Festas, Drogas & Problemas escrita por Julya Com Z


Capítulo 3
Vergonhas expostas


Notas iniciais do capítulo

Hello, it's me... I was wondering if after all these years alguém lê isso aqui...



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No ônibus, Leo se sentou ao lado de uma garota que nós não conhecíamos. Ela era caloura e, como tentava entrar no colégio há anos, finalmente chegou sua vez de sair da enorme lista de espera.

Apesar de eu não achar que é tudo isso, o Colégio Alpha era uma das escolas mais renomadas da cidade; talvez do país. Todos os anos, havia uma lista com centenas de nomes aguardando a tão sonhada "vaga disponível" para entrar no Colégio. Como eu entrei muito nova, muitos anos atrás, o Alpha ainda não era tão reconhecido, então era fácil entrar, bastava fazer a matrícula. Mas hoje em dia, há alunos que terminam o Ensino Médio e não conseguem a vaga, então se formam em outras escolas. Eu juro que não sei o que as pessoas veem de tão maravilhoso no Colégio Alpha. É só uma escola normal. A diferença é que ela ocupa um quarteirão inteiro e há seguranças por todo o canto, o que torna impossível até a fuga mais elaborada. Ah, a comida é de graça também. Temos uma mesa enorme de café da manhã todos os dias no intervalo das aulas e, para quem estuda à tarde, uma mesa digna de um restaurante chique. Mas isso é tudo: terreno e comida. De resto, é apenas um colégio qualquer, cheio de riquinhos metidos à besta, cuja maioria eu odeio.

— Olha lá a Mariana. — Olivia cochichou para mim, indicando a garota com os olhos. — O Vingador do cocô acabou de chegar e já vai cair na armadilha dela.

Mariana estava sentada ao lado do garoto novo, que tinha cara de quem tinha dinheiro o suficiente para comprar sua própria vaga no colégio, então não parecia muito contente em estar ali. Não sei se era o lugar ou a companhia. Mariana fazia o que podia para atrair a atenção dele, que estava alheio à loira balançante a seu lado, compenetrado em seu celular.

— Essa garota é simplesmente insuportável. — Leo reclamou, ajoelhando sobre o assento e apoiando os braços sobre o encosto, encarando Olivia e eu.— Sério, ela dá em cima de qualquer cara que apareça na frente dela!

— Ah, queridas, vocês não viram em casa.

Quem disse isso foi a garota no banco atrás de nós. Ela tinha uma voz muito familiar, o que nos deixou um tanto assustados, então demoramos um pouco para olhá-la. O olhar intrigado de Olivia fazia a mesma pergunta que eu estava me fazendo. Quando decidimos que o melhor seria se olhássemos logo, percebemos que a garota nos encarava, com um sorriso irônico. Olhamos para a frente e vimos que a Mariana estava lá, sendo ignorada pelo Vingador do cocô. Mas se ela estava à nossa frente, como poderia estar no banco atrás da gente ao mesmo tempo?

— Confusas? — ela perguntou, se divertindo com nossas expressões — Ok, vou situá-las. Eu sou irmã daquela coisa.

— Quê?! — foi Olivia quem disparou, chamando a atenção de duas ou três pessoas.— Por que nós nunca ouvimos falar de você?

— Porque, minhas caras, nós nos odiamos desde a placenta. Nunca nos demos bem, por sempre termos que dividir tudo, então quando nossos pais se divorciaram, ela foi morar com a minha mãe e eu fiquei com meu pai.

— Nossa, mas vocês são... absolutamente idênticas!

— Assim você me ofende. — ela colocou a mão sobre o peito, fingindo estar machucada. — Ah, antes que eu me esqueça... Meu nome é Juliana.

Após nos apresentarmos, Juliana nos contou que passara a vida em um colégio interno, porque foi a melhor maneira que seu pai encontrou de poder "levar suas vadias para casa sem ninguém atrapalhar". Ela era uma aluna nada exemplar; fora expulsa do colégio por posse de maconha. Seu pai pagou pelo silêncio dos diretores e professores, contanto que ela aceitasse a condição (que era um verdadeiro castigo) de morar e estudar com a irmã no último ano. Não deveria ser tão ruim assim; seus pais se juntaram para alugar um apartamento para as duas dividirem, além de um carro. Claro, elas teriam que usá-lo juntas, mas eu não acho que seja tão horrível. Ela me sugeriu literalmente lutar pelas chaves sempre que eu precisasse usar um carro. Dei de ombros em resposta.

