MacGuffin escrita por Yuu-Chan-Br


Capítulo 14
Ato 13




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“A imagem de você numa cama de flores também me pareceu encantadora”, de quando em quando a lembrança do moreno a proferir tão absurda frase o assolava, fazendo-o estremecer onde estivesse, a despeito de se tratar da rua, de casa ou do trabalho. Odiava-o. Não conseguia odiar o homem, nem de todo suas ações, mas, com toda a certeza do mundo, odiava como reagia a elas.

Súbito, rosnou e bateu com força a cabeça contra a parede do estúdio, sobressaltando um colega de trabalho.

— Você está bem?

O pobre ainda perguntou, mas Zen logo se desviou da pergunta, puxando-o para ensaiarem suas respectivas falas. Não poderia deixar algo tão estúpido quanto aquilo interferir em sua profissão. Como podia se deixar abalar por algo tão simples mesmo após uma semana inteira? Sentiu-se fraco, incapaz de controlar os próprios pensamentos. Por algum motivo seu cérebro insistia em o fazer recordar não só da maldita fala do amigo, mas também de todo o seu comportamento nos últimos tempos. Era tratado de forma diferente, afetuosa — até demais, inclusive —, e, desacostumado, não sabia como reagir. Sentia-se tolo. Mesmo as conversas dentro do aplicativo mudavam de tom. Conquanto possuíssem um histórico de alfinetadas, e embora ainda tentasse o provocar o mais velho, este dificilmente caía em suas armadilhas, chegando a o deixar constrangido diante dos demais, rendendo infindáveis zombarias por parte de Seven e Jiyeon.

Quando enfim chegou em casa, ainda atormentado pelo descontrole do próprio ser, deparou-se com algo a lhe chamar a atenção sobre a mesa de centro da sala. Ao se aproximar, sentiu o peito apertar e quase romper em mil pedaços sobre o chão. Ali havia um pequeno retângulo rosa em papel de linho, encaixado cuidadosamente dentro de um envelope com semicírculos nas laterais, ligados por um laço cintilante e vazados com efeito de renda de flores. Ele não precisava ser um gênio para saber do que se tratava, e especial com o aviso prévio da amiga. Sentindo o ar lhe faltar, retirou o papel rosado de seu invólucro e o desdobrou, enxergando no topo os nomes de ambas em letra cursiva num tom de pêssego. A realidade era deveras cruel.

***

Sentado em sua confortável poltrona, Jumin encarava sobre a mesa de madeira o convite já aberto, com os nomes das noivas e informações quanto à hora e o local da cerimônia, assim como da festa a seguir. Já estava à par de tudo, visto como fora ele mesmo a reservar o local junto à organizadora do evento, tornando a entrega do papel uma mera formalidade. Surpreendera-se ao ver o mais novo casal a o visitar em sua sala, a lembrança ainda fresca.

— Isanim, o senhor tem visitas — dizia Yoosung do outro lado da linha, numa voz mais animada do que o normal.

— Mas não estou esperando visitas — comentou com descrença, arrancando do loiro uma pequena risada.

— Isanim, acabei de checar sua agenda e existe uma brecha de vinte minutos para nos atender.

Os olhos griz do moreno se arregalaram ao reconhecer a voz tão familiar, possuindo sentimentos ambivalentes quanto à nostalgia provocada pela conversa.

— Pensei que tivesse se aposentado desta profissão, Jaehee. — Ouviu-a rir e sentiu uma estranha leveza no peito. Não ria daquela forma quando trabalhara lá.

— Foi apenas uma pequena lembrança em nome dos velhos tempos. Jumin-oppa, pode nos dar alguns minutos? É importante.

— Podem entrar — soltou num suspiro e ergueu-se da cadeira, não tardando a ver as duas adentrando o cômodo.

Já notara antes, mas as combinações de roupa se tornavam ainda mais óbvias com o passar dos dias. Ambas vestiam blusas de lã por dentro de saias, sendo a de Jaehee aberta em “A” enquanto a de Jiyeon era pregueada. A necessidade sentida por casais em combinar ainda lhe parecia alienígena e, talvez por isso, tenha as encarado por tempo demais.

— Ju-ssi?

Ter o nome chamado o trouxe de volta à realidade e não tardou em lhes dar espaço, chamando para que sentassem nas cadeiras em frente à própria mesa. Após estarem todos acomodados, perguntou:

— A que devo a visita inesperada?

