"O que está acontecendo aqui?" –Alicia pensava enquanto Jéssica já se pendurava no pescoço de Erick, apresentando-se de forma empolgada.

Apesar disso, ele não conseguia tirar os olhos dela,a namorada do seu irmão.

— Então essa é...? –Erick dirigiu-se a David indagando sobre a garota ao seu lado.

—Alicia, minha namorada.

Erick franziu a testa, agora era ele quem não entendia nada.Encarou Alicia de maneira furtiva dando um passo a frente.Ela era ao menos uns vinte centímetros mais baixa do que ele, então, curvou-se para que seus lábios pudessem encontrar o rosto daquela que tinha ocupado seus pensamentos por todo o dia.

Erick respirou o perfume que vinha dela e sentiu-se dominado, se pudesse desviaria sua boca para aqueles lábios que permaneciam ali, semi-abertos e ainda mais sedutores do que ele se lembrava.

"E daí que é namorada do meu irmão?" –Ele pensou.Quando a viu pela primeira vez essa hipótese sequer passou pela sua cabeça.A questão era que ele desejava tanto revê-la e aquilo estava realmente acontecendo, em meio a tantos rostos estranhos, o dela estava ali a centímetros do seu.Isso lhe trouxe paz, familiaridade e todas as outras boas sensações que sentira mais cedo.Mas e ela?Por que tinha mentido seu nome?

Sentiu-se enganado e o gosto da decepção não era nada bom.

Júlia Keller.O nome que ecoou em seus pensamentos como uma prece desde que lhe foi dito, na verdade era...

—Alicia? –Ele encarou o irmão e depois fixou os olhos nela. –Eu podia jurar que disse que sua namorada se chamava Julia! – Disse como se atirasse um punhal na direção da garota, que desconcertou-se a olhos nus quando ouviu a insinuação.

—Julia? –David estranhou. –Não...você está enganado... ou tentando me deixar mal com minha garota.

Todos riram, exceto Alicia, que permanecia em estado de choque.

—Eu imagino que David deve ter bombardeado você com um monte de informações durante a viagem. –Jéssica interveio no momento certo.

—Na verdade nós não viajamos juntos...Ele decidiu vir antes e só esqueceu de me avisar. –David encolheu os ombros deixando transparecer seu rancor.

—Achei que tudo estava explicado quanto a isso... –Erick estreitou os olhos encarando o irmão.

—Sim, eu me expressei mal. –David segurou a mão de Alicia forçando um sorriso.

Embora estivesse ainda zonza, não deixou de notar o clima tenso que pairava ali.

—Vem comigo Erick, –Jéssica segurou as mãos dele – vamos rodar pela festa, vou te apresentar o pessoal.

—Claro...nos vemos daqui a pouco. –Ele disse diretamente para Alicia.

Enquanto Erick e Jéssica desapareciam em meio as pessoas, ela não sabia se sentia alivio ou raiva.Nada daquilo fazia o menor sentido para ela.Que desgraça era aquela?David e Erick irmãos!

—Ali, você não tem idéia da raiva que eu estou sentindo desse cara... –David sussurrou entro os dentes. –Aquele idiota me fez dirigir por um terço do dia, á toa.

Alicia respirou fundo, precisava de ar.

—Eu estou sem entender nada. –Conseguiu dizer enquanto caminhava em direção oposta ao salão de festas.

David seguiu atrás resmungando.

—Viu como ele é arrogante? –Ele apertou o canto dos olhos. –Eu estava chegando naquela maldita cidade quando meu pai me ligou avisando que esse mala já estava aqui!

—E ele não avisou antes? –Ela perguntou interessada.

David aproximou-se e riu de forma sarcástica.

—Ele mandou um e-mail para o meu pai há dois dias atrás...Agora acha que um homem ocupado como ele ia dar atenção a um e-mail desse..

