menos isso?

Alicia fechou os olhos, puxou o ar e depois soltou-o devagar.

—Morta de saudades. —Ela confessou mais para ela do que para Erick.

Ele levantou os olhos como se agradecesse aos céus pelo que acabava de ouvir, depois voltou a beijá-la.

Alicia que tinha como um dos motivos de ir até lá, justamente propor um afastamento, acabou por se esquecer disso. Erick sabia como fazer toda sua objetividade desaparecer.

—Vim te fazer uma proposta. —Ela começou assim que eles conseguiram manter seus lábios separados. —Eram duas na verdade, mas uma delas eu nem vou perder meu tempo. —Disse resignada.

—Proposta? —Erick arqueou as sobrancelhas. —Eu aceito.

Alicia riu.

—Nem sabe o que é ainda...

—Independente, eu nunca vou conseguir dizer não pra você... —Ele deu de ombros.

—Que bom, por que se disser não, eu estou perdida.

—Então vai Alicia, fala o que eu tenho que fazer. —Ele tocou os cabelos dela.

—Dançar. Comigo. Um tango.

Erick mudou a expressão, não estava entendendo o que exatamente Alicia propunha.

—Dançar um tango com você... —Ele repetiu o que tinha ouvido esperando que ela desenvolvesse o assunto.

—Isso mesmo, se aceitar vamos nos apresentar no jantar beneficente que o seu pai está promovendo...Temos dez dias para ensaiar.

Erick piscou algumas vezes e coçou a nuca.

—Nossa...um tango?Em dez dias? Sei lá, acho que podemos tentar. —Ele assentiu com a cabeça.

Alicia paralisou seus olhos nele, sentiu um frio na barriga que em pouco tempo tomou todo seu corpo.

—Onde você esteve esse tempo todo? —Ela sussurrou jogando-se para cima dele que estava sentado na beirada da cama.

—Procurando por você... —Ele girou seu corpo ficando por cima dela e para Alicia, aquele era o melhor lugar do mundo. 


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