Um passo errado escrita por nanacfabreti


Capítulo 4
Mais Perto




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Alicia não conseguia pregar os olhos, estava agitada de mais para dormir. Viu o dia clarear e quando não suportava mais aquela inquietação, decidiu tomar um banho.

"Eu vou, não tenho porque fugir." –Pensou já pegando a jaqueta de Erick e colocando-a dentro de uma sacola.

Sete da manhã, seria o horário em que David estaria saindo de viagem. Representaria o pai em uma feira de negócios na capital, já que o jantar beneficente o qual os Ruiz eram patronos aconteceria no mesmo final de semana da feira. Cassio Ruiz, pai de David e Erick optou por ficar na cidade já que aquele evento era mais cartaz para eles.

Alicia que conhecia bem o namorado olhou para seu celular já sabendo que ele não tinha enviado nenhuma mensagem para ela e que também não iria ligar. Ele era orgulhoso e Alicia sabia que teria que ser ela a tentar fazer as pazes.

Quando o relógio marcou sete e meia ela saiu, dirigiu até o estúdio de Ballet, queria chegar antes de Erick, isso se ele realmente aparecesse .Chegou ao posto de gasolina nervosa, muito mais do que costumava ficar antes das suas apresentações.

Viu o jipe, estacionado bem em frente ao estúdio e isso fez seu estado geral piorar. A boca estava seca, ela mal conseguia engolir a própria saliva. Estava decidida, seria tudo muito rápido. Fariam a troca ali e ela iria embora, tinha a missão de desocupar a edícula no haras da avó naquele dia, então, colocou isso como um norte para suas atitudes.

Estacionou na frente do jipe, respirou fundo, pegou a sacola da jaqueta e desceu. Ao fechar a porta do seu carro sentiu que alguém se aproximava. Fechou os olhos buscando equilíbrio.

—Tive medo de que não viesse. –A voz de Erick fez com que ela virasse seu corpo para encará-lo.

"Que droga! Esse cara precisava ser tão bonito?" –Alicia praguejou-se em pensamento enquanto ele sorria de um jeito perturbador.

—Parece que você não me deixou outra alternativa, não é?

Erick baixou a cabeça e colocou as mãos no queixo, ergueu os óculos escuros e Alicia pode ver que seus olhos exibiam veias avermelhadas. Ele parecia não ter dormido também.

—Alicia...sei que se não quisesse, não estaria aqui.

Ela suspirou, ele estava certo.

—Vem. –Falou já indo em direção a porta do estúdio. –Precisamos mesmo conversar.

Eles entraram e a primeira coisa que Alicia fez foi fechar a persiana completamente. Erick não pode deixar sorrir enquanto se lembrava da manhã do dia anterior.

—Esse tipo de lugar me traz memorias afetivas. –Ele parou em frente ao espelho e varreu todo o espaço com olhos.

—Sua mãe também é bailarina então... –Alicia interessou-se na coincidência.

Erick caminhou até onde ela estava.

—Sim... hoje ela dá aulas apenas.

—Como ela se chama?

—Laura Carter. –Erick disse sentando-se no chão com as costas apoiadas na parede.

—Você é filho da Laura Carter...? –Alicia indagou com espanto.

—Não vai dizer que a conhece?

—Laura Carter, uma das primeiras bailarinas brasileiras a ser escolhida para estudar no ballet de Bolshoi?

Erick arregalou os olhos e afirmou que sim com a cabeça.

—Ela mesma. –Ele riu.

Alicia sentou-se ao seu lado, mantendo uma distancia que ela julgava segura.

—Eu adoraria conhecê-la algum dia! –Alicia estava em êxtase.

—Você vai...Quando eu contar para ela que eu estou apaixonado por uma bailarina é muito capaz que pegue um avião e venha até aqui. –Erick disparou naturalmente deixando Alicia sem ação.

—Você precisa parar com isso. –Ela olhou para o chão. –Acha que não percebi cada uma das suas insinuações ontem na festa?

—O que eu fiz? Me comportei tão bem. –Ele fixou seus olhos nos dela de modo furtivo.

—É sério Erick...para com isso. –Ela sentiu seu coração disparar.

