O quarto estava escuro, e com a tv num volume alto não dava para saber se era dia ou noite, sentindo a cabeça latejar graças a ressaca de uma bebida barata, Alicia sentou-se na cama e começou a organizar seus pensamentos. Erick estava ao seu lado, deitado de bruços com o rosto virado para ela, uma cena comum, já que Alicia vinha dormindo com o namorado no haras, quase todas as noites.

Olhou para o lado e no chão estavam sua peruca pink, e seu shorts jeans, começou a se lembrar então da performance que tinha feito para Erick, balançou a cabeça, começava a se sentir envergonhada.

—Erick...acorde... —Ela debruçou-se sobre ele tentando pegar o celular que estava em cima do criado mudo.

—O quê foi? —Ele resmungou abrindo os olhos.

—Deus! São quase onze horas da manhã...

—Nossa, eu dormi como uma pedra. —Erick sentou-se enquanto se espreguiçava. —Também...depois dessa noite... —Ele disse malicioso.

—Não me lembre... não era eu... —ela cobriu o rosto com as mãos — aliás, você me transformou nessa versão Alicia 2.0 a pervertida.

Erick não aguentou e começou a rir.

—Ah, então eu sou o culpado? Você encheu a cara com aquela coisa de morango e depois

—Shiii! —Alicia colocou a mão na boca de Erick impedindo que ele terminasse de falar. —Não vamos tocar nesse assunto.

Erick respirou fundo e olhou em sua volta, as lembranças para ele que estava sóbrio vieram com riqueza de detalhes.

—Tudo bem—ele ergueu as mãos como se estivesse rendido— eu posso até não falar, mas meus pensamentos eu não consigo controlar...Alicia você...pensando bem acho que vou comprar todo o estoque daquele drink.

—Você não presta Erick! —Alicia estreitou os olhos assim que o namorado a puxou para perto.

—É melhor descermos antes que minha mãe venha nos chamar...

—Nossa! A Jéssica e o Tom? Será que voltaram bem? —Alicia deu um pulo da cama.

—Claro que sim, do contrario já estaríamos sabendo.

Erick tomou um banho rápido e depois foi a vez de Alicia. Antes de descerem foram juntos até o quarto em que deviam ter dormido os meninos, bateram na porta e não obtiveram resposta nenhuma.

Alicia num ímpeto de desespero e preocupação virou a maçaneta, ao notar que a porta estava destrancada abriu-a devagar.

—Jess!? —Indagou baixinho.

—Está tudo claro, não tem ninguém aí. —Erick espiou.

Alicia entrou no cômodo e sentiu seu coração voltar a bater assim que viu a peruca e as roupas que a amiga usava na noite anterior, arrumadas sobre a cômoda.

—Eles já devem estar lá em baixo e a essa altura sua mãe já sabe que não dormimos em quartos separados.

—Vamos... acha mesmo que ela vai se importar com isso? —Erick segurou Alicia pela mão.

Do meio da escada já era possível ouvir as risadas de Jéssica.

—Bom dia! —Alicia toda sem jeito cumprimentou a todos de uma forma geral.

—Bom dia pombinhos...Achei que não acordariam hoje... —Jéssica se antecipou.

Alicia que estava sentando de frente para ela na mesa, lançou um olhar de reprovação.

—Bom dia queridos... —Laura sorrindo se levantou para dar um beijo nos dois.

Alicia estava sem conseguir encarar a sogra, só pensava em como estava se tornando rotineiro passar más impressões a ela.

—Estávamos contando para sua mãe que acabamos nos perdendo de vocês. —Thomas começou a falar enquanto se servia de mais um pedaço de bolo de cenoura.

—Meu Deus, como tinha gente naquele lugar! —Alicia olhou para Jéssica. —Nós nem perdemos tempo procurando vocês.

—Caramba, eu me diverti de mais... não imaginava que existia uma festa de carnaval assim, como as que minha mãe contava que eram nos tempos dela.

—É Jessica, por isso mesmo que vem gente de todo lugar.... —Erick também pegou um pedaço do bolo.

