MacGuffin escrita por Yuu-Chan-Br


Capítulo 13
Ato 12




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— Qual é o meu problema?! — esbravejou num semi grunhido, ecoando por todo o apartamento.

Encorujado sobre o sofá, Zen pressionava a testa contra o celular, cuja tela acendia e apagava de quando em quando, devido à sensibilidade de toque da mesma. Detestava o fato de, mesmo após reformular a frase várias e várias vezes, ainda soar como flerte. Não era sua intenção — ao menos não consciente. Desceu uma perna ao chão e bagunçou o topo da cabeça com a mão livre, encarando o aparelho. Agonizou. Estreitou os olhos e quase deixou o eletrônico ir ao chão com o susto levado pelo barulho repentino. Havia uma notificação de mensagem. A visão de “Han Jumin” como remetente criava um burburinho em seu estômago e o fazia se perguntar o momento exato de sua metamorfose numa adolescente apaixonada. A última palavra, contudo, era enxotada à força de seu pensamento. Não podia admitir, sequer a si próprio, não devia nomear tal sentimento.

Quis gritar.

Como podia considerar sentir pelo moreno algo de tal intensidade quando ainda lhe era palpável a imensa afeição por Jiyeon? O simples pensamento de a ver rumo ao altar, entregue a outra pessoa, bastava para lhe estraçalhar o coração e o fazer o mais infeliz dos homens. Sabê-lo, entretanto, não bastava para tapar no peito o vazio causado pela ausência do amigo. Ainda poderia chamar aquilo de amizade? A pergunta era inútil, pois, mesmo já transformado em algo muito além, ele jamais se atreveria a renomear o afeto com seu devido significado.

Tremendo em suas mãos, o celular emitiu outra notificação, forçando-o a, hesitante, desbloquear a tela e abrir as mensagens recebidas.

“Você vai ficar em casa?”, era a primeira, da qual teceu várias teorias. Talvez ele pretendesse o convidar para sair e por isso precisasse de informação? Sentiu um misto de euforia e infortúnio ao se aperceber de como a frase dita poderia soar como uma indireta para um encontro. Bateu a palma contra o rosto com intensidade além do intencionado e grunhiu de dor, amaldiçoando a si mesmo por sua própria imbecilidade.

“Não saia de casa, pelo menos por algumas horas”, era a segunda mensagem. Esta lhe causou estranheza e não conseguiu extrair dela um motivo plausível para existir.

— A menos que ele pretenda vir aqui.

Os polegares se fincaram de imediato contra o celular e, por um breve momento, temeu o partir com a intensidade do aperto à epifania súbita. Afligiu-se. Não estava mentalmente preparado para ter o homem em sua casa uma segunda vez em tão pouco tempo, em específico enquanto seus sentimentos permanecessem tão bagunçados quanto estavam — embora duvidasse de sua capacidade de os ordenar tão já. “Por quê?”, enviou-lhe e levantou, andando de um lado a outro pela sala, martirizado pela espera da resposta. Esta não demorou nem um minuto inteiro. Talvez Jumin também encarasse a tela em mãos, ávido por uma réplica sua. A imagem mental lhe causava conflito. Agachou-se virado para o sofá e apoiou os cotovelos no macio do assento.

“É surpresa”.

Sua vontade foi de jogar o aparelho no chão, tamanha a sua frustração. Que surpresa? Não estava preparado para surpresas! O corpo tremia e as pontas de seus dedos formigavam enquanto os orbes rubros se fixavam nas palavras exibidas na tela. Maldito fosse! Bufou e, tentando aliviar seu estresse, arremessou o celular contra o encosto, agradecendo ao universo por este não ricochetear de volta em seu rosto — não tinha a melhor das sortes nos últimos dias, testá-la a tal ponto era quase suicídio.

Estava inquieto, angustiado. Ansiava por uma resposta mais clara, mas temia parecer desesperado demais por sua atenção caso o cobrasse por isso, irônico como fosse — estava de fato desesperado. Ergueu-se do chão e procurou pelo controle da televisão. O rebuliço em seu âmago não lhe permitia pensar com clareza e, como resultado, custou a encontrar o objeto tão simples sobre o rack.