—Ah! Então a culpa foi dele? –Ela cruzou os braços e encarou o namorado sabendo que ele se irritaria.

—Tudo bem! –David ergueu as mãos como se pedisse paz. –Eu vou circular, preciso dar atenção aos meus convidados.

Ela balançou a cabeça, precisava de um tempo sozinha para tentar digerir tudo aquilo.

—Eu vou ao banheiro e tenho que dar comida para o meu gato...O encontro depois. –Afirmou já dando as costas.

Quando fechou a porta do quarto correu até sua cama, Alicia estava atormentada.

—Jack...que roubada foi essa em que eu me meti? –Afagou seu gato que ansiava por carinho.

Ela nem queria pensar na confusão que aconteceria caso Erick resolvesse contar a David o que tinha acontecido mais cedo.Sabia que ele surtaria.O mais certo era conversar com Erick, tentar se explicar, se desculpar, mas a vergonha que sentia tinha a mesma proporção da preocupação .O que ele estava pensando dela?

Alicia passou as mãos pelo rosto e desejou que o chão se abrisse para que ela pudesse se esconder. Desejou não ter mais que sair dali, então pensou em Jéssica.

—Ela certamente deve estar mantendo a boca do Erick ocupada. –Falou baixinho para si mesma e aquilo a incomodou de mais.

Era isso mesmo, de todas as preocupações que a cercavam, a idéia de que Jéssica estava se amassando com Erick a deixava irritada, estava com ciúmes dele com a amiga.

Em frente ao espelho arrumou os cabelos, retocou o batom e resolveu voltar para a festa .Das poucas certezas que tinha, uma delas era que dentro daquele quarto não podia ficar.

Todos estavam rindo enquanto comiam e bebiam, o som estava agradável, algumas pessoas até dançavam perto de onde Thomas estava tocando .Alicia posicionou-se atrás de uma pilha de cadeiras que certamente foi feita para deixar mais espaço para os que queriam dançar.

Avistou David em uma roda de amigos dele. Estava feliz ou disfarçando bem .Uma brisa trouxe um cheiro bom de perfume de grife. Alicia respirou fundo e no mesmo instante viu Jéssica e Vivian em um outro grupo de pessoas. Erick não estava ali.

Pensou em procurá-lo, talvez fosse o destino dando a ela a chance de arrumar aquela bagunça.

—Parabéns! A festa que você organizou está ótima. –Ela ouviu da voz que vinha das suas costas. No mesmo instante sentiu suas pernas amolecerem como borracha derretida.

Arfou assim que virou e deu de cara com Erick.

—Eu...nem sei por onde começar... –Cerrou os pulsos nervosa de mais para raciocinar.

Num ato rápido Erick puxou Alicia pelo braço tirando-a da linha de visão de quem estava no salão. Ficaram exatamente atrás de uma mureta que dividia os ambientes.

Ela arregalou os olhos assustada com o que aquele simples toque a fez sentir.

—Temos muito o quê conversar, não é? –Erick cruzou os braços contra o peito sem desviar os olhos dela.

Alicia sentia-se como se reduzisse de tamanho, a vergonha a consumia.

—Eu sei que você deve estar tendo uma péssima impressão sobre mim e eu nem sei se vou conseguir desfazer isso, mas...hoje mais cedo... –Ela disparou a falar sem saber que Erick não estava nem aí para suas explicações.

Se para Alicia o fato de ele ser seu cunhado tinha sido um balde de água fria, para ele, só tornava tudo ainda mais interessante.

—Você tem idéia da enrascada em que nos metemos? –Ele indagou com a voz calma, existia também um sorriso no canto da boca.

Alicia olhou para os lados, sabia do perigo iminente de serem flagrados ali, e aquilo pareceria suspeito aos olhos de qualquer um.

—Você tem razão, nós não devemos ficar aqui, expostos dessa maneira. Se o David nos encontrar...eu não quero nem pensar...

