MacGuffin escrita por Yuu-Chan-Br


Capítulo 15
Ato 14




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De iluminação azulada, com espelhos e luminárias cromadas pendentes do teto, a escolha do local surpreendera um bocado Jumin, cujos passos lentos e firmes adentravam o recinto enquanto seus olhos se perdiam pelos detalhes da decoração.

— Aqui é perto do escritório, mas nunca  visitei — murmurou para si mesmo.

— Chama a atenção, não? — Yoosung comentou, achando graça em sua admiração.

— Sim. É impressionante como seus gostos mudaram durante esse ano.

Apesar de o dizer como elogio e haver um bocado de satisfação em sua voz — talvez até orgulho por ter, de certa forma, influenciado o menor —, a reação do loiro não fora de todo agradável.

— Mas, Jumin-hyung, eu escolhi aqui por pensar que você se sentiria mais à vontade. — Pôs-se diante de um dos sofás de estofado claro na madeira escura e esperou o chefe sentar primeiro antes de também o fazer, no assento em frente ao seu.

— Quanta consideração — divertiu-se, aceitando o menu oferecido por um dos funcionários do local, o qual disse as recomendações do dia e se afastou com a promessa de retornar em breve para anotar seus pedidos. — Pois bem, você possuía um assunto para tratar comigo?

— Ah, sim…  

Lá estava o mesmo desconforto de antes, notável pela expressão retorcida. Ela continuava torta a despeito dos esforços do loiro em sorrir e parecer amigável, como se algo dentro de si quase quebrasse frente a hipótese de um detalhamento do assunto. Por que o convidara para almoçar se não pelo intuito de lhe contar seus pensamentos? Não fazia sentido.

— Vamos pedir primeiro? — emendou à fala anterior e abriu o cardápio diante de si.

Apesar das tentativas de amenizar a situação, os apontamentos sobre as opções da lista soavam forçadas. Apreciava o empenho do pequeno em ser simpático, mas preferiria ir direto ao ponto. Quando o garçom se aproximou, requisitou uma taça de vinho e um dos pratos recomendados, não gozava de paciência o bastante para analisar o menu como o subordinado fazia. Talvez por se sentir pressionado, Yoosung acabou por também escolher um prato às pressas, junto a um copo d’água, arrependimento a se apoderar de si no instante seguinte.

— Os pedidos foram feitos, poderia me dizer o que houve agora?

O assistente soltou um pequeno riso nervoso e se encolheu no próprio assento, os olhos desviaram ao aquário ao lado, funcionando como divisória para outra pequena sessão com sofás e uma mesa, dando mais privacidade a todos os envolvidos. Jumin sentiu-se cansado. Prezava seu cuidado e seu carinho, mas detestava rodeios, cansavam-no; considerava-os desnecessários.

— Yoosung — chamou, tendo sua atenção sobre si —, seja o que for, você pode me contar. Não me deu nenhum motivo para insatisfação até agora, então, se seu medo é me desagradar, não tenha.

Na verdade detestava a necessidade de verbalizar suas intenções. Para ele, Yoosung era seu amigo antes de subordinado e considerava sinceridade indispensável em qualquer relação pessoal. Deveria ser óbvio para qualquer pessoa, mas aprendia, a duras penas, como o “óbvio” podia ser variável.

— Não estava tentando enrolar de propósito, eu só — suspendeu a fala, medindo as palavras. — Bem… — Limpou a garganta e voltou a sorrir, desta vez com maior naturalidade. — Jumin-hyung, você e Zen-hyung estão se entendendo melhor esses dias, não?

O moreno ergueu um sobrolho. Se a conversa decorreria a respeito daquele assunto, entendia menos ainda a necessidade de tanta apreensão por parte do outro.

— Sim, estamos — respondeu. — Tenho muito a agradecer a Jiyeon pela ideia da agenda, tenho certeza que Zen não teria aceitado se não por isso.

— Ele consegue ser cabeça-dura quando quer — divertiu-se —, embora seja verdade para os dois lados.

Havia um resquício de receio na fala do menor, mas não se importou com isso. Jumin conhecia muito bem o próprio temperamento, sabia como se tornava irredutível em certas situações e compreendia que tal comportamento afetava suas relações — embora precisasse chegar a um extremo com Jaehee para chegar a tal conclusão. Riu de si mesmo ao pensar como o óbvio podia variar também para a mesma pessoa, dependendo do ponto de sua vida.

— Era sobre isso que você queria falar? — Observou pela visão periférica o garçom a servir a bebida em sua taça.