Erick agora olhava para os lábios de Alicia, ele os desejava, inegavelmente estava usando toda a força que tinha para não beijá-la.

—Quase me esqueci... –Ele colocou uma sacola entre os dois.

—Ah...que bom, minhas sapatilhas...

—Não, –ele abriu a sacola. –como eu cheguei bem cedo, fui até a padaria da esquina e comprei algumas coisas...A moça que me atendeu disse que esse é seu preferido. –Afirmou entregando um embrulho para Alicia.

—Você foi até a padaria e ficou investigando a minha vida? –Perguntou descrente enquanto desembrulhava o sanduiche.

—Manteiga de amendoim com geleia de morango? Achei estranho mas ela garantiu que você come isso quase todos os dias.

Alicia parecia não acreditar no que via, no que ouvia, enquanto que para Erick, tudo parecia normal.

—Todo mundo me conhece por lá. Eu tenho alunas que são filhas do pessoal da padaria! –Alicia levantou-se. –O que devem estar pensando de mim?

Erick se levantou também e colocou-se em pé bem em frente a ela.

—Se preocupa muito com o que os outros pensam. –Ele aproximou-se mais.

Alicia deu alguns passos para trás e acabou por ficara contra a parede.

—Erick... –Ela sussurrou enquanto ele vinha em sua direção.

—Alguma vez já fez o que teve vontade? –Ele colocou os braços na parede deixando Alicia entre eles. – Já agiu sem prensar nas consequências? –Erick estava com o rosto muito próximo do dela.

—Não... –Sua voz estava rouca e a respiração curta.

—Foi o que imaginei... –Falou enquanto se afastava. Embora estivesse louco para beijá-la, não queria forçar a barra.

Alicia ficou parada no mesmo lugar por um tempo, já Erick voltou a se sentar onde estava antes.

—Vamos comer...Lembra que combinamos que tomaríamos o café da manhã juntos?

Alicia obedeceu, talvez por que estivesse perdida. O fato era que Erick estava mexendo com ela de uma forma transtornadora. Seu jeito sedutor e ao mesmo tempo imprevisível estava a enlouquecendo.

—Deixa eu provar essa coisa? –Ele pediu vendo que a Alicia devorava aquele sanduiche com vontade.

Ela fez uma pausa e estendeu o pão para ele. Erick deu uma mordida pequena e enquanto mastigava Alicia parecia esperar por seu parecer.

—Não é que é bom...Não sei se porque tem o sabor da sua boca aqui, mas é gostoso mesmo.

—Seria legal se pudéssemos conversar sem que a cada duas palavras você me desse uma cantada. –Ela retomou o restinho do seu sanduiche.

—Alicia...eu apenas ou sincero, e uma hora vou mesmo parar.

—Que bom. –Ela se levantou. –Não vejo a hora que esse momento chegue. –Ela disse num tom divertido.

Por mais que quisesse, ela não conseguia achar as atitudes de Erick ruins...

— Ah! Isso só depende de você. –Erick já cercava Alicia novamente.

Ela não se afastou, dessa vez não deixou que o temor do que podia acontecer a afetasse, se Erick estava disposto a provoca-la, teria de fazer melhor. Quando ele tentou pegar sua mão ela deixou, e acompanhou com os olhos enquanto ele entrelaçava seus dedos nos seus.

Mais uma vez, a forma com que suas mãos se encaixaram fez seu corpo desejar mais. Contrariando o que Erick imaginava que aconteceria, Alicia não fugiu, ela apertou seus dedos conta os deles, aproveitando aquela sensação boa de encontro.

— Isso parece tão certo. –Ela sussurrou olhando ainda para suas mãos.

Erick ergueu as sobrancelhas, estava provando do próprio veneno, daquela vez era ele quem estava sendo surpreendido.

—Sim, parece... –Erick acariciou o rosto da cunhada, delicadamente o trouxe para mais perto. –Posso te beijar?

Alicia permaneceu séria, queria dizer sim. Era o que ela desejava, o quê seu corpo pedia...

—Não, isso estragaria as coisas. –Ela falou baixinho.

Erick entendeu. Sabia que Alicia tinha razão.

—O que acha se sairmos mais tarde? Você pode me apresentar a cidade.

