Eu ainda estava embriagado, então havia visualizado a mensagem mas não tinha respondido. Mesmo tendo um pouco de vontade, após pensar um pouco, tomei essa decisão. Afinal, eu nunca tinha tido nenhum tipo de amizade com pessoas desse tipo – Sim, eu ainda era muito preconceituoso – e também, precisava dormir, para continuar aproveitando o carnaval fora de época da minha cidade.

Após o termino do grande carnaval fora de época de Recife, a vida geralmente volta ao normal, seguido de muito cansaço e uma grande "falência" (risos).

O trabalho estava me esperando para o retorno das atividades, mas eu estava como se tivesse com dez cavalos mortos sobre as costas. Era domingo e o último dia de folga e comemorações estava acabando e naquele dia eu resolvi ficar em casa para repor todas as energias. Foi então que eu parei para pensar e lembrei de Bianca. Então peguei o celular e liguei para ela. Ao atender, ela estava com uma voz super estranha e havia bastante barulho ao fundo.

— Bianca, onde você está e por quê está falando desse jeito? – Perguntei.

— Como assim? Estou falando normal e você sabe onde estou. – Bianca respondeu com uma voz de sussurros, bem próximo ao celular.

— Tem algo estranho. Você está mesmo no acampamento da igreja?

— Sim, estou Miguel.

— Nossa! Bem grossa você foi agora. Mas quando você volta?

— Óbvio que é amanhã pela manhã, pois trabalho e você sabe disso. – respondeu com grosserias novamente.

— Ok então, Bianca. Você está sendo grossa, está estranha e me dando cortadas. Portanto, vou desligar e a gente se fala amanhã. Tchau!

— Tudo bem, até amanhã!

Aquela reação de Bianca foi bem estranha e me fez ter vários pensamento ruins. Afinal, ela sempre me tratou super bem. Mesmo EU sendo o grosso e está sempre aprontando, mas era ela que sempre fez de tudo para ficarmos bem. Mas enfim, tentei não me importar e fui para o lado de fora da casa para fumar um cigarro. Foi então que lembrei da mensagem daquele garoto e resolvi responder:

— Oi

— Oi, tudo bem? - Ele respondeu rapidamente, em menos de 2 minutos.

— Tudo bem! - respondi só o necessário,

Eu não me importei em puxar assunto. Porém, ele parecia ser bem decidido e se esforçou muito para puxar diversos assuntos. Logo, eu só respondia o básico. Mas após ser tão arrogante e vendo o esforço dele, me vi um pouco sensibilizado e achei que não havia problema algum em ao menos conversar com uma pessoa homossexual. Foi então que comecei a interagir melhor e simplesmente a conversa fluiu sem nenhuma intenção (...)

— As coisas estavam voltando ao normal. No trabalho estava tudo bem. Eu e Bianca estávamos nos entendendo perfeitamente, mesmo vendo algumas vezes ela conversando com o ex. Sophia resolveu se afastar devido a situação e com Gustavo, parecia que estávamos começando a nos entender. Eu sempre trocava algumas palavras quando ele estava próximo a Bianca. O mais inusitado era que eu e Augusto estávamos conversando frequentemente pelo whatsapp. Parecia tudo tão normal, que durante esse período, esqueci dos amigos que me levavam as drogas, mesmo eles estando sempre a me ligar. Obvio que minha mãe estava amando esse meu momento mais calmo.

— Mas em um certo dia, em uma madrugada, eu estava em casa sozinho, com o som ligado no ultimo volume e ouvindo algumas músicas de MPB, tais como: Cássia Eller-Por enquanto, Raul Seixas-Metamorfose ambulante, Legião Urbana-Tempo perdido, Cazuza-O tempo não para etc. Mas fui interrompido por uma ligação, onde não mostrava o número. Ao atender, tive uma surpresa, pois era Augusto. A gente estava conversando, mas não a esse ponto de receber uma ligação durante a madrugada. Mesmo assim, o tratei super bem e no meio de tanta conversa, recebi uma cantada.

A partir daquele dia, o rumo das nossas conversas foram bem diferentes. Eu comecei retribuir – as vezes na brincadeira – e isso durou por um bom tempo em redes sociais e por ligações. Até que descobri que esse garoto tinha namorado e isso fez com o que eu parasse de ter certos assuntos.

Era tarde demais, pois o pior já estava para acontecer...