Um passo errado escrita por nanacfabreti


Capítulo 11
Só podia ser assim...




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—Vai ser a terceira a se apresentar. —Regina avisou Alicia que acabava de chegar ao teatro.

—Quantas garotas vão dançar? —Alicia perguntou caminhando.

—Treze se apresentarão hoje...eram quatorze, mas parece que uma das garotas amanheceu passando mal.

—Sabe se mais alguém vai fazer Giselle?

—Fique tranquila Alicia, —Regina segurou-a pelos ombros— mesmo que mais alguém faça, sua versão será única.

Alicia balançou a cabeça, não estava tão certa se isso era bom ou ruim, afinal ela tinha desconstruído um clássico e dado a ele uma roupagem completamente moderna. Até mesmo seu o figurino que deveria ser uma vestimenta de camponesa, foi modificado para um modelo de tule cinza na altura da panturrilha, completo por um corselet preto. Os cabelos estavam presos num coque baixo e a maquiagem leve.

Ela seguiu para o camarim e lá juntou-se as demais meninas, todas vindas das cidades vizinhas, afinal, da região o teatro de Santo Valle era o maior e melhor. Todas estavam nervosas e aquilo estava estampado em seus rostos.

Se estivesse em seu estado normal, Alicia estaria interagindo com elas, trocando experiências, contando histórias, mas aquele não era o caso. O camarim estava lhe trazendo recordações de Erick, não as ruins da briga e sim boas de antes. Ela olhou para o sofá azul e se lembrou de quando estava com a cabeça em seu colo, reviveu a sensação de aconchego ao fechar os olhos.

A primeira menina foi chamada ao palco e então Alicia começou a se aquecer a pedido de Regina.

Num canto da coxia Alicia fazia plies e alongamentos sob a supervisão da coreografa.

—Não vai acreditar em quem está aqui na primeira fileira... Fez questão de vir para assistí-la!—Regina fez um ar de mistério.

Alicia endireitou o corpo e arregalou os olhos.

—Quem?

—Martina e seu marido. Ela disse que tinha vontade de vir quando conversamos outro dia, mas eu não imaginava que o faria realmente.

—Deus, que responsabilidade! —Alicia se surpreendeu. —E Laura, sabe se ela está aí? —Ela perguntou interessada em outra pessoa.

—Sim, ela está aí sim, e também sua amigas Jéssica e Vivian e os rapazes que sempre estão junto com vocês. —Regina gesticulou para que Alicia voltasse aos exercícios.

—Só eles, mais ninguém? —Alicia tentou disfarçar enquanto levava a cabeça para perto dos pés.

—Eu não vi o Erick. —Regina foi direta. —Não junto da mãe.

Alicia sentiu-se decepcionada, no fundo esperava que ele fosse...mesmo relutando para admitir era o que mais queria.

Continuou então a se aquecer e tentou isolar seus pensamentos, tinha que se concentrar, precisava deixar as preocupações de lado e fazer o seu melhor.

As outras garotas se amontoavam atrás da cortina para espiar a apresentação das concorrentes, já Alicia preferiu seu transe, sozinha e introspectiva ela aguardava seu momento.

—Você é a próxima. —Uma garota com traços orientais avisou-a assim que voltou ao camarim.

—Tudo bem com você? —Alicia preocupou-se ao vê-la chorosa.

—Eu caí depois de um cabriole... —Ela encolheu os ombros. —Acontece, fazer o quê?

Alicia franziu a testa penalizada.

—Boa sorte! —A garota gritou enquanto ela seguia para o palco.

—Senhoras e senhores, Alice Santerri, de Santo Valle apresentará uma versão de um trecho do primeiro ato de Giselle. — Uma voz desconhecida por e ela anunciou no microfone.

Alicia respirou fundo ao ouvir os gritos de incentivo que vinham da plateia, reconheceu a voz de Jéssica, sempre ela. A luz amarelada se acendeu iluminando o palco e ela correu os olhos rapidamente pela plateia. Tentou em cada um deles encontrar o de Erick, sabia que se o visse ficaria tudo bem. Não encontrou, na verdade se arrependeu por tê-lo feito, afinal, se tivesse seguido as instruções de Regina: "Nunca olhe para o publico durante uma apresentação", não teria visto David e seus pais ali, na primeira fileira.

O sorriso de David fez seu sangue ferver, afinal, nem mesmo quando eram namorados ele tinha ido ver alguma de suas apresentações e agora, lá estava ele.

Alicia não podia deixar aquele fato atrapalhar sua apresentação, então e mais uma vez respirou fundo e autorizou que soltassem a musica. Começou a dançar.

O som melancólico de Chandelier apenas no piano, levou Alicia a começar ,com os passos mais do que decorados em sua mente ele se permitiu pensar nele e desbloqueou todos seus sentimentos como se aquilo pudesse encorajá-la.