Sentado de volta no sofá, nada o interessou na programação. Passou os canais às pressas enquanto balançava a mão apoiada na perna, lançando olhares fugidios ao celular, como se Jumin pudesse sentir suas ondas cerebrais e lhe responder o motivo do pedido feito mais cedo. Quanto tempo havia se passado desde então? Afligiu-se ao contar míseros cinco minutos. Jogou-se contra o encosto.

— Maldito, maldito, maldito…! — grunhiu e pressionou uma das almofadas contra o rosto, ansiedade a corroer suas entranhas. Sentia-se cansado de esperar, literalmente.

Ergueu-se e andou de um lado a outro, buscando acalmar o próprio corpo com um pouco de exercício. Pegou as chaves e caminhou rumo à porta, apressado, cogitando uma corrida para gastar a adrenalina dentro de si, quando recordou-se do pedido para ficar em casa. Pousou as chaves de volta no móvel e voltou ao sofá, curvando-se contra as próprias pernas. Estava perdido. Ficaria louco de tanto esperar, não conseguia desviar o foco do pensamento de antecipação. Jogou-se deitado e ocupou todos os assentos e cobriu o rosto com ambas as mãos.

— Maldito — murmurou, já sem forças. Tomou o celular para si.

***

O mundo era embaçado e disforme ao recém despertar, assim como o zunido em sua audição. Ainda grogue do sono não planejado, Zen se ergueu do próprio assento e enfim reconheceu o ruído da campainha.

— Já vai — disse em automático conforme deixava para trás o celular com uma receita aberta de kare e cambaleava rumo à porta, a apreensão da possível visita do mais velho o assombrando somente ao tocar a maçaneta, quando já era tarde demais.

Receoso, observou pelo olho mágico e enxergou um rapaz uniformizado e com uma prancheta na mão. Estranhou, mas entreabriu a porta mesmo assim.

— Pois não? — Olhou-o em descrença.

— Senhor Ryu Hyun?

— Sim? — Ergueu uma sobrancelha.

— Pode assinar aqui? Tenho uma entrega para o senhor.

Conforme Zen apanhava a prancheta e a caneta ofertadas a si, continuava a estranhar a situação. Seria a famigerada surpresa?

— Entrega de quem? — indagou após devolver os objetos ao rapaz, sentindo-se estúpido pela desordem das próprias reações.

— Han Jumin-nim.

Aliviou-se ao constatar as suspeitas como certeza, mas algo em seu imo ainda sussurrava uma certa desconfiança.

— Aqui está.

Ao dizer tais palavras, outro rapaz, trajando uniforme da mesma empresa, entregou-lhe um buquê de astromélias brancas e rosas, agradeceu e foi embora.

Zen, sentindo-se estúpido, fechou a porta após voltar para dentro de observou o presente com mais atenção. Não percebera à primeira vista, talvez pelo choque da situação, mas as rosas eram vermelhas. Ele sabia o significado daquilo? Jumin sempre parecia sofrer de falta de bom senso, mas tal informação era básica, não?

— Ele deu rosas vermelhas pra outro homem — riu de nervoso ao aproximar as flores do próprio rosto.

Não pensou na possibilidade de ele levar tão a sério a sugestão de Jiyeon sobre o presente, mas era menos embaraçoso quando comparado a uma visita pessoal do moreno. As flores também eram belas, apesar de detestar admitir. Sentiu o sorriso se tornar verdadeiro aos grados e, enquanto procurava nos armários um vaso para acomodar o regalo recebido, encontrou um pequeno envelope vermelho camuflado em meio às pétalas de igual tonalidade. Dentro dele havia um cartão com os dizeres “espere dez minutos”. Confuso, não teve tempo para refletir sobre o real significado da frase sucinta pois foi forçado a atender a campainha uma segunda vez.