— Ainda assim, você tem seu próprio apartamento e seu carro.

— Cortesia da família Rinaldi, cujo sangue eu carrego sem o menor orgulho. Trocaria facilmente de lugar com você. — revirei os olhos e ela deu de ombros. — Eu te desafio a trocar de vida comigo por uma semana. Você terá seu próprio carro e apartamento.

— Não, obrigada.

Ela sorriu, vitoriosa. Ter um carro deve ser legal, mas não compensa o estresse de ser irmã da Mariana. Aquela garota era capaz de destruir a paciência de um monge tibetano em dez minutos. Me espantava a calma com que o Vingador do cocô ainda se encontrava após tanto tempo ao lado dela.

— Aposto que ele vai bater com o celular na cara dela. — Olivia cochichou após um tempo que observávamos Mariana fazendo perguntas desnecessárias e intrusas para o garoto, que às vezes movia a cabeça em resposta ou apenas fingia que não era com ele.

Um dos garotos dentro do ônibus começou a tocar violão e algumas pessoas cantaram timidamente, até que quase todos lá dentro passaram a cantar junto. Alguém havia levado uma garrafa d'água cheia de vodca — o que era terminantemente proibido — e estava distribuindo em copinhos descartáveis, fingindo que era para "hidratar o pessoal durante a cantoria". O Vingador do cocô colocou seus fones de ouvido, encostou a cabeça na janela e, cobrindo o rosto com o capuz do casaco, dormiu profundamente, o que fez Mariana desistir de tentar atrair sua atenção e ir até o banco dos fundos cantar escandalosamente todas as músicas que começavam. Eu e Olivia dividimos um copo de vodca e passamos todo o caminho conversando com Juliana e Kimi, a garota que dormia ao lado dela e acordou quando o volume da música aumentou consideravelmente.

Kimi também era novata. Nasceu no Japão e se mudou para o Brasil havia alguns meses, por conta da morte de um de seus tios, que deixara tudo o que tinha à sua mãe. Como não estavam em condições muito favoráveis, sua mãe sugeriu que eles viessem e tentassem a sorte por aqui. Pelo jeito, estavam se dando bem.

Não demorou muito até chegarmos ao acampamento. Era como os campings dos filmes americanos: um espaço verde enorme, um grande lago ao fundo e várias cabanas espalhadas, além de uma casa grande que deduzi ser a administração do local.

Após quase uma hora de sermões e recomendações dos professores e monitores do acampamento, os alunos foram liberados para as acomodações, sob as regras de até cinco pessoas por alojamento e não era permitido que garotos dormissem no quarto das garotas e vice-versa. Como o colégio era dividido em quatro turmas de terceiro ano, havia vários alojamentos, o que com certeza faria com que alguns virassem motéis baratos. Contanto que não fizessem nada no meu local de descanso, eu estava tranquila, eles que engravidassem e espalhassem suas DSTs por aí.

— Faremos inspeções surpresa periodicamente durante esta semana. — pude ouvir o coro de reprovação dos alunos ecoar pelo salão da casa grande. Quem falava era Malu, nossa professora de matemática, com quem eu dividia uma história nada agradável; regada a banhos de chás fumegantes e cadernos voadores. Digamos que nós duas já estamos muito longe da fase de ofensas e palavrões... Tenho uma cicatriz perto da orelha que tem o formato exato da ponta da caneta que ela jogou em mim durante uma briga. Mas essa história eu conto depois.

Após a última declaração da Professora Demônio, fomos levados à um painel, onde escolheríamos nossos quartos e quem ficaria conosco. Por sorte, conseguimos ficar eu, Olivia, Juliana e Kimi, além de uma garota que havia entrado no colégio no ano anterior, com quem eu não conversava muito; mas eu estava quase certa de que ela não gostava de mim. Não que eu me importasse, eu apenas lamentei por ela, já que eu não faria a menor questão de me comportar só por ela estar perto. Desculpe, mas eu não sou do tipo que se transforma conforme o ambiente. Se eu estiver em um local público e você se incomodar com a minha presença; peço gentilmente que vá à puta que pariu. A não ser que eu esteja na sua casa, sendo assim eu vou até lá com prazer. Me entenda, por favor: eu estou em um alojamento com as pessoas que escolheram ficar comigo, mais uma que simplesmente colocou seu nome na lista. Se ela não gostar de ficar ali, ela quem se mude, não?

