Festas, Drogas & Problemas escrita por Julya Com Z


Capítulo 11
Dez - Se eu não for fazer merda




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— Com todo o respeito, Naty... onde eu consigo um destes?

Revirei os olhos para Stefanie quando ela me perguntou. Max recebeu uma ligação de sua mãe, pedindo que ele fosse embora. Ele disse que talvez fosse sobre "aquela coisa" e eu não perguntei nada; apenas desejei boa sorte. Será que a Malu descobriu quem era o pai dele?

— Este já esgotou no mercado. Mas deve ter algum similar por aí.

— Estamos falando de homens ou de remédios?

— As duas coisas, eu acho.

Stefanie riu. Eu não estava nem um pouco confortável com ela; uma completa desconhecida falando do cara de quem eu estava afim havia meses. Max me pareceu muito simpático com ela, mas ele era assim até com manequim de loja, então acabei relevando.

Como não havia muito o que fazer além de perguntar sobre sua vida, o assunto acabou rápido. Resolvi mandar uma mensagem à Juliana, pedindo para ela salvar o dia. Ela pediu meu endereço e disse que chegaria em menos de trinta minutos. 

Stefanie não parecia ser uma pessoa ruim, mas também não parecia ser muito fácil de conversar. Eu não sou boa para puxar assuntos, então nós duas passamos a maior parte do tempo brincando com Alfredo, que corria pela casa com sua bolinha vermelha na boca. Quando Juliana tocou a campainha, foi um alívio e tanto, pois o silêncio entre Stefanie e eu já estava ficando irritante.

— Vocês gostam de Twister? — Ju perguntou depois que eu a apresentei à Stefanie. Eu disse que sim e depois da resposta positiva da garota, Juliana abriu a mochila e tirou o jogo de dentro. — Ótimo, porque eu não o trouxe à toa!

Graças a Deus a Juliana apareceu na minha vida! Bastou estendermos o tapete do Twister na sala e eu ser obrigada a colocar a mão direita na marca amarela, que começamos a rir. Talvez tenha sido a mais idiota impressão minha; mas eu percebi que em alguns momentos Ju olhava de forma estranha para Stefanie. Eu não vou negar, aquela garota era linda demais, mas eu não olhava para ela como Juliana. Será que...

Bom, depois eu pergunto.

O dia passou rápido depois que começamos a jogar. Perto das oito da noite, minha mãe chegou do trabalho e foi apresentada às meninas. Stefanie foi embora e Juliana se ofereceu para o jantar. Depois de tomar banho, minha mãe desceu e nos encontrou na cozinha, terminando de preparar uma panela de arroz.

— Você fez carne com batatas?

— Fiz, do jeito que você me ensinou. Não quero me gabar, mas o Max comeu e adorou.

A boca da minha mãe formou um sorriso de canto.

— Querida, se você fizesse ovos cozidos, ele diria que está maravilhoso. Porque não é a sua comida que ele quer comer...

— Mãe!

— Posso adotar a senhora, dona Sophia? — Juliana perguntou em meio a uma gargalhada.

— Pode, à vontade. — Fui eu quem respondi, tirando um olhar de falsa reprovação da minha mãe.

Durante o jantar, nós três falamos pouco. Minha mãe perguntou da escola, de como estava o comportamento da Malu e eu menti, dizendo que não havia sido tão ruim. Vá por mim, se eu dissesse que saí da sala antes mesmo da aula começar, dona Sophia obrigaria Maria Lúcia a me dar aulas particulares. Deus me livre.

— Então, Juliana... — Quando ela começa a falar assim, é que vem bomba por aí. — Você conhece a minha filha há muito tempo?

— Não, nós nos conhecemos no acampamento do colégio, na verdade. 

— Parece que eu já ouvi falar de você. — Ah, não. Ela olhou para mim tentando se lembrar e de repente... lembrou. — Ela dormiu na sua casa depois da festa que vocês foram na semana passada, não é? 

Juliana franziu as sobrancelhas para mim e a única coisa que eu pude fazer foi arregalar os olhos em sua direção. Então sua sobrancelha direita se ergueu e ela se inclinou em direção à mesa, batendo as mãos num sinal de que estava se lembrando de algo.

— Ah, sim! Naty dormiu na minha casa, sim. Desculpe por eu não ter avisado, dona Sophia. Normalmente a minha mãe liga para dizer que está tudo em ordem, mas desta vez ela já estava dormindo quando chegamos, então achei melhor não incomodá-la.

— Sem problemas, querida. Natalie me disse tudo. 