O procedimento era o mesmo, embora os entregadores fossem outros. O que poderia ser? E ainda numa nova entrega? Ao devolver a prancheta ao rapaz, recebeu de pronto um segundo buquê, com astromelias rosa e lisianthus brancos. Agradeceu e, quando prestes a fechar a porta, foi impedido por um dos rapazes.

— Senhor, por favor, espere até terminarmos a entrega.

Confuso, o ator pendeu a cabeça para o lado enquanto acomodava o buquê nos braços.

— Já não fizeram a entrega? — Fez menção ao presente consigo.

Num ar de cumplicidade e quase pena, os dois entregadores se entreolharam e então voltaram ao cliente.

— Senhor, esta foi apenas a primeira parte da entrega. — Afastou-se para o lado e permitiu ao albino visualizar um enorme caminhão de entrega estacionado do outro lado da calçada, do qual saíam mais três rapazes com uma variada gama de ramalhetes em mãos, todos caminhando até ele. Ao receber o olhar de desamparo do outro sobre si, continuou. — O caminhão inteiro é para o senhor.

Sentindo as pernas bambearem, Zen só não foi ao chão pois o batente da porta amparou seu tombo. Num misto de desespero e desarrimo, ajudou os rapazes a levarem as flores para dentro em automático, desassociando-se da situação para ser capaz de a suportar sem enlouquecer.

***

— Você tem problema!? — esbravejou-se o ator, do outro lado da linha. — Por acaso minha casa tem cara de floricultura? Eu não consigo nem andar! Ah!

Houve um estrondo abafado durante a ligação, e, dado o ruído, compreendia-se uma queda por parte do albino.

— Está tudo bem? — Jumin indagou, genuinamente preocupado, mesmo com a insinuação de riso em sua fala.

— Claro que não! — grunhiu. — Você tem noção que eu não consigo dar um passo sem tropeçar em flor? E por que são quase todas rosas e astromélias?

Ao fundo era possível identificar o ruído de embalagens remexidas, decerto afastadas para dar espaço à circulação do homem enraivecido pelo pouco espaço de seu lar.

— Pensei que gostasse destas flores, estava as elogiando mais cedo. — Divertia-se com a singela fúria gerada, considerando-a um dos encantamentos do mais novo.

— Você gosta de rir da minha, cara, né? — rosnou. — Não dá nem pra andar direito aqui dentro! Ainda tá muito cedo pro meu aniversário, viu? Ou já é um ensaio pra ele?

— Mas foi um presente de coração — respondeu com sinceridade, muito embora a lembrança dos aniversários do outro lhe tentassem a deixar escapar alguns risos. — Como você comentou no aplicativo ter apreciado as flores, eu as julguei como bom presente.

Em sua cadeira de encosto estofado, Jumin se reclinou e permitiu às pálpebras cobrirem os orbes claros, imergindo na própria fala, saboreando bem as palavras antes de as proferir ao outro: havia as ensaiado na cabeça por algum tempo antes de receber sua ligação — planejava as dizer pelo bate-papo, mas o fazer por voz também não parecia uma má ideia. Talvez fosse até melhor, mais impactante.

— Além disso — prosseguiu o moreno —, com tantas flores minhas de presente, já não deve mais ter espaço para sentir minha falta, certo?

Silêncio. Perdurou ao ponto de Jumin suspeitar de uma queda da ligação.

— Zen? — chamou-o, recebendo em retorno mais um grunhido.

— Quem disse que eu senti sua falta?! — soltou ao brados e tropeçando pela sentença.

Apesar de sua primeira resposta ser uma negativa, a demora em seu proferir e o gaguejar do mais novo arrancaram do CEO um riso sutil, ao qual precisou cobrir os lábios para evitar crescer.

— Qual é a graça? — inquiriu feito um louco enraivecido.

— Depois me chamam de tsundere. — Ouviu-o arquejar em surpresa e voltou a rir, tendo a certeza de o ato inflamar ainda mais sua ira, tal qual um isqueiro jogado num galão de combustível.