— Achei que a gente ia ficar com uma cama extra. — Olivia resmungou ao ler o nome da Gabi na lista do nosso quarto — Minhas roupas precisam de ventilação apropriada, e a cama seria o lugar perfeito para isso!

— Você é a pessoa mais folgada que eu conheço, Olivia. Eu tenho um histórico enorme de pessoas folgadas e posso dizer com convicção que você supera todas.

— Ah, cara! — Leo chegou atrás da gente de surpresa. Ele estava conversando sobre Louboutins com uma garota, então se esqueceu de assinar a lista — Só sobrou o quarto dos novatos!

Eu e Olivia demos de ombros.

— Leonardo, eu queria ser você. — Olivia apontou para a lista e me olhou sorridente — Você vai dormir na cama ao lado do Vingador!

— O cara do cocô no seu quintal? Gente, ele está aqui?!

— Está aqui e está lindo. — Olivia sorriu, com um olhar sugestivo.

— Quero.

— Você é quase uma vadia, Leo.

Quando eu disse isso, ele olhou dentro dos meus olhos, demonstrando que se sentira ofendido.

— Desculpe, querida... quase?

Ele sempre fazia isso. Leo se denominava homem por acidente biológico. Ele era muito parecido com a Mariana em alguns aspectos, exceto pela parte de ser babaca. Leo era uma das pessoas mais legais e de bom coração que eu conhecia.

Quando finalmente fomos encaminhados aos alojamentos, eu corri até a cama mais próxima da janela e joguei todas as minhas coisas sobre ela. As garotas protestaram, pois a cama da janela era a mais legal. O que eu posso fazer se cheguei primeiro? Pouco tempo depois, nossas coisas estavam arrumadas e então a Kimi resolveu que seria uma boa ideia se nós bebêssemos um pouco para relaxar. Ela havia trazido duas bagagens, o que eu achei um tremendo exagero, considerando que precisaríamos apenas de roupas para uma semana. Até que ela abriu a mochila e tirou de dentro uma garrafa de vodca.

— Vocês acharam que eu não teria nada para a gente se divertir? Temos roupas e bebidas para uma semana inteira!

E foi em meio ao nossos gritos de comemoração que ela abriu a garrafa e nos entregou a bebida dentro de copinhos descartáveis que ela tirou de dentro da mala. Coloquei uma playlist no aplicativo do meu celular para tocar e nós quatro viramos várias doses e ficamos falando besteiras e dançando pelo quarto. O Leo entrou sem bater, o que quase nos matou de susto, pois pensamos que fosse algum professor ou monitor e aquilo seria muito ruim.

— Só por essa sua petulância — Juliana disse, enchendo um copinho e entregando a ele — você vai vigiar a porta, para nos avisar se vier alguém.

Ele fez bico, mas aceitou a condição. Pelo menos iria beber e não precisaria ficar no meio de garotos que ele nunca vira na vida. Então nós sentamos em círculo no chão, enquanto Leo sentava na minha cama, sempre olhando para fora e bebendo sua vodca. Começamos então a conversar, contar histórias e fazer algumas perguntas, para conhecermos melhor as meninas e para que elas nos conhecessem também, afinal, tudo indicava que elas seriam nossas companheiras pelo ano que começaria e, claro, pelos próximos que viriam.

— Malu na área! — Leo gritou, então Juliana fechou a garrafa de vodca e a escondeu sob sua cama, eu recolhi os copos descartáveis e os deixei sobre a mesa de cabeceira, ao lado de uma garrafa d'água, para fazer parecer que estávamos nos "preparando" para quando tivéssemos sede.

Contamos exatamente cinco segundos até Malu escancarar a porta da nossa cabana e passear seus olhos pelo ambiente, em busca de algum delito. A música ainda tocava alto em meu celular, o que fez a professora me encarar com um olhar agressivo.

— Deixa eu adivinhar... — ela deu um passo para dentro do quarto, parando em frente à minha cama — "Nós não estamos fazendo nada demais, apenas procrastinando no quarto, quando deveríamos estar lá fora sob o sol e fazendo as atividades propostas pelo acampamento!" — sua voz, carregada de ironia, era uma tentativa de imitar uma criança mimada.