— É mesmo tão inesperada assim, às vésperas do casamento? — Jaehee se divertiu, distraindo-o do farfalhar da bolsa da outra.

— Ta-da! — Jiyeon soltou um efeito sonoro ao estender ao moreno o convite.

— Já ficaram prontos? — Surpreendeu-se com a eficiência do trabalho, tomando o papel decorado em mãos.

— Não foi rápido? — a mais nova perguntou.

— Aaah, não consigo agradecer o suficiente por ter conseguido essa moça… Não sei como ela faz, mas ela faz! — a outra disse e pôs ênfase no final, divertindo a noiva.

— E todos já foram entregues? — Ele alternava o olhar entre as duas e o retirar do papel rosado do envelope branco.

— Bem, entregamos o do Yoosung-ssi na entrada e combinamos de sair com Seven-ssi mais tarde para isso — Jiyeon respondeu.

— E o Zen? — inquiriu sem dar muita atenção, apenas por estranhar a ausência do nome, mantendo sua atenção ainda voltada aos dizeres do papel em mãos.

O silêncio do casal, contudo, fê-lo desviar do foco para as moças diante de si. Arqueou uma sobrancelha em curiosidade, considerando sua reação deveras incomum.

— Vocês vão o convidar para o casamento, não?

— Claro! — Jaehee disse às pressas, dolorida por ter o ponto posto em cheque. — Nunca, sequer por um momento, passou pela minha cabeça deixar Zen-ssi fora da cerimônia. Ele não é apenas um membro importante do RFA, como também é um amigo muitíssimo precioso… — Segurou uma mão na outra e levou ambas ao peito, dolorida.

— Jaehee-ya — a amada chamou e segurou uma de suas mãos, puxando-a para si antes de voltar os olhos a Jumin. — Ju-ssi, nós não seríamos tão desnaturadas a ponto de não o chamar, mas admito que fiquei receosa sobre entregar pessoalmente — riu de nervoso.

Era possível notar o incômodo de ambas, em especial Jiyeon, a qual punha para trás da orelha uma mecha de cabelo teimosa enquanto brincava de apertar a mão da noiva num ritmo inventado.

— Pode ter sido egoísta de nossa parte ele ser o único a não receber o convite em mãos, mas… — Ergueu os olhos âmbar em sua direção.

— Não queria o ver triste — Jaehee admitiu, correspondendo aos suaves apertões. — Se talvez ele tivesse uma reação negativa, eu… — Mordeu o interior dos lábios. — Só de pensar em como ele ficaria, não tive coragem de ver ao vivo.

Era difícil não simpatizar com as duas, dada a situação, embora Jumin também temesse a reação do ator quando descobrisse ter sido “excluído” de algum modo — V e Luciel pareciam ser os únicos capazes de esconder informações do resto do grupo com eficácia.

— Muito bem — ele retomou a conversa, a cabeça já demonstrando indícios de latejar. — Não possuo intenção alguma de as julgar. Desejo toda a felicidade do mundo, do fundo do coração, ou não teria colaborado com o casamento. — Entrelaçou os dedos sobre a mesa diante de si. — Também penso já ter passado da hora de Zen deixar de se afetar com isso. Ele as verá no casamento, de todo modo não haverá como evitar seu sofrimento, se de fato ele ainda se incomodar com isso. — Notou o pesar na expressão de Jaehee ao terminar a frase, embora a magoar não fosse sua intenção. Tentou reformular o que viria a seguir. — Eu quero dizer… Vocês não devem se preocupar com a reação dele, não está a seu alcance a mudar. Se for para ele ficar triste, ficará. Cabe apenas a ele reunir forças para superar isso, mas vai ser mais difícil se fugirem dele.

Durante quase toda a fala, podia-se notar um leve concordar de Jiyeon com a cabeça, enquanto Jaehee parecia mais dolorida.

— O que eu quero dizer com tudo isso é… — Ergueu-se da cadeira, ambas as mãos espalmadas na mesa, e sorriu. — Parabéns. O dia de vocês está chegando, então não se preocupem com mais nada nem ninguém. Foi para isso que indiquei a cerimonialista.

O ar pareceu se tornar uma vez mais leve, ambas devolvendo a expressão do moreno.

