Um passo errado escrita por nanacfabreti


Capítulo 6
UM Passo Perigoso




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 Caminhada, gancho, cruzada, corte, media vuelta ...Alicia passou o resto dia lendo sobre esses termos, assistiu vídeos e mais vídeos e pesquisou tudo o que podia sobre o tango.

Embora Regina fosse cuidar dos ensaios, Alicia queria estar ao menos familiarizada com o nome dos passos e ao final do dia, chegou com a sensação de que seria mesmo uma tarefa difícil, dominar aquela dança em tão pouco tempo.

O som do estúdio de ballet estava no volume alto, Alicia tinha feito uma seleção de musicas para ensaiar e elegera suas preferidas. Estava sentada de olhos fechados sentindo a batida daquelas canções que transbordavam sofrimento, distraída, tanto que não percebeu quando Erick chegou.

—Não pode deixar essa porta destrancada, —ele abaixou-se em sua frente. —é perigoso!

Alicia levou as mãos ao peito assustada e, sorriu ao ver quem estava ali.

—Acabei de destrancar. —afirmou correndo os olhos por ele, tentava se acostumar com o fato de se sentir tão intima de alguém que conhecia há tão pouco tempo.

Erick segurou-a pelas mãos e a levantou. Alicia estava usando a mesma roupa do dia em que ele a espionou pela vidraça. Ele sorriu pensando naquilo, em como algumas coisas parecem que tem de acontecer.

—Há dois dias atrás, eu estava do lado de fora a vendo dançar, —disse puxando Alicia pela cintura —hoje estou aqui dentro convidado por você...

—É estranho...mas eu não pude evitar. —Alicia deu de ombros e depois envolveu os braços em torno do pescoço de Erick. Com os olhos cerrados esperou por um beijo, foi atendida em imediato.

—Ai Alicia...eu estou perdido... —Erick sussurrou com a testa encostada na dela.

—Estamos, mas, vamos ficar mais se não começarmos ensaiar agora! A Regina, dona do estúdio já deve estar chegando...ela vai nos ajudar com a coreografia.

Erick arregalou os olhos, estava com medo de decepciona-la, afinal, ele dançava, mas nada que chegasse perto do profissionalismo.

—Eu vou tentar Alicia, mas, se vir que estou sendo um fiasco, fique a vontade para me substituir. —Ele riu nervoso.

Ela estreitou os olhos e começou a caminhar de forma sensual em torno dele, usava o pouco que tinha aprendido em seus estudos autodidatas.

—Eu andei pesquisando um pouco sobre essa dança e a característica mais forte dela é a sensualidade...Dizem que o tango é a dança do desejo, da carne, dos corpos entrelaçados... —Ela continuava dando voltas e usando um tom de voz provocante. —Ao dançar um tango, é como se os bailarinos expusessem sua intimidade aos espectadores, que , assistem a tudo, como voyeurs.

Alicia parou em sua frente, com as mãos na cintura parecia estar chamando-o para uma briga.

—Vou ser o melhor parceiro. —Erick a puxou novamente de encontro ao seu corpo. —Não posso sequer, imaginar, você dançando isso com outra pessoa.

—Que graça...Está com ciúmes de mim? —Alicia se lembrou da conversa deles mais cedo.

—Sim, estou com ciúmes sim. — Erick apertou Alicia num abraço. —Agora que te peguei, não solto mais.

Ela suspirou feliz...Era exatamente aquilo que queria ouvir.

—Tem que se conter na frente da Regina...Ela conhece seu pai e por mais que confie nela, não quero ter que dar esse tipo de explicação, não pelo menos por agora. —Alicia teve que voltar para a realidade.

Erick ficou sério.

—Tem falado com ele?

—David?

Ele balançou a cabeça afirmando.

—Ele me ligou hoje cedo, irritado porque você está trabalhando no haras. Como eu previa.

—Que cara insuportável! Eu não sei como você pôde namorar alguém como ele. —Erick estava incomodado.

—É...ele é bem complicado, eu diria.

— Eu sei que pode soar meio precipitado... —Erick soltou Alicia e deu as costas para ela. —O que pretende fazer quando ele voltar? —Ele voltou a encará-la.

Ela respirou fundo, aquele pensamento não era algo que assombrava apenas Erick.

— Vou terminar com ele. —Ela tocou seu braço. — Não acha que eu conseguiria manter meu namoro depois disso?

Erick franziu a testa e baixou os olhos.

—Sei lá, eu só fiquei pensando...Quero que saiba que eu não estou nem aí pra o que ele ou qualquer outra pessoa vai dizer, e mais, eu não vou me afastar...Eu quero você pra mim Alicia.