—Não. –Erick sorriu e baixou a cabeça. –Eu não estou preocupado com isso .Me refiro a nós dois, sobre o fato de eu não ter conseguido deixar de pensar em você nem por um minuto...Tem idéia de quantas vezes me peguei falando seu nome, ou melhor, seu falso nome?

Ela ruborizou, sentiu o exato momento que a temperatura do seu sangue subiu fazendo seu rosto queimar. Não sabia se pela mentira ou se pela declaração que acabava de ouvir.

—Olha , eu peço desculpas pelo mal entendido eimploro que não diga nada ao David. –Alicia suspirou. –Ele jamais entenderia...

—Eu sei, mas...em algum momento ele vai ter de saber. –Deu de ombros, depois colocou as mãos dentro dos bolsos da calça, estampando no rosto um ar indecifrável.

Alicia sentiu um frio na barriga.

—Do que está falando?

Erick deu dois passos a frente encurtando a distancia entre os dois. Ficaram tão próximos que dividiam o mesmo ar .Alicia podia sentir o calor do corpo de Erick atingindo-a como ondas. Ela estremeceu.

—Acho que nós podemos ter essa conversa amanhã, no nosso encontro. –Ele afirmou convicto de que aquilo aconteceria mesmo.

Temendo a proximidade e o efeito entorpecente que ele lhe causava, Alicia deu um passo para trás, precisava se afastar dele.

—Não vai ter encontro algum! Aquilo foi antes... –Ela balançava a cabeça como se quisesse se livrar daquela ideia.

Erick riu percebendo o quão nervosa ela estava.

—Ah...então admite que planejava ir?

—Você está me deixando confusa...essa situação por si só é... –Ela não conseguia formular uma frase inteira. –De qualquer forma, isso está fora de questão, eu peço que esqueça o que aconteceu mais cedo.

Aquilo não era o que Erick queria ouvir .Ele passou as mãos pelos cabelos como se estivesse tomando uma decisão.

—Tudo bem...Chegando a casa do meu pai eu entrego suas sapatinhas para o David, meu casaco você devolve depois...

Alicia sentiu seu coração parar por um instante.

—Então vai ser assim? Você vai me chantagear?

Erick sorriu e baixou a cabeça voltando a cruzar os braços.

—Não é nada disso...Eu só estou tentando manter em pé o acordo que fizemos nessa manhã. –Disse restabelecendo a proximidade entre os dois. –Eu venho contando os minutos para esse encontro e agora você quer tirar isso de mim?

Alicia praguejou-se internamente, sabia de sua parcela de culpa no estava acontecendo .Se não tivesse embarcado naquele flerte, tudo estaria diferente. O pior era que por mais que ela soubesse o quanto tudo aquilo era errado, era inegável que Erick agia como um imã que a atraia de forma quase que inevitável.

—Acho que você não percebeu a gravidade dessa situação. –Ela sussurrou.

—Percebi sim... –Ele inclinou seu rosto tornando a distancia de seus lábios dos de Alicia praticamente inexistente. –Acho melhor voltarmos à festa antes que eu acabe por fazer algo que estou com vontade desde que a vi dançando.

A troca da respiração dos dois invadia Alicia tão intimamente que ela sentia seu corpo queimar. Desejo, medo e instiga se fundiam numa inconsequência nunca antes experimentada por ela. Sabia que se Erick quisesse beijá-la naquele momento, ela não seria capaz de resistir. Estava ali, entregue, sem relutância alguma, aguardando que Erick se afastasse ou a tomasse em seus braços de uma vez.

Ele franziu o cenho, fechou os olhos e encostou delicadamente seu rosto no dela. A Pele era macia e ele, que jamais deixou passar uma oportunidade como aquela, acabou tomando a decisão mais pertinente, no seu ponto de vista .Afastou-se dela, não queria que as coisas acontecerem daquele jeito, ou melhor, de qualquer jeito, porque sabia que ela não era uma garota qualquer. Alicia era diferente e por isso tinha de ser tratada com a mesma eminência.