— Vamos fazer algo para compensar isso, com certeza! —  respondeu, animada. — Ah, Ju-ssi, tem uma última coisa…

Jumin se interessou pela fala, mas a mais velha não continuou. Em vez disso, ela deu pequenos tapas sobre a mão da outra, como se a encorajasse a falar. Jaehee, cuja expressão pendia entre satisfação e constrangimento, ainda levou alguns instantes até conseguir proferir:

— Gostaria de me acompanhar ao altar? Tentei conversar com minha família, mas… — Meneou a cabeça em negativo, melancolia pairando sobre seu ser. — Além disso,considerando como você foi o principal entusiasta de tudo…

Estupefato, ele as encarou de olhos arregalados e não de seu conta de quando caiu sentado de volta na cadeira. Sua reação as divertiu.

— Sim — murmurou e pigarreou ao sentir a voz travada na garganta. —  Sim, será uma honra te acompanhar ao altar.

Jumin ainda se recordava da expressão de quase choro da ex secretária e de como parecera feliz com sua resposta tão simples. Seu foco, porém, estava no rapaz de madeixas brancas. Ele não sabia dizer, com toda a sinceridade, qual situação era pior: ser o único a não receber o convite em mãos ou o receber, com todo o peso de ver a felicidade da amada em se casar com outra pessoa — conhecia aquela dor bem demais para a ignorar. Pressionou as pontas dos dedos contra a testa, massageando-a. Guardou o convite numa das gavetas e  retirou o celular do bolso, observando no aplicativo uma conversa em aberto.

Jiyeon: Seven-ssi, você está atrasado!

Ela enviou um emoji seu cujos olhos reluziam, prestes a chorar.

707: Eu sei, eu sei, mas precisei terminar um trabalho com pressa e acabei pegando trânsito.

Jaehee: ...Você está dirigindo enquanto fala conosco?

707: …Talvez?

Jaehee: Não use o celular enquanto dirige.

Foi a vez do ruivo enviar uma animação sua, frustrado enquanto balançava as mãos para cima e para baixo.

707: Eu ligo quando estiver chegando, então!

Jiyeon: Ok, estamos esperando!

Jumin se divertia com a conversa, era sempre interessante ver os integrantes do RFA quando conversavam entre si. Mais ainda, sentia como os ares do grupo haviam mudado desde a chegada de Jiyeon. Pareciam mais unidos, até, e  perceber isso nos pequenos atos sempre lhe acalentava o coração. Ao menos assim pensava até Zen entrar na conversa.

Zen: Ah, passeio? Que sortudo, também queria ver elas. T_T

707: Sssshhhh, você já tem o Juju~

Zen: ESCUTA AQUI--

O hacker enviou outro emoji seu, desta vez se balançando de um lado a outro com interrogações à volta.

707: Vai ser um passeio rápido, só quero pegar o convite e tomar um café. ♥

Zen: Convite?

707: Sim, do casamento! Você não recebeu, Ji-ssi disse que eu era o último do grupo.

Zen: Eu recebi, sim… Mas o meu veio pelo correio.

707: lololol o Zen-hyung é excluído~~ A essa altura você devia se sentir satisfeito por receber o convite!

O ator enviou-lhes uma imagem animada sua bravo, fazendo careta.

Jaehee: Seven-ssi, tenha modos! Isso não é brincadeira que se faça!

Jiyeon: Você ainda está digitando enquanto dirige?

707: ...OPS--

O ruivo saiu da conversa de repente, como costumava fazer, deixando para trás o clima pesado — de todos os participantes, Seven conseguia sempre criar alguma situação incômoda, como se este fosse seu passatempo preferido. Talvez o fosse, de fato, dada a recorrência da ação. Suspirou. Jumin conseguia medir como as outras duas pareciam se esforçar remediar a situação, no entanto tudo fora posto a perder por uma brincadeira estúpida. Como podia ser mais infantil do que o membro mais novo do grupo?

Zen: ...Jae-ssi, é verdade? Eu sou o excluído? Eu fui o único a receber pelo correio?

Jaehee: …

Zen: …

Jaehee: …

Zen: Entendi. Haha… Nunca pensei que seria excluído do casamento, mas acho que eu mereci isso, afinal.

Jaehee: Você não é excluído do casamento! Zen-ssi, o convite foi enviado de coração, desejamos sua presença lá!

Jiyeon: Zen-ssi, se não quiséssemos sua presença, não teríamos te mandado um convite!

Zen: Não, está tudo bem, de verdade.