— Ah, sim — titubeou, o nervosismo custando a o deixar. — De certo modo é sobre isso, sim.

Ambos se olharam por constrangedores segundos e assim permaneceram mesmo após a partida do terceiro funcionário. Jumin sentiu-se de volta à infância, quando disputava concursos de encarar com V — a lembrança por si não era ruim, mas, como adulto, o ato se tornava frustrante.

— Yoosung? — instigou-o a continuar, agoniado com a demora.

— Bem… — Pegou o copo sobre a mesa e dele sorveu um gole, soltando um pequeno suspiro. — Vocês estão passando bastante tempo juntos, não é? Eu fico me perguntando o quanto a relação de vocês mudou… Essas coisas — soltou outro riso nervoso e tomou mais um gole da água.

O CEO falhava miseravelmente em se aperceber da fonte de agonia do menor, cujas mãos demonstravam um princípio de tremedeira.

— Não brigamos mais com tanta frequência ou intensidade, acho — ponderou ao rodear a base da taça com o indicador, enxergando-se no reflexo do líquido. — Nossas conversas são mais agradáveis, num geral, embora ainda existam algumas alfinetadas em tom de brincadeira.

Conforme ele se recordava dos recentes encontros com o ator e os comparava com os mais antigos, regados a troca de farpas e culminando num encolhimento da interação de ambos, era um salto e tanto. A satisfação lhe trazia calidez ao peito: não só pelo contentamento de terminar a atividade proposta com bons resultados, mas por, enfim, obter e demonstrar melhor afeto pelo outro — e vice-versa —, tarefa que antes se mostrava quase impossível. Sorriu ao soltar um diminuto suspiro, chegando a fechar os olhos. A expressão de Zen quando fora buscar o excesso de flores, fora de série, ficou gravado numa parte especial de sua memória. Se pudesse descrever, seria um quadro emoldurado na sala de estar de suas lembranças. Súbito, recordou-se de algo.

— Assistente Kim, gostaria de sugestões para presente, inclusive. Havia pensado em alguns, mas ele me impôs tantas restrições que perdi o foco.

Yoosung estremeceu no sofá, sua expressão retomando a estranheza perdida outrora. Remexeu-se sobre o assento e retirou os óculos vermelhos, limpando-os num pano de microfibra retirado do bolso do terno enquanto emitia diminutos ruídos de incômodo.

— Ah, sim, claro… Não vai ser difícil encontrar um presente — soltou num riso desconcertado. — Mas… — Baixou o rosto, ainda observando os óculos em mãos. — Jumin-hyung, o que você acha de tudo isso? Em especial sobre esses presentes… É a segunda vez que você me pede para comprar algo para o Zen-hyung em pouco tempo. — Ergueu os olhos púrpura em sua direção pouco a pouco.

— E qual é o problema? — Ergueu um sobrolho. — É ruim querer presentear um amigo?

— N-não, de modo algum! — Reacomodou os óculos no rosto às pressas, atrapalhando-se na explicação. — Não é um problema, é só incomum? — tentou rir, mas desistiu da ideia pela metade. — Eu não consegui evitar de me perguntar… o que te fez mudar de ideia assim.

— Mudar de ideia? — estranhou.

— Sim… Nunca antes eu tinha te visto dar presente para os outros sem um pretexto ou uma data comemorativa e agora você não só deu um caminhão — enfatizou a palavra — de flores para ele, como quer dar outro presente num espaço curto de tempo. Foi uma mudança e tanto, não?

Confuso quanto à assertividade do assistente, Jumin se pôs a pensar sobre o apontado. Não havia visto seus próprios atos como incomuns. Na verdade, não havia parado para refletir a respeito dos mesmos com tanta profundidade, apenas agira de acordo com seus ímpetos, visto serem ações simples e que não prejudicariam a ninguém — ao menos assim considerou até receber a reclamação do ator. De onde vinha tal querer? E por quê? De quando em quando ele se fazia tais perguntas, mas sempre as afastava para longe por não as considerar dignas de importância. Ao ser indagado de forma tão direta, porém, via-se fadado a bater de frente com o estranho senso de familiaridade causado pelo sentimento.

— Já dei presentes sem pretexto ao V — murmurou e viu de imediato a expressão do loiro nublar.

Divertiu-se por ele ser sincero em específico com seu desgosto pelo melhor amigo. Apesar de não saber o assunto, era palpável como Yoosung tentava lhe dizer algo pelas entrelinhas, falhando miseravelmente em sua tarefa.