Acenei discretamente com a cabeça para Juliana, que retribuiu com um sorriso malicioso. Eu estava claramente lhe devendo uma.

Minha mãe sempre conseguia se tornar amiga dos meus amigos. Ela não era daquelas mães chatas, que querem saber de tudo sobre todo mundo; apenas conversava com eles normalmente, ao contrário do que muitas mães por aí fazem. Ela tratava a todos como adultos, fazia perguntas básicas e nada intrusivas; somente o necessário.

— Minha mãe podia ser assim. — Ju comentou quando fomos até o portão da minha casa, para ela ir embora. — Ela não é nem um pouco legal como a sua.

— Dona Sophia estará sempre à sua disposição, Ju. Ela vai adorar saber que você gostou dela.

— Uma mãe dessas viria a calhar agora...

— Está tudo bem? Eu... queria te perguntar uma coisa sobre a Stefanie, mas não sei se devo.

— Agora que você começou, trate de terminar.

— Você... hm... gostou da Stefanie?

— Talvez. — ela deu de ombros — Quer dizer, você viu o quanto aquela garota é bonita? Eu perderia uns minutinhos com ela.

— Eu a achei linda, mas não perderia minutinhos com ela.

— Claro, né? Você não beija meninas. Completamente diferente da Juliana Molina aqui...

— Molina? Seu sobrenome não é Rinaldi?

— Rinaldi e Molina. Mas eu prefiro Molina, já que a minha irmã usa o outro.

— Vocês são ridículas.

  ⌘ 

O segundo dia de aula foi menos estressante do que o primeiro. Até a hora do intervalo, estava tudo certo. Pedro resolveu vir falar comigo quando eu saí de perto da mesa de café, com todos os pães de queijo que couberam nas minhas mãos.

— Oi, Naty. — Respondi com um aceno de cabeça, pois tinha um pão de queijo inteiro dentro da minha boca. — Eu pensei sobre o que eu te disse aquele dia na sua casa e... eu fui um pouco intrusivo.

Engoli o pãozinho de uma vez, quase rindo dele.

— Um pouco? Pedro, você apareceu todo molhado, com febre e se declarando para mim!

— Eu não me declarei! Eu só disse que estava afim de você! Isso não é uma declaração.

— Pedro. Você chorou quando eu disse que não queria. Você foi embora da minha casa chorando! 

— Eu estava com febre!

— E desde quando febre faz as pessoas chorarem? Admita, aquilo foi uma declaração sim!

— Pense o que você quiser. De qualquer forma, eu só vim aqui pedir desculpas por ter sido tão estranho aquele dia. 

— Está tudo bem.

Ele agradeceu e foi ao encontro de Victor, o cara que quase não falava. Olivia se aproximou de mim e roubou um pão de queijo da minha mão. 

— Aquele Victor é lindo, não é?

— Se ele falasse mais que "oi", talvez fosse até mais bonito.

— Eu vou arrancar umas coisas da boca dele, logo menos...

— Ai, Olivia... que horror.

O sinal para voltarmos às aulas tocou logo em seguida, então todos seguiram até suas respectivas salas. Quando sentei no meu lugar, mandei uma mensagem ao Max, perguntando se ele poderia me libertar daquele lugar de algum jeito. Ele respondeu que em quinze minutos estaria lá. Eu fiquei com sono no momento exato em que o professor de sociologia entrou na sala. Aquele cara era muito chato, não teria a menor condição de aguentar uma aula inteira dele.

Menos de quinze minutos depois de ter começado a aula, a coordenadora do ensino médio entrou na minha sala, com um papel na mão.

— Com licença, professor. A aluna Natalie Moser foi liberada, pois tem consulta no médico. Recebemos uma ligação, pedindo que ela saia.

Ele pediu que eu saísse, então peguei minhas coisas, me despedi dos meus amigos e segui a coordenadora pelos corredores do colégio até a saída, onde havia um táxi na porta. Ela deduziu que era para mim e voltou para dentro da escola. O táxi estava vazio, não havia nem motorista dentro dele. Cheguei perto para olhar melhor e o carro que estava estacionado atrás buzinou para mim. Era um carro muito velho, tinha um tom de azul estranho e três homens dentro.

Max colocou a cabeça para fora, mandando eu entrar no carro, no banco de trás.

— Eu disse que em quinze minutos estaria aqui. Esses são Teta e Bola. 

Teta era o motorista e Bola o cara sentado no banco de passageiro. Eles me cumprimentaram com um aceno e não disseram nada.

