Time for Us escrita por The Deserters


Capítulo 8
Santa Tell Me


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores lindos!
Feliz Natal e tudo de bom pra vocês e suas famílias, meus amores!
Espero que gostem desse presentinho natalino com o nosso casal maravilhoso.
Eu recomendo o cover de Santa Tell Me da Riley Biederer pra esse capítulo (https://www.youtube.com/watch?v=9kS3Jgk2uIk).



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O céu estrelado e a brisa serena acompanhavam a silhueta encolhida na plataforma que levava à escada de incêndio do apartamento. O som de risadas e a batida da música ecoavam abafados através da janela aberta ao seu lado. A mulher vislumbrava com olhos saudosos as decorações nos demais prédios, enquanto esfregava os braços para se manter aquecida. Apesar do esforço, sabia que a ação não afastaria o sentimento gélido junto ao peito.

Ela observava em sua solidão melancólica o barulho de pessoas que se apressavam pelas ruas, tentando chegar em casa para seus familiares e amigos a tempo das festividades. O aperto em seu interior se intensificava. Sentia falta de casa, da grossa camada de neve que tudo cobria, do tempo em que ela e seus irmãos corriam por Winterfell, reencenando contos de batalhas contra os selvagens e invasores místicos amaldiçoados pelo toque do rei da noite, além de atrapalhar o coro natalino – o que sempre ganhara reclamações risonhas do pai e as represálias acaloradas da mãe. A ruiva sorrira ao recordar destes momentos únicos e que lhe eram tão queridos.

Sansa vinha se perguntando se teria feito a escolha certa há semanas, enquanto lutava contra a culpa de ter de mentir para a família sobre o quanto estava abarrotada de trabalho e por isso não poderia voltar para o feriado. Bem, nem tudo que dissera era mentira, ela realmente sentia as presas da saudade fincando em seu coração e relatara o quanto sentia muito por não os visitar este ano.

Perguntava-se, ainda, sobre o quanto de xingamentos Arya proferiria em seu nome e se Jon riria envergonhado, enquanto Bran e Robb reprenderiam a irmã antes que a mãe deles o fizesse. Imaginou o rostinho tristonho de Rickon já que não o ajudaria nos passeios aos abrigos de animais desta vez e suspirou pesadamente.

A festa continuava a correr no interior do apartamento, a atmosfera ainda se perpetuava alheia aos pensamentos distantes da ruiva e tal fato parecia cristalizar a tensão na mandíbula dela. Aos poucos, a melancolia cedia espaço para a raiva e o ressentimento. Escolhera passar as festas de fim de ano em Highgarden por um único motivo e esta razão parecia não se importar nem um pouco com isso. A prova residia no peso de sua ausência.

A mulher que carregava seu coração a comprara com promessas até então vazias de que fariam memórias especiais em seu primeiro natal juntas. Sansa rira amargamente ao lembrar das súplicas e dos agrados destinados a fazê-la ceder. A risada se obscurecia ao constatar que permitira que Margaery seguisse com os pedidos por semanas a fio simplesmente por adorar a atenção dela. A verdade era que já havia se decidido na primeira vez que aqueles orbes cintilantes encontraram os seus no momento do primeiro convite. “Passa o natal comigo aqui nessa cama?”, dissera calmamente a morena e Sansa sentira a rouquidão das palavras proferidas percorrerem seu corpo inteiro da mesma forma que as mãos atrevidas da mulher o faziam em seu corpo desnudo.

O choque entre a expectativa e a realidade se iniciara numa cadeia de eventos aparentemente sem fim e Sansa se perguntava como não havia previsto aquilo. No fim das contas, a morena fora convocada a atender os eventos da dinastia Tyrell, deixando a ruiva na vã esperança de que passariam o resto do dia juntas, mas o maldito brunch na casa dos Tarlys se estendeu para o almoço com a comissão diplomática de Willas e agora a organização final do grande banquete de véspera realizado por Olenna.

A quantidade absurda de mensagens apresentando justificativas e desculpas lotava o celular de Sansa, mas não eram o suficiente, eram meras palavras vazias diante de atos que gritavam mais alto. Foi então que, cansada de esperar num apartamento vazio por alguém que não chegaria a tempo para honrar o compromisso que lhe causara tantos sacrifícios, a nortenha decidira aceitar o convite de Myranda para se juntar à “festa dos desgarrados”, como chamava a amiga.

A intenção da festa era justamente agregar todos aqueles que, em seus inúmeros e variados cenários, não tinham local certo para passar o feriado, mas também não queriam o fazer sozinhos. Nesse mar de diversidade, Myranda a fizera conversar com tantas pessoas quanto era possível, desde os geeks que discutiam sobre Marvel e DC Comics, aos gamers, que se reuniam na sala para um campeonato de League of Legends, até os alternativos que tentavam montar um show improvisado de música indie rock, enquanto preparavam misturas mirabolantes envolvendo álcool e outras substâncias.

