Superando o passado escrita por HungerGames


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal, queria pedir que você comentem, digam o que estão achando, eu vejo que tem alguns acessos, mas é dificil saber o que vocês estão pensando, então se puderem fazer algum comentário, é sempre bom, por que é realmente ruim escrever sem retorno, enfim... Ia ser bem legal essa troca



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Eu paro de andar quando o carro freia logo a minha frente, impedindo minha passagem, a porta do outro lado abre e Rafael vem até a mim, ele não fala nada, apenas me pega pelos ombros e me leva pra dentro do carro, prende o cinto, fecha a porta e eu me encolho no banco voltando a chorar, me recuso a olhar pela janela e correr o risco de rever meu pior pesadelo, por isso fecho os olhos com força e não consigo parar de chorar, o carro para e alguns segundos minha porta é aberta, meu cinto tirado e então ele me estende a mão, eu olho pra sua mão e depois pra ele, saio do carro sozinha, agora já não estou chorando, porém meus olhos parecem inchados e pesados, abro a porta de trás e pego minha mochila, vou pro elevador e a porta já estava fechando quando Rafael coloca a mão e impede, ele entra junto comigo, eu aperto o botão e fico encostada no canto olhando fixamente pra frente.
— O que aconteceu? – ele me pergunta com a voz baixa, eu não olho pra ele – Por favor, fala comigo – a porta se abre, eu saio indo direto para a nossa porta, encontro a chave antes que ele me alcance e a abro.
— Achei que você tivesse jogado ele lá de cima – Vinny fala rindo, eu apenas passo direto e vou pro meu quarto, deixo a porta bater, me jogo na cama, agarro um travesseiro e volto a fazer a única coisa que posso, eu choro, sinto que meu corpo está exausto, como se eu realmente tivesse vindo correndo de lá até em casa e tudo que eu quero é continuar aqui quieta, sem precisar nunca mais me lembrar de tudo que aconteceu, meu travesseiro está completamente molhado e ainda assim as lagrimas parecem não secar, assim como minha dor parece não diminuir.
Os braços passam ao meu redor e me abraçam apertado, sinto sua respiração próxima ao meu pescoço e ele beija meu ombro.
— Eu estou aqui – a voz firme, calma e sempre presente ao mesmo tempo que me acalma me faz chorar ainda mais – Chora, pode chorar – ele me embala no ritmo do seu corpo, me viro de frente pra ele e o aperto o máximo que posso em mim, afundo meu rosto em seu peito e assim como sempre acontece ele está pronto pra me acomodar nele, seus dedos acariciam meu cabelo e ele faz um som tranquilizante, ele não tenta me fazer parar de chorar, apenas me deixa ali juntinho dele e é tudo que eu preciso.
Não sei quanto tempo se passa ou como aconteceu, mas acabo adormecendo, quando abro meus olhos ele ainda se mantem abraçado a mim do mesmo jeito, eu levanto o rosto do seu peito e imediatamente ele se alerta, seus dedos afastam o cabelo que estava grudado no meu rosto por causa das lagrimas e ele segue com um dos dedos o caminho que elas fizeram – Tá tudo bem – ele me garante, não o solto, apoio a cabeça no travesseiro ao lado do dele – O Rafael ficou bem preocupado com você. E eu quase quebrei a porra da cara dele quando te vi entrando e correndo...
— Eu não ia conseguir passar por lá de novo – ele concorda e me puxa pra perto dele acariciando meu cabelo.
— Eu sei, eu devia ter avisado a ele antes.
— Você contou pra ele?
— Que você sofreu um acidente lá, qualquer outra coisa que ele tiver que saber, não sou eu quem deve contar – ele me força um sorriso, então beija minha testa – Você precisa comer alguma coisa... Já está tarde e pelo que eu soube vocês só comeram uns sanduiches e frutas na hora do almoço – ele se senta na cama, eu continuo deitada sem o menor ânimo pra nada – Você devia trocar essa roupa – ele sai do quarto, eu respiro fundo, me sento e puxo a mochila pra mais perto de mim, abro e pego meu celular, várias mensagens da Lia, sorrio quando leio a parte em que ela diz que faltam apenas 3 dias pra ela voltar, mesmo sendo egoísta espero que ela volte logo mesmo, jogo o celular na cama e me levanto, pego uma camiseta e short e vou pro banheiro, quando me olho no espelho me assusto comigo mesma, meus olhos estão vermelhos e inchados, meu nariz também, meu cabelo está bagunçado como se eu não o penteasse a dias, mas na verdade estou tão horrível por fora quanto eu estou por dentro, tiro minha roupa e entro debaixo do chuveiro, a agua morna parece acalmar um pouco toda essa fúria de sentimentos e eu me sinto um pouco mais relaxada, deixo a agua cair na minha cabeça pelo máximo de tempo que consigo e só saio quando meus dedos já estão enrugados, me enxugo, visto minha roupa e tento secar meus cabelos o máximo que consigo com a toalha.
— Voltei – a voz anuncia e eu saio do banheiro, Vinny está sentado na minha cama segurando uma bandeja, tem dois pratos com omeletes que parecem realmente muito bons e dois copos de suco de laranja, eu me ajeito na cama e ele coloca a bandeja sobre minhas pernas, se senta ao meu lado, pega o prato dele e comemos juntos.
— E o que você descobriu do nosso hóspede? – ele pergunta e eu lhe faço um resumo de toda história, dizendo que ele está aqui por que não quer assumir a empresa do avô e tem medo que se disser a verdade o avô prejudique seu pai, Vinny não parece tão surpreso com a história.
— Mas você já sabia disso né? – ele sorri dando de ombros.
— Algumas partes – ele rouba um pedaço da minha omelete, eu o encaro e ele beija minha bochecha – Eu ia sair daqui a pouco, mas se você quiser – ele sugere me olhando meio preocupado.
— Vai sair com aquela garota não é? – ele me olha daquele jeito de quem vai aprontar, eu sorrio e dessa vez eu beijo a bochecha dele – Nem se atreva a se preocupar comigo – ele faz uma careta.
— Vou tentar! – ele me dá uma piscada, depois sai levando a louça e eu fico assistindo televisão.
Ouço duas batidas na porta, ela se abre e Rafael aparece já com a metade do corpo pra dentro do quarto.
— O certo é esperar liberarem sua entrada
— E ela está de volta – ele fala sorrindo satisfeito – Posso? – ele pergunta abrindo um pouco mais a porta.
— Acho que um não já não adiantaria – ele sorri e entra no quarto, olha pra televisão e faz uma careta pro filme que está passando – Ele morre e a garota fica com o melhor amigo dele
— Ah ótimo, eu nem estava a fim de descobrir sozinha mesmo – pego o controle e desligo a televisão, ele se aproxima e senta na beirada da cama próximo aos meus pés, ele parece meio sem jeito, como se procurasse o que dizer.
— Eu só queria me desculpar... Pelo que houve, com o lance da estrada, eu... Eu não sabia!
— Eu sei que não
— Então você está bem?
— Vou ficar – forço um sorriso e ele me olha ainda confuso – Que foi?
— O Vinny me disse que você sofreu um acidente de carro, naquela estrada...
— É, tem uns anos – ele balança a cabeça como se estivesse se livrando de algum pensamento.
— Não faz sentido
— Por que não?
— A garota que eu vi hoje lá na cachoeira, brigando e discursando sobre seguir em frente não ia ficar tão mexida com um simples acidente de carro – ele observa minha reação – Olha, eu entendo que você não queira falar sobre isso, mas eu não sou tão idiota assim. Essa não é a história toda, é?
— Não, não é. Quer dizer, sim, você é idiota, mas não, essa não é a história toda – ele concorda com um leve sorriso enquanto me olha esperando que eu diga mais alguma coisa – Não é uma história legal.
— A minha também não e você fez questão de ouvir – ele dá de ombros, então coloca uma perna pra cima se ajeitando melhor na cama e me olhando concentrado, eu respiro fundo, passo minhas mãos no rosto e ele ainda continua esperando, eu realmente não posso negar a verdade a ele, quando ele me mesmo me contou toda sua história, então talvez por isso ou talvez por que simplesmente eu queira falar sobre isso com mais alguém, eu me pego pela primeira vez em anos contando a história pra alguém.