— É mesmo? — soava desgostoso. — Mas você já deu flores pra ele sem pretexto?

Não se recordava. O amigo costumava preferir livros ou algo relativo a suas fotografias. A longa pausa não devia ter cooperado para a falta de paciência do menor, pois ele não conseguiu esperar muito antes de retomar sua investigação:

— E o que te faz ter vontade de dar presentes para ele?

Aquela indagação possuía uma resposta pronta. Jumin já havia se perguntado o mesmo e chegado num resultado satisfatório, então disse, orgulhoso do próprio raciocínio:

— Gosto de suas reações — divertiu-se, os cantos dos lábios subindo numa discreta curva enquanto aproximava o cálice da boca, sorvendo um gole de seu líquido. — Mesmo sendo reações adversas, como com a grande quantidade de flores, são sempre interessantes. Por um lado sinto vontade de o agradar para receber um retorno positivo, embora por outro fique tentado a o provocar por me divertir com suas pequenas revoltas. — Olhou-se de soslaio no reflexo da divisória de aquário. — Embora esse tanto não tenha mudado desde o início. — Tomou outro gole da bebida.

— E o que você acha disso? Aliás, a ideia das flores não veio depois de ele ter dado uma indireta de querer passar mais tempo com você? — Aproximou-se da mesa em automático.

— Sim… Mesmo ele não sendo sincero, foi curioso o ver demonstrar saudade. — A expressão se intensificou em seu rosto, metamorfoseando-se no mais profundo deleite. — Talvez por isso eu tenha me empolgado demais.

Em contraste ao mais velho, Yoosung alternava entre divertimento e uma aflição latente. Suas mãos, apertadas sobre a mesa, começavam a  tamborilar enquanto ele se aproximava, aos grados, da mesma.

— O que você sentiu quando ele pareceu sentir sua falta? Fora a vontade de soterrar ele de flores — brincou, ansioso pela resposta.

O CEO não era exímio em expressar seus sentimentos, dificultando a coerência de suas respostas. Cruzou os braços e se pôs uma vez mais a pensar, para desespero de seu assistente — ele pareceu soltar um grito interno com sua incerteza. Inclinou-se sutilmente para o lado, as sobrancelhas franzidas sobre os olhos claros a lhe render ares de mistério, apesar de o loiro só conseguir achar graça e frustração em igual quantidade.

— Não consigo descrever com uma só palavra — admitiu Jumin ao vislumbrar desespero nas faces do rapaz. — Você não parece muito feliz com esta conversa, talvez devamos parar.

— Não! — Constrangeu-se do quase grito e se endireitou no assento, baixando o tom de voz. — Não — soltou num riso nervoso. — Eu só — estacou, perdendo-se na própria explicação. — Eu só pensei que você conseguisse descrever melhor.

— Oh? Sinto muito não atender às suas expectativas —  deixou escapar numa quase ironia, quando na verdade achava graça do desespero do rapaz ao se sentir invasivo.

— Desculpa, desculpa! — pediu num tremular de voz, um quase choro, causando no mais velho uma pontada de remorso.

— Aceito suas desculpas. — Mantinha a compostura conforme ondulava o vinho na taça. — Mas, se quer mesmo saber a resposta… Bem, minha habilidade para descrever não é das melhores… — Voltou a olhar para baixo, como se o próprio reflexo no rubor do líquido pudesse lhe ativar os neurônios com mais intensidade. — Quando li a mensagem dele na conversa, daquela vez, antes das flores, foi estranho… Antes de eu ter a ideia, aliás, quase ao mesmo tempo, eu senti algo…

O loiro havia arregalado os olhos e se aproximado do chefe, notando o quão pequena a separação entre ambos havia se tornado ao ter os olhos sobre si. Constrangido, voltou a sentar de modo apropriado, endireitando-se. Deixava a ansiedade levar o melhor de si.

— Senti… meus batimentos cardíacos acelerarem. — Refletiu e fitou-o outra vez, com genuína preocupação. — Já há algum tempo me sinto assim, talvez seja hora de ir ao médico…

O grito interno de Yoosung soou ainda mais alto em sua expressão com a resposta do moreno. Pareceu cansado — exausto, até — e descrente na humanidade. A incapacidade de Jumin em compreender o motivo de tal reação não pareceu cooperar e, por isso, o assistente perguntou:

— E quando você costuma sentir seu coração acelerar assim? Tem algum padrão? O médico precisa saber — instigou-o.