Foi divertido por um tempo, até o momento em que as risadas não mais acalentavam seus debates internos e todo o barulho e agitação se tornaram irritantes e sufocantes demais. Então, a ruiva aproveitara a distração da amiga e dos demais para escapar. A fuga não foi uma das melhores, nem a mais original, mas sentir o vento em sua pele e se distanciar da bagunça amenizavam sua ansiedade. Ali, com as pernas balançando dentre os espaços da grade de proteção, sentia-se mais livre.

“Sabe, isso aí parece bem enferrujado. Odiaria ver você caindo dessa escada”, gritara abaixo uma voz familiar. Sansa voltara seu olhar desafiante à fonte de distração e bufou em resposta. O sorriso debochado da intrusa só irritava mais ainda a ruiva. “A audácia dessa filha da...”, a nortenha reclamara baixinho entredentes.

“E porque você se importaria tanto?”, ela perguntara ríspida.

“Porque eu quero passar a noite de Natal na cama com a minha namorada e não no hospital”, Margaery rira, enquanto se aproximava mais do ponto de foco da ruiva. “Eu sei que você está chateada comigo e com razão, mas eu prometo te compensar”, ela oferecera um tanto nervosa.

Sansa podia perceber a inquietação da mulher e revirara os olhos diante da súbita timidez. Era curioso como a Tyrell era tão desinibida e alternava bruscamente esse traço quando sabia que a ruiva estava chateada, seria engraçado e charmoso se Sansa não estivesse se esforçando tanto para permanecer enraivecida.

Todavia, a tarefa se mostrava de extrema dificuldade, uma vez que a morena parecia ter vindo de um conto de fadas em seu vestido creme, as mãos guardadas nos bolsos do sobretudo lápis-lazúli e o cachecol vermelho que Sansa lhe presenteara pendurado folgadamente no pescoço alvo. A ruiva mordera o lábio inferior inconscientemente ao vislumbrar o tom rubro que marcava a boca da morena.

“Você vem criando um péssimo hábito de agir sem pensar nas consequências, srta. Tyrell”, retribuíra, desviando seu olhar para o céu agora encoberto por manchas negras – queria se esconder assim como as estrelas faziam nas nuvens. “Você quebrou sua palavra, o que me garante que essa promessa não é apenas mais papo furado?”

“Sansa, eu...você sabe que eu não iria se pudesse escolher”, dissera Margaery acanhada.

“Você podia sim escolher, Marg. Assim como eu escolhi decepcionar a minha família para poder estar aqui com você...só que você não estava aqui pra mim”, a voz começara a embargar e Sansa se forçara a parar. Não seria a garota que se reduzia às lágrimas em uma discussão, reduziria a força de seu argumento e já havia sido fragilizada o suficiente pelas expectativas frustradas do dia.

A morena calara-se e ficara tão cabisbaixa que Sansa se perguntou se os sapatos lustrosos pareciam ser mais interessantes que a discussão. A nortenha esperava ansiosa por uma resposta, mas esta não parecia vir e quando abrira a boca para retrucar novamente, Margaery se manifestara.

“Você tem toda a razão.”

O vento levava o pesar da afirmação em direção à nortenha e para a sua surpresa, Margaery se dirigira apressada em direção à rua, sem falar mais nada, deixando-a para trás completamente atônita.

As mãos da ruiva se contorciam em raiva e tristeza nas barras de ferro da escada ao mesmo tempo em que um soluço saíra de seus lábios. A nortenha se permitiu desabar pelo que pareceu uma eternidade, sentia uma crise de ansiedade se formando, as lufadas de ar ficavam mais inconsistentes e seu peito ardia do esforço ao tentar respirar. “Idiota, idiota, idiota...”, repetia seu mantra enquanto limpava as lágrimas com as mangas do moletom. Como havia sido idiota em pensar que a Tyrell faria algo que pudesse milagrosamente consertar toda a mágoa que as cercava naquele momento.

Ainda presa em seus pensamentos turbulentos e alheia ao som de conversas apressadas e aos passos que se aproximavam em sua direção, Sansa fora surpreendida pelo calor de um abraço apertado. O corpo de Margaery colidia com as suas costas e a fizera engasgar com outro soluço. “Eu estou aqui, amor. Me desculpa, eu estou aqui agora”, a morena ecoava, beijando seu ombro coberto e seu pescoço logo em seguida.

“Você está certa...você merece mais que isso e eu preciso aprender a honrar meus compromissos com você”, ela continuou e cada palavra causava palpitações inquietas em seu peito. A respiração de Margaery em sua pele a arrepiava na mesma medida que a atordoara.

