Um passo errado escrita por nanacfabreti


Capítulo 12
Doce e amargo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/734287/chapter/12

Ainda era madrugada, Erick e Alicia estavam deitados nus, cobertos apenas com um lençol. Erick corria os dedos pelas costas de Alicia que repousava a cabeça em seu braço. Sentiu perto da costela dela um relevo na pele e se ateve ali, subindo e descendo o polegar tentando entender o que era.

—Espero que não tenha preconceito com pessoas tatuadas... —Alicia riu delicadamente fazendo seu corpo de mexer.

Erick puxou o lençol e mesmo com a penumbra do ambiente pode enxergar o desenho de um par de sapatilhas de ponta, apenas contornadas em tinta preta, na curva da cintura dela. Erick sorriu e depois beijou com cuidado o lugar da tatuagem,, como se ela acabasse de ter sido feita.

Alicia estremeceu, Erick tinha um efeito entorpecente sobre ela. Ainda aproveitando o corpo descoberto, correu o dedo indicador pelas costas dela, desenhando letras imaginarias como se escrevesse alguma coisa ali.

—Acabei de tatuar suas costas... — Erick sussurrou nos ouvidos de Alicia.

—Ah...estão era isso o que estava fazendo... —Ela virou a cabeça para por olhá-lo. —O que desenhou?

—Não percebeu? Fiz tão devagar. —Ele ficou sério encarando-a enquanto seus olhos pareciam incandescentes.

—Não prestei a atenção...pode fazer de novo?

Erick balançou a cabeça numa positiva e novamente com o dedo indicador começou a desenhar letras imaginárias nas costas de Alicia, dessa vez com mais calma, queria que ela entendesse o que ele estava fazendo.

Alicia percebeu as palavras se formando nos rastros quentes que o dedo de Erick deixava em sua pele. Sentiu o coração acelerar antes mesmo que ele terminasse.

—Eu sei... —Ela virou o corpo para ficar de frente para ele.

—Que bom, —ele acariciou seus cabelos enquanto olhava para ela de modo apaixonado — porque eu não saberia mais como fazer para convencê-la disso.

Alicia correu os olhos para o canto do quarto e os fixou num canto onde logo que chegou viu um amontoado de malas, agora Jack dormia sobre elas.

—Não vou deixar você partir. —Ela apontou as malas com a cabeça.

Erick suspirou.

—Acha mesmo que depois disso eu vou conseguir me afastar? Eu não conseguiria, e já estou pensando como vamos fazer quando você for para O Royal Ballet, afinal, não tem como eles não te escolherem.

Alicia estava tão absorvida por Erick que até havia se esquecido da apresentação, da bolsa de estudos e de todo o resto que não fosse ele.

—Queria que tivesse me assistido, —ela tocou o rosto dele —assim que pisei naquele palco procurei por você, desesperadamente.

Erick sorriu.

—Então não procurou direito, por que eu estava lá. Eu não perderia sua apresentação por nada nesse mundo.

Alicia sentou-se na cama puxando uma ponta do lençol para se cobrir.

—Como assim? Estava lá e...Por que não foi falar comigo? Por que não subiu naquele palco e me levou dali?

—Tive mesmo que me segurar para não fazer isso. —Erick puxou Alicia para seu colo. —Você estava tão linda e não sabe como doeu pensar que no fim, seria para os braços de David que você correria para comemorar. Eu o vi no teatro e por isso, assim que você saiu do palco eu vim direto pra cá, amargando a pior das sensações.

Alicia balançou a cabeça imaginado o sofrimento de Erick.

—Eu não sei o que ele estava fazendo lá... dias antes eu falei com ele e nos discutimos, eu contei toda a verdade a ele. David sabe o que sinto por você.

—No dia em que ele foi ao estúdio? —Erick deixou escapar.

—Como sabe disso? —Alicia franziu o cenho sem esconder sua surpresa.

Erick então contou o que fazia todas as noites, revelou que ficava naquela esquina aguardando por sua chegada e velando por sua saída. Alicia quase foi às lágrimas com a declaração.

—Deus...eu nem sei o quê dizer. —Ela cobriu o rosto com as mãos. —Estou com raiva de mim mesma!