Entre saltos, rodopios e braços se movendo de forma graciosa ,Alicia expunha toda a sua dor. Ou a de Giselle. Ou a dor das duas afinal, ambas sofriam por amor.

Quem assistia ao espetáculo sentia a verdade que ela queria passar, enquanto os mais sensíveis foram as lagrimas junto com Alicia.

O momento em que Giselle enlouquece foi conduzido por ela de um jeito magistral, as expressões e os passos usando todo o palco para depois, bem no centro dele, com o holofote iluminado apenas ela, o final. Com as mãos no peito, onde seu coração batia acelerado ela caiu. A dor personificada em seu rosto e se houvesse ali algum desavisado, acreditaria que a bailarina realmente acabava de sofrer um ataque do coração.

O sentimento ali era real, corria em suas veias e então, a ultima nota, o ultimo suspiro, e Giselle morre. Já Alicia, de olhos fechados e ouvindo uma explosão de aplausos renasce ou ressuscita.

Ainda caída no palco ela que estava consciente de seu êxito, acabou finalmente entendendo.

—Foi brilhante. —Regina estava guiando-a de volta ao camarim.

—Parabéns...eu amei sua apresentação! —A garota que dançou antes de Alicia a recebeu na coxia com empolgação.

—Obrigada! Obrigada... —Ela estava automática e feliz pela sensação de dever cumprido, no entanto um vazio continuava crescendo dentro dela, e se antes a dança preenchia sua vida, agora ela já não bastava mais.

—Querida, vamos, a Martina quer te dar um abraço. —Regina segurou Alicia pelas mãos tirando-a dali.

Passaram pelo corredor e encontraram outras bailarinas ali, ansiosas porque ainda não tinham se apresentado, mas mesmo assim elogiavam a performance de Alicia.

—Quero levar você pra mim... —Martina estava a sua espera, segurava uma cesta com vinhos e queijos e entregou-a a Alicia depois de um longo abraço.

—Que honra seus elogios, e obrigada por ter vindo da Argentina para me assistir. —Ela levou as mãos ao peito.

—Sou eu quem tem de agradecer...

—Alicia, Martina tem uma proposta pra você. —Regina interveio com os olhos ansiosos.

—Conversaremos depois, agora deixe que ela aproveite os louros da fama! —Martina deu lugar a Marta que chegava com os braços estendidos.

—Minha neta! É minha neta... —Ela envolveu a garota.

—Posso dar um abraço nessa linda bailarina? —Laura chegou orgulhosa com o que acabara de assistir.

Alicia correu até a mãe de Erick, ela queria saber dele, mas as pessoas não paravam de chegar para falar com ela, seus pais, as amigas e por fim um ramalhete de rosas vermelhas enorme, tão grande que enquanto se aproximava não dava para saber que estava trás dele.

—Estava linda naquele palco. —Ele estendeu o buque para Alicia que ficou sem entender o que estava acontecendo.

—Obrigada, David. —Ela tomou as flores nos braços sem conseguir disfarçar o desconcerto.

—Que cara de pau! —Jéssica sussurrou entre os dentes a Vivian—Só vou me segurar porque já tivemos uma dose de barraco nesse camarim há pouco tempo.

—E então Laura, estou triste...vou ficar sem meu melhor funcionário! —Marta usou um tom mais alto para falar com ela.

Laura baixou a cabeça e sorriu com tristeza.

—Pois é, partimos amanhã bem cedo! —Laura também falou mais alto. —Por mim ele permaneceria aqui, mas Erick está irredutível.

Embora todos estivessem conversando ali num volume considerável, Alicia estava prestando a atenção na conversa das duas e sentiu seu coração disparar com o que ouviu, tanto que não escutou uma palavra sequer do que David estava dizendo para ela.

Largou as flores sobre o sofá, pegou sua bolsa e saiu, passou por todos sem dizer uma palavra, estava transtornada. Entrou em seu carro e desamarrou as sapatilhas descalçando-as. Tremia tanto que demorou um tempo para conseguir colocar as chaves no contato.

Alicia dirigiu sem pensar, sabia bem para onde estava indo, ela chorava desesperada, temia que fosse tarde demais, temia que sua demora para aceitar que não conseguia mais viver sem Erick, culminasse em sua perda.

Alicia não estava acreditando que ele estava partindo de Santo Valle em segredo. Claro, depois de dizer todas aquelas coisas para ela no dia anterior e não receber uma demonstração de reciprocidade...

Chegou ao haras e acelerou o carro como nunca antes tinha feito. Rezou em silencio para que ele estivesse lá e que fosse mais generoso do que ela tinha sido.

Desceu do carro e sentiu a grama molhada nos pés, correu até a edícula e girou a maçaneta. A porta estava trancada. Deu três batidas, quatro, cinco, não quis chamar. E se ele não quisesse abrir se soubesse que era ela?

Parou por um segundo enquanto ouvia o som da própria respiração. Ouviu a chave virar na fechadura.