“Você me fez achar que tinha partido...”, Sansa dissera tentando manter a voz uniforme, limpando apressadamente as lágrimas que teimavam em cair por seu rosto. Margaery a tomara para si, virando-a para que sentasse em seu colo. O ato em si foi desajeitado, mas uma vez concluído, a morena prosseguiu a beijar cada uma das lágrimas, oferecendo um sorriso tristonho para Sansa.

“Não poderia te deixar assim...além do mais, trouxe tortas de limão. Uma hora teria de subir para te entregar”, ela rira baixinho e ganhara um tapa fraco no peito. “Desculpa por ter te passado essa ideia, eu não sabia o que dizer para melhorar as coisas quando tudo que eu queria era te prender em meus braços”, e ao proferir as afirmações, ilustrara segurando o corpo de Sansa mais perto, colado ao seu.

“Senti sua falta o dia inteiro”, a nortenha confessou singelamente, sua fala abafada no casaco da morena. Seu olhar encontrou o de Margaery e esta estremeceu. “Estou cansada de desculpas, Marg”.

“Eu sei, meu anjo”, a morena soltara pesarosa.

“Estou cansada de ter sempre que te desculpar. Eu quero que você me dê os motivos para não ser tão insegura, porque quando estou aqui...junto de você, eu sei que seu coração bate por mim, mas quando o mundo lá fora chama, eu...já não sinto mais isso vindo de você”.

Margaery sustentara o seu olhar ainda que magoada por cada verdade e assentia com a cabeça. “Sinto muito por te fazer se sentir assim, mas você sabia que nós não poderíamos ter um relacionamento tão às claras. Eu te avisei de tudo isso e você assentiu, Sans”, dissera calmamente, mas os dedos nervosos titubeavam nas costas da nortenha.

“Mesmo assim, admito que errei, porque do pouco que posso realmente oferecer, eu não cumpri a minha palavra e isso me deixa frustrada comigo mesma...Eu quero que você saiba e sinta o quanto eu te quero...e eu te quero tanto”. A voz de Margaery se quebrara nos últimos dizeres. Era impossível conter a emoção pura que transbordava dela e, assim, permitiu-se deixar as lágrimas caírem, estragando sua maquiagem até então perfeita.

“Oh, Marg...”, Sansa tentara consolá-la e percorreu os dedos pelo rosto da Tyrell, traçando as maças do rosto, o queixo, as têmporas, o nariz e, por último, a boca. A cada toque, Margaery soltava um suspiro, os olhos fechavam-se por conta própria. Sansa beijara-lhe levemente, se deliciando com o sabor de hortelã e a textura aveludada da boca da morena, mas não se permitira permanecer por muito tempo neste deleite.

“Eu sei das condições, eu não preciso que mude isso agora, eu só preciso que você me ame e me entregue o que você puder dar da mesma forma que me entrego pra você”, ela dissera fisgando um sorriso bobo no rosto da morena. “E não, não me prometa mais as coisas assim, faça e me mostre que você está aqui pra mim de verdade, tá bom?”, ela terminara e Margaery concordara, ainda que relutante à proibição de eventuais promessas.

As duas mulheres disputavam mais uma troca de olhares fervorosa, ambas decidindo se estavam bem ou não, mas cientes de que haveria muito trabalho pela frente para que se ajustassem. O estômago da ruiva interrompera os debates internos, resultando numa risada estrondosa e gostosa da morena.

“Agora, me honra sua promessa e me dê as tortas de limão”, dissera Sansa com uma falsa cara emburrada.

“É pra já, madame Stark. Mas primeiro, Feliz Natal”, falara Margaery antes de roubar-lhe o fôlego com um beijo não muito terno, mas muitíssimo apreciado.

Sansa decidiu aí mesmo que valia a pena. Apesar de tudo, tinha feito a escolha certa.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que vocês querem que eu atualize a fic principal e minha pretensão era postá-la junto com esse capítulo, mas a vida é uma caixa de surpresas e imprevistos. Por isso, ainda estou trabalhando pra terminar as últimas páginas e revisar.
Obrigada por serem os leitores mais pacientes do mundo (apesar de saber que eu que forço vocês a esperarem tanto hahaha)!
Não desistam de mim. Eu demoro, mas apareço!
Um abração e, novamente, um FELIZ NATAL!

P.s.: 1. Esse diálogo é inspirado em algo que me chamaram a atenção uma vez: Não vivam de promessas sem saber se irão cumpri-las de fato, poupa a todos de um sofrimento imenso se vocês demonstrarem mais o seu amor do que apenas o falar.
2. O feedback de vocês é sempre bem-vindo, maravilhoso e me ajuda a melhorar a escrita. Obrigada a todos que comentam :3



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