— Na verdade, Malu, — eu levantei da cama, dando alguns passos em sua direção e cruzando os braços, para encará-la de frente e à altura. — Não há absolutamente nenhum regulamento que nos impeça de passar toda a viagem dentro do quarto.

— Você já vai começar a me desrespeitar? — ela olhou em volta e indicou a Kimi e a Juliana com a mão — Você acabou de conhecer essas garotas e já vai mostrar sua verdadeira face? É até melhor para elas, que já se livram sem passar pelo sufoco que é ser sua amiga.

— Maria Lúcia, — Olivia se pôs à minha frente, tomando para si a ofensa que a professora me direcionou — Caso você não tenha percebido, e eu digo isso com todo o respeito, Natalie está cercada de pessoas, que mesmo que tenham acabado de conhecê-la, ficou óbvio que ela já as conquistou. Já você, Malu... quantas pessoas vão dormir no seu quarto?

— Eu sou professora; dormirei sozinha. É um dos meus privilégios.

Olivia riu. Não há insulto ou soco na cara que doa mais que uma dessas risadas carregadas de pena da Olivia.

— Privilégio seria passar o ano novo em casa, com sua família e amigos. No entanto, você está aqui, assistindo seus alunos se divertirem com seus amigos velhos e novos; verá todos felizes na festa de ano novo e estará completamente sozinha. Desculpe, esqueci que você terá seus privilégios de tomar champanhe. Mas acho que você concorda comigo que tomar champanhe sozinha no ano novo não é exatamente um privilégio, certo?

Desde a primeira frase que Olivia disse, Leonardo estava com o rosto afundado em meu travesseiro, fazendo o que podia para abafar sua risada. Juliana olhava para mim chocada por testemunhar tamanho "desacato" e Kimi assistia tudo com a boca aberta, esboçando um sorriso como se estivesse vendo o maior vilão de um filme sendo destruído para sempre. Infelizmente, essa vilã da minha vida estava apenas começando a fazer seu estrago.

Ao invés de responder ao coice da minha amiga, Malu virou o corpo e olhou para Leonardo, que tentava se recuperar da crise de riso.

— Você não deveria estar no dormitório das garotas.

— Eu prestei atenção às regras, professora. — ele passou a mão pelo cabelo curto, ajeitando seu pequeno topete — Eu não devo dormir aqui. Passar o dia enquanto não der o toque de recolher é completamente permitido. Desde que não façamos nada de errado, e claramente não é o caso aqui.

Ela cerrou os olhos. Abriu e fechou a boca três vezes, buscando sua melhor forma de responder com um grande insulto, mas não conseguiu.

— Eu voltarei às onze horas e um minuto. Se você estiver aqui, será formalmente advertido em sua primeira semana de aula. Você e quem mais estiver presente no quarto.

— Se eu não estiver, posso advertir a senhora? — ele sorriu como uma criança inocente.

— Você pode aprender a respeitar seus superiores, garoto. É isso o que pode fazer.

— Eu respeito meus superiores, fofa. Eu não respeito você.

— Já chega. Venha comigo, você vai assinar uma advertência por desacato. Isso fará com que perca as atividades recreativas no lago amanhã.

— Valeu a pena. Eu perdi o quê? Ver você de traje de banho? Para mim está ótimo.

Kimi soltou uma gargalhada alta, que fez Malu dar um grito de "basta!". Ela abriu a porta para que Leonardo saísse e, antes de fazer o mesmo, me encarou com todo o ódio que sentia.

— Reconheça, Malu, foi você quem começou dessa vez. Você mereceu o que ouviu.

— Mais uma palavra e você também será advertida.

Levantei as mãos na altura dos ombros, como se pedisse paz. Quando ela saiu do quarto, Juliana e Kimi imploraram que eu e Olivia contássemos qual era o problema que ela tinha com a gente. Então nós lhes contamos tudo.

— Eu não me lembro em que ano exatamente a Malu começou a lecionar matemática no Alpha. Eu apenas lembro que foi na época em que nós deixamos as "Quatro operações básicas" no passado e começamos a fazer cálculos com números positivos e negativos. Não era nenhum segredo o fato de eu ser uma das alunas mais desinteressadas da classe, o que deixava Malu muito irritada, já que durante suas aulas eu sempre estava conversando com alguém, desenhando, ouvindo músicas ou dormindo; mas as minhas notas eram espantosamente ótimas. Desde que comecei a estudar, eu fui presenteada com o dom de colar sem ser descoberta. Malu jamais me flagrou, mesmo tendo a mais absoluta certeza de que eu trapaceava em qualquer atividade que ela sugeria. O desgosto dela por mim começou aí.