— Quando eu tinha 15 anos o Vinny se mudou daqui da cidade e nós nos separamos – evito todos os detalhes, essa é a história do Vinny – Eu e Lia entramos numa escola nova que eu odiava e eu jurei que não faria amizade com ninguém de lá, só que... Eu conheci um garoto, o Felipe, a gente começou a sair e em umas duas semanas já estávamos namorando, eu não tenho como te explicar isso, mas ele era tudo que eu nunca esperei em um garoto e ao mesmo tempo era exatamente o que eu precisava, eu acho que me apaixonei por ele em 24 horas, por sorte, ele também... Nós estudávamos juntos e nos víamos praticamente todos os dias, todo mundo achava que não iria durar muito por causa disso, mas acho que isso nos ligou ainda mais, os anos passavam e isso só aumentava, então quando eu tinha 19 anos, já tínhamos terminado o ensino médio, prestamos vestibular e passamos, não só eu e ele como todos os nossos amigos... Então como todo ano fazem, nós também marcamos nossa festa de comemoração, estava tudo pronto, era o começo pra essa nova vida que nós esperávamos tanto... – eu me lembro da nossa alegria quando achamos nossos nomes na lista, em como pulamos e gritamos, um sorriso nostálgico aparece – No dia da festa eu e Lipe fomos visitar os avós dele que moravam em um sitio, passamos o dia lá e no fim da tarde entramos no carro pra dar tempo de irmos pra festa, eu não estava muito animada, embora estivesse esperando por isso a muito tempo, no momento que entramos no carro eu queria ficar e não ir a lugar algum, eu não sabia por que, só não queria sair daquele lugar, mas Lipe estava tão animado que eu não podia desapontá-lo, é claro que ele percebeu que eu estava estranha, perguntou o que era, se eu queria desistir de ir e eu neguei, eu o convenci que estava tudo bem e ele voltou a dirigir, foi aí que aconteceu... Um carro bateu no nosso, nós capotamos enquanto caiamos de um barranco, uma arvore nos parou, eu ainda tentei... Eu... Eu tentei alcançar ele, tirar o cinto, mas... Eu apaguei! – sinto o mesmo sentimento de incapacidade que senti no dia – Acordei 3 dias depois na CTI com maquinas bipando no meu ouvido... Eu estava com o braço quebrado, 3 costelas quebradas, um traumatismo craniano e mais alguns ferimentos, no momento que eu abri os olhos só conseguia pensar no Lipe e em como ele estava, foi preciso várias pessoas e alguns calmantes pra conseguir me fazer ficar na cama, então meu pai, que era a única pessoa que eu confiava e também era o médico responsável pela emergência que me colocou a par de tudo. O Lipe estava na UTI, impedido de receber visita, ele estava muito pior do que eu, teve fratura exposta no braço, tiveram que amputar a perna direita dele, seu cérebro estava inchado e não diminuía mesmo com todos os cuidados, suas costelas também foram quebradas mas duas delas perfuraram o pulmão, conseguiram resolver mas nada muito empolgante, tiveram que tirar o baço que também foi perfurado por um pedaço de ferro e em 3 dias ele já tinha tido 4 paradas cardíacas e por causa de todos os remédios o fígado dele estava começando a falhar, na verdade, o que meu pai me disse foi que ninguém, nem mesmo ele, sabia explicar como ele ainda estava vivo, eu entrei em desespero precisava ver ele de qualquer jeito, vendo como eu estava e sabendo que nada iria me acalmar ele conseguiu que eu entrasse na UTI, seria apenas dois minutos no máximo e vigiados, eu aceitei, por que só precisava ver ele, então eu entrei – preciso fazer uma pausa pra controlar minhas emoções, não olho pro Rafael e só volto a falar depois de alguns segundos – Nada me fez me sentir tão insignificante quanto ver ele preso a uma cama, cheio de maquinas e cateter e não poder fazer nada, ele parecia tão pequeno, tão diferente dele... O rosto estava muito machucado, sua perna não estava mais ali e ao mesmo tempo ele ainda era o Felipe, o meu Felipe, eu disse isso a ele, disse o quanto o amava, o quanto precisava dele e que por isso ele não podia me abandonar, eu disse que estava esperando por ele, que nós dois ainda podíamos viver tudo que planejamos por que era ele e sempre seria ele que eu ia amar, e foi quando eu beijei os lábios dele mesmo com todos aqueles tubos... As maquinas começaram a apitar, a sala se encheu de médicos e enfermeiros, eu fui arrastada pra fora e através do vidro eu vi o quanto eles lutaram pra trazer ele de volta, por minutos e eu tinha certeza que eles conseguiriam, por que não podia acabar assim, não podia... – uma lagrima escorre do meu rosto – Quando eles pararam, se afastaram da cama e a enfermeira puxou o lençol, foi quando eu soube que tinha acabado. Nunca mais existiria um Felipe – Rafael me olha sem saber o que dizer, parece tão surpreso e tocado pela história que sou eu quem pergunta se ele está bem.
— Eu só... Não esperava por isso – ele fala parecendo em choque – Eu sinto muito
— Não! EU sinto muito – respiro fundo – Eu fui liberada pra acompanhar o funeral e depois tive que voltar pro Hospital por mais uma semana... O Bruno, marido da Lia, era o melhor amigo dele e acho que era a única pessoa que sentia a mesma dor que eu, ele não conseguiu ir me visitar no Hospital e eu nunca o questionei por isso, por que nem eu mesma queria ficar lá, Lia ficou perto todo o tempo e Vinny... – eu libero um fraco sorriso – Me provou que é o melhor amigo do mundo... Ele não saiu de perto de mim, nem pra eu ir ao banheiro e não é exagero... Ele voltou pra cá pra cidade, ficou morando comigo na casa dos meus pais, depois quando ele quis sair eu sabia que não conseguiria ficar lá sem ele e agora nem se ele quiser, eu nunca mais o deixo ir de novo – falo tentando aliviar um pouco todo o clima pesado, Rafael continua me olhando.
— Ele... O seu namorado... Ele estava te esperando – ele fala como um pensamento perdido.
— Eu sei! Eu sempre fico pensando que talvez se eu não tivesse ido ver ele, então talvez ele tivesse aguentado mais e aí quem sabe teria conseguido – confesso isso pela primeira vez, nem mesmo pro Vinny eu ainda não tinha dito, por que não acho que ele mereça mais preocupações.
— Você sabe que isso não é verdade, não sabe? – seus olhos se fixam aos meus e eu concordo.
— Mas eu poderia ter dito que não queria ir a festa, poderia ter dito que não estava bem, inventado alguma coisa, eu tenho certeza que ele desistiria de ir, então nada disso teria acontecido – fecho os olhos segurando as lágrimas, sinto suas mãos em meus pés e abro os olhos, Rafael está me olhando.
— Não foi culpa sua, não tinha como você saber
— Isso não diminui a dor
— E você não precisa aumentar – ele me lança um olhar firme e não aquele olhar de pena que os outros me olhavam – Eu sinto muito por tudo isso. Eu realmente sinto muito, mas acho que é assim que a vida acontece... “Ás vezes, não há nenhum aviso. As coisas acontecem em segundos. Tudo muda. Você está vivo. Você está morto. E as coisas continuam. Somos finos como papel, existimos por acaso”
— Isso não pode ter saído de você, vai contra tudo que eu acredito – eu implico com ele, então seu sorriso aparece divertido.
— Charles Bukowski – ele dá de ombros.
— Agora sim
— Mas eu realmente acredito nisso! A vida é... Uma merda – eu sorrio.
— Isso sim é criação do Rafael – ele ri.
— Eu sou pensador contemporâneo – nós rimos, mas ele volta a ficar um pouco mais sério – Eu acho que não posso nem imaginar como foi pra você passar por tudo isso, ou melhor, continuar passando, mas de verdade, o que você precisar pode contar comigo – ele oferece e estica a mão pra mim, eu o olho e diferente da maioria dos olhares de pena e compaixão que eu recebia o que eu encontro nos olhos dele, é apenas um gesto de amizade e mesmo que a dias atrás eu quisesse que ele fosse embora agora consigo sorrir e aperto sua mão – Acho que nos conhecemos melhor em 24 horas do que em um mês inteiro – eu não posso discordar – Agora entendo toda esse espirito de proteção do Vinny com você, o cara quase quebrou minha cara quando você passou correndo – eu acabo sorrindo.