Não que ela tivesse alguma dúvida quanto a pôr um fim em seu relacionamento com David, mas, depois daquela declaração, Alicia sentiu-se renovada, cheia de forças para fazer o quê era certo. Estava ainda se deliciando com as palavras que acabava de ouvir quando Regina chegou.

Alicia e Erick se afastaram assustados.

—Vejo que já estão se familiarizando com o Tango, me sinto em Buenos Aires... —Ela riu encarando os dois.

—Erick, essa é a Regina, nossa coreógrafa. Regina esse é o Erick, meu partner.

Regina estendeu a mão a Erick para um cumprimento mais formal.

—Prometo que vou dar o meu máximo, a Alicia me deu argumentos fortes para isso. —Ele sorriu encarando a garota.

— É, eu expliquei a ele toda a coisa do patrocínio... —Alicia sentiu seu rosto queimar.

—Não tenho como agradecer você querida, aliás, vocês.

—Espere para agradecer depois de estar certa de que vamos conseguir fazer isso. —Alicia ainda estava dúbia.

Regina olhou para os dois, parados lado a lado e sorriu satisfeita.

—No quesito estética já estamos bem...vocês formam um lindo casal de dançarinos. —Ela caminhou em torno dos dois como se os analisasse. —Quero que fiquem de frente um para o outro. — Alicia e Erick obedeceram. —Quero se se olhem, dentro dos olhos como se quisessem enxergar a alma do seu parceiro...eu quero que imaginem que estão apaixonados um pelo outro...Não qualquer paixão, quero aquela avassaladora, aquela em que um é capaz de dar a vida pelo outro.

Alicia riu internamente enquanto executava o pedido de Regina, se dependesse de paixão para aquele tango funcionar, ninguém ali precisaria se preocupar. Erick pensava a mesma coisa, o primeiro passo estava fácil, paixão era o que o movia desde que colocara os olho em Alicia pela primeira vez.

—Essa vai ser a canção? —Regina ergueu um dos dedos. —Por una cabeza...

—Ao que me consta é uma das mais clássicas e a que eu mais gostei. —Alicia argumentou. —O ritmo, parece que entra na alma.

—Isso, é exatamente isso! —A coreografa vibrou. —Todas as danças exigem entrega, mas o tango é mais...no tango os sentimentos são expostos de forma descarada, passeamos pela paixão e pela dor...é a coreografia do sofrer.

Erick e Alicia se entreolharam rapidamente, sentiam-se prontos para começar.

Regina caminhou até o aparelho de som e colocou a música do inicio. Explicou ao casal sobre a contagem de passos, sobre a batida da canção, postura, e depois os colocou para dançar.

—Olhem-se o tempo todo... —Ela chamou a atenção deles uma vez. —Alicia, nada de sorrisos, lembre-se, vocês estão num duelo de sedução, e você é a submissa, sempre...Erick, imponha-se, é você quem comanda...

Eles ouviam tudo com atenção, e repetiam os passos a exaustão, uma, duas, dez vezes e ainda não estava bom. Permaneceram os três ali, noite à dentro, até que Regina se atentou ao horário.

—Meninos, quase onze horas...meu marido vai me matar!

—Nossa! Não imaginava que fosse tão tarde... —Erick jogou-se no chão, estava destruído.

—Bom...por mim ensaiávamos mais, nossos ganchos estão meio lentos... —Alicia mostrou sua insatisfação.

—Hoje foi o primeiro dia, o primeiro ensaio e garanto, foi ótimo! —Regina já colocava sua bolsa nos ombros. —E Erick, deveria pensar em seguir essa carreira, você é um dançarino. —Afirmou já saindo.

Erick balançou a cabeça em negativa e, assim que aporta se fechou, Alicia correu até ela para tranca-la.

—Ouviu? Você é um dançarino!

Ele permaneceu sério e se levantou, caminhou até ela como um animal a espreita de sua caça.

—Isso significa que fui um bom aluno? —Parou de frente para Alicia que mantinha os olhos atentos nele.

—Se fosse uma das minhas aluninhas, ganharia uma estrelinha na testa! —Ela encurtou a distancia entre os dois.

—Mas...não sou uma delas e nem quero uma estrelinha. —Erick segurou os ombros de Alicia, sua pele estava úmida de suor e o calor do seu corpo fazia seu perfume exalar de forma mais acentuada.

—O que você quer então? —Ela sussurrou colocando as mãos em seu peito, a camiseta clara e estava grudada em seu corpo, Alicia acariciou toda a extensão de seu tórax admirada, Erick era lindo.