Jaehee: Zen-ssi…

Jiyeon: Olha, é verdade, nós fazemos questão da sua presença… Zen-ssi, precisamos ir agora, Seven-ssi acabou de ligar avisando que chegou, mas eu prometo que vamos compensar isso pra você, viu?

Jaehee: Eu sinto muito…

Ambas saíram da conversa logo em seguida.

Zen: Não acredito que fui o único a não receber em mãos…

“Gostaria de mais um caminhão de flores para preencher seu vazio emocional?”, Jumin enviou, parte brincando, parte em sério.

Zen: GAH! DESDE QUANDO VOCÊ ESTÁ AÍ?

“Desde o início…?”, divertiu-se com sua surpresa. Estava tão entretido com a conversa a ponto de não notar sua presença.

Zen: Por que você ficou aí sem dizer nada?

“Não tinha nada relevante para dizer”, admitiu. Na verdade temia dizer algo e piorar a situação.

Zen: Então você viu tudo…

“Vi, sim.”

Zen: Eu me sinto meio idiota, sabe? Bem quando achei que estava melhorando.

“Zen…”, sabia bem como continuaria a frase. Sua posição desde o início permanecia a mesma: preferia que o homem guardasse os sentimentos mais problemáticos para si ou os compartilhasse com os demais membros do grupo, impedindo animosidade com as outras duas, mas o ator parecia ter atingido seu limite.

Zen: Eu estava tentando, sabe? De verdade, porque quero muito que elas sejam felizes.

“Zen, é melhor não continuar”, advertiu. Aquele era um caminho sem volta e não desejava piorar ainda mais a situação.

Zen: Mas parece que nada adianta, haha. Por que eu tentei, então?

“ZEN!”, foi sua última mensagem antes de sair do aplicativo. Às pressas, e com a certeza de confundir o amigo com sua partida repentina, dedilhou a tela de toque até pressionar o ícone de ligação — havia demorado além do costume para o encontrar, decerto pela afobação de o fazer logo. Ouviu o ruído de chamar e aguardou, seu interior a queimar como se corroído por ácido, durante a pequena eternidade em que o esperou atender.

— Alô?

Uma pontada no peito. Sentiu-a intensa ao notar a voz trêmula do outro lado.

— Se você pretende fazer um desabafo detalhado, é melhor que o faça por aqui.

— Ah, o grande Diretor, sempre frio e calculista — soltou num riso esganiçado encerrado em segundos, dando espaço a um estranho silêncio. — Eu não sei o que falar, só queria parar com isso. Como faz pra desligar um sentimento? Você deve saber — troçou, mas hesitou no segundo seguinte. — Desculpa — grunhiu.

O farfalhar ouvido por Jumin do outro lado dava a entender que o rapaz se acomodava sobre o sofá ou esfregava o rosto. Talvez estivesse chorando? Ao menos sua voz era um indicador positivo do ato.

— Eu estava falando sério sobre as flores — admitiu, incerto da fala ideal.

— Eu sei — acabou achando graça. — Só pensei que não seria deixado de lado, sabe? Ver elas juntas, felizes, planejando o casamento… Eu sei, aliás, vocês fizeram questão de reforçar, como isso era mesquinho e por isso não tava mais me metendo, mas… Do que adiantou se elas não gostam de mim?

— Elas gostam de você.

— Então por que não me entregaram em mãos?

Jumin sentia a cabeça latejar com ainda mais intensidade. Estava em conflito. Não conseguia reagir com sua costumeira lógica, não no momento. A ideia de ver o amigo a sofrer lhe perfurava o âmago, mas, além disso, também sentia outro algo. Não soube dizer ao certo quando ou como, mas cada expressão de tristeza, cada olhar melancólico lançado por ele a Jiyeon lhe revirava o estômago. O que era aquilo? Não parecia seu corriqueiro incômodo por ver o sofrimento alheio de algo além do alcance, era mais profundo, mais intenso. Doía, doía mais do que julgava ser capaz de suportar. Possuía a vaga lembrança de familiaridade com tal sentimento, mas não conseguia o identificar com precisão, provocando-lhe mais angústia ainda.

— Porque gostam de você — disse com certo custo, os pensamentos dispersos pela falta de foco. — Mas como tudo já ficou às claras, talvez seja melhor você falar diretamente com elas.

— Por que não me deixou falar no chat? Por que ligou pra mim, então? — confrontou-o, irritadiço.