— Foi mal
— Tudo bem – ele dá de ombros sem se importar – Acho que sei do que nós precisamos... Precisamos nos distrair – ele fica em pé e me estende a mão.
— Valeu, mas acho que vou ficar por aqui mesmo – me enrolo no meu cobertor.
— Isso não foi um convite – ele puxa meu cobertor e agarra meus pés me puxando pra beirada da cama, enquanto eu tento resistir.
— Eu não quero sair – falo, mas acabo rindo, ele me solta, vai até meu guarda roupa e afasta a porta de correr.
— Esse não... Não... Nem pensar... Hoje não... – ele passa por cada roupa pendurada no cabide – É esse – ele pega um cabide onde está pendurado um vestido curto azul e então me oferece, eu cruzo os braços – Você mesma veste ou vou ter que fazer isso também?
— Eu não vou sair
— Ok, eu te visto – ele se aproxima tentando alcançar minha camiseta.
— Ei, ei... tá bom! Eu faço – ele para e sorri satisfeito.
— Te espero na sala em 10 minutos – ele sai do quarto, eu reviro os olhos e encaro o vestido, jogo-o em cima da cama e vou até o guarda roupa, abro e paro com as mãos na cintura procurando a roupa que seja o melhor oposto do vestido que ele escolheu, então sorrio satisfeita quando encontro, prendo meu cabelo em um rabo de cavalo e evito a maquiagem, apenas lavo meu rosto e saio do quarto dez minutos depois.
— Nada de vestidos então – ele fala quando eu apareço, mas tem um sorriso divertido nos lábios – Nada mal! Na verdade você acabou de me dar uma excelente ideia – ele fala satisfeito, estou com um short preto, um casaco de moletom cinza com letra preta, meu all star velho que eu adoro e uma pulseira em couro, ele está com uma calça jeans clara, camisa preta em gola v, o cabelo meio bagunçado e sorriso meio assustador.
— Eu não vou pra nenhuma dessas festas loucas e nem baladas que viram a madrugada, ok?
— Você vai gostar – ele garante sorrindo.
— É sério Rafael, eu não quero ir pra um desses lugares – ele para na minha frente e me olha sério.
— Você pode confiar em mim pelo menos uma vez? – ele pede sinceramente e mesmo sendo totalmente novo até mesmo pra mim, a verdade é que eu confio nele, mesmo assim solto o ar parecendo preocupada, ele ri e me deixa sair primeiro que ele.
Ele se recusa a dizer onde nós estamos indo, mesmo que eu ameace parar e voltar pro apartamento, ele apenas desconversa, ri, muda de assunto e me faz entrar no metrô, 4 estações depois descemos.
— Se você tiver me sequestrando é uma boa hora pra eu revelar que tenho um chip instalado no meu corpo e quando acionado trazem todos os tipos de ajuda possível – ele solta uma risada alta demais.
— Eu adoraria procurar esse chip pelo seu corpo – ele me dá uma piscada.
— Você é nojento, sério – ele ri novamente.
— Relaxa, antes que a ajuda aparecesse eu mesmo te devolveria – ele faz uma careta, eu lhe dou um tapa e ele ri – Chegamos – ele aponta pra frente e então acabamos de alcançar uma espécie de praça, o lugar está muito bem iluminado e movimentado, tem barracas de comida, algumas mesas espalhadas onde grupos de amigos riem animados e no meio do espaço tem uma pista para skate e bicicleta onde alguns adolescentes fazem manobras arriscadas, eu o olho surpresa.
— Nunca imaginei você como um cara que frequentasse esse tipo de lugar – ele tenta parecer ofendido – Acho que sempre vi você em club de stripp ou num bar jogando sinuca enquanto fumava um charuto...
— Ótimo saber que você pensa tão bem de mim – ele brinca e eu dou de ombros – Anda, vem – ele me puxa pela mão e me leva em direção a pista no centro – Quero ver o quanto você é esperta sobre essas rodinhas...
— Não, não... Péssima ideia – eu aviso tentando parar.
— Olhando sua cara de desespero acho uma ótima ideia.
— Eu não sei andar de skate!
— Ok, não precisa implorar... Eu posso ser seu professor – ele volta a praticamente me arrastar, então assovia pra um garoto e faz sinal pra ele se aproximar – Te dou 20 se me alugar esse por uma hora – o garoto sorri satisfeito e empurra o skate pra ele, Rafael paga e então me olha sorrindo.
— Eu não vou subir aí – nego cruzando os braços.
— Tá tranquilo tia, precisa ficar com medo não – o garoto fala e Rafael ri.
— É tia, relaxa – eu lhe lanço um olhar que diz que ele irá me pagar por isso.
— Nem é tão difícil, só parece que é – o garoto continua tentando me convencer.
— Eu... Nem sei nem subir nisso – eu confesso e eles riem.
— Garotas – o garoto fala e mesmo sendo um garoto de no máximo uns 15 anos me deixa realmente desafiada com o tom de voz superior que ele usa, eu encaro eles dois, respiro fundo e coloco um pé no skate, eles olham sem expectativas e eu tento fazer como sempre vejo, dou impulso com o outro pé e tento ficar em pé no skate, acaba indo rápido demais e se não fosse Rafael me segurando eu teria caído de cara no chão – Acho que vai ser mais de uma hora – o garoto fala e sai rindo.
— Não gostei dele – Rafael ri.
— A culpa não é do garoto, você é péssima
— Eu avisei.
— Não, você disse que não sabia e não que parece ter dois pés esquerdos – ele implica comigo e eu lhe dou outro tapa, mas mesmo com as piadas idiotas eu acabo aceitando a ajuda dele e depois de varias tentativas consigo me equilibrar em cima do skate, já considero uma vitória e decido parar.
— Ainda tenho 15 minutos – ele fala olhando no relógio – Tá pago!
— Então me mostra o que você sabe – desafio e o sorriso vitorioso quase brilha em seu rosto, eu me afasto me sentando em uma das muretas que cercam a pista e então ele começa a andar como se sempre tivesse estado em cima de um skate, ele vai rápido e despreocupado, faz manobras que eu levaria uma vida pra conseguir e aos poucos ganha uma pequena plateia de garotos que param pra vê-lo e quando ele vai pra pista maior e consegue fazer o skate dar voltas no ar e depois volta pra cima dele tranquilamente os garotos vão a loucura e eu tenho que confessar que foi incrível, ele me olha já sabendo que conseguiu me impressionar mas antes que me alcance alguns garotos vão até ele, o sorriso dele parece de um menino de 15 anos, estava observando eles quando meu celular toca, não reconheço o numero, mas resolvo atender.
— Daniela? – a voz é meio grossa e eu sinto que já ouvi antes ainda assim não reconheço.
— Quem é?
— É o Vítor – já estava a ponto de perguntar que Vitor quando ele mesmo se apressa – O cara do metrô e do restaurante japonês – eu me surpreendo e então me lembro do que a Lia fez na ultima vez, coloco a mão na testa e fecho os olhos querendo não ter atendido, sou péssima em dar foras em pessoas que parecem legais – É que sua amiga me deu seu número, lembra?
— Lembro sim – ah, se lembro, e ela vai me pagar por isso.
— Então, é que eu... Sei lá... Achei que talvez a gente pudesse se encontrar...
— Hum, legal, é que eu tô na rua agora, se tivesse sido mais cedo... Realmente não dá agora – eu falo quase experimentando o alivio.
— E amanhã?
— Amanhã? É... Eu...
— É só uma saída, você escolhe o lugar, sem segundas intenções – mesmo que eu não acredite ainda fico sem graça de dar um fora nele, então vejo Rafael se aproximando e penso o mais rápido que posso.
— É que amanhã é aniversário de um amigo meu, o Rafael – por que eu falei o nome? Ninguém diz o nome de um aniversariante assim. Merda, eu sou horrível nisso — A gente já tinha marcado de sair e tal... Foi mal – minto e Rafael escuta, ele me olha meio curioso e eu faço sinal pra ele calar a boca.
— Poxa, é uma pena! Eu acho que podia ser legal...