—Que horas chegaram? —Alicia quis saber.

—Eram umas três da manhã... eu bati na porta do quarto, mas vocês não atenderam.

Alicia quase se afogou com o suco que estava acabando de engolir.

Por um minuto ninguém mais disse nada.

—Meninos e meninas... acho que eu me equivoquei quando fiz a divisão dos quartos, —Laura quebrou o silêncio—mas me desculpem, eu não estou acostumada e acho que fui antiquada, portanto, façam como preferirem.

—Ah, nem precisava falar viu dona Laura... —Thomas e sua falta de noção se impuseram.

Os cinco acabaram rindo da situação, de Thomas e de todo o resto.

No inicio da tarde Laura convidou a todos para irem até a escola de dança onde ela dava aulas, Jéssica e Thomas não se interessaram, estavam exaustos, e preferiam ficar descansando, queriam guardar energias para a noite, estavam animados para novamente irem até a festa da praça.

—Então vamos nós três. — Erick pegou as chaves do jeep e seguiu com as duas para o centro de Nova Olimpia.

—Eu não sabia que o comercio funcionava hoje? —Alicia estranhou o movimento do transito e as lojas abertas.

—Sim, tudo aqui funciona até as 16:00 horas. —Laura comentou desafivelando o cinto de seguranças. Erick acabava de estacionar em uma das vagas do estúdio.

—É aqui que dou aulas... —Laura desceu do carro.

Alicia olhou para a fachada e se surpreendeu. Era umas três ou quatro vezes maior que o estúdio de Santo Valle, um prédio bonito, com a frente toda de vidro escuro e as letras douradas que formavam a palavra Império da dança, davam um ar suntuoso ao lugar.

—Uau! Que lindo!

— Está mesmo lindo, passou por uma reforma há menos de um ano... —Laura já destrancava a porta.

Antes de entrar Alicia olhou a redor, e parou os olhos em outra fachada muito elegante que ficava na esquina do outro lado da rua. Camila Jóias.

Balançou a cabeça certa de que não era uma coincidência, aquela certamente era a tal joalheria.

—Foi ali que você trabalhou então? —Ela não se conteve.

Erick olhou para os pés, e praguejou-se internamente, a namorada era danada, tinha um sexto sentido e um extinto de observação apurados de mais.

—Sim. —Foi breve. —Essa é a joalheria.

—Erick...Além de aluna da sua mãe ela é vizinha daqui. Que merda você foi fazer, hein? —Alicia mais uma vez estava incomodada com a história.

Ele deu de ombros, não sabia o que argumentar.

—Vai entrar ou não vai? —Ele perguntou sério.

Alicia permaneceu olhando para a joalheria, pensou que talvez a bela morena pudesse estar ali e se lembrou da maneira que ela seus lábios carnudos haviam pronunciado o nome do namorado na noite anterior.

—Só um aviso, —ela ergueu um dos dedos— se ela aparecer aqui eu não vou me segurar, juro que eu sou capaz de torcer o pescoço dela.

Erick passou as mãos pelo cabelo e acompanhou Alicia com os olhos enquanto ela entrava como um furacão no estúdio.

Enquanto Laura mostrava todo o espaço para Alicia, Erick seguia as duas em silencio, ele estava realmente preocupado com a hipótese de Camila ver seu carro estacionado ali e resolver aparecer, sabia por experiência que a garota era problema.

—Mãe, a Camila não faz mais aulas aqui, não é? —Erick aproveitou um momento de distração da namorada que estava na sala de figurinos, para perguntar.

—Faz...Não comigo porque eu me recusei a tê-la como aluna depois de tudo, mas você sabe... o estúdio não podia comprar minha briga.

—Eu só espero que ela não crie nenhum problema com a Alicia. —Erick pensou em voz alta.

—Ela é uma pimentinha também, não? —Laura provocou o filho.

Ele afirmou com a cabeça.

— Uma força da natureza eu diria... mas por acaso seu filho gosta das coisas fáceis? —Erick foi atrás da bailarina. —Gostou desse lugar? —Ele abraçou Alicia pelas costas.