— Escuta aqui, isso ultrapassa todos os limites do bom senso! Pode vir buscar essas flores, eu não tenho onde pôr!

— É muito rude devolver um presente tão bem intencionado, sabia? — provocou, ainda a extrair muito divertimento do absurdo da situação.

— Quê?! — pausou e deu a impressão de afastar o aparelho do rosto, voltando a o aproximar em seguida. — Ah, sim, eu liguei pro número certo. Essa conversa toda tá tão doida que pensei ter ligado pro Seven-i. O que aconteceu? Vocês trocaram de personalidade? Recolha suas flores, futuro presidente!

A ligação foi cortada abruptamente, levando o maior a se conformar com a conexão desligada em sua cara. Observou a tela brilhante por breves instantes antes de soltar um pequeno suspiro conformado — ainda aludindo a divertimento — antes de tomar o fone do aparelho fixo em mãos.

— Assistente Kim?

***

— Qual é o problema desse almofadinha sem noção, afinal? — resmungou ao jogar o celular sobre o sofá, ou melhor, sobre algumas flores amontoadas onde antes havia um sofá. — Urgh!

Ao se erguer do único ponto visível do assento, Zen tentou abrir caminho pela selva colorida recém formada em sua sala. Perceber a casa atafulhada de flores o fez agradecer em silêncio por ser alérgico apenas a gatos, caso contrário levariam dias para encontrar seu corpo no meio de tantas plantas. Após tentativas frustradas de passar em meio a elas, tropeçar e cair no meio do caminho, incapaz até de alcançar a cozinha para um copo d’água, voltou ao ponto de partida e se sentou sobre o estofado parcialmente coberto de pétalas. Não estavam ali antes, seria um plano maléfico da flora local para dominar seu apartamento?

Sentindo-se à beira da loucura, tomou o celular em mãos e abriu o aplicativo do RFA.

“VOCÊS NÃO ACREDITAM NO QUE AQUELE CRETINO ACABOU DE FAZER”, enviou em conjunto a um emoji seu bravo.

Jaehee: Zen-ssi? Aconteceu algo? Pensei que estivessem se entendendo melhor?

Num suspiro de alívio por encontrar a amiga — e autodenominada fã —, mandou à conversa uma foto de si mesmo em sua sala, visto de cima, tentando alcançar ao máximo a quantidade absurda de flores a se estender desde a sala até onde mais a foto alcançava. Buquês no sofá, sobre os móveis, espalhados no chão… uma montoeira disforme num vale entre o belíssimo e o assustador, a ser decidido pelo gosto do freguês.

Jaehee: ….

707: FLORES! Lolololol, não sabia que o Juju era tão romântico!

“Você só pode estar brincando…”

Jaehee: Zen-ssi, você consegue andar?

“Não… A casa inteira ficou uma bagunça, eu não consegui nem chegar na cozinha!”

Jumin: Talvez eu tenha exagerado um pouco.

“TALVEZ?”, sentia os dedos pressionarem a tela com força demais, porém não conseguia se controlar tão bem quanto antes. Uma parte de si, diminuta, ínfima, quase inexistente, sentia-se agradecida pelo presente, contudo a revolta com a falta de noção do mais velho falava mais alto. “VOCÊ NÃO SABE O QUE É MODERAÇÃO?!”

Jumin lhes enviou um emoji sem muita expressão, acompanhado por um balão de reticências.

Jumin: Você poderia ao menos apreciar minha empolgação, não costumo enviar presentes sem uma data comemorativa predeterminada.

Jaehee: De fato…

Yoosung: Zen-hyung, desculpa… Eu devia ter impedido ele, mas não consegui.

707: Yoosung-i é o cúmplice! O cúmplice do romance!