—Eu vou voltar para a festa. –Ele avisou baixinho tirando Alicia daquele transe em que se encontrava.

Enquanto ele caminhava, ela o acompanhava com olhos, ainda se lembrou de verificar se David continuava no mesmo lugar. Ao constatar que sim, tentou se refazer para também poder voltar. Respirou fundo antes de sair dali e sentiu o perfume de Erick, em cada centímetro cúbico daquele espaço e impregnado em sua pele também.

Fechou os olhos, precisava organizar seus pensamentos. Não conseguiu. Logo ela que sempre foi tão centrada...

Caminhou até as duas amigas, Jéssica e Vivian, que partilhavam de uma conversa animada.

Desejou poder se abrir com elas, aliás, nunca precisou tanto de alguém para desabafar, como naquela situação ,no entanto sentia que não podia. Os motivos eram tantos, primeiro porque estava envergonhada, a seu ver, ela já estava traindo o namorado, depois, porque Jéssica havia demonstrado interesse em Erick, assim, a confusão estava formada, tal qual uma bomba contando os últimos segundos para explodir.

—Ali! Eu já ia te procurar! –Jéssica gritou alegre demais.

—Vivian, que bom que veio! –Alicia estendeu os braços para envolver a amiga que já não via com tanta frequência.

—Eu que o diga! Estava mesmo precisando respirar algo diferente do cheiro de talco de bebê. –Disse sorrindo com a doçura que sempre a pertenceu.

A experiência de ser mãe solteira estava sendo um desafio e tanto para alguém com menos de duas décadas de vida, e Vivian estava mesmo feliz em poder ter uma noite como tantas que ficaram em seu passado.

—É isso aí! –Jéssica passou o copo que estava em suas mãos, para ela. –Hoje vamos nos divertir como antigamente.

—Tem álcool nisso aqui? –Vivian perguntou depois de tomar um gole da bebida no copo.

—Jéssica está tentando embebedar todo mundo...Se minha avó descobrir, acaba com a festa.

—Fique tranquila Ali! –Ela piscou como se flertasse. –Sua avó nunca vai desconfiar que batizei o suco de maracujá.

Vivian riu. Aquilo era abem a cara da amiga, sempre a mais inconsequente das três.

—Onde está seu cunhado? –Vivian voltou sua atenção a Alicia. – Estou curiosa, a Jess disse que ele é lindo.

—Não sei. –Ela tentou disfarçar seu nervosismo. –Ele não estava com você, Jéssica?

Ela tomou o resto da bebida num gole só e depois balançou a cabeça em negativa.

—Eu estava contando para a Vi...Eu acho que ele tem algum problema. –Ela fez uma careta. –Eu praticamente me joguei para cima dele, usei todo meu charme e nada .O cara só quer saber de conversar, ficou me enchendo de perguntas...

Alicia sentiu-se feliz, sabia que não deveria, mais foi tomada por uma euforia que a fez sorrir.

—É...ele é mesmo um cara bonito. –Alicia fingiu indiferença.

—Bonito!? –Jessica interveio. –O cara é perfeitamente lindo...Só que deve ser gay.

—Gay? –Alicia estranhou a suposição.

—Ah, sei lá...Ele sabe se vestir, é educado de mais e tem um estranho interesse por ballet... –Ela falava com se estivesse revelando o segredo mais obscuro de alguém.

Vivian apenas sacudia a cabeça achando graça do jeito da amiga, já Alicia, interessava-se cada vez mais no que ela dizia.

—Como assim, ele tem interesse em ballet?

—Isso mesmo. Ele falou que mãe dele foi bailarina, sei lá, e perguntou sobre o estúdio daqui de Santo Valle. A verdade é que eu não prestei a atenção em nada que saia da boca dela, eu queria mesmo era que ela estivesse na minha!