— Onde você arruma esses amigos?

— São eles que me arrumam, na verdade.

Depois de uma risada minha, o único som do carro vinha do rádio. Estava tocando uma música chamada Soundtrack 2 my life, do Kid Cudi. Eu gostava muito, mas não podia simplesmente começar a cantar com dois estranhos dentro do carro.

Paramos em frente a uma casa que parecia estar abandonada. Ela ficava na rua de baixo da minha e eu já havia passado por lá antes, mas nunca reparei naquele lugar. Quando descemos do carro, vi várias pessoas na casa, que era cercada de um muro alto tomado por trepadeiras que cresceram além do ideal. Havia pessoas do lado de fora, brincando em uma piscina gigante que ficava na lateral do jardim. 

— Bem-vinda à Luts, Naty.

— Que porra é Luts?

Max sorriu.

— É minha segunda casa. É aqui onde eu passo a maior parte do tempo, com meus amigos.

— Mas de onde saiu esse nome?

— A história que o pessoal conhece é que é uma sigla, dos nomes das quatro pessoas que "fundaram" esse lugar. Mas essa é toda a informação que temos.

Como eu tenho coisas mais importantes a contar, vamos resumir este dia: Teta e Bola eram os melhores amigos do Max. Teta tinha aquele apelido porque quando criança ele era gordinho e tinha... bem, ele tinha tetas. Eu pensei que o apelido do Bola fosse uma ironia por ele ser muito magro, mas ele contou que era gordo até pouco tempo atrás e fez aquela cirurgia bariátrica, mas continuou com o apelido (que foi ele mesmo quem deu). Luts é o nome da casa, como Max me contou, e ninguém sabia qual era o significado da sigla. Eu perguntei a todo mundo que estava lá.

Os dois amigos de Max eram muito legais, você vai saber mais sobre eles em breve. Tudo o que você precisa saber agora é que a minha terça-feira foi ótima, pois eu não fiquei na escola e que a Luts era na verdade um local onde as pessoas mais vagabundas da cidade se encontravam. Era realmente uma casa abandonada, mas alguns jovens começaram a frequentar para vender drogas e então se tornou um "point", por assim dizer. Havia viciados, prostitutas, bandidos, traficantes e eu. Que sou um pouco de cada.

Havia gente morando lá. Pessoas cujos pais expulsaram de casa ou que não queriam nada da vida. Não era lá um lugar muito bom de se frequentar, mas era legal. Ninguém ali julgava ninguém, pois todos eram pecadores. Era como uma amostra grátis do inferno.

   ⌘  

Agora a história começa a ficar interessante. Sua pipoca acabou? Deve ter acabado há um tempo, pode ir preparar outra, eu espero aqui. É mentira, eu não vou esperar nada, pois eu preciso te contar isso. Você se lembra do professor Gustavo? Pois bem, na quarta-feira depois do intervalo, ele entrou na sala de aula, colocou sua mochila sobre a mesa e pediu que fizéssemos um trabalho sobre vírus. Ele escreveu algumas perguntas no quadro e deixou que procurássemos as respostas com o celular.

Quando eu fui lhe entregar o meu trabalho pronto, ele sussurrou para mim:

— Eu quero conversar com você na hora da aula de educação física. Pode ficar aqui?

Respondi que sim e então voltei ao meu lugar, onde fiquei conversando com a Kimi sobre sushi. Kimi percebeu que eu estava um pouco estranha, até perguntou se havia algo errado, mas eu neguei todas as vezes. Ela não insistiu e eu fiquei completamente aliviada, pois as únicas pessoas que sabiam sobre Gustavo e eu eram Leonardo e Olivia. Ninguém mais poderia saber daquilo.

Quando o sinal para a próxima aula soou, todos os alunos saíram da sala e foram até a quadra, onde seriam apresentados os novos professores de educação física. Não seria uma aula importante, então eu apenas disse a Leo e Liv que ficaria na sala para "tirar dúvidas sobre o trabalho" e os dois me responderam com caretas de desgosto.

Assim que a sala ficou completamente vazia, Gustavo foi até o corredor e examinou por alguns segundos, esperando para se certificar de que ninguém voltaria. Então ele voltou para a sala, fechou a porta e girou a chave, trancando-a. 

— Senti saudades. Você não entrou em contato comigo.

— Você também não entrou em contato comigo. Por que eu preciso ir atrás de você?

— Você adora me provocar, não é?

Seu sorriso era malicioso, cheio de segundas intenções. 