“Não tem romance nenhum”, resmungou em própria escrita. Afirmou-o, todavia a imensa gama de rosas vermelhas espalhadas por seu lar pareciam discordar de sua alegação. As bochechas arderam. Grunhiu e pôs ambos os pés para cima do sofá, voltando a se encolher sobre o mesmo. Escondeu o rosto entre as mãos, porém, apesar disso, um fio de olho escapou e encarou o primeiro buquê recebido, já devidamente acomodado num vaso sobre a mesa de centro, embora esta se encontrasse soterrada pelos demais presentes de Jumin. Ele era, de fato, muito semelhante ao entregue por Jaehee e Jiyeon, com a diferença na cor das rosas.

— Um símbolo de amizade… Era esse o significado das amarelas, pelo que lembro. — Tomou o ramalhete em mãos e o analisou o máximo possível, como se as flores usadas no belo arranjo pudessem, de alguma forma, lhe dar uma resposta. — Mas rosas vermelhas… — Franziu o cenho.

Não era necessário ser um expert em linguagem das flores para saber como rosas vermelhas eram associadas a paixão e romance. Cria piamente em como qualquer pessoa com o mínimo de bom senso não as enviaria para alguém por quem não tivesse tais interesses. Sua única dúvida era se o mais velho possuía bom senso o bastante para ser considerado o mínimo.

Durante sua pequena divagação, a conversa entre os demais membros do RFA prosseguiu pelo aplicativo.

Jaehee: Mas não é muito incomum para você mandar presentes assim? Aconteceu algo em específico?

Jumin: Hm… Ele pareceu solitário sem a minha companhia.

Jaehee: …

707: Prepare-se, Jae-ssi, logo vocês não serão as únicas casadas! Vocês vão tirar na sorte para usar o vestido?

Seven terminou seu raciocínio com um gif seu sorrindo com interrogações à volta.

Zen sentiu a cabeça doer. A menção do ruivo reavivou sua memória do sonho tido durante a carona recebida na noite de bebedeira. Houve um calafrio em sua espinha seguido do intensificar do calor em suas faces. Estava perdido.

“Solitário? Quem estava solitário?”, bufava ao escrever, o coração a lhe apertar no peito enquanto lembranças dos dias passados na presença do outro teimavam em lhe inundar a mente. Havia em sua garganta um nó apertado, engasgava-o, quase sufocava e, mesmo assim, recusava-se a admitir o óbvio, até para alguém com tão pouca empatia quanto Jumin. Engoliu a seco as palavras não ditas e respirou fundo, continuando sua argumentação. “Talvez quem esteja solitário seja você”, escreveu-lhe e já se preparou para uma negativa, seu âmago ardendo tanto pela mentira quanto pela ansiedade da resposta.

Jumin: Não havia pensado sobre isso. Talvez eu esteja?

Yoosung: Isanim, já preparei tudo, ainda quer ir junto?

Jumin: Sim. Por favor, avise o motorista, já estou saindo da sala. Zen, nos vemos em breve.

Sem mais uma palavra sequer, o homem saiu do aplicativo, deixando os demais participantes perplexos. “Nos vemos em breve? Como assim nos vemos em breve?”, enviou.

707: ...Uau. Não acredito que Ji-ssi não estava aqui pra ver esse capítulo emocionante da novela!

Jaehee: Ele admitiu a possibilidade de se sentir solitário… Não pensei que viveria para ver este dia chegar.

Yoosung: Zen-hyung, eu me desculpo por antecedência.

O bombardeio de mensagens confundiu ainda mais o albino, cuja cabeça já fervilhava devido às informações anteriores e seu debate interno. “Desculpar pelo quê? E como assim nos vemos em breve?”, repetiu, confuso.

Yoosung: Ele está indo para sua casa junto com um serviço de entrega. As flores estavam te atrapalhando, então sugeri tirar elas daí, mas ele insistiu em acompanhar tudo pessoalmente.

Zen se surpreendeu com a imagem animada de uma Jaehee boquiaberta.

Jaehee: Ele saiu do trabalho para visitar o Zen-ssi em casa?

Yoosung: Sim… Só espero que volte logo, pois tem uma reunião em menos de duas horas.