—Não posso, tenho uma missão bem chata que vai me tomar o dia todo.

—Hum...Algo me diz que você vai reconsiderar. –Erick deu uma olhada para o relógio em seu pulso. –Preciso ir, tenho um compromisso daqui a pouco.

—Eu também...tenho que ir. –Ela passou as mãos pelo rosto. –Aqui está sua jaqueta. –Ela entregou a sacola para ele.

—Suas sapatilhas estão naquela sacola.–Ele apontou para onde ele havia as colocado. –Vou devolver por que sei que amaciar outras dá muito trabalho sem contar na dor que você passaria.

Alicia não pode deixar de sorrir ouvindo sua preocupação real e verdadeira.

—Obrigada. –Ela analisava as sapatilhas com as mãos.

—Bom, eu vou indo. –Ele seguiu até a porta. –A gente se vê ...acho que em breve.

Sozinha na estúdio de ballet, Alicia se viu refletida naquele grande espelho. Não se reconheceu.

—Não vai resistir por muito tempo. –Afirmou para si mesma.

Permaneceu ali por mais algum tempo, pensando na vida e nas surpresas que ela reservava. Seguiu para o haras da avó, e preferiu não ligar para Jéssica, sabia que o assunto principal seria ele, Erick.

Foi direto para a edícula e não sabia por onde começaria, tinha acumulado tantas coisas nos últimos anos e não tinha ideia de onde colocaria tudo aquilo.

—Jack, vai se despedindo, hoje é seu ultimo dia aqui. –Ela conversava com o gato que parecia se divertir entrando de sacola em sacola.

Estava ali, perdida na bagunça e nas lembranças por mais de uma hora, quando ouviu três batidas secas na porta.

—Alicia querida...posso entrar? –Era avó quem a chamava.

— A porta está aberta! –Ela gritou, estava cercada de caixas e não podia sair dali.

—O que está fazendo meu bem? –A avó deu um beijo em sua bochecha.

Alicia revirou os olhos.

—Não me disse para desocupar a edícula? É o que estou fazendo.

—Acho que não vai precisar mais fazer isso...

Alicia deu um pulo colocando-se em pé.

—Não brinca? Desistiu de contratar um novo funcionário? –Ela estava eufórica com a hipótese de não perder seu cantinho.

A avó cruzou os braços e sorriu.

—Na verdade encontrei a pessoa ideal, e para ele tudo bem que suas coisas fiquem aqui...

—Não! Imagina que eu vou deixar minhas coisas aqui ...com um estranho. –Alicia irritou-se.

—Ele não é bem um estranho...de qualquer forma você vai dar a palavra final.

Aquela conversa pareceu no mínimo estranha para Alicia, mas quando se tratava da avó, isso não deveria ser motivo de espanto.

—Não vou me meter, vou continuar arrumando minhas coisas e até o final do dia, eu termino.

—Alicia...Vamos agora até o meu escritório. –Ela falou seria. –Eu preciso resolver logo essa coisa de contratação.

A neta pensou em discutir, não se via opinando sobre quem deveria ou não ser contratado para trabalhar no haras, mas decidiu atender o pedido da avó. Não imaginava nenhum conhecido seu que pudesse estar querendo trabalhar ali.

Antes mesmo de cruzar a porta do escritório, pode ver parte do corpo de quem estava ali sentado, as mãos batendo na mesa de madeira logo foram reconhecidas por ela, aqueles dedos... Aqueles anéis...

—Você? –Alicia praticamente voou para encará-lo mais rápido. –De onde tirou essa ideia?

— O irmão de David me contou das coincidências de como se conheceram e me disse o quanto vocês estão se dando bem. –A avó de Alicia se colocou entre os dois. –Sem contar que ele  não se importa em ficar na casinha, com suas coisas lá.

Alicia não sabia o que pensar, estava há pouco tempo atrás com ele e em momento algum Erick havia tocado naquele assunto. Em pouco mais de vinte e quatro horas Erick estava agitando a vida de Alicia e ela sabia que com ele ali, morando e trabalhando no haras da avó a tendência era piorar, afinal, ela estava resignada quanto a não conseguir mantê-lo distante.