—Nossa, tudo aqui é lindo, veja o tamanho dessa sala. —Alicia alongou a perna na barra em frente ao espelho. —E essas imagens de bailarinas, adoraria ter uma assim no meu quarto.

Erick olhou para a parede e por toda extensão haviam pinturas de silhuetas de bailarinas em vários tons de rosa.

—Quer fazer isso lá no quarto do haras...posso ver com a minha mãe quem as pintou.

—Não... —Alicia começou a caminhar pelo salão, o chão de madeira brilhava como novo. —Vem...dança comigo.

Erick franziu a testa.

—O que quer dançar?

—Nosso tango...

—Hum Alicia, tenho tantas recordações ruins daquela noite. —Erick suspirou com mágoa. — Foi tudo tão bonito e nem pudemos comemorar...achei que tivesse perdido você.

Alicia descalçou os sapatos e sorriu para ele.

—Vamos...podemos desfazer essa má impressão. —Sussurrou enquanto começava a imitar o som da musica que dançaram o tango.

Erick obedeceu, sabia cada marcação da coreografia sem precisar pensar, aquilo tinha ficado registrado em suas memorias como uma tatuagem permanente. Laura voltou á sala logo depois que eles começaram a dançar e ficou parada os assistindo, orgulhosa mais uma vez.

—Olha como eu fico arrepiada... —Ela aplaudiu assim que eles terminaram a dança.

—Realmente, é uma bela coreografia...nem sabia que você dançava Erick.

Os três olharam imediatamente para a porta onde ela estava parada, os cabelos longos e pretos presos num rabo de cavalo e um conjunto de calça social e camisa cinza não a faziam se parecer com a garota vulgar da noite passada.

Erick coçou a testa e se pudesse acionaria o alarme de aviso para tsunami.

—O que faz aqui Camila? O estúdio está fechado hoje. —Laura caminhou até ela, estava visivelmente tensa.

—Eu sei...mas vi quando vocês chegaram e vim falar um oi para o Erick. —Camila parecia se referir a um grande amigo que não via há tempos.

—Camila, não é? —Alicia se dirigiu a ela com uma simpatia forçada. —Se não me engano já teve a oportunidade de dizer esse oi, ontem na praça, não foi?

—Sim...mas naquele tumulto... —Ela sorriu com cinismo e cruzou os braços correndo os olhos pela bailarina.

—Bom...Oi Camila e tchau Camila—Erick interveio— já estávamos indo.

—E você, quem é? — A morena pareceu ignorara completamente as palavras de Erick, ela sequer conseguia atirar os olhos de Alicia.

—Eu sou Alicia...a namorada do Erick. —Alicia saboreou as palavras antes de dizê-las.

—Bom meninas, vamos deixar as conversas para outra hora...temos que ir. —Laura continuava apreensiva.

—Erick Carter namorando? Isso é mesmo surpreendente.

—Não quando se encontra a pessoa certa. —ele segurou uma das mãos de Alicia e se assustou em como elas estavam geladas.

—Bem, vejo que é bailarina também...ele tem meio que uma queda por garotas com sapatilhas.

—Camila por favor... —Erick começou a se irritar.

—Meninos, acho que é melhor encerramos isso por aqui.

Alicia sentiu seu sangue ferver e tudo piorou quando ela olhou para o pescoço de Camila, imaginou suas mãos apertando-os, só que o pingente desenhado pelo namorado estava lá, pendurado em uma correntinha dourada.

—Ele pode até ter mesmo uma queda por garotas com sapatilhas, mas é preciso mais do que isso para segurá-lo e garanto...eu tenho o que as outras bailarinas não tiveram...

Camila fechou o rosto numa expressão de raiva e se segurou para não deixar todo o seu ódio transparecer.

—Bom, fico feliz por vocês...e até breve. —Ela deu as costas sem dar chances para ninguém dizer mais nada.

Laura respirou fundo, e Erick também...o que tinha acabado de acontecer era algo totalmente desnecessário e podia ter terminado de forma ainda pior.