— Também acho... É uma pena – Rafael faz sinal pedindo o celular e eu ignoro, então ele puxa da minha mão.
— Fala aí campeão... Opa, tudo bem?... Então pode ir amanhã se quiser, o aniversário é meu e a Dani pareceu bem chateada, então acho que podemos juntar o útil ao agradável – eu faço sinal que vou matar ele, tento pegar o celular, mas com apenas uma mão ele consegue me manter afastada – Ótimo! Verdade – ele ri de alguma coisa e eu paro de tentar alcançar o celular – É, vai ser lá no apartamento dela mesmo, você tem o endereço?... Ah que bom... A gente tava pensando em pedir umas pizzas ou fazer alguma coisa, sei lá, é que foi meio que em cima da hora – ele me olha e eu o encaro – Tá bom, então a gente se vê lá... – ele desliga e me entrega o celular.
— Desde quando todo mundo combinou e resolveu ignorar minha vontade?
— Você me envolveu nisso – ele fala e quando eu aponto o dedo, ele completa – Vai ser uma noite entre amigos! Só isso... Não é pra você ficar com ninguém, é só uma noite comendo e bebendo, pode ser divertido e acho que vai ser legal – eu solto o ar e pego o celular – Agora eu tô morrendo de fome e esse cheiro de cachorro quente tá me torturando
— Você paga!
— Eu paguei pelo Skate
— Eu nem queria sair da casa – ele faz uma careta e passa o braço em volta dos meus ombros.
— Não precisa me agradecer – mesmo que eu jamais admita em voz alta, foi realmente uma boa ideia ter saído de casa.
Nós paramos em uma das barracas, ele pede dois lanches, nós conversamos sobre qualquer assunto que surja e estava no meio de uma história minha quando ele levanta o dedo rapidamente, ele se levanta, me entrega a garrafa de cerveja dele e se afasta, eu olho confusa e então o vejo alcançando o carro na calçada a frente, a motorista é uma garota morena, que sorri assim que ele se aproxima, eles riem de alguma coisa, ele abre a porta do carro e ela sai, está com uma saia curta preta e um cropped com uma jaqueta jeans por cima, ele toca o cabelo da garota que sorri já se encostando no carro e sabendo tanto quanto eu o que vai acontecer a seguir, então ele se inclina e a beija, eu acabo rindo, desvio o olhar da cena que começa a ficar mais forte e bebo o resto da cerveja dele, quando olho de novo ela já está dentro do carro, eles ainda estão falando mais alguma coisa e então ele se afasta vindo na minha direção.
— Uma amiga, eu imagino... – ele sorri.
— Uma boa amiga – ele fala com ironia e volta a se sentar do meu lado, quando olho pra ele sua boca está marcada de batom, eu uso o guardanapo que está na minha mão e limpo.
— Não acredito que ela te beijou mesmo você com bafo de molho de cachorro quente...
— Você diz isso por que nunca me beijou – eu levanto as mãos.
— Que continuemos assim – ele ri – Você podia ter ido com ela – ele me olha meio confuso.
— Entenda uma coisa, eu posso não ter tido muitos amigos leais, mas eu sei ser um – ele afirma me olhando nos olhos e pela primeira vez acho que não tenho palavras pra ele – Além do mais o noivo dela não ia gostar de me ver – ele faz uma careta.
— Noiva? Sério? – ele dá de ombros e ri, eu acabo rindo também – É tão difícil assim achar uma garota solteira na cidade?
— O mercado está escasso, eu agarro as oportunidades que aparecem – ele pega a garrafa dele que eu estava segurando – Você bebeu minha cerveja – ele bate de leve a garrafa na minha cabeça.
— Você estava beijando uma garota que é noiva – ele sorri orgulhoso.
— Eu acho que rejeitar uma garota só por causa do estado civil dela é preconceito e eu sou contra qualquer tipo de preconceito – ele dá de ombros como se isso fosse um orgulho – E agora, você me deve outra cerveja...
— Eu nem trouxe dinheiro – falo mostrando as mãos vazias.
— Isso é truque velho – ele abre a carteira e pega o dinheiro me entregando, eu o encaro pronta pra mandar ele mesmo ir quando ele coloca o sorriso no rosto – Por favor? – eu reviro os olhos, pego o dinheiro e vou buscar a cerveja, compro duas e volto – Eu sei que saímos pra distrair, mas eu preciso perguntar uma coisa... – eu concordo – O que aconteceu com o cara do outro carro?
— Ele está preso! Ele estava bêbado e participando de um racha, antes do nosso carro ele tinha batido em outro, um casal também, eu acho... Ele foi identificado e um ano depois do acidente teve o julgamento, ele foi condenado – ele concorda com um balançar de cabeça.
— Ok! Agora mudando de assunto... – ele fala mexendo as mãos como se estivesse afastando alguma coisa entre nós – Me fala do Vinny – eu o olho confusa.
— Falar o que?
— Ah sei lá, qualquer coisa. Ele é meu irmãozinho agora... Então... Me diz aí alguma coisa que eu não saiba dele... Tipo, ele é mesmo tão durão quanto parece? – eu acabo rindo.
— Durão? O Vinny? Ele é o cara mais coração aberto que eu conheço
— É, o cara é maneiro – ele fala sorrindo.
— Não! Maneiro é você, sou eu, aquele cara com a camisa aberta, aquela menina ali de preto, o Vinny ele é... Mais do que maneiro, muito mais. Ele é a pessoa mais incrível do mundo...
— Pelo menos eu tô na classe dos maneiros – ele fala sorrindo.
— Não se anima
— Vou tentar – ele promete e então abrimos nossas garrafas e começamos a beber, ele me faz várias perguntas sobre o Vinny, o que ele gosta, o que não gosta, coisas normais, mas que o deixam realmente curioso e enquanto eu respondo vejo que ele está mesmo afim de ter uma boa relação com Vinny e tenho que confessar que Vinny também parece ter gostado dele, mesmo parecendo novo pra mim, espero que eles se entendam, acho que todos nós já tivemos muitos altos e baixos e está mais do que na hora de permanecermos apenas no alto. A noite parece passar rapidamente, nós ainda tomamos mais umas duas cervejas e então decidimos ir embora, o metrô estava praticamente vazio, as ruas pouco movimentadas e Rafael quase me matou do coração quando fingiu que achava que estávamos sendo seguidos, eu jurei que ele pagaria por aquilo enquanto ele ria descontroladamente da minha cara de terror, nós alcançamos o prédio e entramos no elevador.
— Eu não acredito que você nunca comeu pizza de banana com canela – ele fala como se isso fosse algo impossível.
— Eu não gosto de banana com canela – eu falo dando de ombros.
— Mas todo mundo gosta
— Eu não
— Amanhã eu mesmo vou fazer uma pra você
— Você sabe fazer pizza? – ele abre aquele sorriso presunçoso, a porta do elevador se abre e ele segura pra que eu passe primeiro, então quando eu passo ele se inclina pra perto do meu ouvido.
— Você nem imagina tudo que eu sei fazer – sua voz é ridiculamente sedutora e eu acabo rindo, caminho até a porta e coloco a chave na fechadura.
— Será que tudo que você fala tem que ter duplo sentido? – abro a porta, entramos rindo, até que nossas risadas se misturam a outras risadas, eu paro assim que o vejo, Vinny e a tal garota do restaurante estão sentados no chão, com a tv ligada e segurando os controles do vídeo game, aliás, o meu vídeo game.
— Opa, visita – Rafael fala fechando a porta e indo até eles.
— Aí Dani, acho que você achou uma jogadora a sua altura – Vinny fala sorrindo animado – Ela dobrou o seu recorde – ele aponta pra tv onde ele acaba de mostrar o ranking e o meu nome que estava no topo foi substituído por “Bianca”.
— Ótimo, adoro ter alguém pegando meu vídeo game quando eu não estou em casa e ainda mudando meu placar, maravilha – sou quase fuzilada pelo olhar do Vinny, reviro os olhos e quando olho pro Rafael vejo ele sorrindo divertido.
— Desculpa, é que a gente estava jogando e... – a menina parece sem graça, solta o controle e se levanta enquanto me olha sem jeito.
— Prazer, Daniela, a dona do vídeo game e agora a segunda do placar – eu estico a mão pra ela.