— Um padrão? — Ponderou por um momento e, então, olhou-o com desconfiança. — Yoosung, pensei que você conhecesse os riscos de se autodiagnosticar. Nesses casos é sempre melhor deixar para um profissional… — cortou a frase ao meio ao notar como o semblante do rapaz não só gritava, como se esgoelava, imerso no mais profundo desespero. — Você tem algo a me dizer? Yoosung, desde o início dessa conversa você parece querer me dizer algo, mas fica aos rodeios. Poderia ser direto?

A reação do mais novo pendia entre a ira e o receio, sendo o possível motivo de sua hesitação quanto a abordar o assunto com franqueza. Precisou de alguns segundos para respirar fundo antes de retomar a fala:

— Jumin-hyung, eu prometo ser direto se você responder minha pergunta… Quando seu coração costuma acelerar assim?

O mais velho não compreendia a justificativa do assistente insistir tanto no motivo, mesmo havendo uma pequena satisfação caso se preocupasse com sua saúde. Sentia-se muito amado e cuidado nos últimos tempos, não era de todo ruim, embora não soubesse ao certo como lidar — do mesmo modo como não sabia lidar com o próprio coração.

— Existe uma variação grande… A vez mais intensa foi quando Zen disse ser estranho passar um dia de folga sem me ver. — Apoiou a primeira dobra do indicador contra o queixo, reflexivo. — Mas costuma acontecer também em menor escala. Não consigo traçar um padrão, acontece em momentos aleatórios. Já ocorreu quando o vi enviar a foto de si com as flores e agora há pouco, ao telefone…

Yoosung, incapaz de se conter com tanto sucesso, soltou um princípio de riso e logo apertou os lábios, cessando-o.

— Desculpe — emendou. — Mas você não consegue mesmo dizer o que tudo isso tem em comum?

Pelo arquear da sobrancelha do moreno, não conseguia. O pequeno prosseguiu:

— Todos eles foram causados pelo Zen-hyung.

Jumin se surpreendeu. De fato, quando parava para pensar, a ligação se tornava óbvia ao ponto de se perguntar como antes nunca o percebera.

— Mas doenças cardíacas não são transmissíveis assim, não haveria como…

O loiro riu uma segunda vez, desta não se importando tanto em ser discreto. Embebido em diversão, ele continuou:

— Eu prometi que seria direto caso você me respondesse, então vou cumprir, mas você não pode ficar bravo comigo, viu?

As feições do chefe pareciam lhe perguntar por que ficaria bravo com algo que ele mesmo pediu para fazer e, por isso, o rapaz continuou:

— Jumin-hyung… Você não apenas sente o coração acelerar, como tem vontade de passar mais tempo com ele e o agradar. Num geral você parece mais interessado na vida dele e quer ficar junto, e sempre tem uma expressão meio boba quando fala com ele, seja por ligação ou por texto. — Gesticulou em volta do próprio rosto para exemplificar, divertindo-se. — Está sorrindo como quem não enxerga mais nada nem ninguém além dele.

— Aonde quer chegar? — Observava-o com atenção, não compreendendo seu ponto final.

— Bem… Minha intenção era fazer você perceber por conta própria, sem eu precisar falar, mas talvez você seja mesmo o tipo de pessoa que precisa de um empurrãozinho — emendou, risonho. — Jumin-hyung… Não acha que isso é amor? Amor romântico?

À conclusão inesperada do loiro, o CEO arregalou os olhos e pousou pouco a pouco a taça de vinho de volta sobre a mesa. Uma vez mais, assim como das outras, a informação antes tão desconhecida passou a ser, então, óbvia.


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Notas finais do capítulo

[Yuu-Chan-Br]: Ainda não acredito que consegui fazer um capítulo inteiro com uma cena só. 8D Socorro (e desculpa suuaygsduyf). Sei que na rota ele percebe por conta própria, mas, por ser outro homem, um amigo de longa data e, bem… o Zen, pensei que ele teria uma dificuldade muito grande em conseguir desenhar essa linha entre uma amizade muito forte e amor romântico. Jumin sempre me pareceu uma pessoa muito alheia aos próprios sentimentos, do tipo que reprime eles tanto ao ponto de não reconhecer mais com facilidade, então considerei essa a opção mais in character. E MELDELS, A PACIÊNCIA DO YOOSUNG 8D Eu não teria essa paciência, juro pra vocês! Espero que tenham gostado e muito obrigada por lerem! ♥ ♥ ♥



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