Erick estava com os cabelos molhados, de camiseta preta e calça jeans escura, cheirava a shampoo. Os olhos estavam avermelhados e a expressão em seu rosto era algo próxima de alguém que acaba de ver um fantasma.

— O que você está fazendo aqui? —Erick finalmente conseguiu falar.

—Onde mais eu podia estar? —Ela segurou a gola da camiseta dele forçando seu corpo contra o de Erick. —Eu te amo e espero que isso baste pra você me perdoar por eu ter sido tão burra!

Erick fechou os olhos e passou as mãos pelos cabelos, afastou-se de Alicia e fechou a porta.

— Não está brincando, não é? —Ele perguntou ainda de costas. —Acabou de dizer que... —Ele virou para olhar Alicia, parecia incrédulo.

—Eu te amo Erick, e não sei o que vou fazer com todo esse sentimento se você não me quiser mais... —Ela voltou a chorar.

Erick chegou a pensar que estava sonhando, para ele aquela história tinha acabado, e ele estava tentando se conformar com a ausência de Alicia em sua vida. Agora ela estava ali, em sua frente, dizendo que o amava.

Ele deu um passo e estendeu um dos braços para tocar o ombro dela, Alicia gemeu, seu corpo reconheceu aquele toque. Erick que parecia estar tentando se certificar de que aquela cena era real, desceu e subiu os dedos pela pele macia de seus braços e depois, laçou sua cintura com as mãos trazendo-a para mais perto.

—Eu senti tanto a sua falta... —Ele sussurrou nos ouvidos de Alicia enquanto respirava o cheiro doce do seu perfume.

Com o polegar e o indicador ele segurou o queixo de Alicia, acariciou seus lábios e depois colou sua boca na dela. Alicia lembrou- se de Jéssica, do que ela tinha dito na noite anterior e riu por dentro por estar seguindo os conselhos da amiga mais louca. Entrelaçou os  dedos na nuca dele e saltou em seu colo com as penas em torno de sua cintura.

Erick caminhou a até a mesa fazendo com que Alicia ficasse sentada ali. Sugou sua boca e sua língua com tanto desejo que parecia querer devorá-la. A pele de ambos queimava como brasa, dava para sentir mesmo sob o tecido. Alicia tirou a camiseta de Erick, queria mais, queria sentir o calor do seu corpo porque estava morta de saudades.

Como sobreviveu sem aquilo por tanto tempo? Ela pensava correndo as mãos pelo tórax nu do rapaz , que também parecia estar tentando decorar cada parte do corpo da bailarina.Enquanto Erick beijava seu pescoço, Alicia colocou os braços nas costas tentando desamarrar seu corselet.

—Nos filmes parece mais fácil... — Ela começou a rir.

—O que foi? —Erick sussurrou.

— Estou tentando desamarrar isso. —Ela apontou para as costas.

Erick estreitou os olhos e deu a volta na mesa, Alicia se ajeitou e inclinou-se para a frente. Ele desamarrou o cordão que matinha a peça fechada e começou a puxá-lo jogando-o no chão. Sem ele o zíper do vestido foi revelado, Erick pesou se devia ou não descê-lo.

Alicia e Erick nunca antes tinham ido além de beijos, carícias, e muito desejo e, naquela noite de reencontro, Erick tinha medo de fazer algo que desagradasse Alicia e assim estragar as coisas que começavam a se acertar.

Ele respirou fundo, começou a beijar onde as costas dela estavam livres de tecido, a cada beijo um gemido sensual vinha dela. Enquanto ele decidia se abria ou não aquele zíper, Alicia voltou a colocar as mãos nas costas e quando alcançou o fecho, acabou ela mesma abrindo-o. Delicadamente puxou as alças do vestido desnudando assim seus seios.

Erick sentiu-se nervoso, só não mais do que Alicia que nunca vivera até então um momento tão intimo com mais ninguém. Ela soltou o coque e estremeceu quando seus cabelos caíram em ondas sobre seu colo.

— Eu quero você de todas as formas... —Ela sussurrou enquanto desabotoava a calça jeans de Erick, notando  que ele também a desejava da mesma forma.

Erick tentou sorrir, mas estava tão tenso que mal conseguiu. Estranhou a si mesmo ao notar o quanto estava suando, não havia se sentido assim, nem mesmo em sua primeira vez há uns bons anos atrás.

—Você me deixa nervoso. — Ele murmurou quando Alicia entrelaçou os dedos nos seus.

—Quero pedir que tenha paciência comigo... eu nunca fiz isso antes. —Ela achou que devia avisar, afinal, sabia que Erick era experiente.

Ele parou por um instante, sentiu seu nervosismo ser elevado à quinta potencia depois de ouvir aquela declaração.

—Eu também não. —Erick disse por fim, tomando Alicia em seus braços e levando-a para a cama.

Ele nunca havia amado ninguém antes, por tanto seria de alguma forma sua primeira vez também.


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