—É Alicia, eu me encantei por esse lugar ontem...Quem não adoraria trabalhar assim, em meio a natureza? –Erick se levantou e foi para o lado dela.

—E...o que seu pai vai achar disso? Pensei que trabalharia com ele.

—Não! Latas de ervilha, pacotes de arroz...Não é com isso que eu quero trabalhar.

Alicia já imaginava o problemão que David causaria, já podia ver o namorado dizendo que ela deveria impedir a avó de contratá-lo. Sobraria para ela, sem sombra de duvidas.

—Tudo bem vó. –Ela encarou Erick. –Acho que pode dar certo.

Erick sorriu, cada conquista quando se tratava de Alicia, por menor que fosse, o deixava feliz.

—Então leve-o para conhecer o haras, mostre tudo a ele... –Ela dirigiu-se a neta. –Amanhã você começa Erick.

—Dona Marta...agradeço pela oportunidade. –Ele agradeceu já de saída.

Alicia saiu atrás dele.

—O que eu falo pra você? –Ela seguia na direção da edícula.

—Eu só quis ajudar...Sua amiga me disse ontem o quanto você estava chateada em ter que desocupar essa casa.

—Então é isso? –Alicia parou. –Está fazendo isso por mim?

Erick balançou a cabeça e olhou para cima, parecia pensar.

—Digamos que também por você, mas a parte de que eu adorei esse lugar é verdade, eu vou fazer um bom trabalho aqui.

Alicia não respondeu nada, mas ficou emocionada de certa forma, o que Erick estava fazendo por ela não era comum, ainda mais se tratando de alguém que pouco conhecia. A sensação de estar sendo cuidada, era nova para ela e aquilo era tão agradável.

Quando chegaram na edícula, Erick que esperava por um quartinho com banheiro não pode deixar de demonsrtar sua surpresa. A casinha estilo chalé, era grande, e dava para uma família viver ali tranquilamente.

—Então essa é a tal casinha?

Alicia passou pela varanda e abriu a porta, sentiu-se um pouco envergonhada, tinha tanto dela em cada parte daquele lugar e Erick estava prestes a descobrir muito sobre ela assim que entrasse ali.

— Gosta de gatos? –Ela arqueou as sobrancelhas, quando viu Jack enrolado como se fosse uma bola de pelo branca e preta sobre a cama.

— Você tem um gato? –Erick perguntou já entrando.

—Esse é Jack,como o do Titanic. –Ela deu de ombros meio sem jeito.

Erick balançou a cabeça e seguiu até onde o felino estava. Passou mão em suas costas, ele abriu os olhos e se espreguiçou.

—Hei Jack, parece que vamos dividir essa casa...

—Se quiser eu tiro ele daqui .Minha vó deixou que eu o leve para a casa principal.

—Imagina...Ele vai ser um motivo a mais para que você venha aqui com frequência. –Erick afirmou sem olhar para Alicia.

—Bom...as paredes, se quiser trocar a cor, pra mim tudo bem. –Ela desconversou olhando para o teto.

Erick olhou a sua volta, caminhou cômodos a dentro apenas observando tudo o que podia. As fotos, os quadros, mas, o que chamou mais sua atenção foi um gramofone antigo, sobre um móvel que sustentava prateleiras cheias de vinis.

—Funciona? –Erick apontou para o aparelho.

—Sim. –Alicia foi até ele. –Era da minha avó, e depois de eu muito insistir ela me deu.

—Nossa, eu adoro o som de um disco de vinil. –Erick abaixou-se e começou a olhar os LPs dispostos ali. –Pra mim, eles nunca deveriam ter deixado de existir.

Alicia suspirou, era exatamente a maneira que ela pensava, amava o som dos vinis e passava tardes e mais tardes curtindo sozinha, já que para a maioria das pessoas da sua idade, aquilo não passava de uma velharia.

—Nossa, tem muita coisa boa aqui... –Erick se levantou e começou a mexer no gramofone sob o olhar atento de Alicia. –Vamos ver o que você anda ouvindo.

—É Roberta Flack. –Alicia mexeu no aparelho e ele começou a reproduzir o disco. –The closer i get to you, estou ensaiando para minha apresentação.