O emoji chorão do loiro foi de pronto ignorado, pois a mensagem a seguir os abalou muito além de uma sobrecarga de trabalho.

Jaehee: ...Nunca vi Jumin-oppa largar o trabalho assim de repente por alguém além de Elizabeth III… Zen-ssi… Como eu posso dizer isso…?

707: PARABÉNS, VOCÊ ACABA DE CONQUISTAR UM DOS PARTIDOS MAIS COBIÇADOS (PALMAS, PALMAS, OOOOOOH~)

“Escuta aqui, brincadeira tem limite, viu?”, respondeu já sentindo o corpo inteiro formigar e um riso nervoso a lhe escapar pelos lábios.

Jaehee: Parabéns!

“Até você?!”, grunhiu à própria réplica e quase se jogou sobre o estofado em agonia — talvez as pétalas afofassem sua caída de alguma forma, tornando o ato mais agradável, mais dramático.

Jaehee: Sinto muito, pareceu irresistível… Mas realmente acho que vocês deveriam sentar e conversar a respeito disso. Zen-ssi, aproveite as oportunidades!

707: Isso, aproveite a oportunidade para fisgar ele de jeito! Oh, meus meninos, cresceram tão rápido…

A fala foi complementada por um emoji do ruivo chorando, ao qual Zen rosnou e revirou os olhos.

“Você não tem medo do perigo, é?”, retorquiu, nervoso, às provocações do amigo.

707: Oooh, Zenny bravo~ Mas você devia guardar essa energia pro seu amorzinho que vai te ver. Imagine, só, Juju saindo especialmente do trabalho para ver seu amor e o encontra rodeado por flores, tão romântico~

Conquanto as pequenas afrontas do hacker lhe fossem em imenso irritantes, não conseguia evitar o aquecer de suas faces ao imaginar a cena prestes a decorrer na vida real. “Se você tem tempo pra ficar com essas besteiras, devia gastar ele com alguma coisa mais útil”, enviou-lhes.

707: Ah, sim, preciso voltar ao trabalho, vou usar o poder do amor de vocês como inspiração~ Zenny fight-o!

Saiu antes de o albino poder se queixar do último gracejo. Emburrou-se.

Jaehee: Zen-ssi, eu brinquei mais cedo, contudo realmente desejo que vocês se entendam. Sei como seu relacionamento sempre foi conturbado e posso dizer com propriedade… Jumin-oppa não é das pessoas mais fáceis de se lidar, mas às vezes você só precisa de uma mudança de perspectiva. Para mim isso aconteceu por causa da Jiyeon-a, porém talvez para você só baste dar uma chance para ele demonstrar como se importa. De todo modo, é melhor eu ir agora. Boa sorte!

Ao ver a amiga deixar a conversa, Zen só conseguiu perguntar a si mesmo o real significado de seus desejos de “boa sorte”.

Yoosung: Não acredito que a Jiyeon-nuna perdeu isso… mas com certeza ela vai salvar sua foto, Zen-hyung, lolol. Independente do futuro da relação de vocês, vou torcer para dar tudo certo! Agora vou voltar ao trabalho... Jumin-hyung foi embora, então preciso dar um jeito de distrair os diretores até ele chegar….

O loiro enviou um gif seu chorando antes de sair, deixando apenas o ator no aplicativo. A frustração em seu peito se tornava imensurável à medida crescente dos incentivos de seus amigos. Sabia de suas boas intenções, e de modo algum duvidava delas, porém os ver desejando boa sorte para um possível relacionamento amoroso com o moreno fazia suas mãos formigarem, ansiando socar uma parede.

— Eu amo a Ji-ssi, eu amo a Ji-ssi — murmurou para si ao escorregar pelo sofá e cobrir os olhos, como se tal ato o pudesse esconder do resto do mundo.

A fala, por si só, não era mentira. Em seu peito ainda havia um enorme carinho pela moça, assim como o pesar por seu casamento, mesmo desejando, no fundo, sua felicidade acima de tudo. Já se tornava difícil, contudo, calar a diminuta voz que começava a ciciar também o nome de outra pessoa.