—Ficou nervoso Erick? —Alicia se voltou para ele.

—Bom eu vou pegar umas coisas lá no escritório e então podemos ir. —Laura deu um jeito de sair do meio daquele quase desastre.

—Essa garota...eu disse que ela é

—Uma garota recalcada e pior, apaixonada por você...

—Imagina, ela não é apaixonada por mim, isso já foi. —Erick tentou abraçar Alicia.

—Ela usa o pingente que desenhou para ela.

—Isso não quer dizer nada!

—Apenas isso não, mas o jeito que ela olha pra você...

Erick seguro o rosto de Alicia, ele odiava que ela se chateasse.

—E o jeito que eu olho pra você? —Ele encarou a namorada. —Meu olhar serve como prova do que eu sinto?

Alicia respirou fundo, estava com vontade de chorar.

—Nunca brinque comigo Erick, eu não suportaria... —Ela não pode impedir que algumas lágrimas escorressem por seu rosto.

Erick secou-as com a ponta dos dedos e depois envolveu Alicia em um abraço apertado e cheio de significado.

—Gostaria de poder te dar uma prova do quanto você é importante pra mim...

—Você pode Erick...nunca me deixe e tudo vai ficar bem.

**********************

Thomas e Jéssica estavam dormindo e como ainda tinham um tempo antes do baile de carnaval, Erick resolveu levar Alicia para um tipo de excursão pela cidade. Queria apresentar os lugares que mais gostava de frequentar e as coisa que fizeram parte da sua infância e do seu passado.

—É uma cidade muito bonita e é engraçado pensar que eu nunca viria até aqui, se não conhecesse você.

— Acho que é o destino... —Erick sorriu acabando de ter uma ideia.

—Falando em destino? Ao que me consta você não acredita nisso, lembro bem do que me disse quando nos conhecemos.

—É, só que aquilo foi antes de eu saber quem era você.

—Hum...entendi. Aquilo foi antes....Pra onde estamos indo agora? —Alicia se atentou na mudança da paisagem.

— Estou levando você para um lugar que poucos conhecem...

—É tipo um sequestro então?

— Pode ser....

Erick dirigiu por mais uns vinte quilômetros e entrou num bairro rural, as casas ficavam muito longe umas das outras e haviam pastos enormes cheios de vacas e cavalos.

—Tem uma lagoa ali em baixo... —Ele avisou assim que estacionou o jipe ao lado de uma arvore enorme. — eu e meus amigos vínhamos aqui para nadar.

—Trazia os amigos para nadar ou as garotas para pegar? —Alicia ergueu uma das sobrancelhas.

—Que ideia Alicia...eu nunca trouxe uma garota aqui. —Erick afirmou e estava sendo sincero.

—Isso significa que sou a única?

—É...eu gosto desse lugar, veja o pôr do sol que coisa linda! —Ele apontou para o horizonte.

Alicia soltou o cinto de segurança e encarou o namorado, seu sorriso externava o que sua estava em sua mente.

—Dirigiu todo esse tempo para me mostrar o por do sol? —Alicia perguntou provocativa.

—Digamos que pensei nas chances da Alicia 2.0 voltar a dar as caras... não vou mentir. —Erick sorriu já se inclinado para um beijo.

—Deixa eu ver... —Ela olhou para os lados querendo constatar se aquele lugar era mesmo ermo. — acho que ela pode aparecer, no fim das contas não é o drink, mas sim você que me transforma...

Nova Olimpia deixaria boas lembranças para aqueles quatros jovens, mas teria um significado especial para Erick, ele que havia saído dali praticamente fugido, deixando para trás acontecimentos terríveis, estava agora vivendo seus melhores dias, tanto que na terça-feira, ultimo dia de carnaval, a sensação nostálgica já o dominava, não só a ele, como os outros três também.

—Não podemos prolongar nossa estadia aqui? —Jéssica se jogou na cama de casal do quarto de Erick, Alicia e ela se preparavam para o baile da praça.

—Foi muito bom né?