—Jéssica, você fala como uma vadia! –Vivian a repreendeu.

Ela deu de ombros e com os olhos sinalizou para as amigas.

—Olha ele ali...Na mesa da comida.

—Vamos lá, me apresentem a ele...eu vou saber se ele é mesmo Gay, sou boa nisso!

—Isso, vamos lá! –Jessica segurou cada uma das garotas pelo braço.

Alicia não saiu do lugar.

—Vão vocês...eu preciso falar com o David. –Ela improvisou uma desculpa, tudo o que não queria era que as amigas percebessem qualquer coisa.

—Não seja chata... –Jessica começou a insistir.

Erick ao ver as três sozinhas, imaginou que juntar-se a elas não geraria desconfiança de ninguém. Quem ali pensaria que ele estava justamente interessado na namorada do irmão? Sem contar que gostava de ver como Alicia ficava mexida quando ele se fazia presente.

Caminhou com uma despretensão que enganaria a qualquer um, menos ela.

—E aí? Encontrou alguma coisa para comer? –Jessica fez questão de tocar seu ombro.

Ele estava com um copo de suco na mão, ergueu mostrando que bebia.

—Encontrei, graças as suas dicas. –Ele piscou para ela.

—Verdade! –Ela voltou-se para Alicia que acompanhava cada ação dos dois como quem assiste a uma partida de tênis. –Ele é vegetariano também.

Alicia olhou para Erick como quem encontra água no deserto. Além dela, não conhecia mais ninguém em sua rede de contatos, que abdicava dos prazeres da carne.

—Sério? Você não come carne? –Alicia Interessou-se ainda mais.

—Não. Nem eu, nem minha mãe. Fui criado dessa forma, então... –Ele parecia meio sem jeito.

—Eu tentei por dois meses mas...pra mim não deu. –Vivian entrou na conversa. –A propósito, eu sou Vivian, amiga das duas aqui. –Ela aproximou-se dele para cumprimentá-lo.

—Bem, já deve saber que eu sou Erick, irmão do David. –Ele não parecia confortável com o título.

De repente a conversa entre os quatro começou a fluir de forma agradável. Eles falavam sobre os mais diversos assuntos e Erick transitava por todos eles com um polimento e uma educação nunca antes vistos por nenhuma das meninas ali.

Alicia não conseguia decidir se amava ou odiava cada afinidade que descobria ter com ele. Estavam rindo de alguma coisa que Jéssica havia contado quando David chegou.

—Parece que já encontrou uma tribo... –Afirmou num tom escárnio.

— Sim, na verdade encontrei justamente o que eu procurava. –Ele passou rapidamente os olhos em Alicia e depois fixou-os no irmão.

—David meu querido...Seu irmão aqui ficou com toda a simpatia só pra ele! –Jéssica elogiou dando um jeito de tocá-lo novamente.

—Verdade! Ele tem cada história... –Vivian ainda ria.

David forçou seus lábios para cima fazendo o máximo para sorrir.

—Podemos cantar os parabéns? Algumas pessoas estão querendo ir embora.

—Claro David. –Alicia sentiu-se aliviada por encontrar um motivo para sair dali. Ter o namorado e o cunhado na mesma roda era perturbador.

Os convidados se colocaram em frente à mesa do bolo, Alicia ficou ao lado do namorado acompanhada pelos olhos de Erick que parecia fazer questão de impor sua presença a ela, como se fosse um lembrete e talvez por isso ela estivesse, mesmo que inconscientemente se esquivando das carícias de David.

Depois de um discurso de agradecimento a todos os presentes, ele voltou-se a Alicia:

—Obrigada por tornar esse dia ainda mais especial, obrigada por organizar essa festa com tanta perfeição.

Alicia balançou a cabeça timidamente, um pouco por não gostar daquele tipo de exposição e mais porque sabia que tinha alguém ali, acompanhando cada uma de suas ações, tanto que quando David inclinou-se para beijá-la sua vontade foi de sair correndo.