Enquanto pressionava a tela do celular contra a própria testa em agonia, ouviu o barulho da campainha tocar e, num solavanco, quase foi ao chão. Com o coração ameaçando sair pela boca, lamentou não conseguir ao menos alcançar o banheiro para lavar as faces antes de o receber: possuía total certeza de estarem afogueadas, talvez um pouco de água gelada revertesse a situação.

— Já vai! — bradou antes de puxar o ar para si pelo diafragma algumas vezes.

Caminhou nas pontas dos pés, o desviar das flores cobrindo o chão se mostrando uma tarefa difícil, todavia não impossível. Recostou a cabeça contra a porta e respirou fundo uma última vez antes de a abrir, revelando do outro lado a imagem do moreno de terno.

— É rude deixar as visitas esperando na porta, sabia? —Jumin o provocou com um sorriso nos lábios.

O fato de continuar a o tratar como antes lhe retirava um peso dos ombros, fazendo-o também sorrir de volta, em desdém.

— Sabe o que mais é rude? — Afastou-se e abriu mais a porta, fazendo menção ao conteúdo de seu apartamento.

— Talvez tenha mesmo sido um pouco demais — Jumin pensou alto.

Ao virar-se para trás, Jumin fez um leve meneio de mão para o caminhão do outro lado da rua, do qual saíram vários funcionários uniformizados e entraram no local, carregando os buquês de volta para o veículo. Zen se apressou em lhes dar passagem, ficando do lado de fora, ao lado do amigo.

— O que te fez pensar que isso seria uma boa ideia? — indagou com genuína curiosidade, embora também houvesse uma pontada de acusação à sua falta de bom senso.

— Sua reação com o buquê da fã — respondeu com sinceridade, deixando o outro sem reação. — Pareceu tão feliz… Seguindo esta lógica, mais deles te deixariam ainda mais feliz, mas… — suspirou baixo.

— Não adianta ter esse monte de flor se eu não tenho onde pôr. — Sentiu-se exausto de súbito por precisar explicar algo óbvio para qualquer pessoa com mais juízo.

— Além disso — continuou quando o outro julgava já ter encerrado o assunto —, com tantas flores minhas, você não teria espaço para sentir minha falta.

O profundo olhar de soslaio do mais velho fez um arrepio percorrer sua espinha e Zen não soube, até o fim, como deveria categorizar a sensação: talvez fosse boa e ruim em simultâneo. Frustrado, desviou os olhos para o lado oposto:

— Você não cansa disso? — grunhiu entre dentes. — E por que essas flores?

— Não disse mais cedo? — Arqueou um sobrolho. — Você disse gostar de astromélias…

— As rosas! — interrompeu-o num rosnado, observando-o de esguelha.

— Oh, as rosas. — Pensou por alguns minutos, tempo o suficiente para surpreender o albino.

Como suspeitava, Jumin de fato não havia pensado à fundo sobre suas próprias ações, escolhendo uma flor qualquer de sua preferência para o presente. O acerto lhe trouxe tanto alívio quanto desalento ao peito, e ele detestou o segundo sentimento.

— Mas também — o diretor voltou a falar, virando-se por completo na direção do outro, fitando-o nos olhos. — Talvez seja por conta dos seus olhos. — Aproximou-se, como se vendo mais de perto pudesse ter certeza da própria opinião, nem ao menos se importando com o passo para trás dado pelo outro. — Astromélias brancas e rosas vermelhas — riu baixo e pelo nariz, voltando à posição anterior —, combinam com você.

Provavelmente o maior não sabia, mas seu singelo ato quase rendera a Zen um infarto. O coração bateu tão depressa que chegara a levar a sério a possibilidade de ele sair pela boca, embora puxasse de seu âmago toda a força de vontade para não o demonstrar.

— Senhor — um dos funcionários interrompeu a conversa —, terminamos de carregar todas as flores. — Arrumou a aba do boné sobre a cabeça ao terminar.