— Porque no aplicativo não era uma conversa direta. Querendo ou não, as pessoas sentem liberdade para serem mais agressivas quando se veem através de uma tela. Você precisa conversar frente a frente, tornar o contato mais humano.

— Isso soa irônico vindo de você — divertiu-se.

Em contraste à sensação anterior, ouvir o rapaz mais alegre após uma conversa consigo lhe acalentava o peito. Conquanto fosse algo positivo, não conseguia evitar a frustração causada pela montanha-russa de sentimentos num espaço de tempo tão curto. Não sabia lidar com aquilo, perdera o hábito de ter emoções tão acentuadas, não as sentia de tal modo há anos.

— Oh, sim, havia esquecido que você me vê como um robô — sua fala transparecia uma leve irritação, mais pelo próprio descontrole do que pela provocação do amigo.

— Um robô que manda flores — troçou.

A singela zombaria do mais novo bastou para lhe trazer cor de volta à expressão sisuda.

— Se tiver alguma outra sugestão, estou disposto a ouvir — devolveu-lhe o gracejo.

— Eu não! Você se empolga e manda um caminhão inteiro! Nunca ouviu falar que qualidade é melhor do que quantidade? — ria, um grande contraste com a voz de melancolia e revolta de outrora.

— Hm? O Imponente Zen está me pedindo um presente? Um de alta qualidade, ainda? — também riu ao ouvir o engasgar do outro com as próprias palavras.

— Não estou pedindo! Só estou dizendo que se um dia você quiser dar um presente pra alguém, precisa ter bom senso de não soterrar a casa da pessoa — grunhiu.

— Sua casa é pequena demais. — Acomodou-se melhor na poltrona, pressionando os dígitos sobre o estofado macio. — Sua carreira vai bem, não? Deveria considerar se mudar para um lugar melhor.

— Gosto daqui — rosnou. — E não mude de assunto!

— Pois bem… O que seria, então? Talvez uma nova moto?

Jumin começava a considerar as possibilidades que deixariam o ator contente. Não compreendeu ao certo o motivo de sua primeira imagem mental ser o rapaz mudando para sua casa — talvez por ter mencionado como precisava de uma moradia melhor —, mas logo afastou o pensamento para longe.

— Lá vem você com essa mania de grandeza de novo…

Apesar de não o ver, o moreno era capaz de visualizar o rapaz revirando os olhos em irritação.

— Não precisa comprar coisas caras pras pessoas gostarem de você, viu? — bufou. — Você pode fazer coisas mais simples e de graça, também.

— Você é sempre o único a rejeitar meus presentes — soltou quase num muxoxo, estranhando a si mesmo.

— Não é verdade!

— É, sim. Eu precisei levar as flores de volta, não? — Reclinou-se melhor contra o encosto e dobrou as pernas, começando a se cansar da discussão.

— Não todas…

Mesmo a frase saindo num murmúrio quase inaudível, o CEO a escutou, o coração a sofrer um pequeno sobressalto como consequência.

— Não? — perguntou sério, sentindo a respiração parar até receber a resposta.

— Não… — disse, custoso. Não queria admitir a verdade, apesar de já o ter feito. — Ficou um buquê.

— Oh? — Animou-se, voltando a se curvar sobre a mesa, achando ainda mais graça do grunhido recebido em retorno.

— Isso não é um passe livre pra você entulhar minha casa de coisas, tá? — resmoneou.

— Entendido — ripostou com resquícios de riso na voz, irritando o albino mais um bocado. — Então pensarei em algo apropriado.

— Eu não quero nada! — bradou, em vão.

Jumin não sabia ao certo como, nem quando, mas o desvio de foco da conversa do casamento para a interação entre ambos lhe agradava em imenso. Havia a satisfação de alegrar o amigo, esse tanto era inegável, mas parecia haver também algo além, um sentimento meio encoberto, desejando permanecer nas sombras. Sentia-o já há certo tempo, mas sempre fazia questão de o ignorar, como se pudesse emergir de uma só vez caso fosse investigado a fundo. De todo modo, preferiu manter a atenção no diálogo, os pensamentos ainda concentrados em possíveis presentes ao albino, incerto se deveria comprar algo que lhe apetecesse de fato ou lhe pregar uma peça — a reação com as flores fora preciosa demais para deixar passar.

— Ei, tá me ouvindo? — Zen continuou, do outro lado, forçando-o a sair de seu enfoque. — Se me aparecer com mais um presente exagerado você vai ver só, viu?