— Bianca! E desculpa de novo – ela sorri com as bochechas levemente coradas.
— Relaxa, eu estava brincando... É que eu acho que passei muito tempo perto do Rafael e você ainda não sabe, mas ele é um ogro – dou de ombros olhando pra ele que sorri.
— Foi a coisa mais fofa que você me disse hoje – ele fala e segura meu queixo, eu lhe dou um tapa afastando sua mão.
— Falando nisso onde vocês estavam? – Vinny pergunta curioso.
— Num club de stripper – Rafael responde rapidamente e me olha.
— E depois fomos jogar sinuca – eu concluo e nós dois rimos enquanto Vinny nos olha sem entender nada.
— É sério? Nós já estamos aqui a quase uma hora...
— Bom, nós não estávamos mexendo no placar de vídeo game alheio – eu falo e ele me olha de cara feia, reviro os olho sem me importar.
— Amanhã nós vamos ter uma festinha aqui no apê... – Rafael anuncia e eu reviro os olhos de novo.
— Festinha?
— É meu aniversário – ele dá de ombros e me olha.
— Achei que fosse mês que vem
— Seu aniversário é mês que vem? – essa é a minha vez de ficar surpresa, Rafael dá de ombros.
— É que a Dani mal consegue esperar pra comemorar essa data tão importante – ele vem passando o braço pelos meus ombros e me apertando nele, seu cheiro é mistura de cerveja com perfume masculino e tenho que confessar que é a mistura perfeita, por isso não o empurro imediatamente.
— Lembra do cara do restaurante japonês?
— O da entrega? – concordo.
— A Lia tinha dado meu numero pra ele, ele ligou hoje querendo sair, eu disse que não dava, ele insistiu em amanhã, eu disse que tinha um aniversário, o Rafael arrancou o celular da minha mão, disse que era o aniversariante e que esperava por ele – ele me olha um pouco desconfiado.
— E o Rafael continua vivo?
— Eu precisava de companhia pra voltar pra casa – dou de ombros e só então empurro o Rafael.
— Bom, o que importa é que amanhã teremos uma festa e pra sermos convincentes sugiro que todos me deem presentes...
— Sonha! E você coloca dinheiro na caixinha – aviso apontando pro Vinny.
— Mas ela nem dormiu aqui – ele rebate e eu dou de ombros.
— Mas pegaram meu vídeo game e mudaram meu recorde – ele faz uma careta e tenta me acertar uma almofada, mas Rafael segura.
— Já estão defendendo um ao outro? – ele pergunta e eu sorrio acenando um adeus.
— Cuidado com esse aí ein – eu aviso pra Bianca que estava apenas nos observando e sorrindo.
— Pode deixar – ela fala, mas quando olha pro Vinny sorri tanto quanto ele sorri pra ela.
— JUÍZO – grito antes de sumir no corredor e entrar no meu quarto eu tiro meu all star e o chuto pra debaixo da cama, tiro meu casaco ficando de sutiã e já estava começando a tirar meu short quando a porta abre.
— Acho que tá rolando um clima – Rafael fala normalmente enquanto entra no quarto.
— Oi? Esse é meu quarto, sabia? E isso é uma porta, aquela coisa que as pessoas devem bater antes de abrir – reclamo e ele apenas vai até a cadeira, tira meu casaco de cima jogando ele pra cima de mim e se senta.
— Tô sem sono e não sirvo pra segurar vela – ele se gira na cadeira como um garoto de cinco anos.
— E eu tô tentando trocar de roupa pra dormir
— Você não vai tomar banho? – ele pergunta virado pra mim e me olhando, sem nenhum problema por eu estar de sutiã.
— Não te interessa – cruzo os braços.
— Uma vez eu fiquei com uma garota que tinha um sutiã igual a esse, só que o dela era branco com rosa e não preto com rosa...
— Ah claro, conversa sobre as lingeries das garotas que você já pegou, estava mesmo no topo da minha lista de assuntos que eu queria discutir antes de dormir. Como você adivinhou?
— Acho que foram essas horas juntos, acho que criamos algum tipo de ligação, sei lá... Tá sentindo? – ele pergunta fechando os olhos e mexendo as mãos em torno dele.
— Tô sentindo que está passando da hora desse “tempo juntos” acabar.
— Que dia é hoje? – ele pergunta como se tivesse se lembrado de algo importante.
— Terça! – eu falo e ele pula da cadeira, vem até a cama e pega o controle da televisão, ele liga e vai passando os canais, até achar o que ele procura, eu acabo rindo quando vejo o filme, American Pie – Por que será que isso não me surpreende? – ele ri e se joga na minha cama – Ah, saaaaai – eu tento empurrar ele e mal consigo fazer ele se mover cinco centímetros.
— Anda, eu divido o espaço – ele me deixa a metade da cama, eu reviro os olhos mas me sento, ele ri de praticamente todas as falas do filme mesmo que eu tenha certeza que ele já tenha visto mais de uma dezena de vezes e mesmo que eu quisesse expulsar ele, na metade do filme também estou rindo e trocamos comentários, ele é óbvio que precisa comparar algumas cenas com algo que aconteceu com ele e isso só gera mais risadas, quando o filme acaba ainda continuamos rindo, ele pega o controle e começa a mudar de canal até que passa por um desses canais adultos, ele para e na tela está o cara com aquela calça de bombeiro, chapéu e suspensório enquanto “pega” a mulher em cima da mesa da cozinha, mas tudo é tão artificial que eu acabo rindo.
— É sério, isso é muito ridículo, como vocês acham isso excitante? – pergunto e ele também ri.
— Nós somos homens, o fato dela ser mulher é excitante
— Eu nunca transaria com um cara que usa suspensório – ele ri e me olha – Sem falar que não tem nem uma história...
— É claro que tem uma história... Ela é uma mulher gostosa, a casa tava pegando fogo, ela chamou ele e ele comeu ela... – eu o olho reprovando o que ele disse – Quer dizer, foi mal! Ele fez um amor selvagem com ela em cima da mesa da cozinha – é impossível não rir.
— Você é um idiota – eu falo ainda rindo – E mesmo assim, se tava pegando fogo ele não deveria apagar primeiro? Não tem sentido!
— E pra quê precisa de sentido? Se eu quisesse ver uma historinha fofa eu alugava uma comédia romântica.
— Muito melhor que isso – ele faz uma cara de como se eu estivesse louca e coloca a mão no coração – Pelo menos tem sentido, sentimento...
— Nós estamos falando de filme pornô ninguém quer sentimento, só sexo – ele aponta pra tv onde a mulher está gemendo ridiculamente – Isso é o que nós queremos ver.
— Fala sério, quem é que geme assim? – eu imito a mulher e ele ri – Isso é tão forçado, aposto que ela nem tá sentindo nada
— Se você imitar o gemido de novo, eu garanto que eu vou sentir
— Vai mesmo, vai sentir um tapa no meio dessa sua cara, abusado – jogo o travesseiro na cara dele.
— Vamos deixar isso mais divertido... – ele sugere se sentando na cama.
— Nem se atreva a terminar essa proposta! Eu não vou transar com você – aviso apontando pra ele.
— Não era essa a proposta, mas preciso recomendar que você pense melhor sobre isso – ele pisca pra mim e eu reviro os olhos – É uma aposta – ele conclui e abre um sorriso de quem está planejando algo.
— Que seria?
— Eu aposto 10, que se a gente aumentar o volume da tv em menos de 15 segundos o Vinny entra aqui pronto pra quebrar minha cara – eu solto uma risada.
— Isso é ridículo
— Não, é divertido – ele me corrige e levanta a sobrancelha esperando minha resposta.
— Ele nem deve tá aqui, deve ter saído pra gravar o próprio filme – ele ri junto comigo.
— Eu aposto 20 que se ele estiver em casa, assim que ouvir ele chega em menos de 15 segundos pra quebrar minha cara, caso ele não esteja ou não apareça você ganha – ele me estica a mão, eu sorrio e aperto sua mão, então ele pula da cama e apaga a luz, volta pra cama deixando apenas a luz da tv, ele me olha rindo e então aumenta o volume, os gemidos invadem o quarto e nós começamos a contagem.