De olhos fechados ela estava se deliciando com a música, o som cheio de estalidos e a maneira sedosa com que ele chegava aos ouvidos parecia estar levando aquela garota para outra dimensão. Erick acompanhava tudo, embasbacado com a beleza, mas acima de tudo, com particularidade daquela garota que estava bem em sua frente.

Se tivesse que escolher qualidades para criar uma mulher perfeita, certamente Alicia serviria de  modelo, ele estava apaixonado por cada detalhe dela, até mesmo a curva de seus cílios iluminados pelo sol, pareciam mais belos do que de qualquer outra garota já vista por ele.

—Eu adoro essa música. –Ela abriu os olhos e sorriu.

—Linda! –Ele declarou. –A... a musica é linda.

—É... Se importa se eu colocar pra tocar de novo?

—Claro que não. –Erick respondeu sem saber o que fazer com suas mãos, que pareciam ter vida própria, queriam tocar Alicia.

Ele sentou-se no tapete  encostando-se na parede, Alicia sentou-se de frente para ele, com as costas apoiadas na cama. Descalçou os sapatos, não estava aguentando os pés que estavam em carne viva. Pegou uma almofada e os cobriu, odiava que qualquer pessoa visse seus pés, horríveis como ela mesma os classificava.

—O que foi? –Erick estranhou. –Por que cobriu seus pés?

Ela sentiu o rosto queimar de vergonha.

—Não vai querer vê-los, meus pés são terrivelmente feios.

Erick puxou a almofada num ato rápido, Alicia nem teve tempo de reagir.

—Nossa... –Ele segurou o tornozelo esquerdo de Alicia e fez uma careta. –O que está feio são esses machucados.

—As bolhas estouraram. –Ela permanecia constrangida. –Eu já estou acostumada.

—Você tem alguma coisa pra passar? Minha mãe costuma usar uma pomada cicatrizante.

—Eu tenho uma pomada, depois eu passo. –Alicia encolheu as pernas.

Erick se levantou.

—Onde está? Tem que cuidar disso agora.

—Naquela caixa azul. –Ela apontou.

Erick pegou o tubo da pomada e voltou para seu lugar, puxou os pés de Alicia para si.

—Eu passo pra você, sou acostumado. –Ele sorriu. –Sou eu quem cuida dos pés da Dona Laura.

Alicia não relutou, nem quis na verdade, a delicadeza com que esfregava a pomada em cada uma de suas feridas a deixou aturdida, tudo ali parecia surreal. Ela chegou a imaginar jogando-se sobre ele e o cobrindo de beijos, e só de pensar em fazer aquilo sentia seu corpo queimar em chamas de desejo.Com David nunca sentiu-se daquela forma.

—Seus pés são lindos... –Ele começou a acariciar as partes que não estavam machucadas. –Você é inteira perfeita, na verdade.

—Já conversamos sobre isso...Sobre você parar com isso.

Ele baixou a cabeça e manteve seus olhos perdidos em algum ponto do tapete, não estava mais conseguindo controlar aquela atração.

—Acho melhor você  me mostrar o resto do haras... –Ele a encarou de forma séria.

Alicia concordou, estava por um fio.

Ela mostrou as baias dos cavalos, o local onde eram dadas as aulas de hipismo, e o gramado onde todas as quartas-feiras aconteciam partidas de polo.

—Você cavalga? –Erick interessou-se enquanto afagava o fuço de uma égua branca, que tinha a crina toda trançada.

—Não! Eu morro de medo de cair...Qualquer fratura pode ser o fim para uma bailarina.

—Cavalgaria um dia comigo? –Erick a encostou em uma cerca de madeira.

—Acho que não...

—"Acho que não, não é exatamente um não..." –Ele disse num tom provocativo.

—Acho que não. –Ela riu passando por baixo do braço dele.

Erick correu atrás de Alicia e eles passaram a tarde toda nesse clima de gato e rato. Havia química ali e o desfecho previsível era apenas questão de tempo.

Eles estavam sentados num barranco que dava de frente para uma quadra esportiva, o vento fresco disfarçava os efeitos do sol que estava quente.

—Sabe que essa situação fez com que eu me lembrasse de uma história do meu passado. – Erick tocou a mão de Alicia que estava ali, pousada na grama.