Bloqueou todos os seus pensamentos e teve de corresponder ao beijo apaixonado de seu namorado .Foi tão automática que não sentiu nada enquanto ele movimentada os lábios carinhosamente contra os dela.

Assim que se afastaram seus olhos voltaram para o lugar onde Erick estava antes, internamente rezou para que ele não estivesse ali vendo aquela cena. Não foi como ela desejou, para seu desespero lá estava ele, inexpressivo.

Aos poucos as pessoas começaram a deixar o haras. Os grupos iam se desfazendo e se refazendo até que restaram apenas Jéssica, Vivian, Eliot ,Thomaz ,Mathias ,David Alicia e Erick.

—Cara ! E eu achando que o irmão do David era um caipirão sulista. –Eliot divertiu-se.

Mathias que bebia uma garrafinha de cerveja balançou a cabeça concordando com ele.

David chegou a tempo de ouvir o elogio e não estava gostando de ver que o irmão já estava realmente enturmado aos seus amigos.

—Olha aí...O Erick parece ter agradado todo mundo. –Desdenhou enquanto colocava um dos braços em torno do pescoço de Alicia.

—O cara é gente boa! –Eliot completou. –Ele tem cada história.

Todos riram, mesmo Alicia que voltava a ter seu corpo tomado por uma tensão cruel.

—Na verdade a cidade em que eu vivo com a minha mãe é bem monótona, o jeito é animar as coisas... –Erick puxou uma cadeira e foi seguido pelos demais ali.

—Planejar um assalto deve ser bem animado mesmo... –David disparou num toma mais baixo, mas audível por todos. Sua intenção foi ataca-lo.

Ninguém achou graça, ao contrário, David foi bombardeado por olhares repreensivos vindos de todas as partes. O pior foi o de Alicia, que mesmo sem saber direito daquela história achou totalmente dispensável sua atitude.

—Bem...eu nunca planejei um assalto, mas pode ser mesmo divertido. –Olhou rapidamente para Alicia. –Tudo depende do que você vai roubar e de quem... –Erick respondeu depois de um tempo em silêncio.

Alicia sentiu seu rosto corar ao entender a analogia de Erick.

—Tem razão cara, conheço bem um garota se roubou meu coração apenas por diversão. –Thomas sinalizou com a cabeça na direção de Jéssica.

Ela sorriu.

—Você já teve cantadas melhores, Tom..

—Tem razão. –Tomas levantou-se e seguiu até onde estavam seus equipamentos de som. Usando todo seu charme voltou segurando um violão. –E aí? O quê acham de uma música ao vivo?

—Legal cara...Você toca mesmo? –Erick interessou-se.

—Ele toca bem...já cantar... –Vivian fez uma careta.

—Injusta! Quando Bia nasceu eu fiz uma canção de ninar para ela.

—Sim, minha filha chorou por três dias seguidos depois da sua visita. –Vivian manteve o tom de brincadeira.

—E você Erick, não vai me dizer que toca também. –Mathias encarou o irmão do amigo.

Erick levantou uma das sobrancelhas como se analisasse a pergunta, estendeu os braços pedindo o instrumento.

—Eu arrisco alguma coisa... –Afirmou já dedilhando algumas notas.

David revirou os olhos.

—Se tocava, parece que esqueceu... –Ele zombou do irmão vendo que as notas não formavam musica alguma.

—Eu avisei que... –Ele olhou para Alicia. –Faz tempo que não toco. –Explicou ainda insistindo e antes que começassem as vaias lá estava ele...

—E não é que ele sabe mesmo! –Jéssica animou-se enquanto ouvia a música estilo country.

Erick permanecia concentrado, tinha que se manter atento para não errar, aos poucos um sorriso começou a brotar em seus lábios, estava feliz por se lembrar daquela velha canção.