Erick abraçou-a com toda a força que podia, queria sentir que ela estava ali, depois, se levantou e foi até o toca discos. Alicia acompanhava tudo com seu olhar atento, e sentiu um calafrio percorrer todo seu corpo enquanto analisava Erick em pé, de costas enquanto colocava uma musica para tocar. Ele era perfeito, e era seu, pensou ela.

—Nem sei como esse vinil ainda toca... —Erick voltou para a cama. — Ouvi tanto essa musica nesses últimos dias que decorei a letra.

—Pensava em mim? —Alicia sussurrou com a voz sedutora enquanto Erick pousava seu corpo sobre o dela.

— Só em você... —Ele a beijou enquanto pela milésima vez a canção the closer i get to you ecoava por aquele quarto.

Finos raios de sol começavam a iluminar o ambiente, entrando pela as frestas da janela de madeira e formando listras amareladas no chão. Erick abriu os olhos e viu Alicia, dormindo ao seu lado, de bruços, os cabelos cobriam o rosto, e ele notou o quanto sua respiração estava calma.

Sorriu se lembrando da noite passada e sentiu-se feliz como nunca antes, imaginou que se ela não tivesse batido em sua porta, ele provavelmente estaria se preparando para partir de Santo Valle, e então lembrou-se de sua mãe, precisava avisá-la da mudança de planos.

Como celular na mão foi até a cozinha e abriu a geladeira procurando por comida, queria preparar um café da manhã para Alicia e pela primeira vez em tempos sentiu seu apetite voltando ao normal.

—Mãe...tenho uma notícia para dar a você. —Ele fechou um dos olhos verificando que a geladeira só tinha uma garrafa com água.

—Desistiu da viagem, certo? —Ela perguntou de forma serena.

Erick arqueou as sobrancelhas.

—Como sabe?

—Vi a maneira com que Alicia saiu ontem do teatro e imaginei para onde ela estava indo...

—Hum... —Ele coçou a cabeça. —Ela ficou aqui comigo, está dormindo e eu procurando alguma coisa pra fazer um belo café da manhã.

Laura riu do outro lado da linha.

—Erick, que coisa mais linda...Trate-a bem mesmo, ela merece, é uma garota fantástica.

—Eu sei. —Ele respondeu meio sem jeito.

—Bem, eu passo aí para me despedir, já está mais do que na hora de eu retomar minha vida!

Erick balançou a cabeça concordando, sabia que a mãe tinha que voltar para cumprir com seus compromissos, e era grato pelo companheirismo que ela havia tido com ele.

—Dentro de duas horas? —Ele olhou para o relógio no pulso.

—Sim, dentro de duas horas.

—Eu te amo mãe. —Ele disse antes de desligar.

Passou novamente pelo quarto e notou que Alicia não havia nem se mexido, correu então para o restaurante do haras, aos domingos o café da manhã era servido bem cedo aos visitantes, seria ali sua única opção.

Enquanto enchia uma cesta com frutas e pães, viu Marta se aproximando, ela sorriu para ele e fez sinal para que Erick esperasse.

—Quanta comida... É para a viagem? — Ela tirou os óculos escuros do rosto e lançou a ele um olhar furtivo.

— Na verdade, precisamos conversar sobre isso...

Marta estreitou os olhos.

—Vai ficar por aqui ?

—Se ainda me aceitar, continuo trabalhando para a senhora.—Ele encolheu os ombros, estava desconcertado.

Marta apenas balançou a cabeça de forma positiva.

—Pegue aquele melão, — apontou para o centro da mesa, —minha neta adora, é sua fruta preferida. —Ela afirmou antes de sair.

Erick sentiu o rosto queimar, mas acatou a sugestão da avó de Alicia. Voltou para a edícula com comida o bastante para alimentar umas cinco pessoas, e com amor para mais de mil delas, no entanto ,era tudo para Alicia.

Assim que ele sentou novamente na cama ela despertou, sorriu para o rapaz externando toda a felicidade que a dominava, e quando ele tocou seu rosto com a ponta dos dedos, Alicia fechou os olhos com força, como se sentisse dor.

— Me promete que não vamos ficar longe um do outro nunca mais? —Ela sentou-se na cama.

—Eu nunca quis isso...foi você que quis me castigar.

—Eu nunca me senti assim, — ela segurou as duas mãos de Erick entre as suas— acho que me assustei.

Erick apenas ficou olhando para Alicia, sabia bem como era aquilo, ele também tinha medo de tantos sentimentos novos, e para ele, chegava a ser misterioso um amor tão forte surgir tão rapidamente. Bater os olhos em uma pessoa desconhecida num dia e no outro não saber como viver sem ela.