Ele sem muito pensar, encostou-a contra a parede, a mesma que no dia anterior havia se controlado para não beijá-la. Segurou então seus pulsos, forçando-os contra o concreto.

—Você é minha submissa, então? — Ele mencionou antes de começar a beijar o pescoço de Alicia que permanecia em silêncio, apenas desfrutando de cada reação inédita que seu corpo apresentava ao ser tocada por ele.

Ela soltou o braço e cravou as unhas nas costas de Erick, ela precisava senti-lo mais perto. Alicia o desejava, queria sua boca e foi ela quem tomou a iniciativa de beijá-lo dessa vez, era como se quisesse engolir o rapaz, devorá-lo.Queria gritar, porque nunca antes tinha se sentido tão apaixonada. Tantas coisas passavam por sua cabeça.

De olhos fechados enquanto sentia a língua urgente de Erick na sua, ela relembrava os momentos anteriores:

"Como ele estava sexy dançando. Como ela se desmanchava cada vez que aqueles olhos penetravam nos seus. Como ela queria poder ler seus pensamentos para saber se ele também sentia-se como ela."

—Eu adoro você Alicia... cada pedacinho seu. —Erick murmurou, quase que num gemido.

—Não preciso dizer que eu também. —Ela enfiou as mãos por seu farto topete, puxando seus cabelos com certa agressividade, entregando-se mais uma vez a um beijo cheio de significados.

Assim, foram também os outros dias, muito ensaio e namoro na mesma proporção, isso quando as duas coisa não se fundiam e eles acabavam por unir o útil ao agradável. Erick e Alicia passavam cada vez mais tempos juntos, e só não notava a paixão crescendo cada vez mais entre eles, quem não os via juntos.

Regina, que estava sempre com eles já havia percebido, no começo achou que eles estavam levando o tango a sério de mais, mas, depois percebeu que não, que aquilo já vinha de antes, e talvez por isso, as coisas estavam funcionando tão bem.

Cada dia melhores na dança, Regina já nem se preocupava mais, à dois dias da apresentação tudo estava perfeito.

—Hoje a tarde eu pego o figurino, assim amanhã vocês já ensaiam vestidos com as roupas certas.

—Estou começando a sentir aquela TPA. —Alicia disse a Regina.

—Normal. —Ela riu. —E você Erick? Nervoso também?

—Não...estou ansioso na verdade. —Ele afirmou pensando na noite do jantar e nas surpresas que ela reservava.

Ele não tinha dito nada ao pai sobre sua apresentação, na verdade, eles pouco conversavam, Cássio também não tinha ideia de que seria Alicia a fazer o numero de tango, mas não parava por aí...Quando Erick contou a mãe sobre seu mais novo passa tempo, ela ficou cheia de orgulho, o filho não precisou insistir para que ela aceitasse o convite para vir assisti-lo dançar.

Verdade seja dita, não era tão, nem somente esse o motivo do pedido de Erick, na verdade ele estava louco para que a mãe conhecesse Alicia, já a garota, tinha por mais de uma vez, externado esse desejo, resolveu promover o encontro, seria uma surpresa.

—Hoje seu irmão me ligou.

—Hum... e? —Erick já não escondia mais a insatisfação sobre aquela situação.

—Eu tenho tentado falar com ele o mínimo possível e ele está percebendo... —Ela abraçou as pernas depois de sentar ao lado de Erick.

—Sabe o que eu acho... já deveria te dito a ele.Tudo.

—Terminar por telefone? Acho isso tão impessoal.

—Impessoal. Essa é a única relação que você deve ter com ele. —Erick permaneceu sério.

Alicia cobriu o rosto com as mãos. Estava pensativa.

—Ele vai ser meu cunhado agora... —Ela parecia incrédula. —Deus, onde é que eu fui me meter?

—Tudo vai ficar bem. —Ele estendeu a mão e tocou a perna de Alicia.

Ela nada respondeu, conhecia David, e mais, não era só ele, sabia que qualquer pessoa não aceitaria bem algo como o que estava acontecendo. Que homem ficaria satisfeito em ser trocado pelo irmão?

—Amanhã precisaremos  disfarçar...metade da cidade vai estar nesse jantar, teremos de ser o mais profissionais possível. —Alicia avisou Erick que já começava a encará-la de forma provocativa.

—Qualquer coisa, —ele arrastou-se até ela. —colocamos a culpa na dança, afinal, é um tango.

Alicia riu nervosa, sabia o quão perigoso era o passo que estava por dar. Literalmente.


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