Alicia parecia hipnotizada, seus olhos estava focados nos movimentos das mãos de Erick, os dedos grossos e másculos adornados por anéis, faziam com que ele parecesse ainda mais sexy para ela.

—Eu não conheço essa música. –David franziu a testa.

—É My Love, da banda Little Texas. –Alicia interveio.

—Você conhece? –Erick surpreendeu-se. –É tão antiga.

—Eles têm uma musica na trilha original da pequena sereia então... –Ela deu de ombros.

Erick sorriu, um sorriso largo e desarmado para ela.

—Isso mesmo, eu conheci essa banda justamente por isso...Minha mãe é professora de ballet, e montou um espetáculo da pequena sereia no passado.

—Ah cara! Não vai me dizer que você dança ballet também! –Mathias caçoou enquanto procurava mais bebida em sua mochila.

Erick balançou a cabeça.

—Não. Mas minha mãe sempre dava um jeito de me enfiar nesses espetáculos nem que fosse para eu fazer o papel de uma alga marinha. –Disse devolvendo o violão a Thomas.

—Eu gostei da musica, estou procurando. –Eliot afirmou com o celular na mão.

—Eu também gostei. –Jéssica se levantou. –Agora diz aí ,você toca, dança, é educado... quais outras qualidades você tem?

Thomas lançou a ela um olhar irritado, sabia que a amiga já tinha bebido mais do que deveria.

—Eu também sou tudo isso aí gata, e já achei a bendita música. –Ele se levantou e pegou-a pelo braço. –Vai dançar comigo como prometeu mais cedo.

Jéssica tinha outro alvo mas, não se opôs, agarrou-se ao pescoço de Thomas e começou a dançar ao som de My Love.

Mathias estava com uma garrafa de whisky enchendo os copos de quem estava aceitando. David foi um deles.

—Vamos Vivian, dança uma comigo? –Eliot posicionou-se em frente a garota.

—Eu não sou boa em dançar a dois, mas vamos lá. –Aceitou já de levantando.

Os dois casais dançavam enquanto David, Mathias, Erick e Alicia os observavam.

—Que tal nós dois? –Mathias se levantou e estendeu a mão para Erick.

—Não está falando sério, não é? –Ele ajeitou-se na cadeira um tanto desconfortável.

Mathias soltou uma gargalhada alta.

—Claro que não, estou só brincando cara! –Ele voltou a beber.

—E vocês, não vão dançar? –Erick voltou-se ao irmão.

David permaneceu sério e acabou com a bebida num só gole.

—Ao contrário de você, eu odeio essa coisa de dança.

Alicia olhou para ele com raiva, ela não gostava quando o namorado se referia daquela forma a algo que ela tanto amava.

—Vai lá, dança com Alicia, ela é profissional. Vamos ver se você é bom nisso também. –David provocou acreditando que o irmão não levaria a sério sua proposta. O que ele não imaginava era que dançar com sua namorada era o que ele mais desejava.

Sem muito pensar se levantou e segurou Alicia pelas mãos.

—Vamos lá, vamos mostrar como se faz...

—Não...Fica para uma próxima vez. –Ela afirmou contrariando o que seu corpo realmente queria.

Mathias olhou para ela com estranheza.

—Que isso Ali, você rejeitando uma dança?

—Vai Ali. –David interferiu. –Vamos ver se meu irmão dá conta do recado.

Sem acreditar no que estava fazendo, Alicia levantou-se e seguiu para onde os amigos brincavam de dançar.

David acompanhava tudo atentamente e no rosto um sorriso sarcástico dava conta de que suas intenções não tinham sido nada boas.

—Vamos ver o senhor perfeição passar vergonha. –Estendeu o copo para que Mathias completasse novamente com mais bebida.

—Você não devia ter feito isso... –Alicia resmungou entre os dentes enquanto muito sem jeito segurava a mão de Erick.