— ... 10, 11, 12... – e pronto a porta do quarto abre tão rápido que chegamos nos assustar, Vinny acende a luz e assim que eu olho pra ele começo a rir descontrolada, Rafael também se junta a mim e sua risada é tão alta quanto a minha, eu acabo ficando sem ar e solto o que parece um som de ronco, isso faz ele rir ainda mais enquanto aponta pra mim.
— Isso não tem graça – Vinny fala mas não consigo parar de rir, nem Rafael – Quer saber vocês dois se merecem – ele sai e continuamos rindo por mais alguns minutos, quando paro minha barriga já está doendo, minhas bochechas estão doloridas e minha respiração meio ofegante.
— Acho que ele não achou tanta graça – Rafael fala enquanto também se recupera, eu desligo a tv que continuava alta – Tá me devendo 20 – ele avisa abrindo a mão e esperando eu pagar.
— Eu não vou te pagar, considere a diversão como um pagamento – ele me observa alguns segundos e então dá de ombros.
— Ok, amanhã você me paga – ele fala e pisca um dos olhos, já se levantando da cama.
— Não se atreva a aprontar nada – ameaço realmente séria, ele sorri misterioso – E amanhã você tem coisas mais importantes pra fazer ou você já falou com seu avô? – o sorriso se fecha instantaneamente, me sinto um pouco culpada, mas ele realmente tem que resolver isso.
— Eu vou resolver! Amanhã – ele garante e me força um sorriso – Agora dorme, não vai ficar assistindo sem mim – ele sai do quarto antes que eu o xingue.
Me jogo deitada na cama e encaro o teto, repassando o dia na minha cabeça e é inacreditável como quantas coisas podem mudar em tão poucas horas, quando eu sai hoje de manhã com ele achei que o máximo que fosse acontecer seria uma história meio complicada e até que acertei nessa parte, o que não passou pela minha cabeça é em como eu ia acabar contando a minha própria história e logo pra ele, pro Rafael, o cara que mais incomodou nos últimos dias e o que é engraçado agora é que todas as coisas que me irritavam nele parecem bobas, acho que o problema era em mim e não exatamente nele, agora que eu pude conhecer ele um pouquinho melhor acabo vendo que na verdade temos algumas coisas em comum, nós dois temos um vazio, o meu já foi preenchido uma vez, eu amei e fui amada, já ele, ainda procura por isso, ele nunca teve alguém ali por ele e pra ele, nem a mãe, nem o avô e o pai mal podia chegar perto, a primeira namorada o traiu com aquele que ele achou ser o seu melhor amigo, então ele simplesmente busca pelo amor do jeito dele e agora eu entendo e não posso julgá-lo por isso, por mais que eu tenha toda essa dor e esse vazio no meu peito, pelo menos eu já tive esse espaço preenchido antes e ele nem isso, então é nesse momento que eu percebo que toda a minha antipatia e irritação por ele se transformaram em um sentimento mais parecido com simpatia embora não seja essa a palavra, é algo que eu ainda não sei explicar, mas que me faz começar a desejar que ele se encontre logo e que sinta pelo menos uma parte da felicidade que eu já senti um dia, acho que ele merece, todos merecemos, pelo menos uma vez na vida.
Eu acordo e quando olho o relógio levo um susto, já são quase onze da manhã, mesmo assim meu corpo ainda parece querer continuar na cama por mais algumas horas, por isso me enrolo e acabo demorando mais alguns longos minutos pra me levantar, vou direto pro banheiro e tomo um banho que consegue me despertar, saio enrolada no meu roupão, afasto a cortina e vejo o sol brilhando la fora, pego um short curto e uma regata, coloco um top por que ela é daquelas largas e que mostram o sutiã, enrolo o cabelo em um coque meio despenteado mas apresentável, então saio do quarto, ouço uma musica tocando ao fundo e sigo o som até a sala, onde Charlie Brown Jr ecoa do celular que está sob o balcão da cozinha, Rafael está mexendo em algo no fogão.
— Bom dia! – ele se vira e sorri quando me vê.
— Quase boa tarde né?
— Eu apaguei!
— Almoço? – ele pergunta levantando a frigideira e orgulhosamente jogando a omelete para cima e a pegando sem que ela se quebre.
— Ó Fantástico, como você é incrível – falo com ironia, mas vou até o armário, pego um prato pra mim e coloco no balcão, ele ri, mas despeja o omelete no meu prato e logo se apressa em despejar mais um pouco da mistura na frigideira enquanto eu tiro um pedaço e como sempre quase suspiro com a combinação de sabores que explodem de tudo que ele faz – É sério, você deveria investir nisso – ele solta uma risada meio fraca.
— Eu até pensaria em investir se eu tivesse pelo menos o aluguel do próximo mês...
— Falou com seu avô?
— Se com falar você quer dizer ter escutado o quanto eu sou um moleque mal agradecido e irresponsável e que a partir de agora estou por conta própria, então sim, eu falei com meu avô.
— Eu sinto muito, mas... Você não tá sozinho, agora você tem a gente, tudo bem que não é muita coisa mas... – eu dou de ombros e dessa vez ele vira o rosto pra me olhar e força um sorriso.
— Valeu! Mas não é minha situação que me preocupa...
— Seu pai? – ele confirma.
— Meu avô disse que vai falar com o tal amigo dele e provavelmente eu fiz meu pai perder a melhor conta que eles tinham.
— Você não fez nada, seu avô fez – ele volta sua atenção pro fogão – Já falou com seu pai?
— Não tenho coragem
— Pois deveria! Acho que se seu avô realmente vai cumprir com o que disse ele deveria estar pronto e não ser pego de surpresa – isso o faz me olhar novamente.
— Você tem razão – então desliza a omelete para o meu prato.
— Ei, essa é sua!
— Depois eu como, preciso avisar ele logo! – ele não espera uma resposta e pega o celular já parando a musica e discando, ele some pelo corredor e eu preciso confessar que saí na vantagem com uma omelete extra, por isso depois de lançar um boa sorte pra ele, eu volto ao meu prato e a cada mordida eu tenho mais certeza que ele faria um enorme sucesso se investisse nisso.
Eu lavo e guardo toda louça, vou pro meu quarto, escovo meus dentes e abro o notebook pra verificar minha caixa de e-mails, estava distraída quando a porta do quarto abre rapidamente, levanto os olhos e vejo Rafael.
— É tão difícil bater antes? – eu falo um pouco irritada, mas quando ele sorri esqueço isso – E aí? Como foi com seu pai? – ele sorri ainda mais – Conta logo, vai me matar de curiosidade – ele se joga na minha cama e me conta sobre a conversa com o pai, ele diz que contou sobre as mentiras e sobre o fato de ter vindo pra cá não em férias, mas pra fugir da pressão do avô mas que agora ele decidiu parar de fugir e enfrentou o avô, que jurou que iria se vingar mas atingindo ele, foi então que o pai dele revelou que na verdade já sabia disso, por que tinha certeza que o avô não aceitaria uma aproximação assim, além do mais na época que ele passou em Londres, o pai dele ligou para o curso que ele disse que estava fazendo e não achou o nome dele na lista de alunos, então ele sempre soube, mas esperava que ele confiasse nele o suficiente pra contar e quanto a empresa, ele também sabia da ligação com o avô, por isso mesmo exigiu no contrato uma clausula milionária em caso de quebra de acordo sem nenhuma razão verdadeira, o que significa que mesmo sendo muito amigo do avô do Rafael, o tal empresário jamais seria louco de quebrar um acordo como esse.
— UAU! Seu pai é tipo... Um gênio – eu falo e ele sorri orgulhoso – Você poderia ter herdado esses genes dele – faço uma cara triste e ele ri.
— Eu sinto que tirei um caminhão de cima dos meus ombros – ele respira aliviado, enquanto se deita de barriga pra cima na minha cama.
— Que bom! Eu disse que ia dar tudo certo...
— Agora só preciso arranjar um trabalho, por que ainda preciso pagar minha parte do aluguel – sinto uma pontada de culpa, eu fecho o notebook e olho pra ele.
— Preciso confessar uma coisa... – ele vira o rosto pra mim e eu faço uma careta – É sobre o aluguel.
— Não me diz que vai aumentar ou então vou ter que começar a fazer programas.
— Como se fosse um sacrifício...