Antes de você me atacar, veja bem, Max e eu não éramos um casal, apesar de eu gostar muito dele. Se ele chegasse para mim e dissesse que queria algo a mais, eu com certeza deixaria o Gustavo de lado. Mas ele é tão lindo, tão... ah, você entenderia se seu professor fosse o Gustavo Menezes.

O que você quer que eu te diga agora? Que ele me agarrou pela cintura, me colocou sentada sobre a mesa do professor e me beijou? Que ele começou a tirar minha roupa e eu a dele e que nós fizemos isso mesmo que você está pensando? Você quer que eu te diga isso? 

Pois é exatamente isso que eu estou te dizendo. Foi isso mesmo o que aconteceu.

E sabe o que eu esqueci de te contar? Que, naquele momento, eu também esqueci de uma coisa.

— Você não se protegeu, Gustavo.

— Ah, não.

E nós só lembramos depois. Pois é sempre depois que a merda está feita que a gente se lembra de abaixar as calças, não é mesmo? Talvez essa comparação tenha sido a pior do mundo, mas eu só quero que você entenda o quanto eu estava fodida. E isso não foi tudo. Nós nos esquecemos de que estávamos no andar térreo do colégio. E isso foi um grande erro.

— O que eu faço, Gustavo? Se eu engravido de você...

— Eu não vou dar aula agora, então eu posso ir à farmácia e te compro uma pílula.

E ele foi. Eu me tranquei no banheiro e fiquei desesperada lá dentro, com as pernas tremendo em desespero. Que tipo de idiota comete um erro daqueles?! Claro, a idiota aqui! Ah, Deus, que droga! Por que eu fiz tanta merda na minha vida? O que eu queria compensar? Eu queria morrer? Por que eu era tão retardada? E por que as pessoas me ajudavam a piorar as coisas?

Gustavo me enviou uma mensagem trinta minutos depois de ter saído para comprar a pílula. Já havia começado a última aula e eu continuei trancada no banheiro, preocupada demais. Saí o mais discretamente que pude e fui até o encontro dele na secretaria do colégio, que era o local mais tranquilo, já que não ficava ninguém do lado de fora; as tias estavam sempre tomando café dentro de uma sala. Tomei o primeiro comprimido e ele disse que deveria tomar o segundo dali a doze horas, então coloquei um lembrete no celular. 

Esperei no pátio até o fim da aula para ir pegar minhas coisas, mas Olivia as levou até mim.

— Por que você sumiu?

— Eu fiz uma merda muito grande, Liv.

Contei tudo a ela, que não sabia se me dava um soco na cara ou um abraço de conforto.

— Como você pode ser tão idiota, Natalie?! Eu queria tanto te dar uma porrada!

— Eu queria me jogar de uma ponte, mas não tenho essa coragem.

— Se você engravida, vai fazer o quê?

— Não sei, Olivia! Eu não sei! Você pode por favor parar de me dar sermão e só ficar do meu lado?

— Eu sempre estou do seu lado, idiota.

E era a mais pura verdade. Olivia sempre esteve do meu lado, em todos os momentos, assim como eu sempre estive do lado dela. E não foi diferente dessa vez.

Quando eu cheguei em casa depois da escola, preparei um sanduíche para almoçar e me joguei no sofá, tentando não pensar na merda que eu tinha feito. Mas eu tenho um problema chamado ansiedade, já ouviu falar? Essa droga me faz pensar na mesma coisa o tempo todo e fica jogando isso na minha cara sem parar, como se fosse algo muito maior do que realmente é.

Mas foi quando chegou um e-mail no meu celular, eu vi que era mesmo muito maior do que eu estava imaginando.

Deeuseioquevocefez@gmail.com
Para: moser.natalie95@gmail.com
Assunto: Eu sei o que você fez

Querida Natalie

O quanto seria trágico se essas imagens chegassem até a diretora do Colégio Alpha? Seu professorzinho perderia o emprego e sua imagem ficaria ótima por aí, não acha? Fique tranquila, eu ainda não vou fazer nada. Vou te dar um tempo para se redimir dos seus pecados.

Se você engravidar, eu quero escolher o nome.

Boa sorte.


Anexadas ao e-mail estavam três imagens, todas elas davam para ver muito claramente eu e o Gustavo transando na sala de aula.

Como isso aconteceu? A minha sala era no andar térreo e alguém enfiou a câmera do celular pela janela e fotografou nosso momento íntimo.

Eu já deveria estar esperando por aquilo, não deveria? Pois é como diz aquele ditado: Se eu não for fazer merda, nem levanto da cama.


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