Ele colocou a outra mão na cintura dela puxando-a para mais perto, sentiu sua pele queimando e como seus batimentos alterados.

—Está com medo de não conseguir me acompanhar? – Provocou-a para tentar disfarçar seu próprio nervosismo.

Então eles dançaram, tão bem que era como se tivessem ensaiado .Finalmente Alicia tinha encontrado um parceiro a altura, ela não conseguia deixar de pensar em como o cunhado era bom, em todos os sentidos .Houve um momento em que ela olhou para suas mãos e notou como elas se encaixavam com perfeição .Dançaram uma, duas , três canções e todos os amigos pararam para vê-los.

A Vontade de David era de ir até eles e tirar a namorada dali, no entanto, fora ele mesmo quem provocou aquela situação, restava fingir e tentar disfarçar que sua noite não estava indo de mal a pior.

Jéssica aproveitou que a musica tinha cessado e roubou Erick de Alicia.

—Agora é minha vez! Não sou tão boa partner como minha amiga, mas...

Se pudesse não largaria Alicia jamais, dançaria com ela a madrugada toda ,mas sabia que não podia deixar seu interesse por ela tão na cara.

Alicia voltou a sentar ao lado do namorado que àquela altura já nem disfarçava mais seu mau humor. Além de ter que ficar ouvindo-o resmungando sobre quanto Erick era convencido, e quanto ele seria seu tormento, estava assistindo de camarote Jéssica investindo duramente no cunhado.

Para Alicia a noite já podia terminar, David já tinha bebido além da conta e mais um pouco ninguém ali teria condições de dirigir.

—Podíamos dormir todos aqui. –Jessica sugeriu com terceiras intenções.

—Eu não posso, tenho um compromisso já cedo. –Erick olhou para Alicia.

—É melhor cada um ir para sua respectiva casa. –Ela disfarçou.

—Vou ficar com você. –Davi Segurou a mão da namorada. –Viajo amanhã cedo e quero que tenhamos uma despedida decente.

Erick não conseguiu esconder seu incomodo com o que acabava de ouvir.

—Cara, viemos juntos, eu preciso que me leve embora.

—Eu posso te levar Erick. –Jéssica se ofereceu.

—Erick, eu prefiro que você que não bebeu, vá dirigindo o carro do David, ele não está em condições. –Alicia também não gostou da ideia de Erick e Jessica saindo juntos.

—Eu estou bem, não preciso de babá. –David esbravejou já caminhando rumo ao estacionamento.

Assim que todos se organizaram quanto quem ia com quem, Erick aproveitou um momento de distração dos que restavam ali e seguiu até Alicia que ainda tentava digerir a atitude do namorado.

—Espero que não me decepcione amanhã. –Sussurrou para ela. –Parabéns a festa estava ótima. – Disse em tom alto para que todos pudessem ouvir.

—Placar final: Zero a zero. – Jéssica se lamentou ao se despedir de Alicia.

—Ou não... –Disse vendo Vivian e Eliot indo embora juntos.

Por todo o caminho Erick e David não trocaram uma só palavra, embora fosse certo que o pensamento dos dois, estivesse na mesma pessoa.

—Vai ficar quanto tempo fora? –Erick perguntou a David antes de entrar em seu quarto.

—Quinze dias. –Ele respondeu seco sem estender-se.

Em seu quarto, caminhou até a cama onde estavam suas malas, abriu uma bolsa preta e tirou de baixo de algumas roupas, as sapatilhas de Alicia. Deitou-se com elas em suas mãos .Estava encrencado, sem sombra de dúvidas.

Alicia era outra que estava totalmente consciente do tamanho enrascada em que havia se metido. Enquanto travava um duelo mental entre ir ou não ir encontrar Erick no dia seguinte, abriu novamente a gaveta onde estava a jaqueta dele e apenas ficou olhando para ela, como se aquela peça de tecido pudesse lhe dar alguma resposta.