— Eu faço sexo por amor e não por dinheiro
— Por amor?
— Sim, amor a todas as mulheres e ao sexo, óbvio
— Você é um pervertido, sabia?
— Já ouvi algo parecido – ele ri e eu o empurro com meu pé – Mas o que tem o aluguel?
— Ah é... – eu volto a fazer uma careta – É que a gente meio que não paga mais aluguel – ele faz uma cara confusa.
— Mas eu paguei esse mês
— É eu sei, e a culpa é minha e não do Vinny! Bom, o pai dele meio que... Comprou o apartamento, então nós não precisamos pagar o aluguel mais
— E por que eu paguei?
— Por que você é idiota, irritante, pretensioso e arrogante, então eu pedi pro Vinny pra não te contar e deixar você pagando, a gente colocava o dinheiro numa poupança, sei lá...
— Isso não me parece muito certo
— Eu sei, mas você me irritava
— Não irrito mais?
— Muito! Só que... Acho meio injusto agora que você é o mais pobre, desempregado e perdido de nós três – eu falo com um certo sorriso arrogante e ele sorri.
— Então não preciso mais pagar o aluguel?
— Não!
— Nem as contas do próximo mês né?
— Nada disso, as contas continuam...
— É eu sei, só que eu paguei por um aluguel que não existia, acho justo no próximo mês eu não entrar na divisão das contas, além do mais, como você mesma disse, eu sou o mais pobre e desempregado de vocês... – reviro os olhos sabendo que ele tem razão.
— Tá, mas você precisa arranjar um emprego logo
— É, eu sei! Mas enquanto isso, aceito um pedido de desculpas
— Nem vem, eu te contei a verdade e tô te livrando das contas
— Então sua consciência tá tranquila? – ele levanta uma sobrancelha me encarando e eu o odeio nesse exato momento.
— Desculpa – o sorriso que ele abre me faz descobrir que o odeio ainda mais nesse momento – Agora sai do meu quarto que eu tenho mais o que fazer – ele ri e sai da minha cama.
— A gente tem que arrumar as coisas pra mais tarde.
— Eu tô ocupada e por mim nem teria nada – aviso e volto a abrir o notebook, ele ri e então sai do quarto e volto a trabalhar em casa.
Já estava me levantando da cama quando a porta abre, o xingamento já estava na ponta da língua quando vejo Vinny e então eu sorrio quando ele se joga na cama agarrando minhas pernas e me mordendo enquanto eu me esquivo.
— Chegou agora? – um sorriso travesso surge quando ele confirma – Tava com a... “Bianca”? – pergunto sem conseguir disfarçar a ironia que saiu junto com o nome dela, e é claro que ele percebeu na hora, ele se senta e me olha curioso.
— Achei que você gostasse dela
— É só uma garota normal – falo me segurando pra não revirar os olhos.
— Não tão normal assim, fala sério, ela conseguiu quebrar seu recorde, ninguém nunca tinha conseguido isso antes, além do mais, ela gosta de futebol, aliás, gosta e entende, ela sabe o que é um impedimento... – ele fala implicando comigo que nunca sei o que é um impedimento, e isso só consegue me irritar ainda mais.
— Que bom – puxo minhas pernas, jogando-as pra fora da cama e saio um pouco rude demais.
— Ei, que foi?
— Nada
— Você tá com ciúmes – me viro pra ele.
— Você é ridículo
— Então não é ciúmes? – ele pergunta levantando a sobrancelha e eu jamais conseguiria mentir pra ele, por isso reviro os olhos irritada comigo mesma por estar agindo dessa forma, ele se levanta e vem até a mim – Você não precisa sentir ciúmes de ninguém, você sabe disso.
— É, mas você ta aí todo babão dizendo que ela já me superou no vídeo game, sabe todas as regras do futebol e bla bla bla... – ele ri – Daqui a pouco você nem lembra mais que eu existo – agora a risada é ainda mais alta e ele me abraça apertado.
— Garota, você não tem noção do quanto eu te amo né? – eu também o abraço apertado e levanto meu rosto parando de frente pro dele.
— Promete que você não vai esquecer de mim? – ele passa o dedo pelo meu queixo.
— Isso é impossível! Você é minha irmã, eu morreria por você – assim que ele fala eu tampo a boca dele com minha mão.
— Nunca mais, nunca mais repete isso, ouviu? – o pedido é urgente e apenas pensar nisso consegue me quebrar por dentro, ele confirma parecendo arrependido, ele afasta minha mão da sua boca.
— Eu só quero que você entenda que você é a única que eu tenho certeza que eu nunca vou deixar ir, nem se você quiser
— Eu nunca vou querer – ele sorri e beija minha testa.
— Melhor assim!
— Tá, então agora me conta dessa garota super incrível e inteligente... – falo com ironia mais dessa vez nós rimos e enquanto ele conta sobre como estão as coisas entre eles, eu enxergo nos olhos dele um brilho que eu nunca tinha visto antes, um sorriso idiota que ele nunca deu antes e a cada frase ele termina com um certo suspiro e isso só pode significar uma coisa – Você tá apaixonado! – ele me olha, mas não parece surpreso.
— Acho que é um pouco cedo pra afirmar mas... Ela é diferente das outras – novamente aquele sorriso idiota.
— Com certeza você está apaixonado – falo e vou pra cima dele, apertando sua bochecha e fazendo cócegas, ele ri e mesmo sem muito esforço consegue reverter o quadro e então eu estou me contorcendo na cama enquanto ele faz cocegas em mim até eu estar sem ar.
— Eu chamei ela pra vim hoje – ele fala e eu concordo ainda sem ar – Aliás eu ainda não entendi como você aceitou isso assim, sem nenhum escândalo
— Eu não faço escândalos – quando o olho ele ri, eu faço uma careta e me sento na cama.
— É só uma noite com amigos! Acho que o Rafael tem razão, pode ser divertido – agora ele me olha parecendo assustado.
— O Rafael tem razão? Foi isso mesmo que você disse?
— Se você contar eu nego
— Então vocês meio que se entenderam mesmo?
— Meio que sim! – eu dou de ombros – Sei lá, essa história toda dele, acho que ele só quer achar alguma coisa sabe? Se sentir parte de alguma coisa... Se sentir amado, não sei! Ele ficou me enchendo de perguntas sobre você, era como ver uma criança perguntando sobre algum ídolo, os olhos dele brilhavam... – eu conto e Vinny sorri um pouco orgulhoso.
— A gente tem conversado, ele é um cara legal, diferente do riquinho mimado que eu achei que ele era...
— É, também acho! É quase como se ele fosse um ser humano... – eu falo e Vinny solta uma risada alta – Claro que é apenas uma hipótese, melhor não colocar tantas expectativas em cima dele – ele ri e me puxa, me apertando nele.
— É por isso que eu te amo – ele beija minha bochecha de um jeito exagerado – E aí, já viu a transformação que ele tá fazendo lá na sala? – eu o olho e ele ri – Ele tá levando essa coisa de festa a sério.
Eu saio do meu quarto e Vinny vai pro dele pra tomar banho enquanto eu vou pra sala, assim que viro o corredor encontro os sofás afastados, no meio tem o que parece um lençol branco esticado, sobre ele estão vários copos descartáveis coloridos, pratos e guardanapos, além daqueles copos pequenos para doses de bebida, mas eles não foram deixados de qualquer jeito, eles estão organizados, os copos coloridos empilhados como aquela brincadeira de torre de copos, duas delas na verdade, os copos de dose menores formam uma pirâmide, um fio com dezenas daqueles pisca-pisca está passando entre as torres e pirâmides no chão, eu aperto o botão que liga as luzes e preciso admitir que fica muito bom, as luzes azuis piscam e deixam a arrumação com um ar mais elaborado, eu me viro pra cozinha e encontro o balcão com algumas sacolas, já estava indo até lá pra descobrir o que era quando a porta do apartamento se abre e Rafael surge trazendo mais algumas.
— Ah sim, eu agradeço a ajuda, obrigado – ele fala com ironia enquanto eu apenas o olho curiosa, ele coloca as sacolas junto com as outras e me olha ansioso, com um sorriso misterioso.
— E o que é tudo isso? – ele sorri ainda mais.
— Apenas o básico pra uma festa!