—Gente, eu viveria aqui numa boa....fora sua sogra, essa mulher fez com que eu me sentisse mais confortável do que em minha casa.

—A Laura é mesmo fantástica...me espanta o Cássio tê-la trocado pela Marcela. —Alicia disse num tom baixo.

—Bom pra ela que foi assim...aquele homem é um chato, ela merece coisa melhor.

—Sei lá, de qualquer forma eu não tenho coragem de perguntar como foi que as coisas aconteceram, e na verdade, tudo que me importa é que há vinte e poucos anos atrás ela e o Cássio fizeram juntos, a coisa mais importante da minha vida!

—Você está mesmo muito apaixonada, hein? —Jéssica jogou uma almofada em Alicia que borrou o batom.

—Jess... —Ela reclamou. —Você não imagina o quanto, é um sentimento muito grande, forte que me domina totalmente, e isso dá medo.

—Ele ama você...não tem porque sentir medo.

—Eu sei que ele me ama, —Alicia sentou-se ao lado da amiga— só que eu nunca senti isso antes e é assustador, porque Erick se tornou vital pra mim, tanto quanto o ar, entende?

Jéssica arregalou os olhos.

—Ainda não cheguei a esse estagio...e nem sei se quero ser tão dependente de alguém assim.

Alicia se levantou e foi para a frente do espelho de novo, com o vestido branco nas mãos pensou no que acabava de confessar para Jéssica.

—Esse é tipo de coisa que você não escolhe, apenas acontece. —Concluiu. —Quanto ao vestido, hoje vou usá-lo e nem tente me persuadir do contrário.

Jéssica fez uma meia careta e deu de ombros.

—Vamos, hoje quero nós quatro juntos, é nossa ultima noite em Nova Olimpia e vamos causar nessa cidade!

Com dois copos de Doce Paixão nas mãos Thomas vinha dançando ao som de "mamãe eu quero..."

—Que negócio ruim... prefiro uma cerveja! —Ele reclamou assim que tomou um gole.

—Eu gostei. —Alicia pegou um dos copos e virou na boca.

—Vai com calma gata... sabe que não é acostumada. —Erick segurou o copo.

Jéssica que já tinha tomado meio copo ria do cuidado que Erick tinha com Alicia.

—Depois que eu tomar esse, vou querer um Paraíso Azul... —Ela afirmou, já tinha decorado o nome de todos os drinks da festa.

—Eu também vou querer, Erick.

—Você prova o dela, não quero ter que explicar para seus pais que entrou em coma alcoólico. — Bom, eu vou buscar uma cerveja e trago o bendito do negócio azul. —Thomas beijou rapidamente os lábios de Jéssica. —Vem comigo cara?

—Pode ir...vamos ficar aqui. —Alicia segurou o copo de bebida e deu um longo beijo em Erick.

—Eu já volto. —Ele seguiu Thomas.

Jéssica e Alicia permaneceram paradas no canto onde estavam, e quando a banda começou a cantar os versos: "Você pensa que cachaça é agua, cachaça não é água não...", as duas garotas começaram a pular como se ouvissem a mais bela das canções, depois riram do próprio estado.

—Eu amo você, amiga... nunca terei como agradecer esse convite de vir pra cá! —Jéssica abraçou Alicia que ouviu a frase aos pedaços.

Elas ainda estavam unidas quando a namorada de Erick teve sua atenção voltada para um grupo de pessoas que conversava atrás de um pilar. Um rapaz de boné, gesticulava muito enquanto falava com alguém que Alicia não conseguia enxergar, sem contar que a todo momento alguém passava na frente obstruindo sua visão.

Outra vez ela achava que podia ser David, embora estivesse vendo-o praticamente de costas, o jeito, a expressão corporal lembrava muito a de seu ex-namorado. Alicia dessa vez iria tirar aquilo a limpo, e por mais louco que pudesse parecer, ela não conseguiria deixar passar.

Sem dizer nada para Jéssica, se enfiou no meio do fluxo de pessoas tentando não perder o rapaz de vista, por azar ele começou a se movimentar também. No meio do empurra-empurra, Alicia esbarrou em alguém e derrubou um pouco da bebida nos pés da pessoa.