— Oh, sim, bom trabalho. Pode seguir o caminho, vou logo atrás de vocês.

— Sim, senhor — afastou-se aos poucos.

— Pra onde vai levar tudo isso?

— Pensei que não quisesse elas, por que se importa? — alfinetou-o e se divertiu com a expressão de desagrado recebida. — Encontrei uma instituição necessitada de flores para um evento, então farei uma doação, apesar de ainda achar um desperdício.

— Desperdício?

Não compreendia como fazer uma boa ação poderia ser um desperdício, em especial quando as flores não teriam serventia alguma para si.

— Sim. — Arrumou o botão de uma de suas mangas antes de se voltar ao albino, exibindo nos lábios um sorriso igual ao de outrora. — Sua foto rodeado de flores estava muito bonita, fez parecer um desperdício não continuar assim por mais tempo.

Zen havia corado, possuía total certeza de as bochechas alcançarem a tonalidade de seus olhos e se detestava por isso. Quando começara a reagir de tal modo às provocações do outro? Antes não sentia apenas desgosto? Irritava-se consigo mesmo e, por consequência, reagia com ainda mais agressividade. Numa tentativa de manter a pouca ponderação, resolveu ripostar numa ironia:

— Oh, então o poderoso futuro presidente enfim reconhece minha beleza superior e incomparável?

Num novo arquear de sobrancelhas, como se lhe fosse feita a pergunta mais tola do mundo inteiro, Jumin respondeu, serenidade a lhe transbordar dos poros:

— Eu sempre reconheci, apenas apontava outros pontos a serem melhorados. Mas… Sim. — Voltou a sorrir, a expressão se tornando mais sugestiva conforme ele se aproximava e puxava uma fina mecha de cabelo branco. — Por algum motivo, a imagem de você numa cama de flores também me pareceu encantadora.

Zen não soube ao certo quando Jumin se afastou e foi para o próprio carro, porém, quando deu por si, estava sozinho na porta de casa, sentindo-se tão estúpido quanto possível. Pressionou a mão no peito e, moroso, voltou para dentro, quase se arrastando até o sofá, onde sentou. Mesmo com as flores retiradas, seu perfume ainda pairava no ar, preenchendo todos os cômodos da casa. Escorregou até deitar sobre o assento e vislumbrou o arranjo no vaso ao centro da mesa, o único a não ser levado embora. Esticou a mão e alcançou uma pétala da rosa, sentindo sua maciez, semelhante a um veludo. A lembrança da fala recém ouvida reverberava em sua mente, deixando-o desnorteado.

— Ele tem noção do quão insinuante isso foi?! — resmoneou e afundou o rosto numa almofada, socando-a em seguida.

Amaldiçoou-o, e, acima de tudo, amaldiçoou a si mesmo. Conforme pressionava o objeto macio contra o peito, sentia o ar faltar e as entranhas arderem. Conhecia tal sentimento, contudo não conseguia evitar a revolta por quem se direcionava. Era errado! Não apenas por se tratar de outro homem — desde quando gostava de homens??? —, mas por ser justo aquele homem. Maldito fosse! Não poderia, enterraria aquilo dentro de si até sumir, fingiria não ser nada e apenas se darem bem, como amigos. Sim, seria o melhor. A aparente resolução, contudo, dissipava-se à recordação da frase ouvida.

“A imagem de você numa cama de flores também me pareceu encantadora”.

Maldito fosse…!


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Notas finais do capítulo

[Yuu-Chan-Br]: WELP~~ Agora Zen tem certeza do que sente, mas ainda prefere fingir que não. ♥ Não é a cara dele? Hahahaha~ Treze capítulos depois, eles finalmente começam a ter algum avanço real no relacionamento, yaaay~~ *palmas, palmas* Gostaria de agradecer muito a todos que me acompanharam até aqui! Tem sido muito divertido escrever essa história e cada comentário é muito apreciado, mesmo não sendo muito grande, viu? Espero que continuem a me acompanhar até o fim para ver como a história termina!



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