— Básico? – aponto as seis sacolas em cima do balcão e ele ri.
— Deixa de reclamar e me ajuda aqui – ele tira as coisas da sacola, uma garrafa de tequila é o primeiro item que aparece.
— AH, você tá brincando né? Tequila? Sério? Era pra ser só uma reunião de amigos
— E desde quando se fazem reuniões de amigos sem tequila? – ele pergunta fingindo confusão, então eu tiro a outra garrafa, e descubro uma garrafa de vodca da Smmirnoff .
— Eu trabalho amanhã
— Para de jogar na minha cara que eu sou um desempregado
— Não é isso, é só que... Ei, espera, como você pagou por tudo isso? Você tem que economizar, lembra?
— Eu acabei de me livrar do meu avô, o homem que vigiava e planejava cada passo que eu teria que dar nos próximos vinte anos da minha vida, então eu meio que preciso comemorar – ele fala e eu sou obrigada a concordar, se estivesse no lugar dele também teria muito o que comemorar, por isso continuamos a tirar as coisas da sacola, e depois das 3 garrafas de bebida, todo o resto são coisas de supermercado, queijo, presunto, farinha e várias outras coisas.
— Pra quê tudo isso, achei que fosse ser pizza – ele sorri orgulhoso.
— E será! A melhor pizza que você já comeu na sua vida, ele joga os tomates pra cima fazendo um rápido malabarismo.
— Existe alguma coisa que você não sabe fazer na cozinha?
— Comida japonesa não é minha praia! Por isso eu já falei com o Vítor e essa parte está resolvida
— OOOO, como assim você falou com o Vítor?
— Falando! Eu liguei pro restaurante e peguei o numero dele, depois liguei pra ele e falei – ele dá de ombros como se fosse a coisa mais normal do mundo.
— E por que você fez isso?
— Eu não sou bom com comida japonesa, acabei de falar e ele trabalha em um restaurante japonês então uni o útil ao agradável – eu continuo olhando pra ele sem saber se ele é irritante assim naturalmente ou se faz de proposito comigo – São quase seis horas, eles chegam as sete, vai ajudar ou vai ficar me olhando?
— Eu odeio você – falo mas dou a volta do balcão pra dentro da cozinha, ele ri e me entrega a tabua e uma faca, reviro os olhos mas começo a ajudar.
— Você nem imagina a cena que eu estou vendo agora – Vinny fala enquanto se aproxima do balcão falando no celular, eu o olho e ele está se divertindo – A Dani com o Rafael na cozinha, segurando uma faca e ela não está apontada pra ele – faço uma careta – Aham, peraí... – ele me estica o celular – É a Lia! – eu solto a faca imediatamente e agarro o celular.
— SAUDAAAADE – eu falo empolgada e ela ri.
Quando desligo tenho certeza que estou com um sorriso animado.
— É pra gente buscar eles no sábado – eu falo já devolvendo o celular.
— Beleza... Ah e sábado eu tenho show
— E você só me diz isso agora?
— Eu soube essa manhã – ele dá de ombros – As oito na quadra municipal
— Meu menino tá ficando famoso – me estico pra apertar a bochecha dele, mas ele se esquiva rindo.
— E o que vocês estão fazendo?
— Pizza!
— Não, não apenas pizza e sim a melhor pizza que vocês já comeram – Rafael fala enquanto gira a massa no ar.
— Ela é recheada com duas colheres de arrogância e uma xícara e meia de falta de humildade – eu falo e Rafael esfrega as mãos de farinha nos meus braços, em resposta tento esfregar minhas mãos no rosto dele.
— Só pra avisar que a Bianca já está subindo – Vinny avisa e nós dois paramos.
— Já?
— São cinco pras sete – ele avisa e Rafael volta atenção pro preparo da massa, ele reclama dizendo que a culpa é minha por que eu sou muito lenta.
— Vai se foder – eu xingo na hora exata em que Vinny aparece com a Bianca do lado, eu nem tinha visto que ele saiu – Foi mal – eu falo forçando um sorriso sem graça, ela ri e diz que não tem problemas, então logo nos oferece ajuda e a cozinha quase fica pequena, ela se oferece pra fazer a guacamole que Rafael cismou de fazer pra comer com os nachos e depois de cortar todos os temperos eu perco a utilidade.
— Você podia tomar um banho, passar um perfume e sei lá, colocar uma roupa legalzinha, que tal? – Rafael fala fazendo uma cara meio reprovadora pra minha roupa.
— Que tal eu pegar o perfume e enfiar no seu... – Vinny levanta a mão na hora e faz sinal pra Bianca, mesmo que ela esteja achando graça, eu finjo um sorriso pra ela e viro as costas enquanto mostro o dedo do meio.
Quando saio do quarto uma musica animada está tocando e já posso sentir o cheiro da primeira pizza começando a assar, odeio o fato de que o cheiro está incrivelmente tentador, eu já implicar com ele quando entro na sala e quase dou de cara com o Vítor, ele está parado na saída do corredor e estava rindo de algo, quando me vê ele se vira pra mim e sorri ainda mais, ele está com uma camada fina de barba e tem um furinho no queixo quando ri, seu cabelo está cortado a maquina, bem baixinho, ele usa uma camisa em gole V vermelha com uns desenhos em dourado, uma tatuagem tribal fica  amostra na altura do seu cotovelo e usa uma calça jeans escura, ele segura uma garrafa de cerveja.
— Oi... – ele fala e se inclina beijando minha bochecha – Você está linda – sorrio um pouco sem jeito, mas agradeço, estou com um vestido estilo camisão do Mickey, ele fica meio caído em um ombro, meu cabelo está solto e passei apenas um batom de leve.
— Então... É, pode ficar a vontade – eu falo meio sem saber o que dizer, ele ri.
— É, já me disseram isso – ele olha na direção do Rafael e em resposta Rafael levanta a garrafa de cerveja pra ele.
— Primeira pizza saindo – eu sorrio aliviada e nós vamos nos juntar aos outros.
Vinny e Bianca não se afastam um do outro, Rafael assumiu a cozinha totalmente e não espera pelo elogio de ninguém, ele mesmo se auto elogia e Vítor se coloca do meu lado no balcão enquanto eu tento não parecer tão sem graça, ele puxa vários assuntos, pergunta onde eu trabalho, o que faço nas horas vagas, eu respondo a tudo com a maior simpatia que consigo mas evito muito contato físico e pra ser honesta em momento nenhum ele tenta forçar alguma barra, pelo contrário, ele se mantem a distância de um passo e faz de tudo pra incluir os outros na conversa também, e preciso confessar que a noite corre realmente agradável, a pizza está perfeita e isso deixa Rafael ainda mais convencido, nós também comemos comida japonesa e em determinada hora já estamos todos espalhados pelo chão da sala, a garrafa de vodca aberta e as risadas ainda mais altas e animadas, Vítor realmente é engraçado, simpático e parece ter descoberto alguma espécie de irmandade com o Rafael por que os dois se dão super bem como se já se conhecessem a anos, eles marcam de sair juntos e Rafael o convida pro show do Vinny no sábado, Vítor afirma que vai, mas logo se vira pra mim e pergunta se eu aceito ir com ele, eu digo que podemos ir todos juntos e Rafael revira os olhos sem que ele veja, eu o encaro e ele finge que não fez nada, nós continuamos a conversa e mal vejo as horas passando, já são 1 hora da manhã quando Vítor se despede.
— Eu espero que a gente possa repetir... – ele fala com um sorriso simpático.
— Claro! Vamos marcar
— Quem sabe na próxima vez você não tenha tanto medo de mim e a gente possa sair... Nós dois – ele sugere e mesmo ele sendo muito legal não consigo me animar muito com a ideia.
— Quem sabe... – forço um sorriso e ele beija minha bochecha.
— Vou torcer que sim – ele fala no meu ouvido, então se despede novamente dos outros e Rafael o leva até a porta.
— Gostei desse cara – ele fala fazendo uma cara de aprovação.
— Percebi, vocês estavam quase se beijando – implico e ele faz uma careta – Eu acordo cedo amanhã, então beijo pra vocês – aviso já indo pro quarto, Rafael grita algo sobre eu ter que ajudar a limpar mas finjo que não ouço, entro no quarto, me jogo na cama e apago rapidamente.


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