"Foi em uma reunião de pais e mestres que eu descobri que minha mãe e ela estudaram na mesma faculdade e que o então namorado da minha mãe — mais conhecido como meu pai — que estava prestes a se formar, acabou se aventurando com Malu em um dos banheiros no horário da aula. Minha mãe precisou ir ao banheiro e ouviu um casal na cabine ao lado. Indiscutivelmente curiosa e enxerida, ela achou que seria uma ideia legal espiar quem estava do outro lado da divisória, então o que deveria ser uma história divertida para contar aos amigos, se tornou uma verdadeira sessão de pancadaria. Minha mãe gritou, jogou o próprio sapato na cabeça do cara e fez com que eles saíssem do banheiro aos berros.

"Malu e o cara terminaram, até onde minha mãe ouviu dizer. Ela também terminou com ele, mas anos depois, quando o maldito já estava casado e sua esposa grávida, eles se encontraram em uma loja de bebidas. O bebê residindo na barriga de sua esposa não impediu que ele fosse mais uma vez um grandessíssimo filho da puta, então ele deu em cima da minha mãe até que ela cedeu. Ah, antes que eu me esqueça de avisar e vocês comecem a jogar paus e pedras na minha mãe, ela não sabia que o desgraçado havia casado. Então ela caiu em sua armadilha novamente. Eles ficaram juntos por alguns meses, até ela descobrir que estava grávida. Além disso, ela descobriu que fora enganada mais uma vez. Meu pai contou sobre sua esposa e o filho que estava a caminho e disse que não poderia abandonar sua família de comercial de margarina. Ele a fez prometer que guardaria segredo, sob a condição de enviar muito dinheiro periodicamente, para que ela cuidasse de mim sem problemas. Ele nunca descumpriu sua parte do trato, mas desapareceu e minha mãe nunca fez questão de procurá-lo, desde que ele continuasse enviando dinheiro."

— Você mudou o rumo da história, Naty. — Kimi interrompeu.

— Eu ainda não terminei. Achei que seria legal contar tudo de uma vez.

— Ela gosta de falar, gente. — Olivia sorriu para mim como se eu fosse uma criança. — Pode terminar a história.

— Eu vou ignorar essa sua ironia ridícula. Bom, retornando à Malu; quando minha mãe viu que minha professora de matemática era a mesma pessoa que havia transado com seu namorado no banheiro da faculdade, ela voou no pescoço da mulher, mas foi contida pelos outros pais, logo após lhe arranhar o rosto, muito perto do olho. Ataques de "violência gratuita" são um tanto comuns na minha família, só para constar. Desde então, Malu passou a me tratar ainda pior e eu não sou idiota de aceitar essa violência sem um motivo bom o bastante. Comecei a fazer da vida dela um verdadeiro inferno, já que ela resolveu que a melhor coisa a fazer era descontar em mim a raiva que sentia da minha mãe. Então eu fiz por merecer. Uma vez ela pediu que eu saísse da sala porque eu estava conversando com a Olivia, então eu disse que só sairia se ela fosse comigo. Ela negou, então eu peguei a garrafa térmica que ela sempre levava com chá quente e virei em sua cabeça. Ela saiu, no fim das contas.

— Seria muito feio dizer que eu já amei esse colégio, só pela sua briga com a professora? — Kimi perguntou, enquanto Juliana não se aguentava de rir ao meu lado.

— Feio seria se você não amasse.

Olivia sorriu ao dizer aquilo. O Alpha não era lá uma maravilha, mas eu devia muito a ele, principalmente minha amizade. Dizem que as amizades que você faz no colégio duram para sempre. Eu espero de coração que isso seja verdade, pois a Olivia e o Leo são pessoas que com certeza eu quero levar para além do meu futuro.

— Parece que a segunda garrafa já secou. — Kimi olhava dentro da garrafa de vodca, em busca de algum resto. Passamos algumas horas conversando e bebendo, virando doses, nem notamos que já estava escuro lá fora e o quanto estávamos alteradas. — O que faremos agora?