—Me desculpa! —Ela gritou com ainda seguindo o rapaz com os olhos.

—Olha o que você fez garota! —Uma moça loira resmungou para ela.

—Sinto muito, eu... —Alicia encarou-a preocupada com o que tinha feito.

—Deixa Amanda, eu desconto pra você. —Alicia reconheceu a voz e logo depois sentiu o rosto

ser atingido por um liquido gelado. —Ops! foi sem querer... —Camila gritou afinando a voz.

Seu vestido branco estava todo manchado de vermelho, certamente era mais um dos drinks com nomes bregas, o fato foi que Alicia que já estava alterada por conta do álcool, e somado ao fato de estar com aquela morena atravessada na garganta, aquilo foi o estopim, Alicia partiu para cima dela com uma rapidez que pegou ate mesmo Camila de surpresa.

—Sua vadia! Você me paga! —Ela grudou nos longos cabelos da garota.

Camila começou a gritar para que as amigas fizessem alguma coisa, no entanto uma roda foi aberta e as pessoas em torno riam, pareciam estar gostando de ver duas garotas bonitas se estapeando.

Alicia e era mais baixa, mas mesmo assim estava na vantagem, a raiva era mesmo um bom combustível e quando ela alcançou o colar no pescoço da garota sentiu prazer em puxá-lo e só parou quando sentiu que tinha conseguido arrebentá-lo.

—Solta meu cabelo! —Camila gritava.

—Meu Deus, é a Alicia!!! —Jéssica gritou para Erick.

Ele correu e empurrando quem estava no caminho chegou até a namorada em menos de um minuto.

—Pare com isso Alicia! —Ele segurou seus braços e tentou abrir as mãos dela que pareciam estar grudadas nos cabelos da morena.

Por fim ele conseguiu, separou Alicia de Camila e a namorada bufava, nas mãos dois tufos de cabelo escuro.

—Essa garota é louca! —Camila passava as mãos pela cabeça tentando conferir o estrago.

—Você me provocou, jogou bebida em mim e manchou meu vestido preferido... —Alicia gritou de volta com o dedo em riste.

—Chega Alicia, vamos pra casa. —Erick segurou-a pelos ombros.

—Mentirosa! —Camila começou a chorar. —Erick, sua namorada é louca e está se vingando de mim por ciúmes...olha o que ela fez com meus cabelos.

Erick apenas olhou pra Camila, com desprezo.

—Como se eu não a conhecesse. —Erick disse ríspido e depois pegou a namorada no colo conseguindo sair dali com mais facilidade.

A música continuava tocando e por isso, só quem estava perto percebeu o que tinha acontecido ali, e da mesma forma que o aglomerado de gente se formou rapidamente, ele se desfez.

— O que foi aquilo? —Jéssica correu até o casal que tinha ido para trás da igreja.

—O casal MMA... —Thomas resolveu fazer piada.

Erick permaneceu sério analisando o rosto de Alicia, ele estava com medo de Camila tê-la ferido de alguma forma.

—Fique tranquilo Erick, ela mal relou a mão em mim...Eu acabei com ela! —Alicia afirmou passando as mãos pelo vestido.

—É melhor irmos. —Erick decidiu.

—Ah, que quero ficar... —Jéssica choramingou.

—Tudo bem, mas ela não pode ficar assim, com o vestido molhado.

— Vão achar estranho se eu pedir para irmos todos juntos? —Alicia interveio. —Eu estou com uma sensação esquisita.

—Por mim tudo bem... —Thomas foi o primeiro a se manifestar.

—Certo...tem razão,—Jéssica tocou o rosto da amiga —vamos juntos.

Alicia sentiu vergonha de dizer a verdade, que achava ter visto David, sabia que seria difícil passar alguma credibilidade depois do que acabava de fazer.

Caminhando de volta, um aperto no peito foi ganhando força, era como se pressentisse que algo muito ruim estivesse para acontecer. Respirou fundo e sentiu uma tristeza enorme.