—O que é? –Ela perguntou sem olhar para o cunhado.

—Quando eu era bem novo, conheci uma sorveteria diferente de todas as outras, era um verdadeiro paraíso para as crianças, então, um dia depois de muito insistir, minha mãe me levou até lá e se surpreendeu com o preço absurdo.

—Nossa, o que tinha de tão especial? –Alicia ajeitou-se atenta a história.

—Então...era alguma coisa da moda, mas a questão era que, uma casquinha de lá dava para comprar um pote dos grandes, de outro lugar. Minha mãe comprou mesmo assim. –Ele riu. –E sabe o que me disse?

—O quê? –Alicia riu mesmo antes de saber do desfecho.

—"Tomara que não seja tudo isso, porque se realmente for um sorvete de outro mundo, não sei como vamos fazer para você toma-lo todos os dias." – Erick impostou a voz parafraseando a mãe. –E então eu provei... e advinha?

Alicia balançou a cabeça sem entender.

—O que aconteceu?

—Eu tomei até o fim, depois olhei para ela a e falei:"Não se preocupe mãe, não vou querer outro desses tão cedo!" –Erick encarou Alicia. –Nunca vou me esquecer do olhar de alívio dela.

Os dois gargalharam.

—É uma boa historia, mas... o que tem haver com esse momento?

—Tudo... –Erick parou seus olhos nos lábios de Alicia. –Talvez se me deixar te beijar, vai acontecer o mesmo que houve com o sorvete.

Alicia cobriu o rosto com as mãos, ela não se conformava com tenacidade de Erick.

—Então é isso? –Alicia se levantou. –Pra você trata-se de provar pra ver se gosta ou não.

Erick também ficou em pé e notou que a brincadeira não tinha agradado a garota.

—Não...não é isso, mas honestamente eu estou tentando fazer piada com uma coisa que está me consumindo. –Erick segurou um dos braços de Alicia que se preparava para sair dali. –Eu já não estou conseguindo mais Alicia...

Nesse momento seus olhares se cruzaram e para ela tudo estava daquele jeito também, uma guerra interna entre o querer e o poder e, àquela altura sua vontade estava vencendo. Sem mais pensar, fechou os olhos e esperou que Erick a beijasse.

Para ele não tinha volta, estava disposto a arriscar, vendo que ela estava ali, diante dele sem resistência, inclinou seu rosto e segurou sua nuca com uma das mãos enquanto a outra repousou na curva de sua cintura. Os lábios se encontraram delicadamente, sem pressa, mesmo com tanto desejo reprimido, Erick não teve urgência.

Alicia também estava calma, como se a entrega àquele beijo fosse o certo a ser feito, então sentiu a língua de Erick tocar a sua, movendo-se como se estivesse conhecendo um lugar especial, e aquilo foi bom, muito bom mesmo.

Ela gemeu assim que ele usou um pouco mais de força para trazê-la mais para perto. Sem aviso aquele beijo passou de delicado para selvagem, e as mão dele, de repente pareciam querer explorar seu corpo, subindo e descendo por suas costas e emaranhando- se por seus cabelos.

—Ah, Erick...–Ela sussurrava embriagada de excitação.

Ele mal podia acreditar que estava com Alicia em seus braços, que naquele instante ela era sua. Quando já não tinha mais ar em seus pulmões afastou seus lábios dos dela e segurou seu queixo, beijando o rosto de Alicia como se aquilo pudesse mostrar o quanto ele estava feliz.

—Eu sabia que seria como a história do sorvete... –Ele falou baixinho em seu ouvido.

Alicia afastou seu rosto para poder encarar Erick, ela não estava entendendo nada.

—O quê? –Ela franziu a testa.

—Eu não contei pra você que o sorvete era mesmo de outro mundo e que se pudesse teria ido morar dentro daquela sorveteria, mas disse o contrario para acalmar minha mãe. –Ele deu de ombros.

Alicia não pode deixar de sorrir, embora soubesse que aquele beijo mudaria o rumo de sua vida, preferiu pensar em como lidaria com aquilo depois. Naquele momento tudo o que ela queria era voltar para a casinha, colocar o vinil para tocar e ouvir mais algumas das histórias que Erick tinha para contar.


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