— Vocês já nadaram sem roupa?— eu perguntei e, a julgar pela cara de surpresa das três, ninguém esperava por uma ideia dessa. — O quê? Eu nunca fiz isso, mas morro de vontade!

— E onde nós poderíamos nadar?

— Tem um lago enorme lá fora à nossa espera. — respondi à pergunta da Juliana, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. E era.

— Gente, eu topo! — Kimi ergueu o braço, visivelmente animada. —Mas e se eles roubarem nossas roupas? Porque nós vamos ter que deixá-las na beira do lago e, eu não sei o pessoal daqui, mas os caras com quem eu estudei no Japão certamente roubariam todas as nossas roupas.

— É simples. — foi a vez de Olivia falar — Nós iremos sem as roupas. Não vamos precisar delas dentro do lago.

Após essa afirmação, nós olhamos umas às outras em silêncio, imaginando como isso poderia acabar.

— Isso vai dar muito errado. Mas eu quero fazer.

— Então vamos!

Quando eu chamei, nós levantamos e começamos a tirar as roupas, largando tudo espalhado pelo quarto. Estávamos tão bêbadas que começamos a rir pelo simples motivo de estarmos todas nuas. Espiei pela janela para calcular o quão longe estávamos do lago. Cerca de 100 metros nos separava do nosso destino e, concordemos que fazer aquilo bêbadas não poderia ser boa coisa. Como já estava escuro, não seria tão difícil corrermos sem sermos notadas. Coloquei um pé para fora e fui andando vagarosamente, seguida pelas garotas. Chegamos até a ponta da cabana e eu pude ver que havia muitos alunos na beira do lago, onde nos foi dito que não seria permitido entrar durante à noite sem a supervisão de um monitor ou professor. Tinha gente por toda parte e tochas espalhadas na areia, para iluminar o local. Toda noite haveria alguma festa diferente para os alunos "socializarem".

— Quando eu disser "três". Um... dois...

— TRÊS!

Olivia gritou e saiu correndo, balançando os braços desesperadamente em direção ao lago e mergulhou, chamando a atenção de todos que estavam lá. Eu, Kimi e Juliana nos entreolhamos, demos de ombros e resolvemos que já que era pra fazer merda, que fosse uma merda bem feita. Saímos correndo também, exatamente como a Olivia e saltamos para dentro do lago. Os alunos começaram a rir e gritar, nos incentivando e algumas pessoas mergulharam também, entrando na brincadeira. "Elas estão peladas!", gritavam algumas pessoas em meio às risadas e gritos. Um monitor se aproximou do lago e as pessoas foram se acalmando, parando de fazer toda a bagunça que faziam. Ele pediu que os alunos saíssem da água e eu chamei um dos alunos veteranos, cuja falta de moral eu já conhecia. Ele veio pelo deck sobre o lago e agachou para poder me ouvir.

— Faça alguma coisa para que a gente possa sair do lago sem que eles vejam que estamos peladas.

— O que você me dá em troca? — ele perguntou, soando malicioso.

— Maconha. — Juliana pulou atrás de mim, colocando as mãos sobre meus ombros e montando em minhas costas — Eu te dou maconha e você ainda vai poder ver de novo nossos lindos corpinhos magricelas correndo pelo acampamento.

— Fechado.

Ele se afastou e cutucou um garoto que era amigo dele havia anos. Falou algo em seu ouvido, então o garoto nos olhou, fez um sinal positivo com a mão e deu um tapa em sua cara, fingindo estar bravo. O outro revidou e os dois começaram a se esmurrar, gritando ofensas e palavrões, atraindo a atenção do monitor que, por sua vez, parou de pedir que saíssemos do lago e foi apartar a briga. Era nossa deixa.

Eu, Olivia, Kimi e Juliana saímos em disparada do lago, correndo com nossas "vergonhas" totalmente expostas, conseguindo passar desapercebidas pelo monitor. Entramos na cabana rindo feito um bando de hienas desequilibradas.

— Eu preciso fazer isso de novo!

— Por favor, Juliana, quando fizer, me chame! — eu respondi em meio às risadas.

— Gente, eu não sei nem os sobrenomes de vocês. — Kimi disse, pegando uma toalha dentro de sua mala e se enrolando nela. — Mas já sei que arrumei minhas amigas para o resto da vida!


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