—Eu já disse antes, Alicia Santteri ... —colocou um pedaço de melão na boca dela — agora que eu te peguei, não largo mais. —Beijou seus lábios sentindo o gosto doce da fruta.

Enquanto se deliciavam com as coisas trazidas por Erick, ouviram uma batida leve na porta.

—Deve ser minha mãe...ela veio se despedir. — Ele se levantou num pulo.

—Meu Deus que vergonha! —Alicia arregalou os olhos. —Eu preciso me vestir.

—Ela se adiantou, disse que viria dentro de duas horas. —Erick caminhou até a porta do quarto e a encostou. —Vou abrir pra ela enquanto você se arruma.

—Tudo bem... —Alicia se levantou enrolada no lençol, olhou para o chão e as roupas espelhadas por ele, denunciavam tudo o que tinha acontecido ali. Ela riu nervosa, imaginando como seria se a sogra visse aquilo.

Ela estava abaixada pronta para recolher seu vestido quando começou a ouvir o som de uma discussão, não precisou pensar nem por um segundo para entender o que estava acontecendo.

Ainda enrolada no lençol, levou uma das mãos à boca quando a porta do quaro foi aberta com um chute.

—Vagabunda! —David gritou encarando-a, depois varreu o chão com os olhos.

Erick chegou no mesmo instante e se posicionou bem na frente da garota.

—Vá pro banheiro Alicia...deixa que eu cuido dele. —Erick estava pronto para enfrentar o irmão.

—Você não vale nada Alicia, nada! —Ele baixou o tom, a respiração curta chegava a atrapalhar sua fala.

—Insulte-a apenas mais uma vez, e eu não vou me segurar. —Erick rosnou entre os dentes. —Eu acabo com você David... eu-acabo -com -você!

—Pelo amor de Deus, David... —Alicia deu um passo à frente. —O que você está fazendo aqui?

—Eu precisava ver com meus próprios olhos... Porque eu juro que não acreditava que você era capaz disso Alicia. —Ele balançou a cabeça, estava transtornado.

—Eu não vou falar mais uma vez... Se não sair agora, eu mesmo o coloco pra fora daqui. —Erick aproximou-se do irmão.

—David, eu não estou fazendo nada de errado...nós não estamos mais juntos. —Alicia ainda tentava ponderar.

—Isso mesmo, agora nós estamos namorando e é melhor se acostumar com isso!

—Alicia... —David olhou para ela com os olhos cheios de lágrimas.

— Eu avisei você, eu me apaixonei por ele. —Ela encolheu os ombros.

David apertou o canto dos olhos com os dedos, ele não queria chorar na frente de Erick e Alicia. Ele mais uma vez olhou por todo o quarto, depois para a ex-namorada ali, nua sob o lençol e enfim para o irmão.

—Vocês dois vão me pagar muito caro... —Ele deu as costas pronto para sair. —Vai se arrepender por ter colocado os pés aqui em Santo Valle. — virou-se apontando o dedo para Erick. —E você Alicia, vai amaldiçoar o momento em que se envolveu com ele. —David disse sem olhar para trás.

Assim que ouviram a batida da porta se fechando, Erick correuapara abraçar Alicia que assustada com o que acabava de ouvir, começou a tremer. Seriam aquelas ameaças, reais?

Erick não conhecia o irmão muito bem, e por isso, achou que não deveria ser preocupar, já Alicia, sentiu um temor e ligou o botão de atenção em sua mente. David havia lhe causado arrepios ao dizer aquelas frases finais.

—Ele vai aceitar e mais, eu nunca deixarei que nos faça nenhum mal... —Erick beijou a testa de Alicia.

Ela apenas balançou a cabeça tentando se livrar daquela sensação ruim.

Em seu carro, David dirigia lutando contra suas lágrimas, estava dominado pelo ódio, queria dar uma lição ao irmão e agora, a Alicia também. Para ele aquela situação era inaceitável. Só pensava em encontrar uma forma de se vingar, e se para o casal suas palavras foram apenas uma forma de expressão, para David era uma promessa que ele estava disposto a cumprir.

—Vou precisar da sua ajuda. —Ele disse frio assim que sua ligação foi atendida. —Dessa vez vai ser coisa séria!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um passo errado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.