Um riso mal abafado escapou pelos lábios do mais velho à fala.

— “Vai ver só”? — divertiu-se. — Que ameaça é essa?

— Escuta aqui, você ligou pra ficar rindo da minha cara?! — frustrou-se.

— Zen? — chamou-o, ainda achando graça.

— Quê? — grunhiu em resposta.

— Está melhor? — Não conseguiu evitar um singelo sorriso a lhe pairar nos lábios conforme proferia a pergunta.

Houve uma pausa, um momento durante o qual o mais novo refletia a respeito do questionamento. Jumin só podia imaginar o que lhe passava pela cabeça, mas a satisfação de o fazer sentir-se melhor perdurava, um estranho senso de realização instalado em si pelo feito.

— Obrigado.

A fala repentina do ator pegou o moreno desprevenido, causando outro sobressalto em seu coração — precisaria visitar um cardiologista, caso continuasse daquela forma. Pressionou a mão sobre a roupa, pegando um bocado do terno, da camisa, da gravata… sentiu o peito apertado, como se falhasse em lhe bombear o sangue pelas veias, defeituoso. Estremeceu.

— Jumin-i? — Zen chamou, preocupado com seu súbito mutismo.

— Não estou acostumado com sua gratidão — admitiu com toda a sinceridade, já se preparando para ser repreendido.

Não foi. Em vez disso, Zen resmungou baixo e disse, carregado de indignação e uma pitada de humor:

— É melhor ir se acostumando.

— Isso quer dizer que você vai demonstrar gratidão até eu me acostumar? — incitou-o.

— Isso vai depender de você — retorquiu no mesmo tom de outrora.

— Oh, vou me esforçar, então.

— Ah, é? — conter o breve riso agudo fora impossível, deixando-o passar pela ligação até o outro. — Agora é melhor desligar, ainda preciso praticar minhas falas pra amanhã.

— Certo. Vou pensar no seu presente, então. — Achou graça do seu bufar em resposta. — Até logo.

— Até.

Jumin encarou o celular por infindáveis instantes, o nome do rapaz ainda visível na tela de LED. Não possuía uma foto, jamais aprendera como configurar tal função, ficando assim um avatar predefinido pelo próprio aparelho. Talvez devesse mudar. Tirou o telefone do gancho e ligou para seu assistente, ouvindo a linha chamar. Fê-lo por minutos antes de desistir, estranhando.

— Ele não costuma demorar para atender… — Preparou-se para discar seu ramal um segunda vez, quando ergueu o rosto ao tímido abrir da porta da sala, dando espaço ao rapaz de cabelos loiros.

O pequeno se aproximou com toda a morosidade de seu constrangimento, os olhos púrpura percorrendo os cantos do cômodo, evitando contato direto com os de Jumin. Seu desconforto era óbvio, incomodando o mais velho.

— Assistente Kim, você gostaria de me dizer algo? — Arqueou uma sobrancelha.

— Ah… — Fez um pequeno malabarismo com as pastas de documentos em mãos e soltou uma risada nervosa conforme se aproximava, tentando não demonstrar sua ansiedade, sem muito sucesso. — Isanim, chegaram estes documentos para você assinar… — Entregou-os em mãos.

— Certo. — Tomou a pequena pilha de papel e a pôs em frente a si. Ergueu o rosto e se deparou com o rapaz ainda a o observar, seus olhos indo inquietos de um canto a outro enquanto sua boca se contorcia. Num suspiro resignado, soltou o impresso de volta sobre o móvel e se focou no mais novo. — Sim?

— Ah, não é nada — gaguejou, pondo em dúvida a veracidade de suas palavras. — Eu só pensei se você, uh… Você já almoçou? — por fim, disse. — Sei que não gosta que eu saia ao mesmo tempo, mas… Você se importaria de almoçar comigo hoje?

Jumin arregalou os olhos. Nunca, durante todos os anos com Jaehee como secretária, fora convidado por ela para um almoço. Confuso pelo pedido repentino, custou a dar uma resposta, embora sua expressão deixasse claro o quão satisfeito ficara com o pequeno gesto.

— Sim, claro.


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Notas finais do capítulo

[Yuu-Chan-Br]: WELP, alguém aí consegue adivinhar sobre o que Yoosung quer falar? E o que acharam da atitude das meninas? E da reação do Zen? E de como o Jumin lidou com toda a situação?



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